sexta-feira, 26 de abril de 2013

 
VOLTA DE CARROSSEL
 
 
Quando penso em 1974, imagino-os na casa dos vinte e muito poucos para ela e trinta acabados de fazer, para ele. Imagino-os quase em lua-de-mel, ainda, com pouco tempo de casados e já dois filhos, quase seguidos a "tiracolo". Uma vida a dois em início de construção, ele trabalhando já e construindo "a pulso" uma carreira profissional que lhe adveio depois só do mérito e ela, estudante universitária, iniciando um curso superior que correspondia à sua vocação mais autêntica, suportada no amor dele e na estrutura de lar que iam construindo. Imagino-os bonitos como sei que eram, animados, apaixonados, com a vida pela frente. Desta altura, sei de episódios, apontamentos de memória, histórias que se passaram e me foram contadas e intuo, com muita certeza, que havia felicidade no ar, daquelas que ficam impressas na primeira infância dos meninos e das meninas, como um carimbo vitalício, uma tatuagem que nem a laser sairá, muitos anos depois... 
Depois, logo a seguir, imagino a geração anterior a eles, também um homem e uma mulher que se conheceram num trópico distante das suas origens, vindos ambos de meios culturais muito diferentes, ele ávido de cultura e conhecimento, empreendedor, trabalhador e muito determinado; ela, bonita, doce e determinada, mas em modo mais suave, daqueles subtis, que, a meu ver, são mais vigorosos e vitoriosos no final. Os primeiros, receberam dos segundos os relatos e histórias de uma Pátria mãe distante que os primeiros não conheciam, de onde os segundos resolveram sair procurando uma vida melhor. Quando penso nisto, como sinto que a história se repete, como ciclos soluçantes, mesmo algumas gerações depois... Os primeiros deste post são os meus Pais e os segundos, os meus avós maternos!
E, assim sem saber explicar muito bem porquê, é de uns e de outros que me lembro quando se fala no 25 de Abril de 1974... imagino a volta de 360 graus que uns e outros deram às suas vidas e tento imaginar como reagiria eu, agora também com um projeto de vida, também com filhos a tiracolo, também com coisas a acabar de começar, também com casa, trabalho, raízes... como reagiria a uma volta de carrossel tão grande assim? Não sei... acho que só se sabe quando passamos nós pelas coisas, por muitas receitas, ou estratégias, ou táticas, ou planos que tenhamos... E assim, repito, sem saber muito bem porquê, é disto que me lembro quando se fala no 25 de abril: a capacidade que teríamos, ou não, de apanhar "ao colo", assim, uma mudança destas...continunado a viver, a sonhar, a construír...
Nunca sentirei com uma intensidade quase física (como aqueles e aquelas de gerações anteriores a mim) a revolução de abril, pela simples razão de que sempre cresci em liberdade, nunca tive outro modelo de comparação, "construí-me" como pessoa, já com este paradigma social. Porque leio, comparo, me questiono e conheço desta forma algumas realidades parecidas à que havia em Portugal antes de 74, porque me lembro e respeito muito o que os meus Pais e Avós contaram e contam, sinto esta data com respeito, consideração e algum deferimento; mas a "verdade verdadinha" é que é de uns e de outros que falo acima que me lembro sempre em primeiro lugar e gostava de lhes dizer que foram valentes, heróis, quase, por terem passado por isto com um saldo positivo de afeto, equilíbrio, coerência, clarividência e harmonia.
À liberdade que nos foi "oferecida", gostava de dizer que, maior que ela, será sempre a INTERIOR, do mais íntimo de cada um de nós, que nos liberta de prisões e grades invisíveis que nos podem impedir de sonhar... a cada dia!


2 comentários:

  1. Quando penso no 25 de Abril, penso já no após 25 de Abril, no rescaldo da dita revolução. Penso em familiares que sentiram muito radicalmente essa dita revolução e os conflitos sempre latentes nas reuniões familiares. Vem-me à cabeça todo o disparate que foi tentar doutrinar crianças da infantil, pré-primária e or aí adiante em ideias que realmente elas não compreendiam. Os meus pais não tiveram de dar uma volta à vida deles porque estavam apenas havia 3 anos em Moçambique. Não tinham lá uma vida inteira. Mas devo dizer-te que nunca romantizei o 25 de Abril e ao longo dos anos tenho vindo a ver tudo isto com outras cores, que não as bonitas cores da nossa infância. Crescer tem destas coisas... Os ideais de Abril já foram pelo cano abaixo, há já tanto tempo, que acho que só tivemos dele um aroma leve. Beijo!

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  2. Apesar de ter sido uma volta gigante de carrossel, penso que, para muitos, foi uma mudança boa. Há quem não goste do 25 de abril porque estavam nas colónias e perderam tudo. Hoje, por muito que se cante Grândola Vila Morena, não me parece que o povo consiga encenar outro 25 de abril. Mas se isso acontecesse, parece-me que seríamos todos capazes de mudar as nossas vidas, se fosse preciso. Não é o que está a acontecer aos poucos? Pessoas que voltam a emigrar, viver com menos, mudar hábitos por causa da dita crise? Por muito negativas que sejam as crises, uma coisa é certa, põe-nos à prova e à nossa capacidade de adaptação e mudança. Espero que que passe depressa. beijinhos grandes

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