JOVENS GIGANTES
Prestes a ter de decidir uma área de acesso ao secundário, muitos adolescentes sentem-se confrontados com essa urgência e não sabem, de facto, aos 14, 15 anos, o que fazer. Também penso que é muito cedo. Duvido que nessa idade todos tenham já a consciência definida daquilo que querem ser no futuro e muito menos, de qual a melhor área que lhes dará o melhor acesso a essa "parte do futuro". Ainda para mais quando, como hoje, a aposta na versatilidade deve ser cada vez maior, pois aquela ideia antiga da "profissão eleita" que nos leva depois a fazer isso o resto da vida , já não existe: cada vez mais temos que ser versáteis, polivalentes, ou pelo menos, ter um espírito aberto que nos leve a não pôr de parte a ideia de experimentar coisas novas, desafios diferentes daquilo que estamos habituados a fazer. À medida que escrevo isto, estou a refletir em perspetiva, já que comigo se passou exactamente o contrário: tive sempre a ideia muito definida do que queria ser no futuro em termos profissionais e, por isso, o meu percurso académico foi mais linear e traçado de forma proporcional a isso. Hoje não é assim. Os miúdos têm um acesso à informação diferente, horizontes diferentes e a aposta numa formação académica superior não deve ser "quase" o final da linha, mas sim o início de um percurso que os levará pela vida e lhes ensinará a manusear "algumas ferramentas", mas só algumas, já que as restantes, será a própria vida a trazer!
É quase como uma enxada... um instrumento de trabalho que os faculta para determinadas funções, mas que não deve existir sozinho, deve ser par de muitos outros que contribuirão para a sua identidade profissional.
Eu não passei, como agora os jovens passam, pela ideia quase certa de que depois de um curso não se iria ter emprego; eu não passei como agora os jovens passam, pelo espectro de começar a trabalhar e esse trabalho não me dar, a médio prazo, a segurança necessária para estabilizar e ir compondo todas as outras facetas da minha vida; eu não passei como agora muitos jovens passam, por um desânimo colectivo que paira no ar e que contagia, mesmo que se façam de fortes e vão resistindo... E todos eles, ou pelo menos a maioria, passa agora por isto e também por muito mais; passam também pela "assistência" dolorosa de verem os seus pais e/ou as suas mães a perderem o seu trabalho, o seu sustento e, com isso, a perderem o norte, o chão, a segurança!
Às vezes, como mãe não tenho certeza absoluta do que aconselhar... também fico relativamente exposta ao tal desânimo colectivo e também receio que o brio, os bons resultados, o mérito, a responsabilidade, o trabalho, a sensibilidade e a procura do que nos é verdadeiro, apelativo e motivacional, vão sendo cada vez mais palavras e conceitos abstratos, porque o que conta são coisas que não achamos tão importantes. Às vezes, como mãe, também receio que o futuro não corresponda às expectativas que os seus corações de jovens gigantes vão desenhando, que tudo lhes vá correr de forma trocada, que as contrariedades os façam desanimar e até, desistir, que eu (nós) não os possa amparar da forma desejada, mas então intuo que só haverá UMA forma de suavizar esta relativa angústia: acreditar que tudo o que lhes transmitimos servirá para os tornar um bocadinho mais fortes nas estradas da vida que forem encontrando... e assim, talvez fiquemos na mesma em "silêncio observante", mas um bocadinho mais leves, quem sabe?
"A vida, será muitas vezes diferente, daquilo que imaginamos" (...)
Eu também gosto da minha profissão, apesar da bainha áspera e das costureiras desajeitadas que nos obrigam a puxar o tecido de um lado para o outro para cobrir o essencial. Hoje, quando recebi o recibo de vencimento, quase que ia tendo um colapso, por ver que estamos a perder não só regalias, mas direitos, qualidade de vida e até motivação. Sei que amanhã, já não vou pensar nisso, mas hoje, a bainha áspera deixou a saia demasiado curta para o mês (brincadeira). beijinhos
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