A criança terá o direito a crescer e a desenvolver-se com saúde (...)
Artº IV
Declaração Universal dos Direitos da Criança
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Sr. Piolho
(e outras coisas...)
-Opá, a sério, em 21 anos de serviço nunca tinha visto tal coisa! De cabecinha para baixo e já impregnada do antiparasita capilar, passavam-lhe o pente próprio, branco de sua cor original e ele (pente) vinha com fiadas negras, cheio de piolhos de todos os tamanhos, que caiam para o polibam e eram logo sugados para o ralo, pela força da água. Mexiam-lhe a cabeça para trás e para a frente, para que o movimento do pente fosse abrangente e andasse em todas as direções e lá vinha ele, pente, cheio, cheio. Passei por ali e detive-me naquilo. Fiquei atónita com o que vi e também com o que depois me relataram. Já tenho alguns anos disto, fiz colónias de férias na adolescência, em todas as escolas em que tenho trabalhado, NESTES ANOS TODOS, em todos os anos, há casos de piolhos, o cartaz do Sr. Piolho que nos veio visitar é recorrente, sei que ele pode aparecer em todas as cabeças loiras, morenas, limpas, sujas, pobre e ricas, mas como isto a que assisti hoje, nunca tinha visto.
Ficou a pairar-me por aqui esta imagem do pente a vir negro de bichinhos, a voz da miúda a dizer que já lhe doía a cabeça, que tem muita comichão, das feridas que já tem atrás das orelhas. Sei que a escola vai encaminhar, orientar e, neste caso, substituir uma família que seria quem deveria assumir a 300% isto. Sei que não é solução, porque lá em casa, seguramente, há disfuncionalidade e drama que chegue e como não há tratamento sistémico e equilibrado para todos, este caso será sempre emergente e de corda bamba.
Sei disto porque sim, porque o mundo é assim, esta coisa cheia de coisas diferentes e às vezes não muito justas, mas isto e mais a frase que me diziam hoje do -Tenho fome, Paula... -Então, não comeste nada de manhã, amor? -Era cedo ainda, o leite escolar que a escola também dá ainda tardaria um pouco...- Não, não comi, a minha mãe não tinha nada em casa!... tomaram hoje conta de mim e LEVARAM-ME para a imagem dos meus filhos e para a certeza que tenho de que são uns felizardos e sortudos.
Estas situações e milhentas outras nunca acabarão, já não tenho essa ingenuidade, mas também, instintivamente, me recuso a ficar-lhes indiferente, sob pena de me tornar insalubre, como aquela água que dá para regar, mas não se pode beber e então, este post, vai direitinho para esses meninos e meninas que vivem situações como as que descrevo aqui. É assim como se fosse uma homenagem que lhes faço, neste bolg world.
E depois assim, como quem não quer a coisa, lembrei-me que o Dia da Criança está para breve, é só isso...
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