quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013



JOVENS GIGANTES


Prestes a ter de decidir uma área de acesso ao secundário, muitos adolescentes sentem-se confrontados com essa urgência e não sabem, de facto, aos 14, 15 anos, o que fazer. Também penso que é muito cedo. Duvido que nessa idade todos tenham já a consciência definida daquilo que querem ser no futuro e muito menos, de qual a melhor área que lhes dará o melhor acesso a essa  "parte do futuro". Ainda para mais quando, como hoje, a aposta na versatilidade deve ser cada vez maior, pois aquela ideia antiga da "profissão eleita" que nos leva depois  a fazer isso o resto da vida , já não existe: cada vez mais temos que ser versáteis, polivalentes, ou pelo menos, ter um espírito aberto que nos leve a não pôr de parte a ideia de experimentar coisas novas, desafios diferentes daquilo que estamos habituados a fazer. À medida que escrevo isto, estou a refletir em perspetiva, já que comigo se passou exactamente o contrário: tive sempre a ideia muito definida do que queria ser no futuro em termos profissionais e, por isso, o meu percurso académico foi mais linear e traçado de forma proporcional a isso. Hoje não é assim. Os miúdos têm um acesso à informação diferente, horizontes diferentes e a aposta numa formação académica superior não deve ser "quase" o final da linha, mas sim o início de um percurso que os levará pela vida e lhes ensinará a manusear "algumas ferramentas", mas só algumas, já que as restantes, será a própria vida a trazer!
É quase como uma enxada... um instrumento de trabalho que os faculta para determinadas funções, mas que não deve existir sozinho, deve ser par de muitos outros que contribuirão para a sua identidade profissional.
Eu não passei, como agora os jovens passam, pela ideia quase certa de que depois de um curso não se iria ter emprego; eu não passei como agora os jovens passam, pelo espectro de começar a trabalhar e esse trabalho não me dar, a médio prazo, a segurança necessária para estabilizar e ir compondo todas as outras facetas da minha vida; eu não passei como agora muitos jovens passam, por um desânimo colectivo que paira no ar e que contagia, mesmo que se façam de fortes e vão resistindo... E todos eles, ou pelo menos a maioria, passa agora por isto e também por muito mais; passam também pela "assistência" dolorosa de verem os seus pais e/ou as suas mães a perderem o seu trabalho, o seu sustento e, com isso, a perderem o norte, o chão, a segurança!
Às vezes, como mãe não tenho certeza absoluta do que aconselhar... também fico relativamente exposta ao tal desânimo colectivo e também receio que o brio, os bons resultados, o mérito, a responsabilidade, o trabalho, a sensibilidade e a procura do que nos é verdadeiro, apelativo e motivacional, vão sendo cada vez mais palavras e conceitos abstratos, porque o que conta são coisas que não achamos tão importantes. Às vezes, como mãe, também receio que o futuro não corresponda às expectativas que os seus corações de jovens gigantes vão desenhando, que tudo lhes vá correr de forma trocada, que as contrariedades os façam desanimar e até, desistir, que eu (nós) não os possa amparar da forma desejada, mas então intuo que só haverá UMA forma de suavizar esta relativa angústia: acreditar que tudo o que lhes transmitimos servirá para os tornar um bocadinho mais fortes nas estradas da vida que forem encontrando... e assim, talvez fiquemos na mesma em "silêncio observante", mas um bocadinho mais leves, quem sabe?
 "A vida, será muitas vezes diferente, daquilo que imaginamos" (...)

1 comentário:

  1. Eu também gosto da minha profissão, apesar da bainha áspera e das costureiras desajeitadas que nos obrigam a puxar o tecido de um lado para o outro para cobrir o essencial. Hoje, quando recebi o recibo de vencimento, quase que ia tendo um colapso, por ver que estamos a perder não só regalias, mas direitos, qualidade de vida e até motivação. Sei que amanhã, já não vou pensar nisso, mas hoje, a bainha áspera deixou a saia demasiado curta para o mês (brincadeira). beijinhos

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