MÃES CORUJAS
É muito comum em Jardim-de-Infância trabalhar-se o tema da família e compreende-se porquê. Trata-se de perceber as relações familiares simples, as nossas origens, o que está "antes" de nós e "antes" dos nossos Pais, como se imaginássemos uma escadinha para trás com vários degraus (aliás, às vezes utilizo esta imagem da escadinha para explorar esta genealogia simples com o grupo). Isto ajuda a estruturar o pensamento, a perceber quem somos e de onde vimos.
A família é a nossa célula mais nuclear, a nossa matriz mais importante, com a qual ficamos marcados, se não para sempre, pelo menos durante aquela fase da vida em que ainda não temos autonomia para decidir sozinhos e precisamos de um "fio condutor".
Já adultos, teremos a liberdade de "filtrar" o que não queremos e aproveitar, "sorver" o que é bom, o que podemos aproveitar para nos caracterizar um bocadinho, fazendo da nossa matriz anterior, um pouquinho da nossa própria identidade adulta.
Então, será importantíssimo perceber o "barro" de onde vem a criança, contextualizá-la num cenário de relações inter-pessoais que podem explicar tanto acerca de si. Este tema da família é absolutamente transversal e pode ser abordado aquando de uma série de oportunidades, situações, temáticas, assuntos, conceitos! Compreendo e contextualizo muito melhor uma criança se conhecer a sua estrutura familiar e posso partilhar que tenho tido imensos exemplos de famílias nada ditas "tradicionais", em que se respira amor, matriz, valores e eficácia afetiva, daquelas eficácias que se reproduzem para outros com quem depois nos relacionamos... é como uma teia que vai ficando com muitos fios, vindos todos da mesma aranha!
É interesante "receber" com os grupos de meninos e meninas das nossas escolas, todas as formas novas e diferentes que há de famílias. É interessante ver como essas formas novas, "povoam" a nossa sociedade, interpelando-nos a uma aceitação que deve ser natural e não forçada. É interessante observar que em todas as formas de se dizer FAMÍLIA, quase nunca (quase, quase...) se perde a ideia de núcleo, de "ninho", de referência afetiva e social. O peso de uma MÃE pode ser dado a uma AVÓ, o encanto de um PAI pode ser transferido para um AVÔ, "COMPANHEIRO DA MÃE", PADRINHO, ou outra pessoa que naquela época, naquela vez, com aquelas pessoas, fez as "vezes de" e fê-lo eficazmente! É "ninho" na mesma, "porto seguro", sempre...
Não interessará a forma, interessará sim, a eficácia pedagógica e afetiva daquele conjunto de pessoas a quem se chama FAMÍLIA.
Às vezes, a família muda... às vezes, a nossa maneira de ver o mundo muda e, empurrados, ou não, conseguimos (ou queremos) fugir da teia inicial que foi sempre tão importante! Às vezes, vamos nós criar uma outra família, distante da primeira, daquela que nos gerou; outras vezes será próxima, quase parecida porque não queremos libertar-nos daquela matriz tão importante!
Quereria muito que em qualquer família, houvesse sempre "olhos de amor" que achassem sempre os seus filhos "os mais bonitos do mundo", porque seus e únicos... um pouco como a coruja da fábula de La Fontaine, que pediu à águia para olhar pelos seus filhos, "os mais lindos, de bicos mais perfeitos, no ninho mais maravilhoso". Penso que haverá sempre "mães" ("titulares" biológicas do "cargo", ou não...) que olharão em todas as direções, como a coruja, vendo no escuro, aquilo que os outros não vêm com o intuito de proteger o seu filho! E por isto, ainda bem!
P.S- Obrigado amiga Kuláudia pela imagem ternurenta das corujas que partilhei do teu mural e que me serviram de "click" inspirador...
Ai as famílias... São elas que comandam a nossa vida e moldam a personalidade da criança (para o bem e para o menos bem, como sabes). E depois, o conceito de família quando somos nós as corujas que tomam conta do ninho. É tão bom. Adoro ser coruja.
ResponderEliminarbeijinhos