quinta-feira, 30 de maio de 2013



OSTRA TEIMOSA






Ando a arrastar-me de cansaço entre as logísticas todas que tenho que assegurar (é sempre assim nas retas finais dos anos letivos) e então compartimento o cérebro em intervalos de assuntos e de tempos específicos para as coisas: durante o dia de trabalho, só o inerente ao Jardim-de-Infância, e tudo o mais e o resto que isso envolve (e é tanto e tão exigente!!! Nem sempre consigo, pois os OUTROS assuntos são muitos e cruzam-se por aí fora, mas tento, como defesa de organização); nas viagens de carro, antes de pôr o carro a trabalhar, recurso aos papelinhos cábulas para aferir o que há para fazer deste e daquele departamento, deste e daquele filho, deste e daquele assunto pendente e depois então, 15 minutos de boa música e alguma (a possível e recomendável, deseja-se...!) velocidade; de vez em quando, umas paragens breves para engolir um café, sentada 10 minutos numa esplanada qualquer e aí, recurso ao telemóvel para pôr sms e mails em dia; depois a casa que, mesmo com as algumas, ajudas que tenho, me consome tanto, tanto; uns vôos rápidos aqui na blogosfera, muitas vezes já de forma MUITO seletiva e célere; ainda alguma leitura, fiel companheira de almofada noturna e no fim, vou fechando dossiers, que é o mesmo que dizer, encerrando assuntos... Mas há um ar à minha volta, feito de gentes, caras, sorrisos, gestos, atitudes, dizeres, presenças, e para este ar, tenho estado fechada, fechadinha como uma ostra teimosa que não se quer abrir!!
Este ardor enervante de cansaço faz-me fazer disparar lanternas vermelhas de alerta, como os disparos de adrenalina que acontecem num susto: alerta para o que não ouvi, alerta para o que não vi, alerta para o que não correspondi e alerta para o que não percebi e esta perceção forte de tantos sinais de alerta será, acho, o primeiro sinal de que mantenho alguma sanidade!! Valha-nos isso, alguma perceção que vamos tendo das coisas da vida! E aí, a ostra tem que abrir...
 Não posso permitir que este cansaço teimoso, me torne tão distraída para tudo o que está à minha volta.. pois não, não posso mesmo, não devo... Ainda bem que, como dizia o Pessoa, "o cansaço é profundo, mas, oh felicidade, infecundo!" (*)  
E infecundas não são aquelas coisas que se calhar morrem depressa, porque não dão vida? Ainda bem...


(*) in, O QUE HÁ EM MIM É SOBRETUDO CANSAÇO, Álvaro de Campos

sexta-feira, 24 de maio de 2013



DUELOS FEROZES


Casou porque gostava dele, sim, não duvidaria disso. Acreditou num amor que sentia, mas que nunca questionou, nunca interrogou, nunca duvidou de alguns sinais que lhe pareciam autênticos. Agarrou-se a esse amor para fugir de um contexto familiar que a oprimia um pouco e esse amor soube-lhe a uma liberdade encantadora. Na altura, nunca admitiria isso, mas hoje, muitos anos depois, consegue analisar que sim, esse foi um fator primordial, mesmo que inconsciente. Não dizem os livros que o amor é isso, um calor, uma trepidação, umas borboletas na barriga, uma sensação de maravilhoso bem-estar, às vezes impulsionadora de aventuras, mesmo de olhos fechados?
A vida foi correndo e com ela os filhos e continuava sem questionar aquela coisa que sentia, porque àquela coisa chamava amor. O amor não se questiona. Sente-se forte e é só isso. Não se complica uma coisa que não tem complicação, porque às vezes, a lucidez traz complicação, a lucidez abre horizontes e perspetivas de análise diferentes daquelas tão cómodas que temos e então, para quê a lucidez? Só atrapalha... Por isso, não se questiona e pronto, vai-se vivendo... desenfreadamente, com as logísticas depois a sobreporem-se a tudo e até à tal lucidez, sempre tão necessária. Mesmo quando se adivinhava que se vivia em desequilíbrio, sob  jogos de compensação, balões de oxigénio que traziam euforia, logo seguidos de longos períodos de solidão interior e desânimo, nunca se achou estranho não haver cumplicidade e ter-se, por algumas vezes, abdicado do que era mais essencial, em prol daquilo que sentia, a que chamava amor. E era infeliz, consegue dizê-lo agora, à posteriori. Muito infeliz... os momentos bons que tinha eram ocasionais, descartáveis e imediatos, não atingiam uma profundidade que tudo preenche, como o fundo do oceano, onde calculo, tudo se preencha sem fim como uma mancha infinita... e por isso, ia vivendo, vazia, sabe-o agora... como sabe também que a projeção nos filhos não poderá ser solução, pois os filhos têm e deverão sempre ter, a sua própria vida.
Conseguiu, a certa altura tentar libertar-se desse amor que julgava certo... foi vendo que certo não era, que lhe fazia mal, que era descompensado. Respirou fundo e lá tentou. Vai conseguindo todos os dias um bocadinho, com muitos avanços e recuos, passos à frente e muitos atrás. A vida também é isso: temos metades emocionais que esgrimem com as racionais duelos ferozes de equilíbrio e, não havendo receitas para esta vitória, consegue-se, ora um vencedor, ora outro. 
Gostava só de dizer que julgo que é mesmo assim: não poderemos nunca meter a nossa vida numa equação de matemática, cujo resultado é absolutamente aquele e pronto! A nossa vida terá sempre a emoção a atrapalhar, ou a fazer pensar de outra forma melhor, quem sabe.
E disto me apelou a escrever hoje, porque sei de relações assim que acabaram, ou de outras assim que não acabaram ainda, mas já estão mortas, ou de outras, como à que me refiro, que vão a-ca-ban-do, porque tal é imperativo que aconteça para um equilíbrio pessoal que se procura. Mesmo que doa...
Sei de casos muito próximos de mim, de gente mais chegada e de outra gente, menos chegada, mas penso que para todos o diagnóstico será o mesmo, já que a massa de que somos feitos, é igualzinha (só a capa de fora é que muda depois...). 
Presumo que um divórcio/separação nunca será fácil, será sempre doloroso e árduo, tenha a relação tidos os contornos que tiver e seja o divórcio vivido da forma que for, mas presumo também, que às vezes poderá ser a porta para uma vida melhor... como um nascer de novo, quem sabe?

terça-feira, 21 de maio de 2013


O PAPÁ É INVISÍVEL?


Juro que às vezes parece, mas não é! O "oh mãe", constante que se ouve na minha casa, por tudo e por nada, até à exaustão, faz-me às vezes ter este desabafo, meio a rir: "mas o papá é invisível?", querendo saber quais os dotes de magia utilizados para se ter o dom da invisibilidade, nem que seja por um bocadinho pequenino, às vezes, ao telefone, numa fugida, numa pausa espontânea, num cantinho da casa que ninguém vê, numa conversa ao telefone (nem aí!!!), num duche que se queria privado!!! Qual quê!!! Missão impossível!!

Mas ele não é invisível! Não é mesmo! É um pai presente e muito atuante e sei que cada um dos meus filhos tem dele uma representação e uma ideia muito bem construída, saudável, importante, harmoniosa. O pai é o responsável, nas suas vidas, por setores essenciais que reconhecem como "pelouros" seus e sei que sabem que o pai divide/complementa com a mãe uma série de vetores que os completam como pessoas a CRESCER....
Seremos sempre diferentes. A mãe é emocional e explosiva, com os "apitos da panela de pressão" sempre a querer dar sinal (e a dar mesmo!!!), com o grito fácil e com aquela mania de falar com a voz, cara, mãos, braços, corpo todo... A mãe é intuitiva e perspicaz, atenta a tudo e sabedora de segredos que a vida traz e a vida leva, mais importantes, ou menos importantes, ao sabor do crescimento, dos corações, das emoções da idade e do momento. O pai é racional, pragmático, ponderado. Gere as emoções de forma diferente, com calma, deixando as coisas carburarem e ganharem forma, de modo que as possa exteriorizar com ponderação, que quase sempre conduz à sabedoria. É assertivo e eloquente quando fala do que lhe vem do fundo... procura a mãe para confirmar o que já sabe, os segredos que descobre, intui, perspetiva no ar. O pai reforça, salienta, exterioriza o que é mesmo importante e que a mãe já disse vezes sem fim, como se soubesse que só a palavra final do pai fosse pôr uma conclusão definitiva no assunto. O pai é tantas vezes o pragmatismo e razão que a mãe precisa e procura e a mãe é muitas vezes, o sal e emoção que a vida também precisa para ter todos os sabores. E eu acho que os miúdos percecionam no ar, todas estas diferenças e cumplicidades, crescendo num mosaico engraçado e maravilhoso...
Cresci neste paradigma, de os pais ajudarem, serem pares, serem referências ativas na educação dos filhos. Não sei se a minha mãe cresceu com este paradigma, mas cresci a ver o meu pai a sê-lo e por isso, para mim, isto é natural "como a minha sede"... o pai dos meus filhos sempre atuou, ajudou, colaborou, participou e foi (e é) referência ativa e atuante na vida deles. É um pilar estruturante, como sinto que o meu pai foi (e é...) para mim...
Pronto, mas o que há a fazer? Apesar de tudo isto o oh mãe continua a ecoar pelos céus desta casa, como se me perseguissem pelo cheiro, mesmo quando já estou exausta e impaciente e aborrecida e sedenta de um bocadinho para mim, e egoísta e stressada e sonolenta e cansada e indiferente e, e, e, e.... Ufa! Ainda bem que tenho um ombro ao meu lado, daqueles bem deliciosos...



P.s. (Um beijinho para todos os pais... também acredito que sabem consertar tudo!)

quinta-feira, 16 de maio de 2013





SWEET DREAMS ARE MADE OF THIS...


Às vezes ela mora connosco em casa e mal damos por ela... vai connosco para todo o lado como uma sombra e mesmo assim não a vemos, é silenciosa, cola-se às coisas de uma maneira que a torna invisível, agarra-se à pele, assume os nossos cheiros, ganha as nossas formas e MESMO ASSIM, não damos por ela. Quando gritamos, ela grita; quando dormimos, ela dorme, quando comemos, ela come, responde, senta-se, levanta-se, age, pensa, tal e qual como nós e não há como lhe dar outra forma, porque é tal e qual o nosso reflexo, assume uma identidade à qual só falta dar nome próprio, como o meu, o de cada um...
Há vezes em que a buscamos incessantemente noutros sítios, fora de nós, vamos longe, longe à sua procura, espreitamos grandes esconderijos, idealizamos locais onde ela poderá estar à nossa espera, repetimos que sim, que é uma senhora caprichosa e inalcansável, muito inacessível para qualquer um, que mal a vemos, não sabemos onde está... Queixamo-nos, queixamo-nos muito! 
 Há outras vezes em que achamos que ela nos fugiu, até já sabemos como ela é, já lhe experimentámos a sensação, já a tivemos na nossa vida, mas rendemo-nos à evidência de nos ter escapado por entre os dedos, como se fosse areia branquinha da praia! Aí, afastamo-nos sempre da culpa! Essa desgraça aconteceu sempre e só pelos outros, nós estamos sempre isentos! Claro que nunca nos fechámos a ela, claro que não fomos cegos, teimosos e surdos para as suas evidências a nosso lado, claro que não, o quê, jamais!!!
 Em algumas ocasiões parece que conseguimos falar dela, com veemência, com determinação, ganhando (nós), ares de sabedores dessa realidade, testemunhando com um brilho nos olhos, o que dela sabemos. É assim... essa senhora achamos nós que é caprichosa, mas na realidade é só ela própria, sem grandes exigências e muitas vezes, está à mão de semear!!!

Parece que hoje se celebrou o DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA... isto há com cada coisa!!! Em 40 anos de vida, nunca tinha ouvido falar neste dia e assumo que o mal está certamente em mim, pois é comum, pelos vistos, nomeadamente em contextos escolares, o festejo da efeméride! Em que mundo tenho andado???? Aprendi hoje que sim, que existe este dia e, tal como outro assunto qualquer, pode servir de pretexto para se trabalhar, explorar, conversar sobre... Não vou falar aqui e agora sobre a variedade colorida de famílias que há, as alterações que o conceito de família tem sofrido, as formas de se ser família sem os laços de sangue, as famílias que se ganham, perdem, reconquistam, descobrem... não, hoje vou falar desta senhora caprichosa, afinal nada difícil, com que iniciei este post e dizer-vos que o seu nome é FE-LI-CI-DA-DE e que às vezes nos bate à porta, ou aparece disfarçada de pessoa, ou pessoas, ou lugares, ou momentos. No meu caso, apareceu com um pouco de tudo isso e transformou-se num sonho doce que é feito disto mesmo, todos os dias um bocadinho!!! 

E pronto, sem grandes teorias e devaneios históricos, foi só nisto que pensei hoje, no tal DIA INTERNACIONAL DAS FAMÍLIAS, neste meu sweet dream que, mesmo tendo dias, me abre sempre as portas à TAL SENHORA!









segunda-feira, 13 de maio de 2013



 5 minutos


Faltavam 5 minutos para o serviço fechar e 5 minutos é uma eternidade de tempo quando se quer. Que o digam todos e todas aqueles e aquelas que se desdobram em mil de manhã, com os miúdos e os horários, lutando contra uma preguiça e cansaço mal disfarçados e contrariando um ímpeto que nem sempre é exuberante... 5 minutos de antecipação são providenciais no trânsito, por exemplo e sinto isso diariamente, como uma estatística teimosa...  
Pois e então, faltavam 5 minutos para que pudessem sair para a hora do almoço e o meu pedido e a minha chegada foram altamente inconvenientes... que chatice, devem ter pensado, logo agora! Imediatamente a seguir a mim, outro pedido de outra pessoa que se aproximou (ainda dentro de um horário que, não sendo eterno, ainda estava "na validade...") e aí, foi o descalabro. Todos os disfarces caíram e foi evidente a má-vontade com que nos atenderam, parecendo que nos faziam um favor. Pareceu-me ouvir que comentavam entre si o impropério de termo-nos dignado a aparecer àquela hora! Sinceramente fingi que não percebi... ando tão saturada de estupidezes mesquinhas e cérebros pouco lubrificados e arejados, que optei por uma indiferença surda e silenciosa. Os cérebros pouco lubrificados e arejados, vão-se tornando moda. Isto não tem nada a ver com conhecimentos académicos, já que esses, muitas vezes, não tiram a tacanhez; tem a ver com horizontes, saídas de si próprio, fugas a zonas de conforto às vezes tão pequeninas e limitadas, tem a ver com curiosidade, sensibilidade, abertura e simpatia! E isso, cabe tudo em 5 minutos!
Vim de lá mal-disposta e intuo que quem estava a seguir a mim, também! Fiz o que lá me levara, a correr e saí, fui apanhar ar, ouvir os barulhos indiscriminados da rua, andar sozinha porque sim, beber um café preto,preto, passar os olhos por uma daquelas revistas onde só leio os títulos e onde há tanta gente que nem sei quem é, mas que parece sempre bonita, aperaltada, agradável à vista...(hoje não me detive a descortinar-lhes os sorrisos fingidos, os truques de beleza que escondem tudo o que é natural, não me questionei sobre as suas vidas... hoje apeteceu-me só, sem pensar muito, ver as letras bonitas e coloridas, os casamentos perfeitos, as profissões de sonho!!!), mandar dois mails e sms do telemóvel porque tinha conversas para pôr em dia e a seguir voltei para a escola.
Sentei-os todos em roda cá fora, à sombra, fiz aí a hora do conto, para ser diferente dos outros dias todos, explorámos as imagens e conceitos do livro, identificaram a autora da história como sendo a mesma de outra e outra e outra história que às vezes lhes conto, falámos, conversámos e cantámos e rimos. Não vão sendo fáceis estes momentos. Está tudo mais irrequieto, desconcentrado, alheado... as linguagens dos livros e das coisas vão sofrendo desadequações perante as vidas de alguns meninos e meninas e isto, por sistema, vai-se notando como uma cicatriz feia e vitalícia, mas no fim, senti a frescura de um ventinho suave que nos sabia bem por causa do calor. Convidei-os a fechar os olhos e a sentirem essa brisinha pequenina... Vai sendo também difícil afastá-los de super, mega, hiper logísticas que os envolvem e que convidam à pressa, fazendo-os indiferentes a estas prendas naturais e gratuitas que temos todos os dias e por isso, este momentinho final foi breve, muito breve e em jeito de remate antes de irmos para a sala, continuar o dia, outra vez... Acho que terá durado 5 minutos, se tanto, mas nesse bocadinho de tempo, coube o mundo de todos nós...  e 5 minutos não são mesmo uma eternidade, quando se quer?

quarta-feira, 8 de maio de 2013



EU QUERO SER...

"Eu não quero ser nada... não sei... é o quê?... a minha mãe diz que não há trabalho!!!!"

                                                                                                               L. 5 ANOS     

Hoje perguntei aos meninos e meninas de todas as cores que tenho na minha sala, à minha frente todos os dias, o que queriam ser quando fossem grandes!
Houve uma série de circunstâncias que deram o mote para esta atividade, independentemente de ser, em contexto de Jardim-de-Infância, uma atividade recorrente.
É um "clássico" aparecerem respostas das meninas, de "bailarinas" e dos meninos de "bombeiros", ou "polícias" e, graças a Deus, esse imaginário mágico, ajudado pela ingenuidade e idade das crianças, manteve-se também na minha sala, nesse dia, nessa atividade. Nem tudo está perdido, pensei!!! Três, ou quatro bailarinas, médicos (as), futebolistas, construtores, trabalhadores de máquinas, esteticistas, cuidadora de animais, nenhum professor (a), uma mãe e um paleontólogo (!!!), apareceram nas rápidas respostas que me íam dando.
Não sei explicar porquê, mas esta atividade fez-me pensar em como tudo está diferente do que era há uns anos e de como isso nos obriga (ME OBRIGA) a mudar paradigmas e estratégias para as coisas! A maior parte daqueles meninos e meninas coloridos que estavam à minha frente a ouvir-me e a responder-me, fizeram-no levados (a maioria) pelo "mergulho" que fizeram no tema, pela envolvência que foram sentindo à sua volta e pelas características mágicas da idade que têm, que os leva (AINDA) A SONHAR, A QUERER SER, A IMAGINAR... Sim, porque a maior parte daqueles meninos e meninas têm um pai e uma mãe que não trabalha há muito tempo o que não lhes deixa construir na sua cabecinha a ideia do que é uma profissão!
Cada vez é mais comum sentirem o pai e a mãe preocupados porque não têm trabalho, ou a ter trabalhos/ocupações ocasionais, ou a terem que ter outros trabalhos para além do principal; ou a perderem o trabalho que tinham; cada vez é mais comum os meninos e meninas ouvirem os adultos terem do trabalho e das profissões uma ideia amarga, cheia de incertezas, tristezas, falsas certezas e outras "ezas" que tais...
Não há muito a fazer... a idade deles e delas dar-nos-á sempre bocadinhos de magia e de motivação aos quais nos podemos sempre agarrar para colorir estes momentos, para lhes transmitir informação, para lhes mostrar coisas novas e diferentes e para lhes mostrar que ainda há exemplos de gente feliz e realizada com o seu trabalho, com a sua profissão, mesmo que já vão sendo poucos e mesmo que esses poucos tenham que lutar muito contra tanta coisa feia e desmotivante que gira à sua volta! Mas é assim, isso existe mesmo...


domingo, 5 de maio de 2013

 
SACO DE AMOR
 
(e porque hoje, dizem, é o DIA DA MÃE, mandei para a blogosfera, uma prenda para ti!!!)
 
 
Ela não cabe aqui! Não porque seja muito grande. Embora seja uma mulher alta, não é enorme. Tem uma cara miudinha, de traços ligeiros e bem desenhados. Os olhos são castanhos, ligeiramente amendoados e o cabelo é escuro, muito ondulado, o que a fazia usá-lo quase sempre muito curto. Agora já o vai deixando crescer, embora se recuse a pintá-lo, ou a disfarçar os brancos que, não sendo muitos, contrastam com o escuro. É uma mulher bonita, de traços suaves, com um sorriso sincero e doce que seduz quem a conhece, fazendo sentir logo empatia por ela. Ninguém que não nos conheça nos associa. Não sou fisicamente parecida com ela, mas revejo-me no seu feitio e maneira de ser, na sua forma de falar e expôr as ideias, na sua capacidade de se relacionar de forma que julgo assertiva, na sua impulsividade e sensibilidade e, no geral, acho que somos parecidas nisto tudo. Há também tons de voz, formas de sorrir, maneiras de responder e de dizer... a genética tem destas coisas; manifesta-se de tantas formas!!!
Foi mãe pela primeira vez muito nova, com 20 anos, depois 22 e depois 29 (faltavam três dias para fazer os 30, costuma dizer com orgulho!!!)! Hoje é uma mãe jovem, para filhos já adultos e pais de filhos e filhas também. É uma avó moderna, que conduz, que "navega" no computador, que viaja, que tem uma vida muito própria, uma identidade só dela, que a caracteriza e que nos encanta, porque achamos que sim, que as nossas vidas não se podem sobrepor à dela própria. Lembro-me de histórias da minha infância, de tomadas de posição que sempre tinha, de atitudes que tomou, da lucidez que mostrava sempre nas questões, às vezes, pouco clarividentes para todos, menos para ela. Lembro-me dessa lucidez de análise para os problemas que, passava, subtilmente, pelo ar, lá em casa, fazendo-nos respirar a todos um ar limpo, seguro e profundo, próprio da marca dos grandes homens e das grandes mulheres. Lembro-me da perda que viveu de seu pai, depois de sua mãe, depois de um dos filhos, depois do marido... Lembro-me do salto em frente que sempre deu para não ficar presa a uma amargura que seria certa, lembro-me do ancoradouro que sempre fez da sua fé, grande baluarte espiritual e contextualizador de toda a sua força, lembro-me de grandes decisões profissionais e outras que sempre teve que tomar e de como isso era discutido/partilhado por todos nós lá em casa, na tal rede enorme de afetos que nos unia, lembro-me da presença que mostrava sempre (e mostra ainda!) para as minhas dúvidas: como pessoa, como jovem mãe, como mulher; lembro-me do bálsamo que era sentir que ela estava sempre ali, à disposição, à mão de semear, à distância de uma viagem de 5 minutos de carro, de um telefonema, de um SMS, tão perto, sempre tão perto; lembro-me da forma com se relaciona agora com cada um dos netos, à medida das diferenças de cada um, mas dentro do mesmo saco de amor, lembro-me da ternura e consideração que tanta e tanta gente sente em relação a ela, lembro-me do amor de filho que este filho que há 17 anos arranjou, por extensão a mim, sente por ela, como se mãe dele mesmo fosse; lembro-me da certeza que sinto quando penso que foi ela que me ensinou a ser mãe e que é dela o exemplo que copio, sem me aperceber, todos e todos os dias da minha maternidade... De tudo isto me lembro e de tudo sei que não me posso lembrar mais, porque não caberia aqui, não cabe, não há espaço para um amor assim. Por isso deixo só este bocadinho de amor, só esta pontinha de verdades que fazem colorir a minha vida e a dos meus e digo-lhe do fundo do coração: Obrigado, mummy, só por existires para mim!
 
Ah, e olha, como sei que nunca estiveste sozinha... achei que ias gostar desta!!!
 
 
 
 

quinta-feira, 2 de maio de 2013



 IRRITAÇÃO MIUDINHA...


Conheço gente culta, com quem é um prazer conversar. São pessoas eloquentes que falam dos assuntos com sabedoria, daquela que lhes vem do que aprendem e apreendem da vida. É como se misturassem esses pedacinhos todos DE VIDA, os processassem internamente, lhes fizessem margens adequadas a si próprios, formatos de texto especiais e, de tudo isso, resultasse uma opinião interessante, daquelas que dá gosto ouvir e que retemos na lembrança por algum tempo, até porque algumas destas pessoas têm depois a capacidade de transmitir aos outros o que sabem, sendo um prazer ouvi-los. Há tanta gente assim! "Cabemos" cá todos...
Depois, há também gente que, não sendo culta, é interessante, porque não tem "erudição", mas sim (tantas vezes mais importante!!!), sensibilidade, que as "abre" aos assuntos e as predispõe a falar deles, sempre com alguma graça, ou pormenor ao qual somos sensíveis. SÃO CURIOSOS e essa curiosidade dá-lhes a graça! Também há tanta gente assim e ainda bem... continuamos a "caber" cá todos!!!
No fim, há ainda aquelas que não sabem nada e acham que sabem tudo, falando de qualquer assunto que não dominam (e para o qual são quase sempre indiferentes), como se o conhecessem há muito e estas, são extremamente irritantes. Acompanham as suas opiniões com ares afetados, tons de voz supostamente eruditos e expressões faciais e corporais que não condizem com tudo o resto que conhecemos delas, como se o suposto verniz só tapasse uma unha muito feia! E o que acho mais irónico é que muitas acreditam estar a surtir em nós os efeitos que imaginam!
E estas são irritantes porque não sabem; irritantes porque fingem que sabem; irritantes porque provocam em mim um frenesim que me desestabiliza... às vezes!
Mas que coisa! Quando não sei (e são tantas e tantas as vezes), procuro ficar calada a observar, a "absorver", aferindo a possibilidade de "opinar", ou não...
Há dias em que não evito a irritação, exteriorizo-a, porque sou impulsiva; há dias em que respondo à letra; há dias em que sorrio para dentro, tal é a parvoíce dita e opinada com ares de certeza; há dias em que só peço sempre a lucidez de não ser assim; mas na maior parte dos dias (e ainda bem!), ignoro-as e lembro-me do sábio António Aleixo:

"Eu sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer"

Entre leigos ou letrados
fala só de vez em quando
que nós, às vezes calados, 
dizemos mais que falando"

E... viva o ALEIXO!