quarta-feira, 27 de março de 2013



SORRISO TEIMOSO

Tenho estado "mergulhada", completamente submersa, numa leitura que me está a prender completamente às 900 e tal páginas de uma história de várias famílias, que atravessa todo o século XX. (Trilogia "O SÉCULO"  -livros I e II, de Ken Follet) Para quem, como eu, adora apontamentos históricos, com um quê de quase verídicos, não poderia ser melhor. Esta obra é uma trilogia, com três livros, acho que o terceiro está ainda a ser ultimado pelo autor, mas, embora ainda vá a meio do segundo, já anseio pelo terceiro, pois estas personagens tomaram conta de mim, numa adesão deliciosa que me tem preenchido. Parecem-me pessoas quase reais, com um bocadinho de mim, ou de outros que conheço, em cada uma delas e acho mesmo que quando um livro "toma assim conta de nós", é porque se apresenta como maravilhoso. É assim para mim a leitura: uma compulsão que quando resulta, é melhor ainda!!! Confesso que a adesão tem sido tão grande que alguma (muito pouca) televisão e também este meu querido blog, têm ficado um pouco para trás, embora sinta que tenho sempre "assunto para escrever", como dizia a canção...!!!
Hoje, por inerências "logistíco-familiares" (se é que esta combinação de palavras existe...) tive que "tirar" o dia para tratar de uma série de assuntos junto de repartições públicas, acompanhada do meu filho Pedro, que se revelou num ajudante muito bom, a tirar as senhas, a adivinhar logo para que balção tínhamos de ir, a conversar sobre uma série de coisas que ia vendo... não pude deixar de pensar em tantos e tantos meninos e meninas que não têm nunca esta pequeníssima experiência que em si não terá nada de mais, mas que pode ser uma experiência de vida interessante, para "gente grande tão pequenina" como o meu filho mais novo.
Enfim, no último atendimento a que fui sujeita, tive de esperar algum tempo. Observei o design do espaço envolvente e de facto, estava giro: open spaces por todo o lado, apelando a uma psicologia moderna dos atendimentos (contacto visual e pessoal quase personalizado e não o horroroso e antiquado buraquinho tão alto que quase nos impedia de ver quem nos atendia!), quadros de design também moderno, setores com cores distintas conforme os assuntos a tratar, legendas coloridas e apelativas por todo o lado, fotografias grandes a preto e branco de gente sorridente e feliz, gente bonita, pude reparar, como que de propósito postas ali para suavizar as esperas e os assuntos, às vezes, "pesados"... Achei interessantes estas analogias... detive-me a pensar nelas por uns bocadinhos, ao som da voz do Pedro, sempre, sempre a "martelar-me" os ouvidos... (mas este miúdo não se cansa???)
De repente, este "feitiço" relativamente agradável quebra-se como que por encanto, já que sou atendida de forma eficiente, relativamente rápida e eficaz, por uma pessoa que, qual "ave rara" que paira num espaço até agradável, não sorri! Opá, dos breves minutos que durou este atendimento, a sua postura corporal, facial, gestual, esteve tão rígida, tão rigída que até tive receio que se partisse de tensão... Eu acho que sorrio de mais, às vezes até me sinto meio deslocada, apatetada, mas ele (o sorriso) sai assim, sem eu querer e mesmo assim, com uma imunidade "musculada", nada do outro lado!!! Destoava naquele espaço, a senhora... estaria mal-disposta, farta, aborrecida, descontente com a vida, desejosa por se ir embora, talvez!!! todos temos dias maus... mas que destoava, era certo! Nem as piadas espirituosas e engraçadas do Pedro, que estava inspirado, lhe serviram... Bem, desisti de procurar causas e de compará-la ao espaço envolvente. Resolvi o que tinha de resolver e desisti, a sério, do meu sorriso teimoso! Paciência, talvez o "estigma"/rótulo/perfil do "funcionário público", aquele meio pejorativo que se ouve por aí, seja afinal verdadeiro, mesmo que só um bocadinho, à força dos anos de "implantação"... 
Despachei-me e não resisti a uma pergunta final, tratando a senhora pelo nome que tinha na plaquinha que a identificava... respondeu-me de pronto e agradeci, preparando-me para vir embora, enquanto arrumava a papelada na bolsinha que levava... aí vi, ténue, ténue, como um nevoeiro que se dissipa quando a manhã já vai alta, um sorriso tímido e um gesto de assento com a cabeça. Bem!!! Finalmente, pensei!!! Afinal retribuir sorrisos até resulta um bocadinho!!! Ela vai voltar de certeza, no segundo seguinte à sua eficácia muda e séria, mas naquele bocadinho, achei-a mais bonita, pelo menos mais parecida à fotografia enorme de um rosto anónimo de homem lindo que estava por trás dela, mesmo ao centro.
E vim-me embora, menos chateada com o meu sorriso teimoso! 

2 comentários:

  1. Paula, realmente tens razão quanto ao "perfil" generalizado que se tem do vulgar funcionário público... é uma tristeza! Felizmente há funcionários públicos que têm muitos sorrisos e até parecem de gente "apatetada"... Mas quem serão afinal os verdadeiros "patetas"? Eu prefiro os "patetas sorridentes"!! Bjokas Gina

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  2. Só tu, Paulinha, para teres um sorriso teimoso. Direi até, contagiante. Impossível é não o retribuir.
    Quantas vezes nos deparamos com funcionários desses que tão bem descreves? Mas não direi que é apenas no setor público. O povo português está amargo.
    beijinhos

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