COISAS GIGANTES
UM AMOR ASSIM
Num mundo que celebra e louva a desatenção, a corrida bárbara para lugar nenhum, eles souberam sempre cultivar essa atenção extrema -extremosa, extremista, radical, absoluta.
Porque tiveram a sorte de se encontrar cedo e de cedo compreender, para lá da química e da física (essenciais, mas nunca suficientes), que pertenciam um ao outro - que podiam rever-se nos olhos um do outro como em espelhos límpidos.
Porque liam os mesmos livros e conversavam sobre eles, porque tinham os mesmos ideais e lutavam por eles, porque atravessaram tempestades e não se deixaram levar pela ventania, porque nunca amputaram os sonhos um do outro nem perderam de vista o sonho maior que queriam construir juntos, porque souberam ser a casa um do outro quando a vida os empurrou para longe da casa e do País que tinham.
Jaime Nogueira Pinto, in Jornal SOL, 22/7/2011
(homenagem à sua mulher, Maria José Nogueira Pinto)
Guardo este pequeno recorte de jornal dobrado na agenda e já muito velhinho, porque é fininho e quase se desfaz já, se o desdobrar de repente. Tenho-lhe ternura, e agora? Já escrevi sobre este recortezinho e hoje fotografei-o, porque até hoje, não conheço parágrafos melhores que descrevam um casamento feliz.
A vida não é cor-de-rosa, as estrelinhas não andam sempre multicolores à nossa volta, não levitamos sempre, muitas vezes andamos mesmo, ou até, rastejamos, às vezes sinto-te mais o sapo da história, que o príncipe encantado num belo cavalo alado, porque me zango contigo e irritas-me sem fim, eu, sei que fico também longe da princesa da trama, que, juro, também não queria ser (devem ser insonsas, essas, para além, de que são sempre loiras...!), não continuamos lindos e maravilhosos, efusivos e borbulhantes como no início; mas no meio da multidão imensa és tu que continuo a escolher e é o teu cheiro e pele que identifico de olhos fechados e é em ti que penso e de quem preciso quando me sinto a naufragar e é de tudo o que me ensinaste e que eu te ensinei e que aprendemos juntos, em tantas e tantas áreas que gosto sem fim e é do teu pragmatismo que preciso muitas vezes para balançar este prato da balança a que chamo delicodocisse, é a tua maneira de ser íntegra que admiro, são as tuas inseguranças e medos que conheço de cor, mesmo quando se disfarçam de outra coisa qualquer que queres mostrar e é contigo que gostava de ficar velhinha, velhinha, mesmo que ache que não vou chegar lá!!!
Não sei se há outras coisas bonitas que pudesse dizer hoje, que celebramos 19 anos de casamento ( não contando com mais 8 antes desses...), mas é isto que sinto e sei, como também sei que é sempre melhor escrever-se sobre o que se sente, mais do que qualquer outra coisa...
É que há coisas que têm que sair de nós, porque são assim, GIGANTES...
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