quinta-feira, 30 de maio de 2013



OSTRA TEIMOSA






Ando a arrastar-me de cansaço entre as logísticas todas que tenho que assegurar (é sempre assim nas retas finais dos anos letivos) e então compartimento o cérebro em intervalos de assuntos e de tempos específicos para as coisas: durante o dia de trabalho, só o inerente ao Jardim-de-Infância, e tudo o mais e o resto que isso envolve (e é tanto e tão exigente!!! Nem sempre consigo, pois os OUTROS assuntos são muitos e cruzam-se por aí fora, mas tento, como defesa de organização); nas viagens de carro, antes de pôr o carro a trabalhar, recurso aos papelinhos cábulas para aferir o que há para fazer deste e daquele departamento, deste e daquele filho, deste e daquele assunto pendente e depois então, 15 minutos de boa música e alguma (a possível e recomendável, deseja-se...!) velocidade; de vez em quando, umas paragens breves para engolir um café, sentada 10 minutos numa esplanada qualquer e aí, recurso ao telemóvel para pôr sms e mails em dia; depois a casa que, mesmo com as algumas, ajudas que tenho, me consome tanto, tanto; uns vôos rápidos aqui na blogosfera, muitas vezes já de forma MUITO seletiva e célere; ainda alguma leitura, fiel companheira de almofada noturna e no fim, vou fechando dossiers, que é o mesmo que dizer, encerrando assuntos... Mas há um ar à minha volta, feito de gentes, caras, sorrisos, gestos, atitudes, dizeres, presenças, e para este ar, tenho estado fechada, fechadinha como uma ostra teimosa que não se quer abrir!!
Este ardor enervante de cansaço faz-me fazer disparar lanternas vermelhas de alerta, como os disparos de adrenalina que acontecem num susto: alerta para o que não ouvi, alerta para o que não vi, alerta para o que não correspondi e alerta para o que não percebi e esta perceção forte de tantos sinais de alerta será, acho, o primeiro sinal de que mantenho alguma sanidade!! Valha-nos isso, alguma perceção que vamos tendo das coisas da vida! E aí, a ostra tem que abrir...
 Não posso permitir que este cansaço teimoso, me torne tão distraída para tudo o que está à minha volta.. pois não, não posso mesmo, não devo... Ainda bem que, como dizia o Pessoa, "o cansaço é profundo, mas, oh felicidade, infecundo!" (*)  
E infecundas não são aquelas coisas que se calhar morrem depressa, porque não dão vida? Ainda bem...


(*) in, O QUE HÁ EM MIM É SOBRETUDO CANSAÇO, Álvaro de Campos

1 comentário:

  1. Não sei postar nada de nada, caso contrário, postaria dois artigos: que fazemos nós do tempo e a arte da lentidão de José Tolentino Mendonça publicados nos expresso, o primeiro em 2011 e o segundo agora a 25-05-2013.Mas envio-tos por mail. Lê, servem de muito boa terapia...para além das que aqui referes.
    Beijinhos

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