CRÉDITO SEGURO
(há coisas que nos dão isto...)
(há coisas que nos dão isto...)
Sim, sei que o dia anterior tinha sido cansativo e por isso levei o dia num torpor enervante, forçado, sentindo-me como se estivesse de fora a ver-me, metida numa névoa pegajosa de onde não conseguia sair. Talvez o lento acordar de uma anestesia geral seja assim, quem sabe... Senti-o levantar-se cedo, senti a casa toda ir despertando devagarinho e fui ficando, ficando, alheia a tudo, enlevada na tal anestesia que o corpo pedia. Sinal de cansaço, dir-me-ia a minha mãe... Talvez sim, o corpo pedia-me aquilo com exigência! Levantei-me muito tarde para os meus padrões de quarenta anos e, contra todas as previsões, mal disposta. Esse humor irritado e impertinente persistiu ao longo do dia, numa neura de sono, sol, indecisão quanto ao que fazer, pastelice preguiçosa. Fiz almoço, almocei, arrumei, compus, tirei, alinhei, lavei, arrumei e vi-me, de repente, sozinha, numa casa só para mim. Alheia aos afazeres sociais de todos os outros, rendi-me à perspetiva de ficar esticada no sofá a ver aqueles filmes que gosto e esta perspetiva foi ganhadora, mesmo a um sol maravilhoso lá fora e, afastando de mim aquele grilinho chato do Pinóquio que me mandava sair e gozar a tarde primaveril, estiquei-me mesmo, saboreando aquela preguicite teimosa e revi pela quinquagésima vez um dos meus filmes de eleição! O humor irritado e irritante persistia e de novo, mais tarde, a casa se encheu outra vez. Fui gerindo logísticas domingueiras que preparam toda uma semana e, continuando a ver-me em perpetiva de filme, vi-me a esticar-me no sofá pela noite dentro e a ouvir a televisão lá longe, lá longe. Adormeci, imune a todos que foram, à vez, chamar-me dali e lembro-me de ter acordado já noite fora, com os pés frios e meio perdida num sono esquisito. Saí dali e fui-me deitar a sério. Cheguei-me a ele e enrosquei-me, para aquecer. De repente estava desperta e tentei embalar-me na sua respiração. O compasso embala, de facto e fui entrando, entrando num sono a sério, convicta de que para dias destes não há explicação. Acontecem e pronto, para quê tentar justificá-los?
Hoje, entrei com energia numa semana que começa e às vezes o dia de ontem assaltava-me o pensamento. - Mas que coisa!! Há anos que não tinha um domingo assim!! Um dia inteiro sem sair de casa e ainda por cima um dia tão bonito! Nem parece teu, Paula Ferrinho, tão andarilha de rua...
Quando entrei em Faro tive que rir! Um cartaz publicitário (nem sei a quê) passou-me à frente dos olhos numa das pausas de trânsito... Ri-me sozinha e inverti a marcha para fotografá-lo, tinha que ser!
Sem mais explicações, achei que o meu dia de ontem estava explicado! É assim, o meu espaço ontem foi grande, mal disposto, muito inerte e um bocadinho egoísta mas o ADORO-TE (VOS), dá-me de certeza, crédito seguro, não será?
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