terça-feira, 30 de setembro de 2014




MÃE CHATA


Hora de ponta cá em casa...
-Quem foi a última pessoa a tomar banho? Já viste como ficou a casa-de-banho? E as toalhas, não se penduram? Opá, é sempre a mesma coisa, bolas! 
E lá vai, mesmo pendurar as toalhas, já que não deixo escapar o deslize e deixa o espaço como o encontrou, pois claro, era o que faltava!
Às vezes acho que sou uma mãe muito mais chata que todas as outras que conheço, sou a que grita mais quando se zanga, a que gesticula sem fim, a que não lhes admite abébias malcriadas e aquela que não se compadece com preguiças laivosas que lhes dão o pior dos ingredientes: a inércia. Têm tarefas a cumprir sim senhora e controlo isso com olho de lince, não me compadecendo com o JÁ VOU, constante. Afinal, vivemos 5 cá em casa e não é justo que sejam só a mãe e o pai a arcar com as (horríveis) lides domésticas!
E quem fala em tarefas domésticas, fala na forma como respondem, como falam. Não lhes admito, JAMAIS, faltas de respeito, gestos, ou atitudes pouco corteses, faltas de atenção para com os mais velhos, sejam eles pais, avós, ou professores. Arrepio-me quando vejo aqueles aborrescentes (leia-se, ADOLESCENTES) armados em carapaus, a responderem à mãe, ou pai, ou avós, com aquela insolência insuportável que, ainda por cima, algumas mãezinhas desculpabilizam, com a conversa de que ai este miúdo (a), tem cá uma personalidade!!
Pois... não é fácil isto... é cansativo, irritante, faz-me vestir uma personagem que nem sempre gosto de ser e, confesso que às vezes, me apetece desistir, deixá-los fazer como querem, deixá-los ter tudo a acumular na desordem e desarrumação, fingir que não vejo e a seguir ir eu fazer... É tentadora, esta parte! Mas não, mil vezes não! Há coisas que são mais fortes que eu e pronto!
E se no futuro, já donos das suas próprias vidas (como se deseja), forem autónomos para as gerir, forem corteses e educados com os outros e souberem encarar as tarefas de uma casa como uma coisa natural e decorrente do dia-a-dia, organizando-as sem dramas e sem dependências excessivas de terceiros, então será sinal de que não foi em vão o meu/nosso esforço.
Sou uma mãe chata às vezes, eu sei, mas pronto, desculpem lá, pode ser que no futuro, ainda me agradeçam... seria bom!!


( A ti desculpo Mafaldinha, mas só porque és tu, ouviste?)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014




IRRITAÇÃO CHATA-CHATINHA



E pronto, lá andei num virote toda a tarde e tudo me correu mal: horários de coisas programadas que não se cumpriram, itinerários furados, pressings de coisas que têm que ser feitas com aquela urgência que só nós sabemos e uma sensaçãozinha de irritação constante e persistente que me transforma, às vezes, naquela criaturinha chata-chatinha que sei lá... É que persisto na irritação, o que fazer?
Não me libertei desse nervoso miudinho chato. Persisti nele pela tarde adentro, ainda remoendo no que tinha programado fazer e não conseguira, onde tinha que ter ido e não fui, o que devia ter dito e não disse. -Que coisa, ter que adiar isto e mais isto e ainda isto para amanhã!! Bolas, 'tou mesmo irritada!
Ainda cheia de ar-insuflado-de-irritação-chata-chatinha, via-a entrar na esteticista do bairro. Entrou e sentou-se na primeira cadeira ao pé da porta. Super bem disposta, chamou-me menina e falou despropositadamente sobre várias coisas. Percebi que o pequeno salão serve de poisio ocasional nas voltinhas diárias pelo bairro, que é familiar, pequenino e acolhedor. Falou dos 79 anos que já tem, do marido que está quase inválido e de quem trata ainda com vigor e de quem recebeu maus tratos toda a vida. Contou das tareias que apanhava, do que isso a magoava, das filhas que criou sozinha, afastada de cumplicidades e afetos e do tanto e tanto que trabalhou até doer. Nunca deixou de sorrir enquanto contava isto. Como é possível?
Dali voei para o supermercado, à pinha, em hora de ponta. Coisinha ótima para dia de mau humor! E então reparei que alguém se dirigia a mim! Reconheci-a logo. Contou-me da doença súbita e inesperada, dos tratamentos violentos e da desestruturação do puzzle familiar. E da esperança que tem. E da certeza da cura. E reparei que sorria. E estava gira. Bem arranjada, moderna. E sorria muito!
Finalmente lá percebi! Sou muito parvinha às vezes e tão pequenina!
Todos os dias há pérolas por aí... muitas vezes, nós é que não as vemos! Vá lá, hoje ainda fui a tempo, acordei... E estas duas que encontrei hoje, assim por acaso sem esperar, no meio de uma densa irritação chata-chatinha, são do mais lindo que há!


Obrigada...



sexta-feira, 19 de setembro de 2014





ENDLESS LOVE...



E como fica o coração de uma mãe quando ouve, que algum dos seus filhos é maravilhoso, com um não-sei-o quê que deixa marcas?
Acho que logo, em silêncio e rapidamente como num trago, se agradece e se sente uma pequenez perante tantas coisas e a seguir deseja-se só que tudo isso siga de mãos dadas com montões de felicidade e de coisas boas e essas, todas para eles, que um amor de mãe é assim, abnegado e determinado... e isto, sente-se com aquelas certezas que temos, mesmo de olhos fechados!!



quarta-feira, 17 de setembro de 2014







NERVOS ESFRANGALHADOS



E o que fazer àquelas manhãs diárias de dias de escola, caóticas, que nos continuam a esfrangalhar os nervos todos? A pô-los em farrapinhos, mesmo...?
O que fazer às gruas imaginárias e automáticas, movidas a telepatia em que pensamos, quando não os conseguimos levantar da cama? E mexerem-se? E comerem com calma um bom pequeno-almoço, como todos os livros e (quase) todas as mães dizem? E perceberem que 5 minutos de atraso no trânsito da manhã, sim 5 míseros minutos, fazem toda a diferença? E o gesticular repetido da mãe no carro, no trânsito, na pressa, fazendo-a correr o risco de parecer tudo, menos boa da cabeça?
POIS...
Deve ser aquele velhinho problema da adaptação lenta a ritmos novos, da preguicite adolescente (e pré adolescente), do calma mãe, sem stress! Sim, é isso, seguramente, TUDO VAI ENTRAR NOS EIXOS, a gritaria da mãe incluída!!!! Pois... ok!!!




Esfrangalhar, v. tr. pôr em frangalhos; esfarrapar, rasgar.

in, DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, 5ª edição, PORTO EDITORA




segunda-feira, 15 de setembro de 2014





ABDOMINAIS TABLETE


Vi-lhe uma forma circular, ovalizada, riscada a marcador de feltro, com riscas paralelas no centro, fazendo aquilo parecer um casulo gordo desenhado na barriga. Andava de calções por ali, de um lado para o outro e, quando vi aquilo, perguntei-lhe: -O que é isso que riscaste na barriga? Tu estás doido? Isso são riscos a caneta? Isso agora é horrível para sair! Ai meu Deus, este miúdo!!
Oh mãe, são os meus abdominais...
- Ah, pois, os teus abdominais, sei...
As irmãs, riam-se por ali, senhoras dos seus narizes, muito superiores à diabrice de um puto de 10 anos! Sim, ele só tem 10 anos, tenho às vezes que lhes lembrar...
Lembrei-me dos relógios e anéis pindéricos que eu desenhava nas mãos e pulsos e do que aquilo custava a sair. O meu pai esfregava-me com vigor uma esponja com gel de banho e mesmo assim, a marca ficava ténue, mas teimosa, só saindo com o tempo!!
Os ídolos futebolísticos que o meu filho admira têm aqueles abdominais tablete, eu sei, e esta coisa de puto pequeno fez-me sorrir e lembrar-me de tantas coisas assim que eu fazia também na idade dele, na minha doce e travessa infância tão e tão feliz.
Não sei que adulto virá a ser, este meu filho pequeno. Estas coisas do futuro só têm a forma dos nossos anseios e desejos, as coisas reais chamam-se PRESENTE e têm uma cor às vezes diferente daquela que queríamos, mas o que sei é que no meu íntimo secreto de mãe, lhe desejo milhares de coisas boas, que seja bom, sincero, simpático, respeitador e educado, que cultive a humildade e o altruísmo, que goste de viver e de se dar aos outros de forma inteligente, que tenha asas, mas também raízes e nesta paleta multicolor, das cores com que quero pintar o seu futuro, os abdominais tablete, não interessam mesmo nada, nadinha, de nada, meu amor... 

P.S. Um dia, quando eu for velhinha e tu um homem adulto, mostro-te este post e depois falamos sobre estas coisas de mãe que eu sentia quando tu tinhas 10 anos, boa?



quinta-feira, 11 de setembro de 2014



ESPONJA


Sempre fui enérgica e determinada,(Sofia, Sofia, somos tão parecidas!!!) com um quê de pieguice, ou romantismo, diria hoje, que sou adulta. Sou pelos afetos e sempre serei, quem me conhece sabe disso e preciso de me envolver com as coisas, para que elas façam sentido. Quero conhecê-las, descobri-las, aprendê-las e trazê-las para a minha realidade, para os meus olhos, ouvidos e sentidos. Assim, vão-se tornando conhecidas e mais bonitas, às vezes, com aquela beleza que o conhecimento sempre traz...

Depois de mergulhar de cabeça nestas tais coisas, fico lá dentro, inteirinha e deixo o envolvimento começar. Não leva muito tempo, isto... tem a rapidez dos amores que começam... e é este mergulho que sinto estar a dar, navegando num mar completamente novo de siglas, termos, nomenclaturas, leis, decretos e normas. Pergunto, avanço, recuo, calo, observo, escuto, exercito a humildade, a atenção e a espera. Engulo certezas de quem julgava saber quase tudo e deparo-me com a certeza de não saber quase nada. Treino a simpatia e a disponibilidade e mesclo isso com a segurança de ideais e a experiência no ensino, que me dão, seguramente, alguma desenvoltura. Observo os desempenhos à minha volta e reconheço méritos e competências, revejo-me em certos estilos e disponho-me a absorver, absorver, absorver, tornando esta numa palavra de ordem imperiosa. Guardo logo a seguir este conhecimento todo num cantinho do meu cérebro e dou-lhe ordem para que aí fique, até à resolução natural de o fazer avançar e misturar-se com o dia-a-dia, as decisões e as maneiras de proceder.
É mais ou menos assim que me sinto desde ontem, nesta nova etapa profissional de que já falei aqui, de forma inverosímil, como uma esponja que tenho na casa-de-banho... super absorvente e exfoliante. Sei que rapidamente, vou querer exfoliar o que não interessa e reter o resto, impregnando-me de novos cheiros e ares...
O final não sei como será, mas para já, parece-me que cheira MUITO BEM!!!


terça-feira, 9 de setembro de 2014





COISAS GIGANTES




UM AMOR ASSIM

Num mundo que celebra e louva a desatenção, a corrida bárbara para lugar nenhum, eles souberam sempre cultivar essa atenção extrema -extremosa, extremista, radical, absoluta.
Porque tiveram a sorte de se encontrar cedo e de cedo compreender, para lá da química e da física (essenciais, mas nunca suficientes), que pertenciam um ao outro - que podiam rever-se nos olhos um do outro como em espelhos límpidos.
Porque liam os mesmos livros e conversavam sobre eles, porque tinham os mesmos ideais e lutavam por eles, porque atravessaram tempestades e não se deixaram levar pela ventania, porque nunca amputaram os sonhos um do outro nem perderam de vista o sonho maior que queriam construir juntos, porque souberam ser a casa um do outro quando a vida os empurrou para longe da casa e do País que tinham.

Jaime Nogueira Pinto, in Jornal SOL, 22/7/2011
(homenagem à sua mulher, Maria José Nogueira Pinto)



Guardo este pequeno recorte de jornal dobrado na agenda e já muito velhinho, porque é fininho e quase se desfaz já, se o desdobrar de repente. Tenho-lhe ternura, e agora? Já escrevi sobre este recortezinho e hoje fotografei-o, porque até hoje, não conheço parágrafos melhores que descrevam um casamento feliz.


A vida não é cor-de-rosa, as estrelinhas não andam sempre multicolores à nossa volta, não levitamos sempre, muitas vezes andamos mesmo, ou até, rastejamos, às vezes sinto-te mais o sapo da história, que o príncipe encantado num belo cavalo alado, porque me zango contigo e irritas-me sem fim, eu, sei que fico também longe da princesa da trama, que, juro, também não queria ser (devem ser insonsas, essas, para além, de que são sempre loiras...!), não continuamos lindos e maravilhosos, efusivos e borbulhantes como no início; mas no meio da multidão imensa és tu que continuo a escolher e é o teu cheiro e pele que identifico de olhos fechados e é em ti que penso e de quem preciso quando me sinto a naufragar e é de tudo o que me ensinaste e que eu te ensinei e que aprendemos juntos, em tantas e tantas áreas que gosto sem fim e é do teu pragmatismo que preciso muitas vezes para balançar este prato da balança a que chamo delicodocisse, é a tua maneira de ser íntegra que admiro, são as tuas inseguranças e medos que conheço de cor, mesmo quando se disfarçam de outra coisa qualquer que queres mostrar e é contigo que gostava de ficar velhinha, velhinha, mesmo que ache que não vou chegar lá!!!

Não sei se há outras coisas bonitas que pudesse dizer hoje, que celebramos 19 anos de casamento ( não contando com mais 8 antes desses...), mas é isto que sinto e sei, como também sei que é sempre melhor escrever-se sobre o que se sente, mais do que qualquer outra coisa...
É que há coisas que têm que sair de nós, porque são assim, GIGANTES...






segunda-feira, 8 de setembro de 2014



TODOS DE REGRESSO...

(e este OH MÃE de fundo, maravilhoso...)


A pilha de roupa para lavar, inesperadamente cresceu três andares, mas eu, sabiamente, já sei relativizá-la. As mochilas, cheias de pó e de cor transformada, ficaram à porta, no jardim, juntamente com botas, colchonetes, sacos-cama, coisinhas e coisetas que dos sacos foram saindo. Têm ordem de marcha, já com prazo agendado e serão da responsabilidade da prole, que a mãe só vai tratar da roupa, o que já não é nada pouco. A ordem para colaborar é para todos, sem exeção. Quanto à roupa, nem sei quando será passada a ferro, o melhor é priorizar e pedir à senhora que a vá passando por camadas de urgência seletiva! Sim, porque esta roupa chegou agora e já outra lá havia... nos cestos!!
E assim a casa se encheu de repente outra vez, de vozes, barulho, Iphones e Ipads nas mãos e pernas e braços e sofás e cadeiras verdes como uma de que já falei aqui. Estendiam-se por ali numa ressaca preguiçosa de 6 dias de acampamento regional com outros mil e tal escuteiros, realizado logo após uma quinzena de férias na praia, em registo suave, muito suave, embalados por aquelas brisas dormentes que só as férias dão.
Pois é, e agora, tudo vai voltando ao lugar, à medida que esta normalidade vai chegando, rotineira.
Confesso que estes dias sem eles me souberam muito bem. Aquela história das baterias que se carregam é mesmo verdade. Arrastada também por contingências profissionais que só acontecerão aqui em Portugal, acho, (esta frase deve ler-se em tom irónico!!!) e que se traduzem por uma situação de vínculo ao Estado, mas sem escola de provimento ainda, pude estar sem eles em modo mais livre e isso serviu-me para carregar aquelas baterias egoístas das minhas coisas, dos meus tempos e espaços e equilíbrios e destes, preciso às vezes, para o resto dos dias todos em que eles, maravilhosamente, estão cá. 
Os meus filhos serão sempre a minha prioridade, mas existo para além deles, sou também pessoa, mulher, companheira, namorada, amiga e a estas todas, tenho que dar espaço e isso é inalienável. 

Quando eles chegam, bem, aí muda tudo, não só porque são exímios a ocupar o espaço e a tornar um OH MÃE constante, em barulho de ambiente, mas também porque a mãe se assume como corredora de fundo e com uma resistência bem trabalhada vai conseguindo geri-los aos três e a si própria, muito bem!! Se calhar é mesmo importante carregar baterias de vez em quando...
Ufa!! Não dizia um antigo professor de ginástica que tinha jeito para o atletismo porque tinha uma boa resistência?? Se calhar ele tinha razão, quem sabe...


quarta-feira, 3 de setembro de 2014



SRA. D. NORMALIDADE


E pronto, os dias vão-se instalando, com todo o rigor/vigor deste setembro implacável, com afazeres conhecidos desde sempre, inerentes às rotinas que vão chegando, impiedosas, mas sou de degustação lenta, sempre fui, gosto de prolongar prazeres, deixá-los quase em lenta agonia até que a morte lhes chegue, gozá-los ao máximo, máximo de si mesmos e então, reajo-lhes, às rotinas, de mau-humor e cara feia. Ah pois é, isto cada um... 
Não poderei estar muito mais tempo assim. Também já sei que a Sra. D. Normalidade chegará e eu serei arrastada por ela afora num exercício rápido de adaptação que nos mantém vivos, já sei, mas pronto, agora, agorinha mesmo, se querem saber a verdade, ainda é aqui, mesmo aqui que estou, de alma e coração...







E, enquanto não vem o arrastão dessa Sra. Dona, estou muito bem!!!