Continuar ET,
please...!
Sinto-me muitas vezes um grandessíssimo ET (leia-se Extra-terrestre... nunca sei se este ifen sai ou se se mantém...) e às vezes, as coisas que oiço e vejo e sinto à minha volta, na escola, na vida, só me reforçam essa (relativamente) desconfortável sensação. Não abdicarei de ser ET e já não tenho idade para me chatear com isso. Pois é... acho que vou ficando impaciente e com algumas (boas, acho eu) teimosias.
Depois, às vezes, oiço também coisas que são bálsamos para os meus ouvidos, que me fazem sentir que não estou assim tão errada, que afinal, aquilo que sinto talvez seja um bocadinho certo, ou pelo menos, sentido por mais gente. E afinal, descubro que não sou assim tão ET...
E uma dessas agradáveis vezes, foi há dias, ouvir um professor da área das ciências da educação, dizer, numa apresentação a que assisti, que cada vez mais se educa os miúdos para o concreto, o factual, o palpável, o rigoroso, absoluto e certo, para a lógica em toda a sua dimensão científica, deixando-lhes de fora da esfera de aprendizagem e vivência, a linguagem simbólica, o belo, o artístico, o que é criado e visto pela sensibilidade dos olhos de cada um, tendo consigo toda a maravilha e individualidade que isso tem. Continuava esse senhor, dizendo que assim, era difícil para eles, os miúdos, perceberem e sentirem a profundidade de algumas palavras e sentimentos, a dimensão de beleza das coisas, a capacidade de transformação em verdade de coisas absolutamente essenciais para a sua vida, para si próprios, para os seus mundos, a capacidade de perceberem o sonho como um ideal de vida, dando-lhe assim um significado palpável e real.
Era como se houvesse uma separação perversa entre estes dois mundos, o da lógica e o do simbólico que, ao invés de estarem separados, deviam ser complementares.
Gostei tanto de o ouvir e acredito tanto nisto. O que seria da ciência sem a arte? O que seria do real/concreto/palpável, sem o imaginário/indiferenciado/sentido? O que seria dos factos sem as ideias? O que seria da realidade sem a imaginação? O que seria de nós sem o simbólico?
Como se explica o amor? Os afetos? O sonho? Como se explica a profundidade de um sentimento? Como se explica o TUDO que se pode pôr num olhar? Como se aposta no que não se vê, só porque sim? Como nos entregamos a causas, se não as vemos e se tudo à nossa volta as contraria?
Pois é, pois é...
Fogo! Deixa-me lá continuar a ser ET. Há coisas que não mudam...
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