MÃOS CHEIAS DE NADA
(será?)
Disse-me que o miúdo está na sala dela. Tem agora 5 anos e esteve comigo aos 3. A mãe referiu-lhe que ainda lhe pergunta por mim, às vezes. Lembro-me bem dele. Muito caladinho e sossegado, com uns olhos enormes, cheios daquela curiosidade que quer comer o mundo. Também me lembro bem da mãe. Pessoa simples, muito simples, mas de uma simpatia tão genuína, que me apetecia pô-la no coração, como a todas as pessoas que acho genuinamente simpáticas.
Há dias, outra colega... -não param de perguntar por ti...- Com estes estive o ano passado, algumas vezes por semana, só, mas pelos vistos bastou para lhes ter sido importante, com uma importância que só as crianças sabem dar e sentir. Mesmo que aos 18 anos já não se lembrem de mim, sei que por um prazo de tempo, lhes fui significativa e também sei que no tempo em que esse prazo se deu, tantos imputs importantes se foram marcando na personalidade deles. Isto não é conversa fiada, mas claro, é um discurso que custa a colar agora, por estes dias, na era da eficácia e do resultado.
Pois é... e este pensamento tem pairado por aqui, assim solto como uma folhinha ao vento, mas que vai e volta, vai e volta...
-Que bom, penso, que bom isto que me dizem. Fico com a certeza que é por aqui. Fico com a certeza que os afetos fazem despoletar o resto. Fico com a certeza que só os afetos tornam as aprendizagens significativas. Fico com a certeza que ainda bem que faço o que gosto. Fico com a certeza que o resto vem por acréscimo. Fico com a certeza de que isto é meio caminho andado para a tal eficácia que se apregoa. Fico com a certeza que a minha natureza será sempre assim. Fico com a certeza de que mesmo quando só se tem mãos cheias de nada para oferecer, a dádiva, a entrega e algum rigor se sentem pelo sorriso e pela forma como se fala. Fico com a certeza que preferirei sempre que os meus filhos façam aquilo que gostam, impregnando isso de capacidade de relação e afetos esclarecidos. Fico com a certeza que sou um grandessíssimo ET, mas pronto, assumo o risco.
P.S. Ah e obrigada às colegas que partilharam comigo este miminho! Sei que também são, as duas, tal e qual assim...
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