segunda-feira, 1 de abril de 2013




OVOS DE COELHO





Hoje tive a casa cheia de gente, muito barulho, muita confusão e muitas daquelas coisas agitadas, mas maravilhosas, próprias das famílias grandes, enormes e barulhentas! Apesar disso e apesar de continuar, ainda, mergulhada naquele torpor profundo de leitura (que me atinge de vez em quando...), surgiu-me, num cantinho do cérebro, uma lembrança do que uma menina da minha sala me disse acerca da Páscoa e acerca dos seus símbolos: "- Porquê que o coelhinho é o coelhinho da Páscoa, porquê que lhe chamamos assim, porquê que nos lembramos dele nesta altura e porquê que ele está em todo o lado?"- perguntava-lhes eu, informalmente, numa conversa de "tapete", todos juntos... 
-"Porque ele põe os ovos da Páscoa" - respondeu-me prontamente uma menina. 
-"Então ele põe os ovos? Mas os coelhos põem ovos????? 
Um SIIIIIM sonoro, embora já não unânime, ecoou pela sala...

Penso que a vida que levamos, recheadinha de pressas, correrias, timmings e logísticas para cumprir, dar-nos-á, mesmo sem querer, alguma anestesia para questionar, pensar sobre as coisas, fundamentá-las, pô-las em causa, justificá-las ao ponto de percebermos porquê que as sentimos de certa forma, enfim, pensá-las... Eu, pelo menos, sinto isso algumas vezes, como se uma preguiça mental muito grande fosse às vezes, tomando conta de mim, me entorpecesse os membros e o sentir e me deixasse seguir, nesta maré gigantesca de gente que pensa assim, sem saber explicar porquê e sem querer perder tempo a pensar nisso sequer... A vida vai correndo, sem grandes ondas e parece tão cómodo assim... Sinto isto muitas vezes, pessoal e profissionalmente falando e senti isto nesta quadra festiva da Páscoa, em que se planifica, se elencam estratégias, procedimentos, atividades, mas muita da essência ficará por dizer, por explicar. Legitimo-me e liberto-me de algum (pouco) peso de consciência, pensando que é difícil para crianças pequeninas do Pré-escolar, a explicação da Páscoa, a justificação da quadra. Deambulo entre uma certa origem histórica e ligação ao início da Primavera e uma mensagem de vida, de família, de perdão, de recomeço... Acaba por ter também esse fundamento e acaba tudo isto por poder ser vivenciado ludicamente por histórias, canções e pelas tais atividades que se planificam e então, tudo acaba bem... Pois é! Profissionalmente falando, não se poderá fazer mais, já que há coisas, verdades, sentires e valores que passam única e exclusivamente pela família e não quero sentir nunca a pretensão de me querer substituir a ela, não o poderia, neste âmbito profissional!
Mas, pessoalmente falando, tenho obrigações que me impelem a fugir da tal anestesia entorpecedora... sinto que tenho obrigação de transmitir aos meus, o verdadeiro sentido das coisas e, neste caso, da Páscoa, do Natal, das outras festas religiosas, ou não, das tradições, dos costumes e das coisas que nos rodeiam e que nos caracterizam como família, desenhando os nossos gestos e hábitos. Isso, contribuirá para a elaboração de uma história pessoal de cada um deles, da qual eu só serei depois co-autora, já que terá outros protagonistas e muito mais importantes.
Assim, os símbolos inerentes às quadras e às festas, as datas, os acontecimentos, farão sentido e terão uma explicação à qual aderimos com maior ou menor entusiasmo, mas na maior liberdade de cada um, de cada núcleo familiar ou pessoal. De qualquer forma, será importante, penso eu, que essa liberdade maravilhosa e gratuita de cada um, caracterize a forma como vive e sente as coisas, mas também inclua um conhecimento sobre elas para que a adesão seja maior e mais verdadeira (ou não...). Ninguém gostará do que não conhece, ou que conhece mal, atrevo-me a acrescentar, se calhar, sem fugir à verdade...
Então, tal como eu vivo a Páscoa como uma festa de libertação e de vida, que cada um a viva como quiser, no exercício consciente e pleno da sua liberdade, mas que ninguém fique sem saber explicar porquê que o ovo, ou o coelho são tidos como uns dos seus símbolos. Penso que isso seria redutor, mesmo para quem tem opiniões e crenças diferentes...
E, como as grandes coisas são todos os dias e não têm (ou não deveriam ter...) atrasos horários e de calendário... BOA PÁSCOA para todos!!!

1 comentário:

  1. Que espaço delicioso!

    Embora tente também contrariar essa "anestesia entorpecedora", às vezes sinto que me arrasto contra uma multidão contrária!

    Beijinhos... vou vir aqui mais vezes. :-)

    Ana Horta

    ResponderEliminar