sexta-feira, 29 de dezembro de 2017






TORNEIRA INESGOTÁVEL?

(ou só muito bem gerida?)

Pode uma história de vida, com muitos anos juntos legitimar uma relação, dando-lhe material de feitos e de anos que fazem suportar tudo? Pode o capital emocional que se gera quando se vive tantos anos com alguém, não se esgotar? Pode o amor que se sente viver-se sempre da mesma maneira? Pode o sentimento que cola aquelas duas pessoas uma à outra, ser legitimado e justificado SÓ pelos filhos? Pelo que já se viveu? Pelo que se construiu? Pelo que se conquistou? Pode aquele amor ser inabalável e forte e coeso e seguro e intenso para todo-o-sempre?
Não, mil vezes não! 
Será sempre uma questão de opção, acho eu. Sim, porque aquele amor nunca é só cor-de-rosa. Nunca tem só história e feitos passados. Regateia constantemente o presente, o dia-a-dia, o aqui e agora, com uma exigência que não se compadece e que nos obriga a artes de reinvenção e criatividade sentidas. Quer que o olhemos de frente e que o façamos prioritário, se não soubermos como, teremos que descobrir. Não tem uma torneira inesgotável de boas práticas e conselhos bons de aplicar. Não se sente sempre da mesma maneira. Às vezes está zangado e mal-disposto, outras vezes melhor e inesgotável. Não tem nos filhos uma justificação eterna para tudo, porque não foi com os filhos que se casou. Não é intenso para todo-o-sempre. Tem muitas cores e cheiros e formas. Tem disposições e humores. Tem birras e azedumes. É um amor real, de vida real, com tudo o que a vida real tem e traz. E é, sem dúvida, um grandessíssimo desafio para quem ousa vivê-lo. E por isso tem também um palco eterno e ilimitado (que não acaba) para entrar em cena: a vida de cada um, no espaço e no tempo de cada um. NÃO É DE REVISTA, LIVRO, OU CATÁLOGO, porque esses não são reais.
E sei de tantos casais amigos e conhecidos para quem esse amor real acabou. Por dezenas de razões, todas legítimas e sentidas, todas pessoais e fortes, todas verdadeiras, no mais profundo da intimidade de cada um. Não ouso pronunciar-me sobre nenhuma delas, nem acho que deva. E quando o faço, não é nunca por aqui.
Mas também sei de casos felizes, talvez como o nosso, creio eu, casos que têm essas luzes e sombras todas, porque são normais, mas que continuam a bater a parada, continuando a apostar num amor que sobrevive na vida real de todos os dias, com os problemas da pressa, do dinheiro, dos filhos, do trabalho, da pressão, do stress, das perdas, das doenças, das sombras que não são sempre luz.
Pois é! E hoje a conversa com uma grande, grande amiga, daquelas do coração, num bocadinho de tempo que roubámos aos filhos que estão todos em casa, de férias e que, tenham a idade que tiverem, mantêm o estribilho da MÃEEEEEEEE, na boca, disto tudo me fez lembrar.
Uma questão de estrutura sólida, dizia-me, daquelas que abanam mas não caem. Porque a prioridade continua a ser essa e porque com isso se continua feliz.
Uma questão de opção-feliz-abençoada-consciente-sortuda-agraciada-dialogante-assertiva-e-mais-qualquer-coisa-que-não-sei-explicar-e-acho-que-pode-ter-muitos-outros-nomes-mas-que-justificará-algum-sucesso, acrescentaria agora eu.
Sim, hoje ela foi o meu click inspirador, mas foi em nós que pensei.



P.S - Fogo, o post foi longuinho, mas foi pelos dias de ausência daqui. 



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017




ALIEN


Às vezes sinto-me tão alien, tão alien que até me pergunto se o mal não estará mesmo em mim: afinal, há tanta aceitação e vivência com coisas que para mim são tão estupidificantes, que quase caio na tentação de achar que afinal, quem está mal sou eu.
É que depois, esta dessintonia que sinto com tanta (aparente) normalidade, dá-me um altíssimo grau de impaciência que também devo saber (e conseguir) gerir e transformar em PACIÊNCIA: paciência para aceitar que os ritmos não são iguais, paciência para perceber que o capital humano que nos prepara para as coisas não é igual, paciência para perceber que nesta diferença de ritmos e de pessoas é que está a beleza.
E sobretudo e MAIS IMPORTANTE, devo ver isto, acho eu, também como uma oportunidade para educar a minha humildade: afinal, ela dar-me-á uma capacidade de tolerância maior, quero crer!
Mas fogo! Às vezes não há mesmo pachorra e que é esta a cara que faço muitas vezes, lá isso é!


segunda-feira, 27 de novembro de 2017






MAPA GUIADO

O percurso que faço, à segunda-feira de manhã, para a escola, embora seja um percurso muito curto, é essencial para mim, assim como o café que bebo de manhã, sozinha, antes de entrar.
Aterro num mundo novo. Caio nele, sem freio e todos os assuntos  profissionais vão chegando, em modo de avalanche. Preciso desses breves minutos antes de entrar na engrenagem, para me situar, priorizar os assuntos, estruturar-me no tempo e no espaço, como se desenhasse um mapa guiado da minha semana, na minha cabeça. Um mapa que me vai guiar pelos assuntos e pelo seu espraiar no tempo.
Esclareça-se que de novo, esse mundo não tem nada, aliás é velho e bem velho e assalta-me às segundas-feiras de manhã, já que ficou durante o fim-de-semana num cantinho esquecido do cérebro e desperta quando a manhã de trabalho começa. Abruptamente. De repente. Sem dó ou piedade.

Sempre foi assim, esta minha anestesia forçada ao fim-de-semana. Para coisas de trabalho, entenda-se e outras-que-não-me-apetece. Nunca percebi se é uma opção vincada de uma coisa que faço com total consciência, ou se é uma defesa biológica, psicológica, fisiológica que o meu organismo aciona como defesa e proteção natural. Quero crer que sim, que é isso. Acho que temos todos uma inteligência biológica e eu não serei exeção. 
Por isso sim, vou continuar a anestesiar-me para alguns assuntos quando bem entendo, vou continuar a congelá-los, enquanto me preencho com outras coisas que valem verdadeiramente a pena e me equilibram. Vou continuar a priorizar os assuntos em mapas guiados na minha cabeça, desenhados por mim e ao sabor dos meus dias. Os assuntos não fogem. Só ficam é lá no gelo (leia-se cérebro), à minha espera. Eu também não fujo. Só lhes dou é a importância que eles têm. E ponto.


P.S. ... outras coisas que valem verdadeiramente a pena e me equilibram. 
Pois...

quarta-feira, 22 de novembro de 2017




RAMALHETE


Correndo o sério risco de me tornar repetitiva, (mas o blogue é meu, e agora???) repito de novo que contigo e com os miúdos é onde verdadeiramente sinto que gosto mais de estar e de investir energias. É onde sinto a zona de conforto maior, aquela que me dá a tal descontração que me faz sentir eu mesma, sem filtros brilhantes para alindar. É onde lambo feridas e dou asas ao melhor e (também) pior que sou. É onde me encontro no meio da loucura dos dias. É para onde fujo quando estou cansada. É também onde expludo quando o meu super (mau) génio vem à tona. É onde me sinto feliz e infeliz, alegre e chata, com luzes, ou com sombras, na variedade de dias que tenho e que me desenham. É assim uma pessoa normal e é assim tambem uma família, um ninho, um lar, uma zona de conforto, aquilo que se queira, na liberdade de cada um, chamar. 
E assim este núcleo duro devolve-me identidade. Acho mesmo que se não fosse ele, esse nucleo, não aguentava certos embates. Por isso me delicio quando me dizes certas coisas, como esta que me mandaste hoje e compões um ramalhete de felicidade que acho que tenho.  
E por isso sim, fiquei de cara aparvalhada e sorrisinho parvo, quando li, como se tivesse 15 anos, também por ver que isto não tem idade e que o romance somos nós que fazemos.  
Tão fácil, tão espontâneo, tão bom!! É que... "tipo... fico, a sério, claro que fico!"





segunda-feira, 13 de novembro de 2017



Continuar ET, 
please...!


Sinto-me muitas vezes um grandessíssimo ET (leia-se Extra-terrestre... nunca sei se este ifen sai ou se se mantém...) e às vezes, as coisas que oiço e vejo e sinto à minha volta, na escola, na vida, só me reforçam essa (relativamente) desconfortável sensação. Não abdicarei de ser ET e já não tenho idade para me chatear com isso. Pois é... acho que vou ficando impaciente e com algumas (boas, acho eu) teimosias.

Depois, às vezes, oiço também coisas que são bálsamos para os meus ouvidos, que me fazem sentir que não estou assim tão errada, que afinal, aquilo que sinto talvez seja um bocadinho certo, ou pelo menos, sentido por mais gente. E afinal, descubro que não sou assim tão ET...
E uma dessas agradáveis vezes, foi há dias, ouvir um professor da área das ciências da educação, dizer, numa apresentação a que assisti, que cada vez mais se educa os miúdos para o concreto, o factual, o palpável, o rigoroso, absoluto e certo, para a lógica em toda a sua dimensão científica, deixando-lhes de fora da esfera de aprendizagem e vivência, a linguagem simbólica, o belo, o artístico, o que é criado e visto pela sensibilidade dos olhos de cada um, tendo consigo toda a maravilha e individualidade que isso tem. Continuava esse senhor, dizendo que assim, era difícil para eles, os miúdos, perceberem e sentirem a profundidade de algumas palavras e sentimentos, a dimensão de beleza das coisas, a capacidade de transformação em verdade de coisas absolutamente essenciais para a sua vida, para si próprios, para os seus mundos, a capacidade de perceberem o sonho como um ideal de vida, dando-lhe assim um significado palpável e real. 
Era como se houvesse uma separação perversa entre estes dois mundos, o da lógica e o do simbólico que, ao invés de estarem separados, deviam ser complementares.
Gostei tanto de o ouvir e acredito tanto nisto. O que seria da ciência sem a arte? O que seria do real/concreto/palpável, sem o imaginário/indiferenciado/sentido? O que seria dos factos sem as ideias? O que seria da realidade sem a imaginação? O que seria de nós sem o simbólico?
Como se explica o amor? Os afetos? O sonho? Como se explica a profundidade de um sentimento? Como se explica o TUDO que se pode pôr num olhar? Como se aposta no que não se vê, só porque sim? Como nos entregamos a causas, se não as vemos e se tudo à nossa volta as contraria?
Pois é, pois é...
Fogo! Deixa-me lá continuar a ser ET. Há coisas que não mudam...

domingo, 5 de novembro de 2017









DUPLAS






Dizem-me que tenho escrito menos por aqui e que têm estranhado. Surpreende-me sempre essa certa estranheza sentida por alguns perante a ausência de publicações, ou perante o maior espaço de tempo entre umas publicações e outras. É verdade, tenho escrito menos. Estou mais dispersa, com muitas coisas em que pensar, com vários setores no meu cérebro e na minha vida a trabalharem ao mesmo tempo, constantemente, sugando-me mais as energias, deixando-me menos solta, menos livre, menos paciente... é verdade, é verdade. 
Tudo o que gosto imensamente de fazer, mas que foge da esfera profissional, ou extra-profissional, mas comprometida, vai-se dispersando, tornando-se menos amiúde. Mas depois entras tu e porque tens um papel essencial na minha vida, terás também sempre um efeito retemperador, uma capacidade de me devolver o chão, quando sinto que ele me foge, um pragmatismo que me dás e que me deixas adocicar com o meu jeito, um papel na descoberta que faço das coisas simples que não custam nada e que nos devolvem a TAL sensação de bem-estar, um poder de equilíbrio que me/nos reorienta e faz voltar ao trilho e isso tudo, acho que nos torna uma dupla, para mim, imbatível. 
É que sabes, apesar das sombras negras e escuras que a vida tem e que se colam às relações, apesar dos problemas, cansaços, desgastes e durezas que estarão sempre ali ao lado numa vida que é real, apesar das diferenças que às vezes se tornam duras e impertinentes, há mesmo duplas que podem ser imbatíveis, porque equilibradas, reais, luminosas e felizes. 
Assim tenha essa certeza o tamanho do nosso amor. 

LUV U!




domingo, 22 de outubro de 2017






COISINHA DE NADA

(que é tudo, tudo, tudo...)


Falavas da tua vida por lá, da pressa, das coisas, do ritmo, de tudo e de nada, numa conversa banal para matar o tempo. Falavas em tom sereno, mas rápido. É sempre um prazer ouvir-te falar. Herdaste o tom e o jeito da tua avó materna, já te tenho dito e ainda bem. As tais serenidade e entoação que contagiam, na maior parte das vezes. Relatavas que o encontras com frequência. Que é chatinho e que normalmente estás com pressa quando te aborda, mas que intuitivamente pressentes que tens que lhe dar um bocadinho de atenção, vês que fica agradado, reconhecido e então,  espontaneamente, ages assim e sem te aperceberes, humanizas uma pressa doida de todos os dias, que nos afasta, sem que nos apercebamos, dos afetos simples nas relações com os outros. E só esses Bea, nos tornarão especiais.
Senti-me muito orgulhosa, dessa coisinha de nada que me contavas tão ocasionalmente. Não te disse, mas guardei cá dentro, neste coração elástico que tenho, igual ao coração elástico de todas as mães do mundo, que lhes dá esta capacidade de se orgulharem muito dos filhos, mesmo com estas coisinhas que contam numa conversa qualquer.
Percebi, pelos relatos soltos que ias dando, desse episódio e de outros que tais, que já aprendeste o mais importante e que, sem saberes, tornas-te especial por seres assim.
Isto filha, nenhum curso te dará. E mesmo sendo tua mãe e podendo ter sempre a visão desfocada de amor, acho a sério, que esta coisinha de nada, pode às vezes ser tudo, porque faz a diferença e torna-te especial.
LUV U!!

sexta-feira, 13 de outubro de 2017





CÉLULA PEQUENINA



-Quero que o meu filho se orgulhe de mim, esta ideia persegue-me todos os dias e estou constantemente a pensar nisto- dizia com ênfase. As outras que a acompanhavam lá participavam também da conversa trivial, naquele início de manhã. Não pude deixar de ouvir. As mesas de alguns cafés têm tudo menos privacidade e as conversas podem acabar por ser tudo menos secretas. E muitas, davam teses de doutoramento. Não pensei logo nesta conversa específica. O meu cérebro centrou-se naquele pedacinho de tempo em que ali estive, meio anestesiada e cansada por este ritmo profissional louco que tenho vivido e que me suga até às entranhas, esgotando-me as energias. Senti-me assim como uma ameba, parada, com um corpo de camadas gelatinosas que me tiravam o movimento e a reação. Sim, lá no fundo estaria o meu cérebro, qual núcleo pensante, mas ali naquela hora, não fiz uso dele. Só gozei o sol que me dava na cara, pus um sorrisinho parvo e não pensei.
Mas a frase voltou depois às minhas sinapses e questionei-me depois sobre o que ouvi.
Nunca me dominou esta ideia de pensar se os meus filhos têm orgulho em mim, no pai, em nós. Claro que tenho esse desejo. Não sou alienada e penso como qualquer mãe, mas isso não me persegue. Nem determina nenhuma das minhas ações com eles, ou seja, não faço isto ou aquilo SÓ para que se orgulhem. Não. Faço isto ou aquilo porque acho que está certo e acredito que essa verdade emocional passará pelos póros e pela vida como um testemunho de autenticidade e disso gostava sim, que tivessem orgulho.
Eu tenho um orgulho enorme nos meus Pais. Tenho um orgulho enorme na célula pequenina onde nasci e onde cresci, onde me estruturei como pessoa e onde aprendi, por osmose e por isso sem grande esforço, como é viver em família, ter um pai e uma mãe que se amam e dois irmãos com quem se partilha um palco de afetos.
Hoje, por circunstâncias várias, tive oportunidade de constatar com força qual é o tipo de Pais que tenho, que referência foram um para o outro, que referência foram e são ainda, a tantos níveis, para nós e de que forma saudável me fizeram crescer, equilibrando afetos, amadurecendo capacidades, depurando defeitos e apurando qualidades. Este processo não se esgota, continua em andamento, afinal, temos a vida toda para isso, mas foi ali que começou. E começou tão bem!
Estariam os meus Pais (demasiadamente) preocupados em que tivéssemos orgulho neles? Seria esse um pensamento que os perseguia? Creio que não. Foram só eles próprios, autênticos, seguros e sinceros emocionalmente, entre eles e connosco.  E bastou, bastou só. E foi tão bom.
Quem sabe não se passará o mesmo por aqui? Deus queira que sim! Afinal, a história repete-se e as referências, tendem-se a imitar, não é o que se diz? 
P.S. Olha quem diria o que haveria de vir de uma conversa ouvida num café?

segunda-feira, 9 de outubro de 2017





VERDADEIRINHO DA SILVA


Às vezes penso na reação das pessoas ao lerem este blog, as que lêem. E se isso nunca foi uma preocupação para mim, ao longo destes anos, farto-me de dizer, e é verdade, já que escrevo sem freio, ou filtro editorial (o que quer que isso seja)sem a preocupação de pensar quem está a ler, ou o que poderão pensar, tal e qual o caderninho preto de que às vezes falo; dei hoje dei por mim a pensar nisso: fogo, acho que consigo ser chata, ou então muito nhónhónhó, sempre a falar no mesmo, 
nos filhos, no marido, no trabalho, no que sinto, no que achei, no que vivi, naquelas lamechices que devem soar para muita gente a Nicolas Sparks, ou Nora Robertsque não há pachorra (que me perdoem os aficionados, porque não li nunca nada deles e posso estar enganada, mas é a ideia que tenho...).
  
Sim, sei que há vidas muito mais interessantes, luminosas e cheias de coisas para dizer, opiniões mais consistentes, eruditas e informadas, escritas mais elaboradas e/ou argumentativas, textos mais intencionais e expositivos, mas eu gosto de escrever sobre o que me preenche e esse preenchimento é dado por coisas tão simples, que me questiono como é que um POUCO pode dar tanto que dizer, assim numa infinitude de assuntos que não acabam. 
E que bom a minha vida simples ter tantos assuntos que não acabam, mesmo que tenham, tantas vezes os mesmos sujeitos. Que bom sentir de vez em quando um click delicioso de os querer passar para este papel virtual que substitui o caderninho preto. Que bom sentir que, apesar da (suposta) pouca originalidade, tenho tanta gente que me lê e que se identifica. Que bom sentir que escrevo de coisas simnples, que afinal são tão intensas. Será sinal de autenticidade, suponho... Deus queira que sim, porque lá verdadeirinho da silva é este blog. E que assim continue. Mesmo que às vezes me passe pela cabeça que é nhónhónhó.
Hoje, apeteceu-me dizer isto!


terça-feira, 3 de outubro de 2017






LATITUDES


Ia pela mão da avó (suponho eu que seria a avó) e eu ouvia-o dizer numa voz pequenina, de 3, 4 aninhos: -"quero a mamã" - que repetia, tipo ladainha. A avó respondia-lhe que a mamã estava numa reunião e perguntava-lhe se queria ir comer um gelado, ou uma torradinha ao café. Que não, não queria, o que queria era mesmo a mamã. " - A mamã está numa reunião, repetia-lhe. Que a reunião é má, queria era mesmo que a mamã estivesse ali. Enquanto o passeio de asfalto durou e eu lhes segui os passos, ouvi aquela conversa a dois que me enterneceu. Qual torradinha, qual gelado, a mamã é que era ao fim de um dia de escola. Haverá melhor que isso?
Depois, na sala de espera da consulta a que fui, nem de propósito: consultório vazio e a funcionária aproveita para telefonar à filha. Apercebo-me que a gaiata será pequenita, pelo tipo de conversa e pela condução das respostas. Do lado de lá, excitada conta-lhe qualquer coisa da escola e pergunta à mãe quanto tempo mais demorará a chegar. -"Então guarda bem o que me queres dizer, que a mãe está quase a chegar, ok? Já não demoro - responde-lhe... - "Então, filha, mas o meu trabalho ainda não acabou..."

Pois é, pois é... Por maior que seja o nosso (seu) mundo, por mais afetos espalhados, sólidos, pedagógicos, verdadeiros, equilibrados que tenhamos, por mais que arrumemos desde pequeninos o nosso dia dividido entre tantas outras coisas, por mais que cresçamos e nos sintamos saudáveis (nós e eles) com tudo o que nos rodeia e por mais que isso nos faça bem, é a mãe que queremos tantas vezes, é o colo dela que pedimos, é a voz dela que queremos ouvir. Será uma verdade universal e intemporal, esta. Quase como uma regra. E mesmo com todas as exeções a esta regra, que existem, porque o mundo tem muitas cores e formas e tamanhos e sentires, atrevo-me a dizer que, em qualquer latitude, será assim.
Também cá em casa, nesta latitude tão minha e especial!


P.S. Claro que já preferem a torradinha, em vez da mãe (dizem eles...), mas no fundo, no fundo...


sexta-feira, 29 de setembro de 2017





MALABARISMOS E MEMÓRIAS





Julgo saber que sinapses cerebrais traduzirão um processo comunicativo entre neurónios, como se estes recebessem a informação, se entendessem depois entre si e elencassem aquilo que querem que sintamos, expressemos, retamos, apreendamos, vivamos. Que me perdoem os eruditos, mas no senso comum, na linguagem de todos os dias, aquela que se torna prática e funcional para nós, penso que será isto. 
Pois é e às vezes, esses processos comunicativos entre neurónios levam-me para sítios e momentos em que fui imensamente feliz. Recordo-lhes o cheiros, as cores, os dizeres. Recordo-lhes as sensações que tive quando os vivi, as coisas que vi, o que ouvi e o que disse. Recordo às vezes gestos e olhares. E será deste conjunto imenso e quase infinito de comunicação entre neurónios que se constroem as nossas memórias e, por analogia, a nossa história, num processo dinâmico e, por isso, sempre em andamento.
E fui imensamente feliz aqui contigo. E tive, apesar da multidão de estranhos que nos rodeava em todo o lado e dos miúdos que se sabem tornar também às vezes, numa enorme multidão, pedaços de tempo, de olhar, de pegar, de estar,  de tocar, só contigo, o que é um enorme e digno malabarismo que todos os casais conseguem fazer, acho eu e que passa também por silêncios e olhares cúmplices, às vezes tão simples, mas tão seguros.
Graças a Deus, os meus neurónios estão de muito boa saúde e fartam-se de recolher informação por aí. Acredito que se vão continuando a entender e a dar-me memórias para construir e certezas para confirmar: a de que tenho um enorme orgulho na pessoa que és, será sempre uma delas. Senti que hoje, tinha que te dizer isto. O porquê, guardarei para nós, na nossa intimidade, como tudo o que é mais importante e exclusivo.


P.S. E sim, claro... não precisaria de estar em Paris contigo para ter pedacinhos de memórias super fixes para juntar. Aliás, acho que os meus neurónios ainda não são esquisitos ou seletivos, mas que foi MARAVILHOSO foi... isso é certo! E deu-lhes um quê de glamour, não achas?

domingo, 17 de setembro de 2017





CONSISTÊNCIA

(afinal, é uma palavra gira...)





Hoje dizia a uma amiga que não me coíbo, muitas vezes, de me mostrar em desacordo contigo. Sim, temos em muitas ocasiões, opiniões diferentes sobre as coisas, embora os anos de vida em comum me tenham vindo a mostrar que, na maior parte dos casos, o desacordo é na forma, timming, ou maneira de reagir, mais do que na essência, âmago, ou tutano. Incomoda-me a concordância total em todas as circunstâncias. (Suscita-me dúvidas, pelo menos...) Incomoda-me que, por sermos um casal, se ache que devemos estar sempre 300% de acordo, de forma absoluta, em tudo. Não sou assim. Sou reivindicativa, opinativa e segura de mim. Sou filha da emoção, como alguém querido me dizia há dias e, por isso, sinto tudo à flor da pele e digo tudo em turbilhão, ao contrário de ti, que és frontal, mas sereno, racional e ponderado. Penso que procuro não ser obtusa e tento apurar todos os sentido em busca de sinais, feelings, intuições, que me vão dando a capacidade de discernimento e de encaixe, também para sentir-te e perceber-te. E sinto-te e percebo-te tão bem, com tanta clareza e com tanto orgulho, mesmo quando às vezes me irritas, porque és tão diferente na forma de reagir. Somos imensamente diferentes, mas maravilhosamente complementares, será?
Dizia a essa amiga que, se calhar, é isso que nos torna encantadores, ou se calhar é esse o encantamento que sinto, se calhar é essa cumplicidade de corpo e de alma, com tantos anos de vida, que nos faz descortinar as entrelinhas do outro e então, perceber melhor o que se passa e que, à primeira vista, nos faz discordar tanto. À primeira vista, para olhares menos atentos...
A isto que se passa connosco se chamará, entre outras coisas, consistência. E então, quando por acaso nos mostram, este vídeo, fortuito, da Net, a palavra consistência, que é formal e nada parece ter de interessante, ou pelo menos nada parece ter a ver com este contexto, torna-se, assim como que, exatamente naquilo que se quer dizer.
E digo-te, um amor consistente, traz consigo tanta coisa boa e dá-nos uma salvaguarda tão grande, que é o melhor que se pode pedir.
LUV U!

terça-feira, 5 de setembro de 2017





PAULINHA

(outra vez... afinal, não há limites para aquilo que nos sensibiliza!)


Tenho andado a remoer neste pensamento. Aquele encontro quase fortuito entre colegas, em que ela falou tanto de si e da relação que tem tido com a perda, com a morte, com o luto da ausência de alguém que fazia parte de si, como uma pecinha do puzzle que encaixa e que agora falta. 
Identifico-me imenso com ela. E sinto isso, sempre que estamos juntas. Na forma de falar, de estar, de trabalhar e é uma pessoa que faz parte do leque de outras pessoas que preenchem a minha vida indissociadas do sentimento de ternura, que é uma grandessíssima dádiva, nos dias de hoje. Ela tem esse efeito em mim. Já o tenho dito, assim como já disse que é uma pessoa que tem tido tiradas essenciais para algumas opções que tenho feito, a nível profissional. Aquela pequena conversa, fortuita, daquele encontro em final de férias, no outro dia, fez-me, OUTRA VEZ, reforçar tudo aquilo que sinto em relação a ela: empatia e uma ternura imensa que me fez ouvi-la e identificar-me 500.000% com aquilo que disse. A forma como falou dele, da falta que lhe fazia, as saudades que sentia, a vida que continua, a mágoa/ferida/cratera, que fica aberta e que não fecha e a grandeza da relação que tinham, grandeza esta única, pessoal, íntima, inviolável e inesquecível. Tudo isso me fez admira-lá imenso e dizer-lhe outra vez, como já lhe disse que, apesar da perda irreversível que nos domina de vazio e de saudade, ela tem o melhor de tudo no coração e na vida que construiu com ele: um amor que foi (é) único, inviolável e inesquecível. Um amor sagrado, portanto... Talvez tenha sido isto também que me interpelou? Não sei, mas apeteceu-me dizer-lhe que teve (tem) aquilo que tantos e tantos levam a vida a procurar e nunca encontram, porque só vêm na televisão. Um amor que dá sentido e justifica. Um amor que é maior que nós e nos preenche. E isto, querida, não é lamechice. É antes uma grandessíssima felicidade. Que tu tiveste.
Paulinha, estarão juntos, para sempre, vocês, e esse é o teu maior tesouro.
Adorei estar contigo naquele nosso café de noite fria de Verão. Adorei ouvir-te e sentir que temos tanto em comum. Adorei receber a tua comoção, daquelas genuínas que só se partilha com amigas. Adorei saber que sou abençoada por ter gente assim como tu na minha vida. Adorei o teu testemunho de um amor entre um homem e uma mulher, vividos assim, na primeiríssima pessoa, mesmo quando um já cá não está e por isso, o que se sente se torna ainda maior. Adorei um bocadinho de tempo tão normal, mas tão verdadeiro. Eu não te dei nada, mas tu interpelaste-me!
Um bj, princesa e não te feches à emoção. Ela torna-te assim única, maravilhosa e verdadeira.





P.S. Não há foto para este post. Talvez esta, desta grandiosidade que tínhamos todos os dias...



segunda-feira, 28 de agosto de 2017





SOFIA

És temperamental e de génio fácil. Já o tenho dito aqui e digo-o sempre que me refiro a ti. A agridoce da minha vida. Sentes o sabor das coisas da vida com um paladar apurado, de sentido aguçado e alma cheia. És impulsiva e de resposta fácil e pronta sempre que te contrariam. És voluntariosa e apressada, como se aquilo que queres fazer te fugisse por entre os dedos se não o fizeres logo. És decidida e rápida em tudo o que te propões realizar.
Não tenhas pressa. Rega a generosidade que te é característica, como se aquela fosse uma planta frágil que precisa de água e que, quanto mais cresce, mais te faz feliz. Rega-a na relação com os outros, põe-te ao serviço, pois só isso fortifica e faz crescer. Ouve quem está por ti e força em ti a entrada do que te dizem, porque te querem bem e porque já viveram mais do que tu. Investe em ti com calma, sem pressas de que o mundo acabe, reconhecendo o Norte que te apontam e, vendo através dele, todos os outros pontos cardeais. Cultiva o espírito, pois só isso te distinguirá. E não te feches. Não te fechas à humildade, ao ouvido atento, aos outros que te rodeiam, ao mundo, à vida, à amorosidade e à diferença. Vais ver que o mundo continuará lá, calmamente à tua espera. Sem stresses e pronto para ti.
E assim, continuarás a ser a miúda espetacular que és, mais completa e cheia de uma doçura que te tornará irresistível.
É que, acredita, sera isso que te distinguirá. 



P.S. Este post, hoje, não poderia ter outro título.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017







ROLETA RUSSA

Quando me lembro dos dias que passámos em Paris, das milhares de pessoas que víamos nas ruas, das ruas estreitas por onde andámos, dos sítios cheios de gente onde comemos, das longas viagens de metro, não consigo evitar um arrepio, em contraponto com o que se ouve agora de Barcelona, do atentado nas Ramblas. Não consigo deixar de me lembrar que há exatamente um ano, passeava eu e um grupo de dezenas de Escuteiros do Agrupamento a que pertenço, nas mesmas Ramblas, com a mesma afluência de gente, com a mesma descontração turística, com a mesma ligeireza e desprendimento de quem está de férias. Desta vez e das outras,  vimos polícias na rua, sim, armados até aos ossos, sem dúvida. Vimos medidas de segurança em tudo o que era sítio, sim, abre mochila, fecha mochila, espreita saco, espreita sacola. Sim, sem dúvida também. Num ritual a que nos vamos habituando por causa do que se vai passando, um pouco por todo o lado. 
O que sinto agora, a posteriori, é que o que se ouve e o que se sabe é sempre tão escabroso, tão desumano e tão difícil de imaginar, que quando lá estamos, nos passeios, nas ferias, nas ruas cheias de gente, ou nos monumentos apinhados, nunca nos lembramos de nada, isso nem nos passa pela cabeça, assim como que num mecanismo de auto defesa que remete essa eventualidade remota, para um cantinho inconsciente do nosso cérebro, porque é uma eventualidade que contraria a nossa própria natureza humana.  Era isso que se passava comigo (talvez connosco) em Paris. Essa eventualidade passava-me pela cabeça em  nano segundos, nem me dando tempo para tomar a ideia como real. Talvez este seja mesmo um mecanismo de defesa, quem sabe. Talvez a nossa ligação com estes assuntos passe somente, em grande parte, por este vivenciar mais preemente das medidas de segurança. Talvez o máximo que possamos estar próximos desta realidade seja o de pensar nas vitimas em causa com ternura, respeito e uma profunda reverência. Talvez o continuarmos a ir, a estar, a viver seja a forma certa de eternizar a ideia de que o medo não nos derrubará. Talvez, talvez...
Por agora, e mesmo em estado de grande anestesia pelas férias, que quero contrariar não ficando indiferente, fica uma terna lembrança de Paris, como se isso se transformasse num contrariar do(s) medo(s) e um profundo respeito por quem, em jeito de roleta russa, está no sítio errado, à hora errada



P.S. Não tinha foto apropriada para este post. Escolhi uma das minhas preferidas, tiradas em Paris, num sítio giro e cheio de gente feliz. Que isso e o sorriso que tenho na foto simbolizem o não desistir e o não querer habituar-me a viver com medo. Em Paris, ou em qualquer sítio. 


quarta-feira, 16 de agosto de 2017




PARIS

(Post escrito na última noite em Paris)

Estamos a deixar Paris. Esta é a nossa última noite nesta cidade maravilhosa. Já cá tinha estado com um grupo de amigos, no verão de 2003, sem filhos comigo e com o mais novo na barriga. Lembrava-me, por isso, de muita coisa, dos sítios principais e do espírito cosmopolita que a cidade tem. Agora vim com o mais-que-tudo e os nossos três filhos, de 19, 17 e 13 anos. O espírito é completamente outro. Sei que com estas idades aproveitam de outra forma, partilham o que se vai apreendendo da História que se aprende na escola, complementam, opinam, sugerem e fazem render a viagem de uma forma muito mais eficaz. Quintiplicam os custos? Ah sim, concerteza, mas sem dúvida tambem, comem qualquer coisa, em qualquer sítio, a qualquer hora. Andam kilometros a pé, porque assim "é que se conhece". Reconhecem as várias línguas que se ouvem por todo o lado e absorvem como esponjas esta aula ao vivo de cultura geral. Por isso gostei de vir com esta minha "pequena família numerosa". Gostei de ir aos sítios da "praxe", tirar as 300 fotos de ângulos diferentes. Gostei de ver a cidade (também) com os vossos olhos. Gostei de lembrar capítulos de alguns livros, ou cenas de alguns filmes que falam de Paris e eu agora ali, no sítio certo da tal cena, ou capítulo difícil de esquecer. Gostei do empregado do café vestido a rigor. Gostei das margens do Sena cheias de gente a passear. Gostei dos monumentos e dos cafés, das esplanadas e das ruas e dos croissants, do sumptuoso da monarquia que a república tão bem soube aproveitar, gostei dos museus e da arte, das famílias de bicicleta na rua, das tantas nacionalidades diferentes que se vêm por todo o lado, do sol sem muito calor e da chuva miúda a cair. Gostei, gostei muito. Gostei dos 5 juntos, como gosto em todo o lado, das diferenças que se sentem entre nós, mas do complemento em que acabam. Um complemento prático, funcional e  bem resolvido, mesmo em francês.  
Gostei de Paris e pronto. 
Et ce qu'il est!

E aqui vão as fotos, pois então, não as 300.000, mas as possíveis... 




















































































































































































































     






sábado, 29 de julho de 2017





UM NÃO-SEI-O-QUÊ


Li algures, no outro dia, que a relação do casal é a que mais sofre no meio da pressão. É aquela que mais vem a sentir falta de mimo, colo, tempo e espaço. É a que mais clama por sossego e silêncio, por ternura e olhar (re)descoberto, cúmplice e único. É aquela mais difícil de gerir, manter e mimar. A relação do casal é a mais exigente, que não tem, por garantia, a voz do sangue e  que fácil pode ceder ao desgaste e que fácil, fácil pode fazer (querer) desistir.
Mas depois, também é aquela que nos pode reinventar e devolver o outro (a), a cada vontade de não desistir. É aquela que nos garante uma capacidade ultra sónica de sabermos AMAR MUITO e AMAR BEM, é aquela que nos devolve o melhor que o amor tem, só por um olhar, um toque, um cheiro, um pôr de mão, um não-sei-o-quê-que-nos-tira-o-chão-e-nos-faz-sorrir. É aquela que nos dá a capacidade de fazer amor com corpo e com alma. É aquela que nos dá memória e história e passado e futuro. É aquela que faz sentido porque tem isto tudo.
E é por isso que eu, entre férias e filhos e amigos de filhos e praias e lazer e eventos e logísticas e coisas que estão marcadas e que vão acontecer e que vão saber bem e que nos vão isolar (aos 5), o que eu queria mesmo-mesmo era ter uns dias só contigo, num sítio qualquer, onde o prazer de te descobrir, cada pedacinho de ti, ia ser único e maravilhoso, como sempre.
Até lá, vou desenhando destinos na minha cabeça, equacionando datas possíveis e aproveitando ao máximo, aquilo que as férias dão: este ócio delicioso e retemperador, a cinco. Onde tu também estás.