segunda-feira, 15 de setembro de 2014





ABDOMINAIS TABLETE


Vi-lhe uma forma circular, ovalizada, riscada a marcador de feltro, com riscas paralelas no centro, fazendo aquilo parecer um casulo gordo desenhado na barriga. Andava de calções por ali, de um lado para o outro e, quando vi aquilo, perguntei-lhe: -O que é isso que riscaste na barriga? Tu estás doido? Isso são riscos a caneta? Isso agora é horrível para sair! Ai meu Deus, este miúdo!!
Oh mãe, são os meus abdominais...
- Ah, pois, os teus abdominais, sei...
As irmãs, riam-se por ali, senhoras dos seus narizes, muito superiores à diabrice de um puto de 10 anos! Sim, ele só tem 10 anos, tenho às vezes que lhes lembrar...
Lembrei-me dos relógios e anéis pindéricos que eu desenhava nas mãos e pulsos e do que aquilo custava a sair. O meu pai esfregava-me com vigor uma esponja com gel de banho e mesmo assim, a marca ficava ténue, mas teimosa, só saindo com o tempo!!
Os ídolos futebolísticos que o meu filho admira têm aqueles abdominais tablete, eu sei, e esta coisa de puto pequeno fez-me sorrir e lembrar-me de tantas coisas assim que eu fazia também na idade dele, na minha doce e travessa infância tão e tão feliz.
Não sei que adulto virá a ser, este meu filho pequeno. Estas coisas do futuro só têm a forma dos nossos anseios e desejos, as coisas reais chamam-se PRESENTE e têm uma cor às vezes diferente daquela que queríamos, mas o que sei é que no meu íntimo secreto de mãe, lhe desejo milhares de coisas boas, que seja bom, sincero, simpático, respeitador e educado, que cultive a humildade e o altruísmo, que goste de viver e de se dar aos outros de forma inteligente, que tenha asas, mas também raízes e nesta paleta multicolor, das cores com que quero pintar o seu futuro, os abdominais tablete, não interessam mesmo nada, nadinha, de nada, meu amor... 

P.S. Um dia, quando eu for velhinha e tu um homem adulto, mostro-te este post e depois falamos sobre estas coisas de mãe que eu sentia quando tu tinhas 10 anos, boa?



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