terça-feira, 2 de abril de 2013



ARMA PODEROSA



(AVISO: Devem ler-se estas frases quase em surdina)

"- O que é cativar?... o que é cativar?" - perguntava o Principezinho
" - É uma coisa de que toda a gente se esqueceu... significa criar laços" - respondeu-lhe a Raposa.
Antoine de Saint Exupery
in, O PRINCIPEZINHO


Vou ter com ele algumas vezes, não tantas como gostaria, mas aquelas possíveis, "filhas" da disponibilidade das vidas agitadas que ambos temos. De todas as vezes que nos encontramos, tenho uma sensação de "bálsamo", de um conforto fresquinho, parecido com aqueles cremes maravilhosos que se põem na pele depois do sol. Estas conversas com amigos assim (confessores, amigos do peito, colegas especiais, maridos, mulheres, namorados, ou ...) devem ter esse efeito, presumo, em todos nós. Certa vez, numa conversa que tivemos e enquanto me ouvia dizer-lhe que lhe reconhecia algum ascendente sobre mim, "dando-lhe" o direito de me dizer tudo o que achasse, com sinceridade, ia-me respondendo com sorrisos e "processava" (penso!), tudo o que eu falava... respondia-me de quando em vez, enquadrava as suas opiniões e afirmou, que só tinha essa "autoridade" sobre mim, porque eu própria lhe reconhecia isso.
 Essa pessoa faz parte da minha vida pessoal, é alguém muito querido para mim e para o meu núcleo familiar, conhece-nos há muitos anos, acompanhou o meu/nosso crescimento pessoal e emocional e sempre o vi como um amigo mais velho, mais lúcido, mais esclarecido, a quem recorria (recorríamos) sempre que precisava (e sempre que preciso, na urgência de um presente do indicativo). A inteligência profunda que tem, o conhecimento altamente esclarecido sobre imensas coisas, uma vertente espiritual maravilhosa e única, uma clarividência e espírito práticos sobre inúmeros assuntos (o que me encanta!!!), a facilidade com que reporta toda esta "teoria" para a prática do dia-a-dia, sempre me fascinou de uma forma que me fez desde cedo considerá-lo único e (quase) insubstituível!
No entanto, aquilo que me disse sobre o ascendente, parou-me no cérebro e vai pairando por lá, fazendo-me perceber que todas essas qualidades que tem, só as noto, só as vejo e identifico tão bem, porque ele me cativou, porque me fez especial, porque se deteve comigo por uns pedacinhos, porque "perdeu tempo", porque me fez sentir importante! Nada lhe seria reconhecido (de forma tão veemente) por mim se não me tivesse cativado!
Esta pessoa querida para mim e para os meus tem o poder da relação! Considero este poder de relação uma arma poderosa nas relações inter-pessoais e considero-o mesmo, uma porta de entrada para descobertas (quase tão científicas como a da penicilina, esse antibiótico, a seu tempo tão inovador e único!)) sobre a inteligência, o caráter, a personalidade.
Esta pessoa (como tantas outras parecidas com ela que existem nas vidas de cada um), faz contraponto com outras, opostas, diferentes (e também aqui me lembro de uma em particular!), que possuem uma inteligência mordaz e bem oleada, conhecimentos quase infinitos sobre as coisas, capacidade de expressá-los muito bem, espíritos organizadores eficazes, mas que não se conseguem relacionar, fugindo do "olho no olho", da "mão na mão", assumindo posturas carregadas de estilo, pompa e alguma circunstância, mas que no fim... o que fica? Parece que as palavras não entram, não colam, que falta qualquer coisa! Faz lembrar o caso daqueles médicos, altas sumidades e professores de cátedra, mas que não olham para o doente, institucionalizam-no e só, desvirtuando aquele que devia ser o principal e primeiro requisito da sua profissão: a relação como OUTRO.
Sei que algumas destas últimas pessoas (e se calhar esta de que me lembro com este post em particular...) tiveram, ou têm, algumas fragilidades emocionais que não ultrapassaram, ou que, nalgum momento, marcaram negativamente as suas personalidades e formas de estar, mas mesmo assim apetece-me dizer-lhes que TUDO o que lhes falta é exatamente isso, o deixarem o OUTRO sentir-se cativado, para que depois, com naturalidade, sem pressas, formalismos, ou prazos, o bonito que têm para dizer caia cá dentro e talvez muito fundo! E aí, quando cair e se cair, ficará para sempre como um laço apertado!

1 comentário:

  1. Pois é eu sou eu e a minha circunstância, lá diz o filósofo,Ortega e Gassey (não sei se o nome está bem escrito) mas como também acrescenta um desses amigos especiais eu sou eu e as relações que vivo, sem dúvida. Parabéns mais uma vez. E beijinhos especiais.

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