domingo, 8 de fevereiro de 2015





SOBREVIVER


Falávamos sobre tudo e sobre nada e houve uma frase que retive: "quando há dinheiro, Paula, é tão fácil o amor".
Fiquei a pensar naquilo. Sim, havendo dinheiro, entre tantas outras coisas, também se alimenta o ego (nosso e do OUTRO), suprimem-se faltas, cuida-se do EU, trata-se do prazer, do deleite. Pode-se ir arranjar o cabelo quando nos apetece, espairecer no cinema, comprar isto, ou aquilo sem equacionar a verdadeira falta que temos ou não, almoçar e jantar fora, oferecer coisas sem fim, mimarmos e mimarmo-nos só porque sim, fazer uma viagem, investir no que nos apetece. Havendo dinheiro, é tão fácil o amor e a relação com o outro.  Acredito, no mais fundo de mim, que o dinheiro não traz a felicidade, acho que isso, todos nós, de bom senso sabemos, haverá sempre coisas que o dinheiro não compra, mas sei que pode iludir, facilitar, proporcionar e, facilmente, contribuir para uma ideia de felicidade que o bem-estar pode dar.

Enquanto falava com ela, ia-lhe ouvindo os relatos de uma vida feliz, de um percurso cheio de coisas boas, mas também de dificuldades inerentes à falta de dinheiro, trazida por instabilidades profissionais. Ouvi-a falar do esforço hercúleo de manter alguma sanidade quando tudo falta, do equilíbrio difícil de manter na relação a dois, dos problemas que se elevam a mil e a trezentos mil, aquando da falta de dinheiro constante. Conheço-a bem. Sei que é muito do seu otimismo e maneira de estar que leva o barco para a frente e admiro a capacidade que tem de estar (quase) sempre feliz, resolvida e equilibrada, num jogo constante de não hipoteca da esperança em melhores dias. E por inerência, admiro-o a ele também, aos dois, por conseguirem manter um casamento feliz, apesar de todas as dificuldades exteriores, que podiam, se eles deixassem, causar tanta mossa, tanto estrago.
Outros há que cairiam à primeira dificuldade, eu sei, porque gerir uma relação não é fácil, é complicado, é exigente, pressupõe esforço diário, gestão de frustrações, cedências e despojamento e isto, bolas, dá uma trabalheira muito grande e às vezes, não se está para isso.
Mas no fim, pode-se sempre resistir ao desgaste, sobreviver, porque se quer estar JUNTO, reinventar, recriar novas formas de ver o mundo, as coisas e nós próprios e essa descoberta não poderá ainda ser paga com dinheiro nenhum do mundo! Acho eu...



E por isso, este post é para ela... direitinho!


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