O QUE É INVENTAR?
(D., 5 anos)
"Inventar é pensar do princípio..."
T., 5 anos
Que os grupos estão cada vez mais difíceis, já sabemos; que a vida nas escolas se revela diariamente como uma luta constante contra super, mega, hiper logísticas, de dentro, de fora, daqui e dali, que nos dificultam a tarefa de ESTAR com os nossos meninos da forma que julgamos mais plena, também não vai sendo novidade; que a vida das famílias é diferente da que era há uns tempos, devido a todos os muitos condicionantes que se nos/lhes apresentam, também vai sendo um "lugar comum"; que o nosso desalento vai correndo o risco de se tornar crónico e silencioso, é uma constatação quando falamos com os nossos PARES profissionais (o que nos leva/ me leva, sobretudo a reagir, instintivamente a essa ideia, recusando-me a "navegar" numa maré de pessimismo), que, que, que..... é verdade e sinto diariamente a necessidade de fazer estas catarses, mesmo quando estou e fico "zangada" com contrariedades tão evitáveis... mas, pronto, aceito tudo isso, centrando-me no grupo, nos meninos que suavizam tudo (ainda!), mas custa-me muito a constatação da dificuldade que os meninos e meninas vão tendo cada vez mais em IMAGINAR/INVENTAR/CRIAR/FAZER-DE-CONTA...
Todos os profissionais de educação, sobretudo os colegas do Pré-Escolar fazem variadíssimas vezes por dia e assumem como naturais as estratégias de recriação, dramatização, invenção. O lúdico assume-se assim como um aliado indispensável à promoção das atividades, à sistematização de conceitos, à transmissão de conhecimentos, que depois se servem da VIDA de cada um para se consolidar. E aí, temos como grande aliada, a idade da criança. No entanto, sinto, com alguma apreensão, a dificuldade que algumas crianças vão tendo em entrar em jogos de imaginação, em que tenham que recriar situações imaginárias e "conduzi-las" num fio condutor de uma história que não é real, mas inventada, ali na hora.
Há poucos dias desenvolvi com o grupo uma atividade que tinha como objetivo levá-los a imaginar e inventar o fim de uma história que, não acabaria ali no livro, daquela forma, mas que continuaria na nossa imaginação, criando-se e ganhando forma, obtendo, no final, outro desfecho. A imaginação seria aquela "coisinha mágica" que temos na cabeça e no coração e que nos ajuda a... CRIAR! Apesar de todos os condicionantes que podem interferir na atividades, senti, com uma clareza (quase) cortante que lhes era difícil este jogo, não lhes foi apelativo, apesar de todo o meu esforço para os envolver... "colaram-se" à história original , repetiram-na, ou inventaram finais pouco imaginativos e muito curtos, sucintos, sem magia, rápidos e pouco encantadores. À exeção de duas, ou três crianças, foi assim... Refleti... analisei condicionantes (e são muitos...), revi a minha postura, reavaliei e envolvência, contextualizei o tipo de grupo e percebi, com algum alívio que a causa é, em grande parte, exterior a mim, embora eu não esteja isenta, nunca estamos...!
Os meninos e meninas não vão sabendo brincar, tendo que criar: está tudo feito; os meninos e meninas não vão perdendo tempo a pensar: está tudo pensado, só têm que "clicar", acionando, ou "deletando" a operação; os meninos e meninas não vão sabendo interagir: brincam muito mais sozinhos, mesmo quando estão acompanhados; os meninos e meninas não vão perdendo tempo a imaginar porque todas as cores e formas e tamanhos e modos, estão já feitos por medida; os meninos e meninas não vão achando graça a esta história do "inventar", porque alguns já não sabem o que isso é...
Pois é!... foi o que senti... confesso que não sei bem o que fazer, embora, instintivamente, perceba que é um desafio para mim/nós, como profissionais; confesso que fiquei um pouco confusa, "digerindo" por algum tempo, esta constatação, mas, no final, sei que haverá sempre um pai e/ou uma mãe que pensem nisto, que sejam sensíveis a estes assuntos, um Educador de Infância, ou Professor que recuse também o tal desalento silencioso, um tutor, ou adulto cuidador, que obrigue o IMAGINAR, o RECRIAR, o FAZER-DE-CONTA a entrarem de rompante nas nossas vidas e casas e escolas e a instalarem-se por algum tempo, mesmo que seja só um bocadinho.
'Bora lá?
É verdade que é complicado. Nunca tinha pensado nisso. O "nosso desafio" é então ensiná-los a inventar. Dar-lhes matéria prima básica: plasticina, barro, papel de lustro e inventar. Mas não é fácil.
ResponderEliminarbeijinhos