segunda-feira, 28 de abril de 2014



LÊS-ME UMA HISTÓRIA?


Lembro-me de me sentar na beirinha da sua cama e de a ouvir ler, quando estávamos juntas na casa da minha bisavó, sua avó, com outros primos e primas. Esta prima era super expressiva e lia com uma entoação que me fazia mergulhar na página, mesmo sem ver a imagem que lá estava desenhada. Lembro-me de a ouvir ler e de não querer que parasse, pois parecia que a história me era trazida ali para o lado. Não sei se lhe pedíamos que lesse, mas tinha muito gosto em fazê-lo, só podia ser, para ler assim... Eu era mais nova que ela, teria uns 5, ou 6 anos e recordo que estes momentos eram fugazes, no meio de tanta brincadeira, tantos primos e primas, tias, tios, avós e bisavó velhinha, mas lembro-me sempre destes momentos quando a leitura se foi agigantando em mim, como um gosto prazenteiro ao qual me fui deixando render. Eu queria ler assim, como a ouvia a ela ler. Lembro-me da mania que a minha mãe tinha de nos oferecer sempre livros, do despique que fazia com o Nuno para completarmos a coleção dos Cinco, depois dos Sete, do Colégio das Quatro Torres, das Gémeas no Colégio de Santa Clara, da obra da Condessa de Ségur e de tantos outros que povoaram a minha infância e adolescência. Lembro-me de uma professora do 5º, ou 6º ano (antigo Ciclo Preparatório) que dinamizou connosco uma Biblioteca de Turma, que nos pôs a todos a ler desenfreadamente, com um prazer que ainda hoje recordo. Lembro-me de uma professora de Inglês já no Secundário que nos punha a ler o "The Great Gatsby" em voz alta, à vez, para que treinássemos o sotaque, a entoação, a melodia da voz, dizia ela. Lembro-me do amor que ganhei ao Eça, por causa dos seus Maias, muito influenciado pela professora de Português que tinha, nessa longínqua turma de Humanidades do Secundário, que nos fez ir a Lisboa fazer o "roteiro dos Maias" e do prazer que senti por me parecer que estar a mergulhar naquelas páginas que lera com tanto gosto. Lembro-me de gostar de ler em voz alta, fechada no quarto para não incomodar e de ter sempre livros em lista de espera para comprar, requisitar, trocar, emprestar.

Os livros sempre fizeram parte de mim, empurrados por todas essas pessoas, ou só porque foram teimosos e foram ficando e hoje, continuam a completar-me, mesmo tendo tantos outros interesses e gostos, mesmo tendo que repartir o meu tempo com outras coisas que também gosto de fazer. Nada substituirá o mergulho profundo que dou, às vezes, nas páginas de um livro. E mesmo tendo um prazer curioso por estes novos mundos de que falava aqui, (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2014/04/nesgas-de-tempo-em-novos-mundos-passou.html#links), mesmo descobrindo, a cada dia, cumplicidades e sintonias com pessoas que também escrevem e que não conheço, mas de quem já gosto um pedacinho, porque me identifico com o que dizem, com o que escrevem, ou sentem, mesmo correndo o risco de não conseguir passar a todos os que me rodeiam este tão grande amor, paixão como a primeira não haverá mesmo e um livro para mim, será sempre um livro! Tenho dito!   

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