HERANÇA
(A QUE LHES QUERO DEIXAR É PESADA!!!!!!)
Seremos sempre diferentes e teremos sempre ritmos abissalmente opostos, que nos fazem colidir, muitas vezes, no dia-a-dia cansativo que todos os dias se repete. Já tenho dito isto aqui e quem nos conhece sabe que é assim.
Hoje, o final da noite em hora de ponta de escravatura de cozinha, como eu chamo, estava a deixar-me irritada, especialmente irritada, porque o jantar se atrasara, muito pelas calmas dele e pela mania que tem de fazer uma série de coisas nesta hora chata, de ponta, de mil e uma coisas que aparecem ao mesmo tempo, mas também de oportunidade quase única de estarmos os cinco, ao mesmo tempo e esses ritmos diferentes do meu deixar-me-ão sempre irritada, como com aquele vento forte que sopra e despenteia tudo.
Comecei a ouvi-lo falar-lhe e cheguei-me à conversa lá fora. Ela ouvia-o, absorta e expectante, um pouco em modo de desconfiança-porque-sou-adolescente-e-então-desconfio-logo-mesmo-sem-ouvir-primeiro no que aquilo daria e ele dizia-lhe que é hoje e aqui e agora, na vida de todos os dias que deve cultivar a relação com os irmãos, que lhes deve dar atenção, que deve arranjar forma de os ter presentes no seu dia, de os incluir q.b na sua vida, nos seus programas, de uma forma que a sua inteligência emocional (que reconhecemos como grande) deve ditar e materializar; que tem só mais alguns anos para que os irmãos a vejam como a mais velha e por isso a venerem com aquela inocência às vezes chata dos irmãos mais novos e não já só como um par, porque a vida os vai aproximar cada vez mais em idades, programas, interesses; que não se deve anular daquilo que quer fazer e combinar, mas que pode e deve arranjar forma de mimar os irmãos, mesmo que seja só porque se faz presente nas suas vidas, aos bocadinhos, em cada dia, de cada vez, despercebidamente, como quem não quer a coisa, mas sobretudo como quem sabe muito bem o que quer, à moda dos amores inteligentes. Lembrei-me daquele post velhinho (brotherhood) que escrevi SOBRE OS IRMÃOS e tudo se reavivou em mim.
A vida, ou a genética, ou ela própria, já não sei, fê-la dócil e o modo desconfiada-porque-adolescente-que-desconfia-logo-primeiro-mesmo-ainda-antes-de-ouvir aligeirou-se um pouco e vi, de soslaio, com aquele radar ótico que só as mães têm que entendia o que o pai lhe ia dizendo. Eu reforcei aqui e ali, pontuando de verdade tudo o que o pai falava, dizendo-lhe que estávamos em sintonia, mesmo sem termos preparado a conversa e que, mesmo sabendo que é uma filha ma-ra-vi-lho-sa dir-lhe-emos sempre tudo o que acharmos, tenha ela a idade que tiver, porque somos atentos, tentamos ser sensíveis e porque, sobretudo, a amamos muito e, isso dar-nos-á para sempre a legitimidade de falarmos assim, com estes tons de coração de pai e de mãe que, sem complexos, lhe falam.
Eu estava com um avental horroroso, de Havaianas no pé, com o cabelo em modo sei-lá-o-quê indescritível, vestida com qualquer coisa de trazer-por-casa, a cozinha lá dentro, atrás de mim esperava-me, impiedosa, o cansaço, esse, seria cruel e rápido mal me sentasse no sofá, mas naquele pedacinho de noite, senti-me a mulher mais feliz e linda do mundo por tê-lo e a eles todos comigo, por tê-los todos os dias, por eles me terem a mim, por poder assistir a isto assim, sem esperar, por ter um parceiro de sempre e sempre comigo a reforçar o que defendo, mesmo sem o dizer, por sermos uma equipa destas assim, improváveis no modo mas ganhadoras no resultado, por termos o mais importante todos os dias, um ao outro, por ter a certeza que esta herança de se terem uns aos outros passará e será a esta e só a esta que lhes vou ensinar a dar valor!
E juro, não sou bipolar, mas não me lembrei já porquê que há minutos atrás tinha estado irritada... há verdades maiores, é o que é...!
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