sábado, 29 de março de 2014




LAVAGEM DE ALMA


Li algures, ou passou-me hoje pelos olhos um artigo que referia que as lavandarias self service estão a crescer como cogumelos nas grandes cidades e têm-se assumido como uma forma eficaz de poupar na conta doméstica da luz. Quanto a isso não sei, esse conceito chega-me ainda só pelas séries americanas, ou filmes, mas tenho a sorte de poder lavar a alma muitas vezes, de forma gratuita, constante, diária e espontânea. Basta estar atenta e recetiva...
Estes três últimos dias foram especialmente cansativos em termos profissionais. Andei numa roda viva, a gerir situações, a consensualizar, a tentar ser assertiva, o que realmente, admito, nem sempre é fácil. Tenho a sorte de conseguir mudar rapidamente de registo e então, a saída do trabalho traz-me para o colo uma vida pessoal cheia e muito (acho!!) feliz. Deixo um pouco os problemas profissionais atrás de mim, lá ficam a hibernar até ao dia seguinte e lá os recebo outra vez no outro dia (que remédio!), mas já com outra leveza, acho e desejo...! 

Apesar de tudo, continuo a achar que tenho a melhor profissão do mundo! A pessoa anda assim, com o mundo a pesar nas costas e de repente, sem nada fazer esperar e sem pedirmos, vemos cenas destas, assim, e outras parecidas e pronto, ficamos de alma lavadinha e pulmões cheios outra vez!
Basta estar atenta, a sério... 

terça-feira, 25 de março de 2014




KEEP MOVING

(ou equilíbrio, se quiserem...)




O desabafo dela foi proporcional ao cansaço. Este, como era extremo, aquele foi também grande, demorado, e diferente dos usuais, rápidos e tirados a saca-rolhas. Ali, foi espontâneo e embalado por lágrimas grossas e voz a soluçar. Eu intuíra-lhe já o depósito cheio e uma gestão nem sempre bem feita da pressão. Observadora atenta (julgo) e preparada (penso), antevira já que este vendaval seria só uma questão de tempo. - O dique há-de transbordar breve, breve - pensava eu, forçando-me a não intervir, já que sei que há caminhos que têm que ser andados sozinhos. Naquele dia, apertei o coração e dei-lhe o colo, deixando-lhe espaço para respirar, agir e disciplinar toda aquela pressão que ali estava a ter a forma de choro. Enquanto durou aquele abraço, revi-me mentalmente em segundos, que às vezes sabem ser longos, nas minhas duas filhas: a mais nova, parecida comigo na rapidez com que faz as coisas, no voluntarismo que põe no que gosta, no sentido artístico que tem da vida; a mais velha, que agora abraçava, parecida comigo na maturidade de análise, na gestão das prioridades, na segurança que tem acerca daquilo em que pensa. Vi-me ali assim, em cada uma delas, num pedacinho de coisas boas e percebi que, sem dramas, ela também vai relativizar, também vai aprender a lidar cada vez melhor com a pressão, seja ela qual for, também vai crescer e, quem sabe um dia, poder também dizer isto a alguém... - é que sabes filha, o equilíbrio tem que ser desequilibrado primeiro e é neste desequilíbrio, que nos equilibramos outra vez!  So, keep moving.....

quinta-feira, 20 de março de 2014




COISAS DE AMOR



E hoje, lembrava-me disto


e disto...

e mais disto...

Porque dizem que o dia é dele e porque o acho o melhor PAI que os meus filhos poderiam ter!




No pensamento retenho, tudo o que gostaria de dizer ao meu pai... guardo tudo para mim, como um tesouro valioso que não dou a ninguém e que nem caberia aqui, tal é a dimensão do amor que lhe tenho e da saudade que sinto. Sei que ele, em segredo ouvirá, porque assim acontece, por magia, àquelas coisas de amor que sentimos com a alma...



segunda-feira, 17 de março de 2014



CRÉDITO SEGURO

(há coisas que nos dão isto...)


Sim, sei que o dia anterior tinha sido cansativo e por isso levei o dia num torpor enervante, forçado, sentindo-me como se estivesse de fora a ver-me, metida numa névoa pegajosa de onde não conseguia sair. Talvez o lento acordar de uma anestesia geral seja assim, quem sabe... Senti-o levantar-se cedo, senti a casa toda ir despertando devagarinho e fui ficando, ficando, alheia a tudo, enlevada na tal anestesia que o corpo pedia. Sinal de cansaço, dir-me-ia a minha mãe... Talvez sim, o corpo pedia-me aquilo com exigência! Levantei-me muito tarde para os meus padrões de quarenta anos e, contra todas as previsões, mal disposta. Esse humor irritado e impertinente persistiu ao longo do dia, numa neura de sono, sol, indecisão quanto ao que fazer, pastelice preguiçosa. Fiz almoço, almocei, arrumei, compus, tirei, alinhei, lavei, arrumei e vi-me, de repente, sozinha, numa casa só para mim. Alheia aos afazeres sociais de todos os outros, rendi-me à perspetiva de ficar esticada no sofá a ver aqueles filmes que gosto e esta perspetiva foi ganhadora, mesmo a um sol maravilhoso lá fora e, afastando de mim aquele grilinho chato do Pinóquio que me mandava sair e gozar a tarde primaveril, estiquei-me mesmo, saboreando aquela preguicite teimosa e revi pela quinquagésima vez um dos meus filmes de eleição! O humor irritado e irritante persistia e de novo, mais tarde, a casa se encheu outra vez. Fui gerindo logísticas domingueiras que preparam toda uma semana e, continuando a ver-me em perpetiva de filme, vi-me a esticar-me no sofá pela noite dentro e a ouvir a televisão lá longe, lá longe. Adormeci, imune a todos que foram, à vez, chamar-me dali e lembro-me de ter acordado já noite fora, com os pés frios e meio perdida num sono esquisito. Saí dali e fui-me deitar a sério. Cheguei-me a ele e enrosquei-me, para aquecer. De repente estava desperta e tentei embalar-me na sua respiração. O compasso embala, de facto e fui entrando, entrando num sono a sério, convicta de que para dias destes não há explicação. Acontecem e pronto, para quê tentar justificá-los?

Hoje, entrei com energia numa semana que começa e às vezes o dia de ontem assaltava-me o pensamento. - Mas que coisa!! Há anos que não tinha um domingo assim!! Um dia inteiro sem sair de casa e ainda por cima um dia tão bonito! Nem parece teu, Paula Ferrinho, tão andarilha de rua...

Quando entrei em Faro tive que rir! Um cartaz publicitário (nem sei a quê) passou-me à frente dos olhos numa das pausas de trânsito... Ri-me sozinha e inverti a marcha para fotografá-lo, tinha que ser!


Sem mais explicações, achei que o meu dia de ontem estava explicado! É assim, o meu espaço ontem foi grande, mal disposto, muito inerte e um bocadinho egoísta mas o ADORO-TE (VOS), dá-me de certeza, crédito seguro, não será? 

quinta-feira, 13 de março de 2014





ENIGMA?


Seremos sempre diferentes, tão diferentes que salta à vista desarmada e então, porquê que isto resulta tão bem? Não sei! É um mistério insondável, ou então é um enigma, daqueles que de chorudo só tem o aspeto, pois no fundo, é simples e acessível. Sei lá, talvez a nossa diferença esteja nas coisinhas acessórias do dia-a-dia e não nas coisas grandes, estruturantes, pilares de qualquer coisa a que se chama projeto de vida! Se calhar é mesmo isso e hoje, ao ter de executar uma tarefa banal e chata que implicava cortar, contornar e colar, choquei de frente com as nossas diferenças, pois de um lado estava eu a fazer tudo ao mesmo tempo, super, ultra rápida, com telefonemas pendurados no ombro, com lanches a sair em série (sim, porque os meus filhos quando vêm a mãe, aí e só aí acionam aquele neurónio que lhes diz que têm fome...), com cartolinas a serem cortadas a olho, com medidas feitas a palmos; e do outro lado, estava ele, calmo, ponderado, observador, a medir com régua, a dividir espaços de papel, a cortá-los na perfeição, a mandar-me acalmar porque a pressa é inimiga da perfeição!  
- Eu não tenho tempo para ditados populares, achas? E no meio do meu desabafo ZANGADO ia observando de esguelha as benditas cartolinas, eficientes, a saírem perfeitinhas! - Claro, ele consegue ser assim porque não tem os lanches, não tem os telefonemas pendurados no ombro, NÃO TEM AS SOLICITAÇÕES QUE EU TENHO é sempre assim uma luta parcial, obrigadinha!

Mas no fundo, não é nada disso! Somos diferentes e pronto, é só isso! Eu serei sempre assim estouvada, prática, ultra rápida, parecida com a Mafalda nos cartoons em que está zangada, com os cabelos mesmo em pé e ele, será sempre observador, calmo, ponderado, um artista, pois então! E se isto pode parecer antagónico e incompatível, às vezes dá-me a certeza que é só um pormenor insignificante porque depois, naquelas coisas estruturantes e sérias, daquelas de que se fazem as vidas e os caminhos, aí somos absolutamente cúmplices!
E hoje, vi isto outra vez, clarinho como a água, no meio de todas aquelas tesouras, X-atos e afins e pensei que afinal não há enigma nenhum! Isto há coisas.... quem disse que as histórias de amor têm que ser complicadas?

terça-feira, 11 de março de 2014






CORDA E SOPRO


Às vezes lembro-me da minha mãe quando tinha a idade que eu tenho agora. Era uma mãe desempoeirada, mas atenta e muito firme nas suas convicções. Tinha qualquer coisa de irreverente que na altura eu não sabia explicar o que era e que agora sei que era aquilo a que posso chamar HOJE de determinação e autonomia de pensamento, de ideias próprias e convicções pessoais trabalhadas e processadas. Gostava de nos dizer que a confiança em nós era o principal pilar da nossa relação e que deveríamos ser dignos dessa confiança. E nós levávamos aquilo a sério e queríamos mesmo ser dignos dessa confiança. Havia coisas das quais ela não abdicava, mas acho que era uma mãe descontraída e relativamente informal. Sentíamos no ar a sintonia com o meu pai, a cumplicidade que os unia, mesmo sem ser preciso dizerem-nos nada. Já sabíamos que se a mamã dizia assim, o papá não ia dizer assado e vice-versa. Hoje, agradeço-lhes de coração essa sintonia, pois orquestrou a minha vida... 
E é mesmo assim, como um maestro de uma orquestra que me vejo agora também no papel de mãe, é mesmo assim, como um maestro, que oriento ora uma, ora outra, para que não desafinem e continuem fiéis a si próprias, sabendo respeitar e respeitar-se, sabendo concordar ou discordar, fazer, ou não fazer, decidir, ou só seguir. Às vezes, tenho que me afastar e deixá-las tocar sozinhas, mas estou sempre lá, atenta e vigilante, mesmo que elas não vejam... E assim vou vivendo e orquestrando e deixando tocar e assistindo e agindo e intervindo e opinando e silenciando e acompanhando e sorrindo e sentindo...
Não é fácil, isto, o orquestrar das cordas e dos sopros, tão diferentes entre si, mas também não é nada do outro mundo. Vou descobrindo aos bocadinhos pequeninos que o segredo está na naturalidade e autenticidade e sobretudo, na firmeza perante as convicções, perante aquilo em que se acredita e é essencial. Assim, seremos sempre mais completos e verdadeiros e quem sabe, no futuro, quando forem elas as mães, não vão copiar, mesmo sem saber, este modelo? Teria valido a pena...


segunda-feira, 3 de março de 2014




PASSINHAS DO ALGARVE


"Expressão que sugere a ideia de uma enorme provação, da passagem de um mau momento..." (...)

 Carlos Rocha, in CIBERDÚVIDAS DA LÍNGUA PORTUGUESA


A conversa telefónica que tive ontem com ela não me sai a cabeça e porque tive um fim-de-semana só com a minha mais velha que já é a menos absorvente, tive tempo para mim, para as minhas séries da Fox e AXN gravadas de empreitada, para os meus filmes, para o meu cinema sozinha, com espaço para me encher com as tramas da tela, até os pulmões e o cérebro estarem cheios deste prazer às vezes solitário mas tão bom; mas reconheço que o eco da conversa com ela ia-se fazendo ouvir, sempre, sempre e a minha admiração por ela crescia cá dentro e o meu orgulho por sermos amigas preenchia-me de forma real e palpável. Quando assim é, faz-se click por aqui...



É baixinha, magrinha e tem uma cara de boneca. Pariu três filhos sem epidural, o que durante séculos foi a coisa mais natural desta vida. Não parece ter a idade que tem, é vivaça, desenrascada, moderna, gira, vive a maternidade de uma forma plena, com a qual me identifico, tem uma profissão que adora, o que se reflete no seu trabalho e resultados, é célere e prática na gestão das brutais logísticas materno-filiais, tem um casamento sólido, com estruturas fortes que, como os casamentos da vida real e não virtual, não são imunes às crises, desentendimentos e divergências, mas são cúmplices na rota, no projeto e isso é o mais importante. É minha amiga há muitos anos e às vezes recordo a forma como nos conhecemos e a simpatia que lhe reconheci logo no primeiro dia, como se ela soubesse que essa é a qualidade que mais admiro e que mais me prende. Temo-nos acompanhado ao longo destes anos todos, temos percursos de vida parecidos e cumplicidades que não se disfarçam. Esta minha amiga querida, baixinha e com cara de boneca tem passado por passinhas do Algarve bem amargas, ultimamente... duras, sofridas, de grande pressão emocional, mas tem-se aguentado, não sem sofrimento e angústia, mas com uma busca incessante de fazer sempre o melhor e por isso pergunta, questiona (se), interroga... 
E eu, como acho que ela tem uma série de ferramentas interiores que a capacitam para o discernimento e clarividência emocional, como sei que isso é meio caminho andado para o sucesso e como sei que é inteligente, fui assistindo ao seu "deserto", àquela caminhada pela areia quente, àquele sofrimento que ela ia processando, processando, como um sistema operativo lentinho, mas eficaz, para no fim, retirar dele só o melhor. Se calhar fui, também com outros, um CATO pequenino, que lhe ia temperando a sede com uma água reservada, mas na verdade, o mérito é todo dela, porque tem sido ela e só ela a descobrir o trilho certo e hoje estou orgulhosa disso e por isso aqui vai, via blogosfera, um beijo do tamanho do mundo, mesmo que ambas saibamos que o deserto, às vezes, é longo, muito longo...