quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013



GLAMOUR


 s.m. (pal. ingl.) Encanto; simpatia; charme.
Dicionário online da Língua Portuguesa


A cerimónia dos Óscares de Hollywood fez-me pensar no quanto sempre gostei de cinema. Não sendo uma cinéfila de "gingeira", como se costuma dizer, daquelas que sabe tudo em termos de datas, prémios, distinções, sempre elegi o cinema como um dos meus hobbies prediletos. Gosto particularmente de romances históricos, biográficos, épicos, policiais, thrillers e filmes de ação, mais ou menos por esta ordem... já o mesmo não direi dos musicais, de terror, ou de ficção científica. Esses, rejeito de boa vontade e é mesmo um sacrifício para mim vê-los.
 Para mim, nada substitui uma ida ao cinema, a qualquer hora do dia (acontece frequentemente ir sozinha, àquelas horas improváveis, ver aquele filme já quase fora do circuito quinzenal, que mais ninguém quer ver...), envolvendo-me naquele escurinho coletivo, sendo rodeada por aquele som abrangente, e "mergulhando" naquela história, naquelas personagens...Gosto mesmo muito! É como o refrão da Rita Lee: "no escurinho do cinema/chupando drops de anis/longe de qualquer problema/perto de um final feliz... 
Tenho também alguns atores e atrizes de eleição, cujos filmes são sempre sinónimo de sucesso para mim, independentemente dos anos que passem, das fases da vida em que me encontre e dos sucessos de bilheteira que conseguem. Enfim, nem mesmo o preço (quase) proibitivo dos bilhetes me impede de eleger este hobbie, a par da leitura, como AQUELE!
E é tão glamouroso, o cinema... é sempre tudo tão bonito, o que envolve o cinema: os atores e atrizes são sempre lindos, as histórias, muitas vezes, acabam bem, os cenários, as envolvências, as mensagens, a intensidade mais profunda, ou mais ligeira da moral da história, os diálogos, as tramas do enredo. É uma arte, acredito, fazer-nos "estar" alguns longos minutos nesse pedacinho de mundo "de lá", à parte deste mundo "de cá", aquele que é mesmo nosso e que, às vezes, apetece-nos esquecer por momentos. E esquecemos mesmo, mesmo de verdade, mesmo que acordemos logo a seguir, com um doce sorriso de lembrança, como se o filme ficasse a pairar na memória mais algum tempo e se fosse tornando depois inesquecível, sendo eleito o filme "da vida"... tenho vários, destes...
Hoje, a paixão pelo cinema faz-me pensar que, mulher feita, vejo com outros olhos o glamour reinante... analiso o que estará por detrás daquelas vidas/sorrisos/brilhos tão cintilantes e contraponho com outros glamours que conheço, ao meu lado, todos os dias, em todo a parte, uns mais conhecidos que outros, uns mais exuberantes que outros, mas todos tão... únicos!
Aquela capacidade de se ser singular, tendo um quê de diferente, único, exótico, rejeitando o "contágio viral" com a maioria, que nos faz vestirmo-nos todos de igual, comermos o mesmo, falarmos das mesmas coisas, pensarmos (quase!) da mesma forma, irmos aos mesmo sítios, termos as mesmas opiniões; aquela unicidade charmosa que só algumas pessoas têm e que nós não sabemos explicar onde está, independentemente do que vestem, do que usam, do que põem , ou onde põem; aquele cheiro que fica no ar quando se afastam, não um cheiro físico, mas uma presença, uma marca, um toque; aquela capacidade de embelezarmos de forma absolutamente única a nós e ao que nos rodeia.
Não sei se sou assim... somos sempre maus juízes em causa própria, mas conheço algumas pessoas assim e ainda bem! São elas que me fazem apetecer ter hoje, do glamour, uma opinião diferente e isto, mesmo continuando a gostar muito de cinema!!!!  

Bons filmes!!!!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

 
 
TRAMPOLIM
 
 
Há profissões muito chatas, maçudas, entediantes, que constituem para quem as executa, uma mera obrigação que facultará, ao final do mês, um vencimento, necessário à vida de todos os dias. Há depois outras proffisões que não são entediantes, mas que também não são aquilo que gostaríamos a 100% de fazer... enfim, têm qualquer coisa que não é completamente aborrecida, até têm alguns aliciantes diários, mas não correspondem à nossa vocação mais verdadeira, são já um hábito, uma formalidade que cumprimos todos os dias com um misto de obrigação e semi-prazer. Depois há também outras profissões que se revelam como descobertas interessantes, mostrando-nos e/ou revelando-nos prazeres novos, surpreendentes e inesperados. Essas, constituem "amores" recentes que (re)vitalizam e fazem carregar baterias...
No final deste "cenário", há um "pano", uma "baínha" escondida, mas muito presente: a das regalias e/ou direitos inerentes a cada uma das profissões e esta "baínha" às vezes é áspera e muito desconfortável, "pica" constantemente, porque nela cabe tudo: regalias a menos, desproporcionais àquilo que se faz e muito insuficientes se atendermos à nobreza, importância e acutilância de muitas profissões e também direitos suprimidos, outrora conquistados com tanto esforço e luta, por gerações anteriores à nossa. Tudo isto, agora, de forma completamente involuntária para nós e por forças externas que não podemos controlar nem contra as quais podemos lutar, é delapidado num ápice, ficando-nos um "amargo de boca", constante, constante, que faz enegrecer a NOSSA profissão, mesmo contra nossa vontade.
De facto, tudo é um retalho muito grande de muitos pontinhos e de certeza que, à nossa volta, conhecemos alguns destes exemplos! Não nego isso, mas hoje, pude ter 10 minutos de um prazer inesperado que a minha profissão me deu, a par de muitos outros que lhe reconheço, talvez porque é aquela que escolhi, de coração e porque é aquela que, para mim, é a mais bonita!
Hoje, durante 10 minutos, esqueci os direitos perdidos, ou nunca alcançados, as injustiças persistentes, as regalias desproporcionais, as incongruências crónicas de sistemas que não funcionam, ou que funcionam mal... Hoje, no final da aula de ginástica do meu grupo, ao saltar num TRAMPOLIM gigante (sim, eu saltei hoje num T R A M P O L I M  gigante!!!), juntamente com todos os meninos e meninas da minha sala e mais dois colegas adultos, tive 10 minutos de felicidade, em que ri, caí, rebolei, vi os olhinhos de todos (adultos incluídos) a brilhar, ouvi risos de quem gosta de me ver assim, tão PAR e pensei que afinal, até tenho muita sorte, apesar de tudo.... e foi tão bom!!! Sabem? apeteceu-me ficar lá o resto da manhã e pensei "em segredo", que esta é mesmo a melhor profissão do mundo!
 


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013



JOVENS GIGANTES


Prestes a ter de decidir uma área de acesso ao secundário, muitos adolescentes sentem-se confrontados com essa urgência e não sabem, de facto, aos 14, 15 anos, o que fazer. Também penso que é muito cedo. Duvido que nessa idade todos tenham já a consciência definida daquilo que querem ser no futuro e muito menos, de qual a melhor área que lhes dará o melhor acesso a essa  "parte do futuro". Ainda para mais quando, como hoje, a aposta na versatilidade deve ser cada vez maior, pois aquela ideia antiga da "profissão eleita" que nos leva depois  a fazer isso o resto da vida , já não existe: cada vez mais temos que ser versáteis, polivalentes, ou pelo menos, ter um espírito aberto que nos leve a não pôr de parte a ideia de experimentar coisas novas, desafios diferentes daquilo que estamos habituados a fazer. À medida que escrevo isto, estou a refletir em perspetiva, já que comigo se passou exactamente o contrário: tive sempre a ideia muito definida do que queria ser no futuro em termos profissionais e, por isso, o meu percurso académico foi mais linear e traçado de forma proporcional a isso. Hoje não é assim. Os miúdos têm um acesso à informação diferente, horizontes diferentes e a aposta numa formação académica superior não deve ser "quase" o final da linha, mas sim o início de um percurso que os levará pela vida e lhes ensinará a manusear "algumas ferramentas", mas só algumas, já que as restantes, será a própria vida a trazer!
É quase como uma enxada... um instrumento de trabalho que os faculta para determinadas funções, mas que não deve existir sozinho, deve ser par de muitos outros que contribuirão para a sua identidade profissional.
Eu não passei, como agora os jovens passam, pela ideia quase certa de que depois de um curso não se iria ter emprego; eu não passei como agora os jovens passam, pelo espectro de começar a trabalhar e esse trabalho não me dar, a médio prazo, a segurança necessária para estabilizar e ir compondo todas as outras facetas da minha vida; eu não passei como agora muitos jovens passam, por um desânimo colectivo que paira no ar e que contagia, mesmo que se façam de fortes e vão resistindo... E todos eles, ou pelo menos a maioria, passa agora por isto e também por muito mais; passam também pela "assistência" dolorosa de verem os seus pais e/ou as suas mães a perderem o seu trabalho, o seu sustento e, com isso, a perderem o norte, o chão, a segurança!
Às vezes, como mãe não tenho certeza absoluta do que aconselhar... também fico relativamente exposta ao tal desânimo colectivo e também receio que o brio, os bons resultados, o mérito, a responsabilidade, o trabalho, a sensibilidade e a procura do que nos é verdadeiro, apelativo e motivacional, vão sendo cada vez mais palavras e conceitos abstratos, porque o que conta são coisas que não achamos tão importantes. Às vezes, como mãe, também receio que o futuro não corresponda às expectativas que os seus corações de jovens gigantes vão desenhando, que tudo lhes vá correr de forma trocada, que as contrariedades os façam desanimar e até, desistir, que eu (nós) não os possa amparar da forma desejada, mas então intuo que só haverá UMA forma de suavizar esta relativa angústia: acreditar que tudo o que lhes transmitimos servirá para os tornar um bocadinho mais fortes nas estradas da vida que forem encontrando... e assim, talvez fiquemos na mesma em "silêncio observante", mas um bocadinho mais leves, quem sabe?
 "A vida, será muitas vezes diferente, daquilo que imaginamos" (...)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

ETERNO CAOS
 
 
Nunca fui muito arrumada. Aliás, funciono muito em "caos organizados", sabendo exatamente onde está tudo e tendo timmings e formas de organização muito particulares. Tenho cá as minhas manias e os meus "tempinhos" e é assim que me sinto bem e tudo vai funcionando na mesma, com eficácia!
Tenho sempre imensas coisas para fazer em várias "frentes de ação": profissional, extra-profissional, pessoal, maternal. Às vezes sinto que precisava que os dias tivessem mais horas, para poder fazer um bocadinho de tudo aquilo que preciso. Outras vezes gostava que as horas se prolongassem o tempinho suficiente para estar a fazer só aquilo que quero e que às vezes é tão pouco e tão depois e a seguir e no fim de TODA a super, mega, hiper logística que me envolve e que se estendeu por todo o dia. Com a vida que levo, tenho aprendido a rentabilizar todos os pedacinhos de tempo, aprendendo também a priorizar todos os hobbies que tenho e que me fazem tanta falta: leitura, fotografia, cinema, algum desporto (... devia ser mais, sim, sim!)... As vulgares lides domésticas, tão terapêuticas para tantas amigas minhas, não o são, em absoluto, para mim (à exeção da cozinha, cozinhando mesmo, que funciona, às vezes, como uma pequena "terapia de laboratório" doméstico onde invento e recrio muito, muito...). Há coisas que nascem impressas no nosso ADN como uma marca vitalícia, como aquelas doenças filhas de um gene silencioso que, a certa altura, resolve manifestar-se porque estava predestinado e essa aversão às tais lides da casa, acredito que seja uma delas. NÃO GOSTO E PRONTO!  Tenho alguma ajuda sistemática, mas o que resta, é tratado por mim (nós), com um espírito prático que me caracteriza nas outras coisas todas: rapidez, determinação, em proporção com a vida que tenho e com a condição de mãe de três filhos ultra, mega, super rápidos e vorazes também a desarrumar (e a arrumar a seguir, porque os obrigo!); mas reconheço que não sou "escrava da casa", das tarefas que lhe são inerentes, do seu brilho e esplendor! Tento habituar-me à ideia de que não consigo ter a casa sempre muitíssimo arrumada, com tudo nos sítios, com bancadas a brilhar. Seria uma luta inglória e desigual, que não quero "comprar", desiquilibrando todas as outras necessidades de tempo e ocupações que tenho, mas confesso que sinto aquela pontinha de "inveja" (daquelas inocentes e sem maldade...) daquelas amigas cujas gavetas dos tupperwares estão tão organizadinhas por cores, tamanhos, formas e funções!!! Como é que é possível???? A minha gaveta dos tupperwares, será o eterno caos, mil vezes arrumada e mil outras vezes caótica... no final, procuro aceitar... talvez seja uma imagem de marca, daquelas que vêm com o "ADN da vida" e se assim é, o que há a fazer?
 
 
 
Boas lides!!!!!


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013



MOTHERHOOD

Sempre fui maternal... embora não ligue nada ao Zodíaco, julgo saber que o meu signo (caranguejo) esteve sempre ligado à maternidade, ao lar, à família e eu, mais ou menos desatenta e pouco informada sobre estas lides zodíacas, não posso deixar de achar alguma piada, porque de facto, eu era assim e hoje, sou assim. Embora em pequenina fosse "estouvada", endiabrada, aventureira, não gostasse nada de estar sossegada, fosse "alérgica" às lições de croché da minha doce avó Lurdes, nunca tivesse tido paciência para aprender ponto de cruz e outras coisas que ela gostaria de me ter ensinado, adorava, a par da bicicleta, dos patins, das subidas às árvores, dos jogos de berlinde (eu jogava ao berlinde, sim senhora!!!), brincar com bonecas, como as outras meninas da minha idade, às casinhas, aos cozinhados. Não me parece um paradoxo. Hoje, adulta, mãe e Educadora de Infância, acho graça ao facto de algumas meninas (cada vez mais) serem assim, estouvadas, decididas, aventureiras, práticas, mas muito femininas, ao mesmo tempo, projetando nas suas brincadeiras, o jogo simbólico que fazem das suas casas, dos seus lares, das suas mães, (ou adultas cuidadoras) quem sabe? Esta sua feminilidade não se resume só a estas brincadeiras, cada vez mais é impregnada de uma série de outras encantadoras características que associamos de imediato às meninas (capacidade de fazerem várias coisas ao mesmo tempo, gerirem as tarefas de uma forma mais célere, enfim, penso que não correrei o risco de estar a exagerar, salvas as sempre devidas exeções, claro!)
Quando me imaginava adulta, nunca me imaginava sem filhos! Não sei porquê, mas isso fazia parte da minha ideia de felicidade, de projeto de vida. Isso para mim não era redutor, era uma coisa que sentia como quase uma certeza, a par de uma realização profissional que ansiava. 
E hoje, tenho três filhos e sinto-me uma mulher muitíssimo realizada a esse nível, a par de outros níveis de realização pessoais e profissionais que sinto e que me fazem sentir uma gratidão imensa por tudo o que tenho, que é tanto, tanto!
Este sentimento de gratidão incluí o sentir-me parte de uma rede de mães  (conhecidas e desconhecidas) que sentem e vivem isto desta forma, tal e qual a minha. Tenho tantas amigas que sentem isto e com quem me identifico e com quem falo tantas vezes, com tanto e tanto prazer! Tenho depois outras amigas que não sentem nada disto, mas que são, tal como eu, imbuídas de um respeito enorme pela vida de cada um e pelas opções de cada um e conheço depois também, uma série de mulheres que vivem a MATERNIDADE desta forma plena, autêntica e intensa. Esta intensidade implica as várias vertentes de amor, mas também de exaustão (sim, esta às vezes domina-nos!) a que este cargo vitalício nos obriga! A mãe cuidadora, a mãe vigilante, a mãe atenta, a mãe polícia, a mãe galinha, a mãe coruja, a mãe também mulher, a mãe também esposa, a mãe também esgotada, cansada, saturada, stressada, a mãe calma, preguiçosa, egoísta porque hoje só quer estar sozinha um bocadinho, a mãe cozinheira, a mãe, a mãe, a mãe... acho que as vertentes não acabariam nunca, tal e qual o amor que lhes temos!
Sou muitas vezes um bocadinho de todas elas e consigo (oh, Natureza, Natureza...) às vezes, ser um bocadinho de todas elas quase em simultâneo, como um polvo, com vários tentáculos, virando-se em várias direções! Às vezes sinto que sou polícia vezes demais, extenuando-me a impor-lhe regras de vivência diárias, de arrumação, de cuidados domésticos e outros, sentindo que os resultados não se vêm, não se ouvem, não se sentem, mas acreditando, no íntimo que a "semente" está lá e fará a diferença quando for preciso; às vezes sinto que sou a galinha, a coruja, muitas vezes a stressada, a irritada; sempre, a cozinheira, e infinitamente sempre, sempre, sempre a MÃE, só a MÃE, com a unicidade que só ela tem, buscando como só ela sabe, um equilíbrio que surgirá naturalmente, como se a Natureza tivesse previsto esse "metabolismo emocional" necessário às múltiplas solicitações que tem e que, de certeza, os seus filhos vão aprender a respeitar, reconhecer ao longe e amar, muito, muito!
Acredito que o "saldo" deste amor, será sempre positivo...



"-Mãe, vais ser sempre a mais bonita!" - Pedro



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013





HAPPY VALENTINE

 
 Há coisas que nos entram pela vida a dentro, mesmo sem querermos, ou fazermos nada de especial para que isso aconteça. O assinalar com as crianças do meu grupo de trabalho o dia de São Valentim é um exemplo disso. Nem por sombras estava a pensar hoje em trabalhar este tema. Pensei em fazer com os meninos uma retrospetiva destes dias de Carnaval, perguntando-lhes o que tinham feito nos três dias de interrupção letiva em que muitos ficaram em casa, perguntando-lhes como tinham vivido a quadra numa cidade tão carnavalesca como aquela em que trabalho e seria por aí, fazendo um ponto final a esta temática, relembrando-a, falando das experiências familiares e de vida, ouvindo os colegas, relatando episódios extra-escola. Os dois dias úteis que nos separam do fim-de-semana seriam propícios a essa conclusão antes de iniciar uma nova semana de trabalho. Sei que se pode aproveitar este dia para se falar nos AFETOS, na AMIZADE, na PESSOA MAIS QUERIDA e extrapolar por aí em diante, toda a teia de valores e conceitos que se querem trabalhar com os grupos. Aliás, como refiro várias vezes, essa é uma riqueza grande do Pré-Escolar: a transversalidade que tudo pode ter e a versatilidade responsável que podemos dar às temáticas.
Mas pronto, eu não estava para aí virada, não tinha pensado ir por esse caminho, até porque acho que damos aos temas o peso que nós próprios queremos dar... mais, ou menos, conforme a intensidade com que os vivemos.
Lembro-me, na adolescência e juventude, de dar a este dia um colorido especial, fazendo dele aquele pote meloso de lembranças, recados, bilhetes, mensagens e tudo o mais e resto que nos é oferecido, um pouco pela nossa imaginação e outro pouco (ou muito) pelo comércio! E eu, adolescente e jovem normal (penso), sempre lhe dei essa cor.... 
Hoje, mal entrei na minha sala, gritaram-me: -" PAULA, HOJE É DIA DOS NAMORADOS!!!!" - e eu, apanhei este dia no colo, assim, mesmo sem pensar... Falámos nos namorados, nos amigos, nas amigas, nas pessoas queridas, nos pais e mães namorados e nos pais e mães que não são namorados e nos pais e mães que têm outros namorados... falámos nas manifestações de carinho, nos beijinhos, nos abraços, nos sorrisos, falámos nas pessoas mais queridas para nós, falámos nos corações e nas cores dos corações... E FOI TÃO BOM!!! As crianças têm esta capacidade mágica de me deliciar com coisas tão simples!  Um mero coração de papel pintado e recortado, surgiu, do improviso, colocando lá dentro AQUELA(s) pessoa(s) mais querida(s)!
E lembrei-me de mim e do meu namorado, lembrei-me das minhas amigas que, como eu, tiveram (e têm) um namoro longo, preenchido com descobertas de um e do outro, ao sabor dos anos e do crescimento e da vida; lembrei-me das minhas amigas que tiveram um namorado e já não têm, lembrei-me daquelas que optaram já por não querer ter nenhum, ou pelo menos nenhum sério, estável, duradouro, com cara de "projeto de vida"; lembrei-me daquelas que optam por ter um namorado só "aos bocadinhos", quando lhes apetece, adaptando o namoro aos comodismos de cada um, porque já são mais velhas, porque já não têm paciência, porque já não faz sentido de outra forma, ou só porque sim; lembrei-me daquelas que não conseguem esquecer o primeiro namorado e que, por isso, pautam todos os outros pela mesma tabela afetiva, esquecendo-se que nessa tabela só cabe um; lembrei-me daquelas que fazem do "ter um namorado" um projeto de vida, porque a solidão assusta mais que um namorado que ainda não existe; lembrei-me daquelas que procuram um namorado e não o encontram, porque o que vêm não é aquilo que procuram.... Todas estas amigas fazem parte da minha rede de afetos e têm um nome e sei quem são e hoje, para todas elas, apetece-me só dizer que se calhar, o mais importante é pintarmos o nosso coração da cor que quisermos e pormos lá dentro AQUELA PESSOA MAIS ESPECIAL, tenha ela a cor e a forma e o título e o elo e o peso e a força que lhe quisermos dar e assim, como os meninos e meninas da minha sala, veremos este dia com olhos mais simples mas verdadeiros, os olhos do AFETO!
 
 
"Um namorado é um amigo, mas não normal, diferente... daqueles assim especiais, que se gosta tanto, tanto..."
 
 João Bernardo, 5 anos

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013




BEATRIZ versus IRENA


A minha mãe punha-nos aos dois no comboio, entrava lá dentro connosco, provavelmente entregava-nos ao cuidado do revisor, ou de alguém com responsabilidade e esperava que o comboio partisse. E lá íamos nós os dois numa viagem mágica naquele cubículo com um beliche e um lavatório e sanita. Esta viagem começava sempre ao fim da tarde, pois o comboio percorria o País durante toda a noite, chegando ao Porto de manhãzinha. Era chamado o "comboio cama" que ia do Algarve ao Porto. Lembro-me que dormíamos tranquilos, embalados pelo som das carruagens e quando nascia o sol, corríamos para a janela para ver o dia. Em Vila Nova de Gaia, saía muita gente e um dia perguntei porquê... o revisor explicou-me que muita gente tinha medo da curta travessia que o comboio fazia à velha ponte D. Maria Pia, sobre o Douro, que era muito antiga e que por ser tão velha, temia-se que caísse. (Em 1991 foi "substituída" pela ponte S. João).
 Lembro-me que o Nuno ficava assustado e às vezes, zangava-se comigo por eu querer fazer a travessia com a cabeça de fora da janela, mas eu, levada pela inocência e ingenuidade infantis e também por ter sido sempre mais rebelde e aventureira, adorava aqueles minutos de adrenalina pura, em que o comboio ía devagarinho, devagarinho.... Quando o comboio chegava à estação da Campanhã, são e salvo, as minhas primas minhotas estavam sempre, invariavelmente à nossa espera e seguíamos com elas, para outra viagem, mais curta e noutro comboio, do Porto para Baroselas, uma pequena vila, do concelho de Viana do Castelo, perto da aldeia do meu avô. E se hoje, tenho a certeza absoluta que nunca mandaria os meus filhos numa viagem de comboio para tão longe, mesmo que com todas as salvaguardas de segurança que a minha mãe acautelava, esta viagem era também o passaporte para uma férias de Verão deliciosas, absolutamente diferentes da realidade urbana que tínhamos diariamente, podendo gozar de vivências rurais tão distantes das nossas e por isso, tão encantadoras. O Minho mais puro, tantas vezes relatado pelo nosso avô materno e para nós tão distante, entrava-nos assim pela vida dentro, comprovando que tudo o que é experimentado é mais absorvido/interiorizado/vivido. Esse Minho profundo enchia-nos de episódios, situações e lembranças que guardo até hoje, num cantinho da minha memória e do meu coração e que contribuiram para que cosesse com nós apertadinhos, mais este bocadinho de mim, a outros e outros e outros, transformando-me no que sou hoje.
As ordenhas, as casinhas de pedra, as sanduíches de broa de milho e sardinhas, os banhos no rio, os sinos a tocar e a fila de gente que acorria para a Igreja, o saudar o "Sr. Abade" no final da missa, as visitas às casas de tantos primos e primas, o limpar dos sotãos dos primos que estavam na França, as compras na venda e a "avozinha", aquela "avozinha" deliciosa que me fazia ter (como tenho até hoje, talvez por sua causa, quem sabe?) uma imagem ternurenta e carinhosa de todos os velhinhos (as).
Esta figura marcou-me de tal maneira de ternura que liguei sempre o seu nome (Beatriz) ao nome que queria dar um dia a uma filha, se a tivesse! Era a irmã mais velha do meu avô e já era muito velhinha nessa altura. Era uma mulher muito grande, com mãos e pés compridos e uma altura que contrariava a norma. Lembro-me dela sentada numa cadeira de madeira, daquelas de baloiço, junto à braseira, com um terço, ou novena, já não sei, entrelaçados nos dedos grossos. Tinha uma pele sempre rosada e uns dentes perfeitos! Eu pensava como era possível alguém daquela idade ter uns dentes tão perfeitos e um sorriso tão bonito. O cabelo era branco, sempre apanhado atrás num clássico carrapito. Contava-nos histórias do meu avô e de todos os irmãos e eu gostava, gostava de ali estar sentada aos seus pés a ouvir, a "beber" todas aquelas raízes tão profundas do meu lado materno.
Eu e o Nuno não éramos seus netos, mas sim sobrinhos-netos, mas não importava. Chamávamos-lhe "avozinha" na mesma, como todos os primos e por causa dela, o nome BEATRIZ ficou a ter uma carga afetiva tão forte para mim.
No outro dia, a propósito de um post que uma amiga pôs no Facebook acerca de IRENA SENDLER (cuja história já conhecia e é mais uma das tantas e tantas que admiro acerca da 2ª guerra mundial), fiz uma ligação direta à imagem da "avozinha" da minha infância, pois achei-as parecidas, pelo menos parecidas àquela lembrança que guardo com ternura.
Não sei se a "minha avozinha" teria tido a coragem que IRENA SENDLER teve, mas sei que as acho parecidas e que, ao olhar para a imagem daquela velhinha polaca me lembrei da doce tia Beatriz.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013




SORRIR COM O FÍGADO...



"Um dia sem rir é um dia desperdiçado"
 
- Charles Chaplin - 

Nunca gostei particularmente do Carnaval. Lembro-me que quando era miúda também não tinha um especial gosto, mascarava-me na escola, normalmente para marcar o dia festivo e pouco mais. Lembro-me que também na minha casa, esta quadra não era particularmente vivida. Não por nada em especial, talvez até por acaso, foi sempre assim e pronto! E assim crescemos lá em casa, "herdando" esta certa indiferença ... Talvez por isso nunca cultivei o hábito de me mascarar, de ir a festas, bailes e afins, alusivos à quadra. Já mais velhinha, na adolescência e juventude, o Carnaval era mais uma oportunidade para nos juntarmos todos em grupo, às vezes mascararmo-nos, sairmos, mas sempre num espiríto mais ou menos distante para mim... achava sempre alguma piada, ao longe, à forma como alguns amigos e amigas viviam tão INTENSAMENTE, esta data... era engraçado ver isso, mas nada mais em especial, não me envolvia particularmente. Hoje, adulta, acabo por viver o Carnaval na escola, com os miúdos e envolvo-me com eles nesses curtos dias e no dia da festa em si e procuro centrar-me na ALEGRIA, dando-lhe o papel central de uma quadra. Assim, os palhaços, a folia, as partidas, as brincadeiras, o riso, aparecem na minha sala como "reis e senhores" de uma festa que nos "entra pela porta sem pedir licença" e fica, fica por aquelas breves horas e enquanto duram, envolvo-me e brinco e canto e danço com os miúdos, sentindo que eles têm mesmo aquele efeito avassalador de contágio daquilo que sentem, como se não conseguissemos, ou pudessemos ficar imunes a isso.
Para mim o CARNAVAL resume-se a isto e tem sempre, nos "bastidores" disto, alguma impaciência que me assalta e que marca a quadra.
Hoje, sentindo esta impaciência miudinha, tive uma tarde de cinema em casa, longe dos "Carnavais borbulhantes" que andam por aí, com chá quentinho, edredon, sofá e lareira acesa e tive oportunidade de rever um filme que já tinha visto no cinema ("Comer, rezar e amar", 2010). Não o acho um filme exuberante, daqueles que nos marcam para a vida, é um filme light, mas interessante, que relata o percurso pessoal de alguém que parte, em busca de si própria, através de uma viagem por alguns países, onde descobre pequenos pedaços de prazer e equilíbrio que, juntos, contribuirão para o equilíbrio total. É com a Julia Roberts, de quem gosto muito e hoje, nesta tarde de impaciência carnavalesca miudinha, retive uma frase de um dos personagens: ..."tem que se sorrir com a boca, com a mente, com o coração, com o fígado...", como se o sorriso nos tivesse que vir das entranhas mais viscerais de nós próprios e como se servisse, sempre, de antídoto para tudo!
Hoje, ao contrário da primeira vez em que vi o filme, esta frase chamou-me a atenção e fez uma ligação direta com a alegria e riso carnavalescos!
Mesmo que o riso mostrado nas festas e desfiles seja ôco e esconda grandes tristezas que voltarão à tona após a anestesia festiva, mesmo que se sinta que tudo é vivido de forma tão exuberante, exagerada, excitada, que torna tudo relativamente falso, mesmo que se goste de assumir, por momentos, outras personagens/figuras tão distantes de nós próprios (os verdadeiros), tão distantes, tão distantes que nos descaracterizam,  valha-nos o riso, valha-nos a alegria que devemos tentar sentir no Carnaval e também em todos os outros dias, forçando às vezes um sorriso que é exteriorizado pela boca, mas que deve vir do coração, da mente, do gesto, da expressão, do olhar, e também das entranhas mais profundas, como o "fígado". Quem sabe se assim, insistindo nos sorrisos diários, estes vão sendo cada vez mais terapêuticos?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

 
 
TERNURA
 
 
"Nem o maior revolucionário abandona a ternura"...
 - CHE GUEVARA -

 
 
Há coisas que nos tocam e interpelam e que produzirão sempre esse efeito, por mais anos que tenhamos, ou por mais que já tenhamos escrito acerca delas. Fazem parte da nossa natureza e pronto, não há nada a fazer! Nunca as sentiremos como tema repetitivo, pois para nós será sempre novo, eloquente, significativo! É isto que me acontece com temas relacionados com GENTILEZA, AFETO, TERNURA, CORDIALIDADE... Não me considero "cor-de-rosa", nem o quereria ser... Sou romântica (já o tenho dito), mas sei que há cinzentismo, há "garras de fora" quando tem que ser, há tomadas valentes de posição, ou quente, ou fria (o morno, nem sempre é exequível...), há determinação e ainda bem! O equilíbrio que devemos ter na vida encarrega-se de nos fazer sentir tudo isso nos momentos devidos.
 O gosto pelos temas referidos não tem nada a ver com isto... tem a ver com uma necessidade muito grande que sinto de dizer que é por aí, pela ternura, que terão que passar todas as mensagens, com toda a veracidade dos seus factos que, muitas vezes, são duros!
A ternura, a ternura... Tive durante muito tempo uma frase de eleição, atribuída ao Che Guevara (não sei se será mesmo dele, mas vi-a num site, ou revista, já não me recordo e era atribuída a ele...), que era: "Nem o maior revolucionário abandona a ternura". Adorei desde logo a frase. Significou para mim decisão, firmeza, luta, mas ternura, como se tudo tivesse que ser "mesclado" com esse brilho para se perpetuar, no tempo, nos corações, nas memórias.
Pouco sei do Che Guevara. Aquilo que sei acaba por ser o senso comum normal, aliado a mais alguma informação pontual que a vida vai trazendo... Sei que nasceu na Argentina, trabalhou desde cedo e estudou ao mesmo tempo, formou-se em medicina e uma viagem que fez de bicicleta, com um amigo, pela América central fê-lo deparar-se com uma série de condições de vida miseráveis e paupérrimas, o que lhe fez ter um "click" revolucionário, altamente inflamado também, pelas condições de vida políticas e sociais que se viviam na Argentina do seu tempo... daí para a frente é o que se sabe, até ter sido assassinado na Bolívia, nos anos sessenta. Independentemente de todas as coisas menos boas que todas as revoluções/lutas armadas/guerras têm, ficará sempre ligada a este homem (e a outros como ele, nos seus tempos, nas suas histórias...) uma aura romântica, revolucionária, idealista. Pela minha parte, penso assim. Um filme que vi sobre a sua vida e essa tal volta de bicicleta que fez pela América Central ("The motorcycle Diaries", 2004), contribuiu para essa ideia e quando "descobri" a frase que lhe atribuo, achei que estava certa.
Então, sejamos todos revolucionários, firmes, lutadores, obstinados por aquilo em que acreditamos, teimosos, persistentes, mas ternos, inflamando com ternura todas as mensagens que quisermos passar. Não passarão todas, certamente, a vida encarrega-se de "processar toda a informação" e selecionar, com o tempo, o que é útil e o que não é, mas de certeza que deixaremos uma marca, mesmo que levezinha, nos outros! Bora lá?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013



 - Oh mãããeeee...

Ter duas filhas adolescentes é uma descoberta diária e uma caminhada que não tem receitas, ou estratégias definidas. Não valerá a pena nunca dramatizar: nunca será tão fácil como se quereria, mas também nunca é tão mau como se pensa! Ainda por cima, as minhas filhas são duas adolescentes completamente diferentes uma da outra e são diferentes desde bebés, em tudo, o que nos dá a todos lá em casa um "palco" de cenários" diários de reações e atitudes diferentes perante as coisas. Às vezes até me rio porque me consigo rever um bocadinho em cada uma delas, como se a genética se tivesse preocupado em fazer uma distribuição equilibrada das minhas características por uma e depois, por outra. Se fisicamente são muito mais parecidas com o pai do que comigo (resta-me o mais novo para me dar esse "alento" da parecença fisíca comigo... ou, pelo menos com o lado materno...), em termos de feitios e atitudes perante as coisas, partilham as coisas parecidas à mãe... 
Lembro-me que não fui uma adolescente difícil. Tinha as minhas rebeldias (e ainda bem!) que, comparadas com muitos dos problemas a que hoje se assiste, eram "brincadeirinhas de crianças", fazendo-me agora até esboçar um sorriso quase inocente quando as recordo. Os meus Pais eram absolutamente vitais na minha vida, tinham um papel complementar, mas diferente, como se cada um de ocupasse de uma área da minha vida, mas estivesse sempre a par de todas as outras, como aqueles puzzles em que uma pecinha só encaixa numa outra, mas contribui para todo o resultado final... e tinham um papel muito bem definido, seguro e atuante sempre que achavam necessário. E isso fez-me muito bem! Incutiam-nos autonomia, mas também responsabilidade, decisão, mas também apoio de retaguarda, iniciativa e brio naquilo que fazíamos, mas também a preocupação de nos mostrar que nos amavam tal e qual éramos, sem espetativas infundadas e ilusórias... ao mesmo tempo, tentavam sempre que criassemos espetativas plausíveis de nós próprios, encaminhando-nos para uma vida com sonhos (sempre essenciais), mas realidades também, daquelas que moldarão em grande parte, os nossos futuros.... Lembro-me que apesar desta cumplicidade de retaguarda, não eram os meus confidentes de eleição... as amigas e amigos sim, esses eram sempre os escolhidos, nas diferentes fases da vida, para os primeiros desabafos e conversas mais difíceis e hoje, adulta, consigo dizer que ainda bem, é assim que tem que ser... como se o passarinho tivesse que voar sozinho antes de voltar atrás, ao ninho de origem...
As minhas duas filhas adolescentes, diferentes, procuram-me para desabafar, para me contar alguns (sei que poucos, os que bastam no seu entender...) segredos e para me pedirem a opinião, às vezes, muito seguras de si, com ares de sabedoras de tudo, como se o perguntar à mãe fosse só o confirmar (ou não) daquilo que já sabem... tenho que ouvir sempre, gerir os timmings das respostas e procurar um equílibrio nem sempre fácil entre o dizer-lhes o que penso com segurança e também o acolher/ouvir/processar/ o que me dizem, por muito disparatado que pareça (e tudo isto sem lhes fazer perceber como tudo é tão previsível!). Tenho que acolher sempre, não me anulando a seguir, mesmo que a resposta não seja aquela que querem ouvir, mesmo que finja um ar desinteressado que lhes facilita o desabafo, mesmo que me ria por dentro da dúvida, da questão... tenho que lhes prometer sempre que fica entre nós, incluindo sempre o pai "nesse nós" tão grande, fazendo-lhes ver que ele é também uma "peça" absolutamente vital nas suas vidas, mesmo que recorram sempre primeiro a mim, com um recorrente: -"Oh mãããããeeeeee!", seguido de sabes, mãe, tu é que entendes estas coisas..."
Quero acreditar que assim esteja a criar entre nós um elo de confiança que será importante para suportar crises futuras e ao mesmo tempo que lhes esteja a ensinar (sem livros, fórmulas em papel, decretos, ou receitas...) uma rede de relações de afeto que nos ligam a todos lá em casa e que nos tornam, aos bocadinhos e de vez em quando, todos responsáveis uns pelos outros.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013



PERFUMES



O meu último post ("EMPATIA"), fez-me refletir sobre a quantidade de gente que me inspira por motivos vários, ou sobre aquela quantidade de pessoas sobre as quais teria sempre "assunto para escrever"... São tantas! Mesmo aquelas pessoas que passam pela nossa vida sem a marcar, sem deixar um "risco" profundo, ou desenhado com "canetas de tinta que não sai", também essas, podem sempre ter alguma coisa que nos chama mais a atenção. Poderia escrever sobre algumas dezenas... ou teria outras tantas que me dizem tanto, tanto (por vários motivos) que a escrita não poderia nunca ser linear, levaria tempo a processar, a apurar a essência mais verdadeira do que quero dizer! Para essas, vou-me sentindo dia-a-dia, acreditando que as marcas que me deixam darão sinal que conduzirá a esta disposição maravilhosa para a escrita e para o seu "lançamento" para uma "blogosfera  quase universal"...
É quase como um perfume... Nunca fui fiel a um só perfume, gosto de vários e já tenho mudado de "cheirinho de eleição" várias vezes. Também aqueles que por mim passam, têm vários odores, que inalo mais, ou menos profundamente, conforme a ocasião, o estado de espírito, o ascendente que essa pessoa tem em mim, a minha própria disposição, ou até, a unicidade dessa pessoa...
perfumes que se notam logo, tão fortes que são, tão inconfundíveis... há outros, talvez mais raros, feitos de uma essência diferente, não são logo notados, passam por outras coisas que não se explicam, às quais não sabemos logo dar um nome, mas que são tão maravilhosas, exuberantes, diferentes, únicas, que não esquecemos, ficam-nos marcadas com a tal "caneta de tinta que não sai"; há outros ainda, que são uma mistura das duas primeiras coisas: fortes, exuberantes, únicos e raros! E depois há perfumes que gostamos de repetir, tal é o gosto que lhes temos!
Sei quais são os meus perfumes a repetir, sei quais são aqueles frasquinhos aos quais recorro de quando em vez e até sei que perfume usar em que ocasião... Sei que também todos somos um pouco perfumes para alguém, mais fortes, mais fracos, mas únicos e maravilhosos, à medida do que cada um quiser e essa sensação de preenchimento é maravilhosa...
E isto tudo, sabem porquê? Porque acredito que os perfumes são pessoas, daquelas verdadeiras que nos enchem os espaços da vida sem pedir, que nos aparecem às vezes do nada, que têm histórias para nos contar...é tão bom quando lhes sentimos o perfume... é tão bom quando os nervos olfativos do nosso cérebro deixam que esse perfume nos toque, por qualquer razão e fique connosco para sempre... para podermos repetir, ou não, ao sabor da nossa vontade e é tão bom também, ser um perfume para alguém!
Bons cheirinhos...