quinta-feira, 29 de maio de 2014





SPA


As mãozinhas são sapudas e esfregavam-me vigorosamente o braço. Depois, encostava o nariz à minha pele e sorria, com um jeito de menina pequena e ria de cada coisa que lhe dizia, elogiando-lhe a dicção correta e a desenvoltura linguística que apresentava. Fez 4 anos há pouco tempo e precisou de todo o 1º e 2º períodos escolares para absorver a informação, para se situar, para se enquadrar. Estes processos são pessoais e todos têm ritmos diferentes. Agora, já quase no final do ano, desabrocha em força como a Primavera que vemos lá fora. Fala pelos cotovelos e aproveita estes pedaços de tempo com o adulto referência para ser ela própria, com uma espontaneidade que, às vezes, o grande grupo inibe. E lá me massajava e penteava e cuidava, num jogo simbólico simples, mas maravilhoso. Disse-lhe que parecia que estávamos num SPA. -SPA? O que é isso? 
-É um sítio onde vamos para descansar e ficar lindas. 
-Lindas? Assim como a minha mãe? 
-Sim, querida, assim como a tua mãe. 
E sorri de frente para ela enternecida com esta ligação direta à mãe. Eu, meio dormente com esta terapia ocasional e rápida, ouvi-a dizer a outra: 
-Já viste? A Paula está aqui para ficar linda, assim como a minha mãe. E viste o sorriso dela para mim? Não é lindo também?

Fiquei derretida de ternura, como sempre fico com estas coisas que me dizem estes pingentes de 3, 4 e 5 anos. Pensei que o sorriso que lhe fiz veio de dentro de mim, com aquela força que só as coisas verdadeiras têm e assim hoje, depois de um dia denso e cansativo, depois de me firmar a pés juntos junto daqueles que amo, que é sempre onde venho tentar infundir-me de tudo o que é bom, veio-me à cabeça o meu SPA improvisado de ontem e a sensação tão boa que tive de bem-estar.
Num SPA verdadeiro, sorriria eu assim?



A denominação SPA, quer dizer salut per aqua, em latim, ou solus per aqua, que significa saúde pela água, numa alusão aos conhecimentos dos romanos acerca dos efeitos positivos das águas termais; ou diz respeito também a uma cidade belga chamada SPA, próxima de Liége, onde existia uma nascente de água muito quente, que era muito frequentada pelo público em busca de um banho relaxante, ou higienizante.

In, aorigemdascoisas.com

domingo, 25 de maio de 2014




SALPICOS


E pronto, às vezes um coração de mãe está enevoado, meio triste e a lidar com uma angústia irritante relacionada com um assunto de um filho e há outro filho que nos dá de repente ISTO e nós, sem sabermos bem como, "arrebitamos", como fazemos com o efeito de um salpico fresquinho na cara...!

E é assim, a vida tem destas coisas...



terça-feira, 20 de maio de 2014

A criança terá o direito a crescer e a desenvolver-se com saúde (...)
Artº IV 
Declaração Universal dos Direitos da Criança 



Sr. Piolho

(e outras coisas...)


-Opá, a sério, em 21 anos de serviço nunca tinha visto tal coisa! De cabecinha para baixo e já impregnada do antiparasita capilar, passavam-lhe o pente próprio, branco de sua cor original e ele (pente) vinha com fiadas negras, cheio de piolhos de todos os tamanhos, que caiam para o polibam e eram logo sugados para o ralo, pela força da água. Mexiam-lhe a cabeça para trás e para a frente, para que o movimento do pente fosse abrangente e andasse em todas as direções e lá vinha ele, pente, cheio, cheio. Passei por ali e detive-me naquilo. Fiquei atónita com o que vi e também com o que depois me relataram. Já tenho alguns anos disto, fiz colónias de férias na adolescência, em todas as escolas em que tenho trabalhado, NESTES ANOS TODOS, em todos os anos, há casos de piolhos, o cartaz do Sr. Piolho que nos veio visitar é recorrente, sei que ele pode aparecer em todas as cabeças loiras, morenas, limpas, sujas, pobre e ricas, mas como isto a que assisti hoje, nunca tinha visto.
Ficou a pairar-me por aqui esta imagem do pente a vir negro de bichinhos, a voz da miúda a dizer que já lhe doía a cabeça, que tem muita comichão, das feridas que já tem atrás das orelhas. Sei que a escola vai encaminhar, orientar e, neste caso, substituir uma família que seria quem deveria assumir a 300% isto. Sei que não é solução, porque lá em casa, seguramente, há disfuncionalidade e drama que chegue e como não há tratamento sistémico e equilibrado para todos, este caso será sempre emergente e de corda bamba
Sei disto porque sim, porque o mundo é assim, esta coisa cheia de coisas diferentes e às vezes não muito justas, mas isto e mais a frase que me diziam hoje do -Tenho fome, Paula... -Então, não comeste nada de manhã, amor? -Era cedo ainda, o leite escolar que a escola também dá ainda tardaria um pouco...- Não, não comi, a minha mãe não tinha nada em casa!... tomaram hoje conta de mim e LEVARAM-ME para a imagem dos meus filhos e para a certeza que tenho de que são uns felizardos e sortudos.
Estas situações e milhentas outras nunca acabarão, já não tenho essa ingenuidade, mas também, instintivamente, me recuso a ficar-lhes indiferente, sob pena de me tornar insalubre, como aquela água que dá para regar, mas não se pode beber e então, este post, vai direitinho para esses meninos e meninas que vivem situações como as que descrevo aqui. É assim como se fosse uma homenagem que lhes faço, neste bolg world.
E depois assim, como quem não quer a coisa, lembrei-me que o Dia da Criança está para breve, é só isso...


domingo, 18 de maio de 2014





MENÚ 1
MENÚ 2
MENÚ 3


Fenómeno sociológico, MESMO!!! Uma fila enormesca, com alguns números antes do meu, mas como tinha que esperar pelo resto da família que entrara para um compra, ali me detive à espera e fui observando. Queria tomar o pequeno-almoço e aproveitaria ali, já que os menus são rápidos e baratos e talvez por isso, haja sempre fila nessa grande superfície, mas sinceramente, acho que as pessoas abusam. A pobre da funcionária estava sozinha com aquela imensidão de gente sem fim e as exigências eram mais que muitas:  -a meia-de-leite é em chávena, se faz favor e é com descafeinado; não esse pastel de nata está muito escuro, desculpe, dê-me outro; esse queque é para levar, o bolo de arroz é que é para comer já, não me deu o pacotinho de papel o pãozinho é aquele (vai ao outro extremo do balcão para apontar...)não, não, aquele mais em cima, ao lado, ali, isso, isso... mas vai pôr o galão aí? Está muito quente? E o Ice tea para o miúdo, só há de pêssego? Uhum, que chatice, a sério? Bem, lá terá que ser... e é em pacotinho? Julgava que tinham em lata...não ponha margarina, ok? Prefiro manteiga.... 
E a fila ia aumentando, aumentando. Vi na expressão da funcionária uma impaciência mal contida e uns desvios de olhar para a fila imensa que crescia não sei de onde.
Nunca fui esquisita e tento não ser fútil. Acho que por se pagar um preço mais em conta por determinados serviços, não é por isso que se tem que ser mal atendido, mas convenhamos que, pagar 1 Euro, ou pouco mais, por menus de pequeno-almoço, não nos poderá dar a veleidade de exigir, exigir, exigir...
Arrependi-me de ter ficado ali, já que o tempo de espera foi quase exasperante. Ainda me interrogo como consegui não desistir, mas acho que a certa altura comecei a ficar curiosa para ver como é que aquilo acabaria, por isso, quando chegou (finalmente!) a minha vez, disse de um fôlego o que queria, sem me enganar e parece que vi um obrigado pequenino no olhar da miúda!
Para a próxima não vou ali, seguramente... no outro lado da rua pagaria um pouco mais, de certeza, mas há alturas em que não me importo... sei lá, se calhar é por isso que nunca hei-de ser rica!

sexta-feira, 16 de maio de 2014






Se calhar, SER AMIGO é assim, às vezes, olhar um céu sem fim...



QUEM DISSE QUE AS FAMÍLIAS ERAM SÓ DE SANGUE?

























Parece que ontem se celebrou o Dia Internacional da Família e eu, mea culpa, mais uma vez passei ao largo desta efeméride, de forma mais ou menos consciente, já que este tema é tão transversal, tão presente, tão rico, tão SEMPRE, que não senti apelo de falar nele com o meu grupo de miúdos na escola, ou de registá-lo de forma mais significativa por aqui.
Parece que foi em 1994 que a ONU resolver instituir este dia, pretendendo fazer realçar a importância da família e das problemáticas a ela associadas.
Não senti ontem esse apelo. Falo sempre nela (família) de todas as maneiras e feitios e quem é seguidor mais ou menos assíduo deste blog, testemunha isso, mas hoje lembrei-me daquela família que escolhemos e que não é biológica, daquelas pessoas com as quais criamos vínculos que não queremos perder, daquelas relações que temos há tantos e tantos anos e que nos vão acompanhando, indo ali ao lado das nossas vidas e apanhando-lhes o tom, a cor, o cheiro. Foi desses, dos amigos, que esta efeméride me fez lembrar, dando-lhes a força de família a sério e fazendo-os partes tão importantes da minha vida, tão viscerais e necessárias que os tornam ente queridos de sangue, quase!
E poder assim, olhar o céu sem destino, ao lado de uma amiga de sempre, poder perder horas na conversa, arrastando o tempo só porque sim, falar-se do que se gosta, do que se quer, ter-se cumplicidades que não precisam de ser verbalizadas, porque são percebidas e sentidas mesmo em silêncio, sentir os amigos (as) à mão de semear porque me são queridos (as) e porque me fazem sentir querida, ouvi-los falar de mim e comigo, com um amor que se chama amizade e que tem um tamanho tão grande que lá cabe também aquela coisa chamada SINCERIDADE; enfim, se isto não faz lembrar a família, então não sei...
É que, o que me estava mesmo a apetecer agora, era essa coisa deliciosa assim, de ficar a olhar para um céu sem fim, com uma, ou outra amiga, daquelas do peito e sentir que são de sangue, quase...!


quarta-feira, 14 de maio de 2014





VIDA REAL


Hoje li um post, num dos blogs que sigo (vidademulheraos40@blogspot.pt), que falava de "mães reais, como nós" e depois referia-se a essas mães como mulheres que têm empregada a tempo inteiro, que organizam jantares, que fazem drenagens linfáticas regularmente e que cuidam imenso da imagem. Estarão sempre lindas, maravilhosas, cheirosas, glamourosas, presumo...  Não tenho nada contra isso. Às vezes (muitas vezes!!) suspiro por uma empregada a tempo inteiro e por mais tempo para mim, mas não pude deixar de me lembrar de algumas mães assim que conheço tão bem e que depois, deixam esfumar de imediato esse glamour, assim que abrem a boca e deixam no ar uma sensação de vazio, de nulidade! - O glamour tem que ter conteúdo, pensei, e esse virá também do que se é, de verdade!

Lembrei-me das milhentas tarefas que tenho para fazer em casa, do caos reinante, embora às vezes organizado, que por lá impera, da falta de tempo que tantas vezes sinto, da falta de uma empregada a tempo inteiro que QUASE SEMPRE sinto, dos gritos que às vezes dou porque não concordo com o que dizem, ou fazem e porque sou assim, de génio fácil, da insistência que tenho para que ajudem, para que façam, da necessidade que sinto de que se oiçam uns aos outros, de que não imponham os seus programas individuais aos outros, como se aqueles fossem um dado adquirido, imune a quem por ali vive, da cordialidade que os obrigo a ter quando pedem para ir aqui, ali e acoli, porque quero que saibam que os seus programas têm que ser encaixados numa vida familiar DE TODOS e não só deles, da importância que dou ao ser, em vez do parecer, da imagem que lhes tento passar de que a mãe, e também o pai, os têm como absoluta prioridade, mas que têm vida própria e interesses e gostos e espaços e tempos que têm necessidade de preservar, sob pena de ficarem quase na corda bamba da insanidade mental...e de tudo isto me lembrei a propósito das "mães reais como nós..."
Mesmo não tendo a tal empregada a tempo inteiro, ou a marcação na drenagem linfática, ou tendo o cabelo, às vezes, em modo selvagem, sinto-me uma mãe real, como tantas que conheço e depois, veio-me à ideia esta imagem da Mafaldinha, que será sempre maravilhosa, mesmo não sendo ela ainda, ao que se saiba, uma mãe... 
É que é mesmo assim, às vezes, O QUE É MARAVILHOSO, pode ter outro tom...






domingo, 11 de maio de 2014




BINGO


Quando tenho que comprar coisas para mim, nunca gostei de ir acompanhada. Gosto de ver, de experimentar, de provar, pôr, tirar, imaginar, sozinha, sendo eu a gerir o meu tempo, o meu orçamento, a equação de todas as variáveis de circunstância, tempo e modo que andam à volta de uma compra para a minha pessoa.
Para além disso, o orçamento é cada vez mais curto, que este País está assim, deste modo  a assassinar a classe média e a falta de paciência para andar de loja em loja, mantém-se, com uma firmeza que parece estar mais sólida ainda, com a idade. Cada vez mais tenho sítios de eleição e estilos de eleição e então, sabendo exatamente onde hei-de-ir, poupo imenso tempo e dissabores relativos aos tamanhos que nunca há e aos estilos que nunca são bem os meus.
Hoje, a compra seria circunstancial, precisa e imperiosamente, rápida, devido às logísticas que se seguiam neste domingo de sol!
-Opá, não vamos ter tempo, mas tem que ser agora mesmo, senão depois já não dá, com as milhentas coisas que ainda tenho para fazer hoje!
-Eu vou contigo, mummy...
Não me pareceu boa ideia! Ir às compras acompanhada de uma das filhas e ter que gerir opiniões e gostos diferentes do meu, ainda por cima com tão pouco tempo e sem muita paciência... mas lá cedi. Lembrei-me de um dos primeiros posts deste blog e resolvi contrariar essa tendência! (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2012/11/mae-et-leia-se-extra-terrestre-ou-mae.html)
-Então temos que ser rápidas, eu sei exactamente o que quero, é assim e assim e assado e cozido e frito... Nem vale a pena andarmos de loja em loja, vamos àquela só e pronto, despachamo-nos logo!

Não vi logo o que queria e já estava a impacientar-me, com duas ou três tentativas frustradas de despachar o assunto. Ela pairou por ali comigo, viu, por alto as coisas, foi-me ouvindo, com um certo distanciamento e depois apontou para um sítio específico.  - Oh mãe, é isto! É exatamente como gostas e é o mais giro da loja, vais ver que te fica bem, tem aquele pormenor que estavas a dizer, não vale a pensa experimentares mais nada, vais ver.
À vista, na mão, não me parecia nada de especial, mas achei piada ao ar decidido. Entrei no provador e BINGO, impecável! Parecia uma coisa feita para mim e estava dentro de todos os parâmetros (preço, estilo, cor) que eu queria.
-Eu não te disse, mummy? Mais rápido era impossível... 
Seguiu com o inseparável telemóvel na mão, o mesmo ar decidido, despreocupado e seguro de si. Enquanto me dirigia à caixa, fiquei a olhá-la.
-De facto, princesa, - pensei -  és igualzinha ao teu pai, da pontinha do dedo do pé, até à pontinha do cabelo, mas hoje, nesta loja, de modo apressado, decidido e desempoeirado, com uma segurança desconcertante, foi a mim própria que vi...
E pensei que, pronto, esta, às vezes, poderá vir comigo às compras...




terça-feira, 6 de maio de 2014



GELADO DE MENTA

(quem disse que os sabores não nos inspiram?)

Conheço-os desde pequeninos! Eram miúdos e muito bonitos e lembro-me perfeitissimamente (esta palavra existe?) dos dois. Foram ambos "meus" Lobitos nesses anos longínquos em que eu era Caminheira, um projeto ainda, de Dirigente do Corpo Nacional de Escutas.
Ela era moreninha e muito bem disposta, tinha uma cara de bolacha sorridente e ele, endiabrado e muito travesso. Provavelmente ter-se-ão conhecido aí, por esses anos, nessas lides e depois não sei como foi. Não os segui ininterruptamente, mas sei que continuaram, cresceram juntos, fizeram amigosconstruíram grupos em comum, descobriram-se, aprenderam-se e no final, selaram esse amor que de repente ficou grande, com uma marca que quiseram que fosse sagrada e hoje, têm uma Maria lindíssima, uma mistura super, hiper bem feita dos dois. Claro que por tudo isto, tenho um carinho enorme por eles, porque os acompanhei, porque lhes acho graça, porque me revejo também no percurso que os vi fazer, porque... não sei, há coisas que não se explicam, sentem-se e pronto e não há volta a dar.
Eles, sem saber, têm os dois esse efeito em mim e agora?
Costumam mimar-se publicamente em algumas redes sociais, que se assumem para eles como veículos normalíssimos de se dizer o que se pensa e deles, porque os conheço, sei que esse é um mimo real, sincero e tão natural e espontâneo. Não terão porventura o pudor que eu tenho, mas isso também se explica: afinal, eu tenho 41 anos e ainda estou a aprender a andar por aqui, enquanto que para eles, isto é quase inato!
E hoje, queridos, inspiraram-me...
A vossa troca de frases no Facebook, teve assim aquele sabor maravilhoso do gelado de menta que adoro e até a música que vos serviu de mote, é para mim uma música muito gira, alegre e feliz.
Não é de felicidade e alegria que tratam os grandes amores? É que, mesmo quando não se sabe o que se há-de dar, nem dizer frases bonitas, eu sei que vocês têm o principal: UM AO OUTRO.
E digam lá se a música não é um mimo?



domingo, 4 de maio de 2014




BIGMUMMY

(também tenho uma...)


Eu era endiabrada, gostava de subir às árvores, descia rampas íngremes sem as mãos no volante da bicicleta, aprendi rapidamente a assobiar com os dois dedos indicadores na língua, irritando a minha doce avó Lurdes, era campeã de berlinde e não parava quieta, mas também tinha uma delicodocice muito feminina, aprendi depressa a gostar do sossego de um bom livro, colecionei com gosto os postais da Mary May (que ainda tenho), tinha uma lágrimazinha fácil e adorava brincar com os Barriguitas (sim, já os apanhei na minha infância...), com um desvelo maternal que sempre imperou nas minhas brincadeiras.

Sempre quis ser mãe e isso, mesmo com a névoa que o futuro tem na cabeça de uma menina pequena, imperava com sobranceria, como se, mesmo não sabendo mais nada, disso tivesse a certeza.
Acredito que este meu desejo teve berço também na referência que a minha mãe foi e é para mim, como se eu imitasse, na infância, sem saber, aquilo que a via fazer e dizer e ser e ensinar. Claro que sim, afinal, eu sei que as brincadeiras dos miúdos são espelhos grandes e quase sempre límpidos daquilo que vivem na vida real. Pois a minha vida real tinha (e tem) uma mãe gigantesca, que nos ocupa o coração todo, amaciando-o com um bálsamo de afetos que se mescla com firmezaclarividência, autoridade, doçura e muito, muito amor. Tenho também a certeza que isso me estrutura como pessoa e foi cimentando, ao longo do tempo e devagar e silenciosamente, esta minha vontade de ser mãe.
Hoje, ela continua a ser assim, um braço de água fresco, para onde me apetece mergulhar e é lá, no mergulho profundo, no mais fundo de mim, que a vejo sempre a ela, que vejo os meus três filhos e que lhes agradeço por preencherem assim, desta forma desbragada, todos os bocadinhos que tenho.
E é por isso que os ponho aqui assim, lindos...
Quem disse que este post era sobre mim?






quinta-feira, 1 de maio de 2014



COLO QUENTINHO DE PAI...
(hoje o meu pai faria 72 anos e foi do colo dele que me lembrei!...)



Dia chatinho, este... O calor insuportável a vir com uma força desmedida, sem me dar tempo para que me habitue a ele e o metabolismo a cair, a pique, pondo-me naquela dormência irritante que já conheço muito bem. A toque de cafés, a coisa lá foi andando até ao final do dia, a toque de tarefas inadiáveis, a genica lá foi voltando, impondo-me este fenómeno metabólico estranhíssimo, que já conheço, porque é meu e que é o de ir espevitando à medida que o dia vai terminando, enquanto deveria ser ao contrário, mas enfim!
Levei o dia a lembrar-me dele, que hoje teria feito 72 anos, mais trinta do que eu, era fácil saber-lhe sempre a idade na ponta da língua por causa desta mnemónica. De vez em quando vinha-me à ideia a sua expressão e tantas coisas de que me lembro, que me estruturaram como pessoa, que me fizeram ser o que sou hoje. Tenho tanto dele, no feitio, na maneira de ser, no sentido de justiça e educação que lhe reconhecia à distância e sempre, com uma postura no trato que tento imitar! Tenho tantas saudades dele que nem consigo explicar, ou verbalizar. É mesmo como se ficássemos com uma cicatriz incrustada na pele, metida lá dentro, misturada connosco e para a qual estamos sempre a olhar, a ver, a sentir se passarmos por lá o dedo.
As saudades que tenho do meu pai são assim, estão sempre, sempre, lá. Não magoam, porque estou pacificada, mas são tão reais que não desaparecem nunca, vão estando por ali omnipresentes.
E ao final da tarde, quando ouvia o desabafo do mais-que-tudo, quando recebia no colo a tensão acumulada e lhe observava, em silêncio, a gestão que fazia dos incómodos e contrariedades, não evitei uma lágrima fácil que ali espreitou e que logo tentei engolir. De repente, tive medo de não ser grande já para gerir tantas coisas de gente grande e a lembrança dele surgiu tão enorme, como sempre acontece quando fragilizo, como se fosse a luz de um farol lá ao fundo que me guia quando já está escuro e o que me apeteceu mesmo, mesmo, com uma força desmedida que extravasou tudo, foi ter outra vez 8 anos, como nesta foto, e saltar para o seu colo que era sempre tão grande e seguro e quente e maravilhoso e doce e forte. Aí, tudo se resolvia...
Hoje fazias anos, papy e sabes, estás mesmo sempre comigo!