sexta-feira, 28 de junho de 2013




 A OUTRA IRMÃ





O meu irmão mais novo quando nasceu, eu tinha 8 anos e por isso, lembro-me muito bem de tudo o que se passava na minha vida nessa altura. Vivíamos numa casa de rés-do-chão, num bairro que para mim era maravilhoso, onde tinha muitos amigos e amigas com quem brincar, na rua e nas casas uns dos outros. http://agridoceedoce.blogspot.pt/2012/11/bairro-da-cavalinha-nao-tenho-duvidas.html .
A minha avó materna enviuvara recentemente e vivia connosco. Lembro-me perfeitamente quando a minha mãe nos disse (a mim e ao Nuno) que íamos ter uma irmão, ou irmã, lembro-me de viver a gravidez da minha mãe, num "despique" saudável com o Nuno, porque eu queria uma irmã e ele, naturalmente, queria um irmão. Fizemos uma lista de nomes possíveis e, embora a minha mãe não abdicasse do "João", lá escolhemos um outro nome para se juntar a esse e o consenso resultou em "João Pedro", que para mim, até hoje, é um nome lindo...
Lembro-me perfeitamente, com uma nitidez translúcida da noite em que o João nasceu. O meu pai foi dar-nos um beijinho à cama, dizendo que ia acompanhar a mamã ao hospital, porque o bebé "estava aí"... não dormimos mais! A minha avó tentava acalmar-nos, mas nos nossos corações de meninos pequenos, a espetativa, curiosidade e grandiosidade de irmos ter um irmão, falava mais alto e eu lembro-me disso tudo!
Na manhã seguinte, fui para a janela e fui abordada por toda a vizinhança: -"Parabéns Paulinha, pelo maninho"... eu sorria e dizia, de boca rasgada de felicidade: -"Perdi a batalha, perdi a batalha!"... Na inocência dos meus 8 anos, ria com o facto de ter nascido um irmão, em vez de uma irmã e dizia que esta "batalha" fora perdida!
Amo os meus irmãos como à vida e este meu "irmão pequeno" que hoje é um homem, é uma das preciosidades que tenho na minha existência e sei que ele sabe disso, mas gostaria de ter tido uma irmã... a ideia de duas irmãs confidentes e próximas era mágica para mim e por isso, fiquei tão contente quando a minha segunda gravidez (tão próxima da primeira) me/nos confirmou que esperávamos uma menina! Íamos dar uma irmã à Beatriz e essa ideia encheu-me de felicidade!
Hoje sou adulta e sei que há irmãs que não são próximas, ou muito menos, confidentes; hoje sou adulta e sei que este nó de afeto que eu em menina projetava para aí, pode ser dado com outras pessoas a quem também podemos passar a chamar de irmãs e irmãos... sei que é assim e por isso, não 
sinto nostalgia nenhuma por não ter ESSA IRMÃ... tenho uma vida tão preenchida de afetos, de amor, de tudo o que acho importante (onde cabem nuns dos primeiros lugares os meus irmãos homens!) que fui apertando esse nó noutras pessoas! Tenho algumas boas amigas que sei que o são e de quem gosto tanto, tanto (estou a lembrar-me agora de uma e de outra e de outra...) e depois, tenho-a também a ela. É uma amiga especial, especialíssima por quem sinto uma ternura sem fim, com quem gosto de estar, conversar, ouvir, desabafar, confidenciar. Sinto-me privilegiada por tê-la na minha vida. Não temos a mesma idade, embora seja uma idade próxima, não nos vemos todos os dias, temos ambas uma vida de loucura hiper, mega louca mesmo, mesmo, mas estamos sempre lá uma para a outra e é tão bom quando isso acontece! É como um bálsamo fresquinho... Às vezes não é preciso dizermos muito, a sintonia que sentimos sente-se pelo olhar, pela confidência que fica pela metade, mas da qual se adivinha o resto, pelo que se conta daquele lado e que é parecido com o que se vive deste lado, pelo que se defende, pela forma como se priorizam as coisas, pela maternidade assumida assim, desassombradamente, pelo papel que damos à nossa cara-metade na nossa vida e o efeito que isso tem em nós de tranquilidade, segurança, amor, equilíbrio, pelo esquema de valores, pelo afeto, sempre o afeto que nos norteia às duas! Acredito que ter uma amiga assim é como ter um tesouro que não andamos a mostar ostensivamente, que não precisa de alaridos, que brilha só para nós num santuário de ternura que se mostra suavemente... 
Minha querida, em segredo, este post é para ti e olha, parece-me que o nosso nó é daqueles duplos, que, de tão apertado, não sai mais!
Um beijinho...

segunda-feira, 24 de junho de 2013







GRÁFICOS DE BARRAS


Gosto muito do blog dela. Aliás, gosto muito dela, tenho alguns dos seus livros e sempre me atraiu a sua forma de falar, expressar-se, expor as suas ideias. É uma mulher interessante, inteligente, culta, com presença. É mais velha do que eu e acho-a independente, desempoeirada, com ideias bem formadas sobre as coisas, muito bem resolvida, parece-me, com uma gargalhada fácil e poderosa... sempre achei que as pessoas que têm gargalhadas assim, são seguras, determinadas... isto há coisas!! Do que nos lembramos, sem fundamento científico nenhum!!! Bem, então há pouco tempo, mais ou menos quando comecei a frequentar aqui a blogosfera,  comecei a ser seguidora de um dos seus blogs. (http://hsacaduracabral.blogspot.pt)/ Tem posts regulares, assíduos, não muito longos, mas sempre com mensagens interessantes, tiros certeiros em verdades das quais às vezes não nos apercebemos! E foi assim num dos seus últimos posts... Falava de "homem da nossa vida" e "amor da nossa vida", defendendo que há uma diferença entre ambos, da qual nem sempre nos apercebemos!


E é assim... este post faz espelho em tantas pessoas, em tantas relações que conhecemos  em tantas que podemos nomear! Estou a ver caras de pessoas que "cabiam" nestas linhas, como se pudéssemos traçar um gráfico que em vez de barras, tivesse o retrato delas próprias e das suas relações. 
A cara dela não me vinha ao pensamento, nem a vinda dela a minha casa estaria nas minhas previsões mais próximas. Simpatizámos sempre uma com a outra e havia da parte dela uma afinidade para comigo, que eu reconhecia e que me agradava, mas não somos chegadas. A vida das pessoas flui assim também, em simpatias e empatias que não se conseguem explicar. E ela veio cá a casa e falou sobre o "homem da sua vida" que, afinal, parece-lhe agora, não é o "amor da sua vida". Reconhece com uma espontaneidade quase infantil que se foram esquecendo um do outro e que se foram deixando de ver no meio de dias-a-dias ferozes que não param nem para descansar. Ela deixava de dizer o que era importante, aquilo que lhe era essencial e ele, julgando-a bem, não sentia a necessidade de mudar para agradar, para conceder... A maternidade foi colmatando essa brecha que abria devagarinho e a projecção dela foi feita, completamente aí... e o casal, foi ficando para trás até se sentir que o caminho não tinha volta e que olhavam um para o outro e já não se viam. Reconhecem, ambos, virtudes em cada um; reconhecem, ambos, culpas em cada um e reconhecem ambos que deixaram, por agora, de ser o amor um do outro. Que pena, que pena! Formavam um casal tão lindo... são os dois giríssimos, modernos, novos, simpáticos... mas depois, centro-me no sorriso dela e vi que cresceu, que fala nisto com uma naturalidade que processou e já metabolizou e que quer seguramente dizer que têm, ambos, uma capacidade de análise boa e vital, que está bem, tranquila, resolvida... talvez isto tenha volta, penso eu... estas coisas às vezes não são uma linha reta... talvez, talvez, mas no fim disto tudo, ainda eu andava às voltas com tudo o que me tinha vindo contar aqui a casa, com a leveza da sua expressão, com o inesperado da questão, quando vejo o post que refiro acima e pensei, BINGO, lá está, neste gráfico de barras, caberiam estas duas carinhas!

P.S. E às vezes, só às vezes, acontece como por magia, o "homem da nossa vida" ser também o "nosso grande amor"... é quando assim é... o que dizer?




quinta-feira, 20 de junho de 2013




BRILHO MAIOR?

Lembro-me de ir à padaria ao fundo da rua, logo de manhã, antes da praia e comprar mais de 40 papossecos (!!), porque tínhamos a casa sempre cheia de gente que vinha para férias no Algarve. A minha mãe depois fazia muitas sandes, com ovo cozido, atum, tomate, alface, pasta de sardinha, rodelas de pepino, pedrinhas de sal. Enchia garrafões de sumo e dividia a carga por todos, conferindo tarefas e distribuindo-nos pela mão dos mais velhos, primos e primas que povoavam a minha casa, alguns dormiam em colchões no chão, outros, nos sofás que eram do tipo cama (hoje, "tiro o chapéu" à minha mãe por tão boa gestão de tão grande logística...); lembro-me de irmos para a praia e ficarmos à sombra de um toldo de lona, triangular, listado com cores garridas, que dava uma sombra enorme, muito maior que qualquer sombrinha. Levava muito tempo a montar, mas no fim valia a pena e como éramos sempre muitos, compensava o esforço; lembro-me de saltarmos das falésias sem medo nenhum, fazendo despiques para ver quem saltava de mais alto; lembro-me de fazer campismo selvagem com pai e mãe e irmão e primos e primas e de lavarmos a loiça na areia molhada, esfregando-a muito com a areia que fazia de esfregão; lembro-me de saltar das costas do meu pai que raramente tomava banho de mar, mas que era um nadador exímio e que nos ensinou a nadar a todos, com braçadas largas de crall, sem viragens tontas de cabeça, tipo cata-vento; lembro-me de fazermos serões na costa da ilha onde acampávamos e de eu e o Nuno olharmos embevecidos para os primos e primas mais velhos que tocavam viola e cantavam, à noite, à volta de uma fogueira, envolvendo-nos numa aura de magia e encantamento como aquele que é dado pelos mais velhos e sentido pelos mais novos; lembro-me de apanharmos o barco da carreira e de irmos com os pés de fora porque ainda não era proibido; lembro-me do mergulho nas ondas e das carreirinhas que fazíamos numa costa que às vezes era perigosa. 
Uns anos mais tarde, poucos, muito poucos, completo estas memórias de Verão, com a aldeia minhota do meu avô materno, onde passávamos férias  absolutamente maravilhosas: os banhos no rio Neiva que tinha uma cascata maravilhosa que fazia ondinhas de espuma quando a água caía e se juntava à outra água que já lá estava; lembro-me de andar à beira da estrada com as primas e de eu ir pisando os carreirinhos de escaravelhos, ouvindo, preversamente o som dos bichos a serem esborrachados e a rir com isso; lembro-me de visitar primos e primas e tios e tias que tinham um sotaque engraçado que eu rapidamente apanhava e que nos levavam a ver a ordenha e os currais e os galinheiros e todos os outros bichos que eram tão distantes da minha realidade urbana, de menina de cidade; lembro-me das alvoradas de Agosto, sempre frias e enevoadas nesse alto Minho; do cheiro do leite com cevada a arrefecer nas malgas enquanto nos vestíamos para o pequeno-almoço, do cheiro da broa de milho quentinha; da tia Beatriz, irmã mais velha do meu avô, a quem todos chamavam "avozinha" e que era a velhinha mais bonita e cheirosa que os meus olhos de menina já tinham visto,( http://agridoceedoce.blogspot.pt/2013/02/beatriz-versus-irena-minha-mae-punha.html) enfim!!! Há tantas coisas de que me lembro dos meus Verões e todas essas lembranças ajudaram a completar o meu desenho como pessoa!!!
Começa amanhã o Verão e é a minha estação do ano preferida porque colo agora estas memórias a outras, recentes, muito recentes, coladas ao dia de hoje, de ontem, imediatamente próximo, coladas à ideia de férias, de descanso, de passeios, de esplanadas com conversas jogadas fora, de despreocupação relativa com horários, com rotinas tão massacrantes, às vezes. O Verão funciona para mim como uma pausa entre ciclos e uma doce anestesia à qual já me habituei!! Todos os momentos têm encantos próprios, acho mesmo que nós é que os construímos, mas pronto, o Verão é o Verão e terá sempre para mim uma carga especial.
E amanhã, que é o maior dia do ano, terá o céu um brilho maior?
Bons mergulhos!!!

segunda-feira, 17 de junho de 2013





BONS VÔOS...


Tenho muito boas recordações desses anos. A minha escola era grande, daquelas estilo "plano centenário", numa zona urbana, mas muito perto da minha casa. Fiz um post antigo (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2012/11/bairro-da-cavalinha-nao-tenho-duvidas.html)  sobre este bairro, onde esta escola se situava e que eu frequentava. Tinha muitas sombras e os recreios eram maravilhosos. Lembro-me que o meu professor era daqueles da "velha guarda", muito temido por muita gente que, nem queria que os filhos (as) frequentassem as suas turmas. Tinha uma coleguinha muito chegada, da Pré que iria comigo para a escola, cujo pai se recusou a que a filha estivesse numa turma, desse professor. Os meus Pais, com o espírito prático que sempre os caracterizou, acharam que seria um disparate eu não ir para essa turma, por esse motivo, que estariam e seriam sempre atentos ao meu percurso, que se mostrariam sempre dispostos a cooperar com o professor e que, se não houvesse motivos para reprimendas injustas, elas não viriam e eu lá fui inserida na turma do Professor temido por todos. Era conhecido e já antigo na escola. Tínhamos recreios maiores que as outras turmas, porque ele ia ao mercado e demorava-se mais que a norma ditaria e lembro-me das funcionárias chamarem todos os outros para o recomeço das aulas e a nossa turma ficar mais um bocadinho, porque o sr. Professor ainda não chegara. Isso era maravilhoso e hoje, recordo-me disso, especialmente.... esse sabor ligeiro a transgressão será sempre o melhor dos sabores, em qualquer idade, latitude, ou fase das nossas vidas...
O primeiro ciclo é assim! Marcante... para o bem e para o mal! Eu tive muita sorte com este dito professor em termos de aprendizagens e bases/métodos de trabalho que ficaram sempre para depois... Com os meus filhos também tive essa sorte: tiveram os três professoras muito boas, diferentes entre si, mas muito completas, que os prepararam com estabilidade para os ciclos de ensino seguintes, dando-lhes aquilo que considero mais essencial: bases consolidadas e métodos de trabalho que, a par depois das características de cada um , construirão um caminho de estudo e progressão, levando-os a procurarem, pesquisarem, serem curiosos e empreendedores. Não sei se será sempre assim. Nunca poderemos adivinhar o futuro e ainda bem, mas até agora, o "saldo" continua positivo, muito positivo!
Passei o fim-de-semana com os meninos e meninas da turma do meu filho mais novo que acabou agora o quarto ano, do primeiro ciclo. Lá estiveram também os pais e mães desses meninos e meninas que quiseram acompanhar a professora num fim-de-semana animado de "finalistas" e de despedida! Não fiquei nostálgica. Tenho andado tão cansada com todas as milhentas solicitações que os meus filhos me fazem, nas várias frentes, que nem tenho tido tempo para parar e dar espaço a alguma nostalgia que aparece, às vezes, quando paramos; mas deparei-me de frente com esta realidade: o meu filho mais novo acabou o primeiro ciclo e vai "voar" agora para outros rumos que o esperam. Para ele será novidade, tudo será diferente, mais rápido, mais compacto, mais exigente no sentido da responsabilidade e autonomia... para nós, não será tanta a novidade, uma vez que já passámos por isso com as irmãs mais velhas e então, gozamos deste privilégio do "já conhecer" e, portanto, do relativizar... É bom ser desta forma: passamos-lhe uma descontração maior e sentimo-nos nós também mais capacitados para observar, contextualizar, opinar, relativizar, ou não... O "apoio" das manas mais velhas também é giro de observar, tendo para com ele uma responsabilização no acolher, amparar, integrar que é proporcional às suas idades, mas muito importante entre irmãos.
E assim se cresce, filhote, sem stress, sem pressas, mas de forma muito rápida, tão rápida que às vezes sentimos que não podemos acompanhar, mas sabes... acompanhamos sempre, mesmo que não percebas, amparando-te, observando-te, cooperando com outros que são importantes para ti, dando-te   continuamente asas que não podes ver e, sobretudo, amando-te muito, muito!!!!
Bons vôos, Pedro!!!!


terça-feira, 11 de junho de 2013




FAROL NOTURNO


Não há explicação racional para esta compulsão que às vezes se sente para escrever... sente-se e pronto, tem que se escrever, com a diferença de que agora, "partilho" aqui na blogosfera, aquilo que escrevo. Não há acontecimentos específicos que façam desencadear este processo. Às vezes é um sentir, um pormenor, um episódio, uma frase e voilá, surge o click inspirador!! Foi assim, hoje...

Eram pouco mais que miúdos quando se encontraram pela primeira vez e nem gostaram muito um do outro, nessa ocasião. Suportaram-se, só isso! Hoje, relembra isso com uma ternura imensa, como se essas recordações estivessem impressas num quadro a óleo, daqueles valiosos que não nos cansamos de admirar. Tinham uma série de atividades em comum, centros de interesse e amigos, o que facilitou um caminho a dois que se ia definindo. A descoberta foi acontecendo e tecendo uma teia complexa, invisível, mas forte e resistente. Cresceram e experimentaram as primeiras e diversas descobertas, os primeiros confrontos, as primeiras crises, mas a ideia de projeto a dois ia-se mantendo, lá ao fundo, como se ele a continuasse a achar única e ela, no meio da multidão, olhasse de maneira diferente só para ele. Ainda indefinidamente e de forma difusa viam o futuro e imaginavam-se juntos. Era como se essa ideia fosse um farol que brilha à noite, no mar, com aquela luz teimosa e constante que guia os barcos e pescadores.
A vida foi acontecendo e foram experimentando juntos outras graças: as conquistas académicas e profissionais, os filhos, os desafios, os novos amigos, as novas formas que a vida lhes ia trazendo. Tudo isso iam vivendo os dois, sem perderem uma identidade única de cada um, que os distingue porque são diferentes, sabem disso. Dessa unicidade continuam a não querer abdicar e ainda bem... é uma diferença que às vezes provoca choques frontais e colisões que quase fazem descarrilar um trilho que se definiu, mas não consegue desarmar a tal luz teimosa, do tal farol noturno, que os guia na noite escura. A vida é pesada, apesar das inúmeras bençãos que sabem que têm. A vida também os moldou/transformou um pouco... estão um pouco diferentes, mais pesados também (!!!), talvez menos pacientes, mais previsíveis, com um encanto diferente daquele que tinham em miúdos, mas igualmente delicioso, estão mais amadurecidos e perspicazes perante a vida, pois a idade vai-lhes dando outra sabedoria, daquela que não vem nos livros.
O tal farol noturno, continua teimoso e continua a brilhar, intermitentemente, mas seguro, sempre presente, mesmo quando não o vêm, porque lhes parece que o nevoeiro é maior que a sua luz, sempre constante, guiando-os para um futuro que não conhecem, mas que querem partilhar. Sei que muita gente os conhece e sabe que é verdade aquilo de que falo. Eu também os conheço muito bem, com a força de uma verdade que é própria e pessoal. Sei também que muitos outros que conheço têm projetos assim, com faróis assim a iluminá-los e sinto-me bem com isso, pois estas grandezas ficam ainda maiores quando são sentidas por muitos... acredito que amar e ser amado será das maiores bençãos que podemos ter.

Estes dois protagonistas de que falo tiveram sempre alguma sorte? Talvez... acho que ela também faz parte da vida, assim como acho que às vezes a podemos procurar, mas, como dizia Winston Churchill, "a sorte não existe... aquilo a que se chama sorte, é apenas o cuidado com os pormenores!"




quinta-feira, 6 de junho de 2013



LANTERNAS VERMELHAS


(-Oh Paula, mas porquê que temos que comer tão rápido?  - L, 5 anos)

Digo-lhes sempre: "- enquanto viramos a página e observamos a imagem, não há comentários, não há dispersão... vamos deixando que a história entre bem na nossa cabecinha e que nos ajude a percebê-la, vamos deixando que as imagens nos ajudem a completar o que ouvimos primeiro" e vou repetindo: " guardamos o que queremos dizer aí na cabecinha... já falamos todos no fim, senão a nossa história vai ficando interrompida!! É como se fizéssemos uma ginástica ao pensamento".(riem muito, acham graça a esta parte do pensamento a" fazer ginástica"...).
Este fenómeno é novo para mim! Lembro-me que contava uma história, sempre ajudada pela expressividade facial, vocal e gestual que acho que todas as Educadoras têm e o impacto no grupo era estrondoso... um silêncio, uns olhinhos que "bebiam" o que viam e umas caras de quem ouve com toda a atenção do mundo, como se as coisas lá fora tivessem parado de correr e só houvesse aquela história, naquele momento! Já não vai sendo assim, pelo menos com a mesma forma visível... Embora a hora do conto continue a ser um momento mágico e eu não abdique dele (porque sim e só porque sim, porque já não me apetece esgotar mais e explicar mais os argumentos comprovadíssimos das coisas boas que isso traz!!!), não tem a mesma forma que tinha há uns anos... Continua encantador na mesma, mas não de forma igual! E assim o encanto das coisas, vai ganhando outros tons...

Hoje falava com um grupo de colegas sobre a rapidez com que os miúdos fazem as coisas, sobre as suas capacidades de concentração que são bem menores do que eram há uns anos, sobre o burburinho constante que se ouve na sala, sobre a forma de fazerem as coisas sempre a falar, sempre a mexer-se, sobre o número de conhecimentos que têm sobre tudo, sobre o ritmo alucinante em que vivem, indo para aqui e logo para ali, sabendo que a seguir vão para acoli e depois ainda para outro sítio, fazer outra coisa, à espera não sei de quê!!! Palavras como calma, descanso, ócio, lentidão, lazer, vão desaparecendo das suas vidas e também das nossas, se não tivermos cuidado! 
De tudo isto falava com um grupo de colegas que sentem o mesmo. Depois falei do meu grupo, que é parecido a tantos e tantos grupos que outras colegas também têm... É um grupo super interessado, participativo, conhecedor de muitas coisas, mas super, hiper barulhento. São miúdos autónomos e capacitados para se situarem e deslocarem no espaço da sala sozinhos, sabendo o que têm de fazer e gerindo as etapas das suas atividades. São ávidos de fazer mais e de saber mais, mas naquela sala não há silêncio... há um burburinho constante e uma barulheira que às vezes não é fácil moldar e lá me vejo eu "a braços" com uma agitação constante, barulhenta, resistente, mas... proativa, acho!!!
De facto, penso que este caminho será irreversível e os grupos serão cada vez mais assim! A vida está diferente, os ritmos, solicitações, exigências, estruturas familiares e escolares, as prioridades, tudo está diferente e só nos resta/me resta adaptar-me, acreditando numa plasticidade e capacidade de adaptação que temos que ter, sob pena de ficarmos obtusos, frustrados e, sobretudo, ultrapassados.
Sei que sim, será por aí e tento fazer isso constantemente, apelando a capacidades que sei que tenho e a outras que vou descobrindo, mas confesso que para o equilíbrio ser total, terá que haver também na nossa vida (e na deles, sobretudo, porque ainda estão a crescer...) um espacinho para o silêncio, para a lentidão, para a calma, para o deleite simples e só das coisas, para um descanso que não é só à noite para dormir, como se isso fosse um cantinho saboroso para onde vamos fugir às vezes, quando nos apetece. É o que fazemos também nós, mesmo adultos!! As lanternas vermelhas do stress e agitação acendem todas ao mesmo tempo e lá nos defendemos nós, criando momentos, espaços, fugidas à rotina e isso sabe tão bem!!! Os miúdos são pessoas pequeninas, com as mesmas necessidades e com lanternas vermelhas que também acendem por todos os lados e que nós podemos bem ver, através de comportamentos que são espelhos límpidos do que se passa nas suas alminhas! Também precisam disso tudo, sim senhor, às vezes não sei é se as escolas estão preparadas para isso... mas deviam!!



terça-feira, 4 de junho de 2013

O MEU AGRIDOCE...
Quando eu tinha treze anos, a minha avó materna vivia connosco. Éramos pois, seis pessoas lá em casa. Eu e o Nuno éramos, julgo, adolescentes normais e o João, muito mais novo, diferente nos centros de interesse e assuntos, mas meu acompanhante para quase todo o lado. Achavam graça ao miúdo! Os meus Pais trabalhavam ambos e eu, assumia um pouco, a pequena logística que envolvia este mano pequeno: levava-o ao colégio muito perto de casa, ia buscá-lo para almoçar quando os horários eram compatíveis e tornava depois a levá-lo. Era giro, isso! À laia de curiosidade, refiro que hoje, "vejo" o meu irmão todos os dias, através do meu filho mais novo, que é igual ao tio.... mas voltemos aos meus treze anos e a toda a panóplia de recordações que isso me traz, para além destas: usava o cabelo curto, era magrinha e endiabrada. Gostava de fazer desporto e da vida ao ar livre. Lia muito e adorava fotografia e cinema. E, embora não pensasse muito nisso, acho que era uma miúda romântica e sonhadora, com um toque de rebeldia que "temperava" a questão. Estudava q.b, mas tinha sempre boas notas, sobretudo a português,  outras línguas e história. Detestava matemática e achava alguma graça à geografia... Gostava de estudar em voz alta, fingindo que dava uma aula a alunos invisíveis e imaginários e isso ajudava-me a sistematizar a matéria sem estar sempre a escrever!
Ela é magrinha como eu era, mas não tem o cabelo curto. Tem uns olhos verdes magníficos, grandes e pestanudos, exatamente como eu sempre imaginei que uma filha minha tivesse (não me perguntem porquê, mas os olhos verdes sempre fizeram parte do meu imaginário...). O cabelo é preto, como o do pai e comprido. É exótica, esta filha! Também é endiabrada e também gosta de fazer desporto. É muito expressiva e gosta de tudo o que tenha a ver com artes: pintura, fotografia, cinema, dança. Aliás, esta filha, dança maravilhosamente... é estouvada e temperamental. É a mais generosa dos três irmãos, com um "oh mãe, desculpa!!!", muito fácil e espontâneo que nem a parvoíce da "aborrescência" lhe conseguiu tirar. Também não fala nisso, mas eu sei (o que as mães sabem, meu Deus!!!), que é romântica e sonhadora, mas também determinada e decidida, sem paciencia para muitas pieguices, também com um tempero engraçado de alguma rebeldia. Poucas horas depois de nascer, recusava-se a mamar e chorava DE-SAL-MA-DA-MEN-TE (!!!), atraindo atenções várias para a sala onde estávamos... "choro de genio" - disseram-me, "zangada porque não consegue mamar!"... - "parvoíce", pensei, mas palavras certas, sim senhor! Tem um génio intempestivo, daqueles que a fazem levar tudo na frente, mas é maravilhosa... o agridoce do meu sabor!

Hoje faz 13 aninhos e este post é para ela. Presumo que o ache uma piroseira e que tenha na ponta da língua um "ai mãe!!!" veemente, à boa moda das adolescentes que efervescem com tudo, especialmente se esse TUDO partir da mãe, ou do pai, mas mesmo assim arrisco, esperando que um dia o ache eloquente e engraçado (sei que sim, pois é sensível e inteligente...). Sei que entre os meus longínquos 13 anos e os dela, há uma diferença geracional, com tudo o que isso acarreta de hábitos, usos e costumes diferentes, mas também sei que há coisas em comum: a rapidez, o afeto, os irmãos, a generosidade, a intempestividade, o encanto pelas coisas... isso, espero que fique para a vida!
Para ela escolhemos o nome SOFIA, (sabedoria) e o meu coração de mãe quer acreditar que a buscará sempre na vida, nas coisas, nas pessoas e crer que assim, será uma pessoa cheia do mais importante: humanidade!!!

PARABÉNS, MEU AMOR!!! 

P.S. Sorrio em segredo quando te vejo a estudar também em voz alta, falando para alunos imaginários...)