SEGREDO
(e se não existir segredo nenhum?)
Às vezes dizem-me que tenho a relação ideal, o casamento ideal, uma junção de sorte e de sei lá mais o quê que faz com que as coisas resultem, um acaso feliz que me aconteceu quando encontrei em alguém esta sintonia e isto que me dizem faz-me sentir, às vezes, um pedacinho alienada, sou sincera.
Não tenho nada disso, mesmo! Sou normalíssima, do mais normal que há e igual a tanta e tanta gente que conheço que tem relações assim como a minha. Estou a lembrar-me destes e destes e destes e daqueles e mais aqueles e mais aqueles... Pois sim, o (algum) sucesso não é exclusivo nosso e a partilha desta sensação com tantos outros que conheço dá-me uma ideia de cumplicidade que é maravilhosa e que a mim, particularmente, me faz sentir bem, identificada... Devolve-me alguma normalidade que me acho devida...
Não sei o que levará os outros a pensarem como descrevo nas primeiras frases. Não sei que antídoto acham que temos que não lhes cabe, que magias sobrenaturais acham que faremos para que a nossa relação dure assim. Não sei mesmo...
Talvez o importante seja saber-se bem o que se quer e depois ir fazendo a vida girar e contornar-se à volta disso. Não sei se será o suficiente, mas que é um princípio basilar, isso é de certeza.
E depois... bem, depois algum romantismo, alguma lamechice saudável em doses proporcionais a cada relação, à medida de cada gosto, vontade e enquadramento, saudades, vontade de estar com, querer estar com, segredar, contar, partilhar, zangar (também), discutir, abdicar do que não é essencial, fazer valer o essencial em doses saudáveis para os dois, sonhar, projetar, conversar e chorar quando o que se sonha e projeta não acontece, rir, ouvir, falar e calar em doses iguais, acreditar, sobretudo acreditar e imaginar um futuro partilhado e isto pode ser muito bom.
Se quero chegar a velhinha com o meu mais-que-tudo? Gostava, a sério... (embora diga sempre que não vou chegar lá...) Se a ideia de ter um parceiro e um projeto de vida para a vida, me atrai? Sim, atrai-me muito... Se o meu equilíbrio passa pela vida que tenho com ele e que se estende depois aos miúdos? Passa, sim senhora... Se isso complementa o resto? Complementa sim senhora... Se a minha vida com ele me preenche, mas não me tira espaço para mim e para as minhas coisas? Não tira não senhora... Se em mim cabe tudo, tudinho, como o eu, o nós e o eu e o nós outra vez? Cabe sim senhora... Se para tudo isto é preciso uma pitada de sorte? Pois, talvez...
Então e se afinal o segredo for um bocadinho disto tudo, assim, sem mais nada de especial? Pois então... afinal, é simples e não tem mesmo segredo nenhum!
P.s. E depois, às vezes, mesmo após dias cinzentos, mesmo com muitos anos já que nos fazem já não ser MENINOS e MENINAS pequenos, há assim mensagens destas que nos enchem um pedacinho a alma...
Se são lamechas? Se calhar... mas assumo o risco... Sem dramas!