sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

 
 
 
GENERATION GAP
 
Quando me imaginava com filhos (sempre quis ter três!), gostava de pensar que iria ser uma mãe jovem, moderna, "desempoeirada" e muito amiga deles... (imagino que transportamos sempre para os filhos, os modelos que tivemos com os Pais e eu assim fazia). Imaginava ter com eles, quando adolescentes, uma relação de confiança, como aquela que sempre tive com meus Pais, utilizando a mesa do jantar para pôr a conversa em dia, os assuntos em discussão, os consensos a atingir, num clima de confiança e responsabilidade que, não estando isento de conflitos salutares, me/nos permitia fazer muitas coisas, mas também me/nos dava a responsabilidade de sermos dignos da confiança que meus Pais sempre depositaram em nós. Era um "dar e receber", ao mesmo tempo. E eles "pediam-nos contas" da responsabilidade que nos davam e eu, tentei sempre não falhar! Nem sempre consegui, mas hoje, adulta, considero que no essencial não falhei mesmo! Tive as rebeldias próprias de qualquer adolescente normal e, costumo dizer, ainda bem, já que é natural que assim seja, é salutar, faz crescer, ponderar, equacionar, questionar-se, zangar-se com o instituído, e isso é importante ser feito, ser vivido. Nunca gostei de adolescentes/jovens, excessivamente "certinhos", pois acho que não é bom. Esta "generation gap" sempre existiu e deve continuar a existir sempre, é da natureza humana.
 Nunca fomos (EU, OS MEUS IRMÃOS E TANTOS AMIGOS COM QUEM PARTILHEI ESTA FASE DA MINHA VIDA... ALGUNS, AMIGOS ATÉ HOJE!) adolescentes/jovens "amorfos", sem vontade própria, centrados em atividades paradas, sem dinâmica. A minha adolescência e juventude foram recheadas de experiências juvenis, encontros, partilhas, acontecimentos com gente de muitos sítios, o que me aumentava o leque de conhecimentos, amizades, trocas de afeto. Era importante, esta dinâmica! Os movimentos juvenis ligados à juventude, como o Escutismo, por exemplo, sempre fizeram parte da minha vida, mostrando-me um cenário muito grande de experimentação e vivenciação de tudo o que aprendia em casa e na escola.
Não tinhamos um acesso à informação tão rápido (à distância de um click) como os miúdos têm agora, não tínhamos tantas atividades extra-escolares, não tínhamos tantas hipóteses de nos mexermos tão pouco, não comíamos tanto (acho eu!), não "falávamos" virtualmente, mas "olhos nos olhos", não tínhamos telemóveis que nos tentassem a afastarmo-nos das conversas "ao vivo", enfim, não tínhamos uma série de coisas que os meus filhos têm agora e que assumem como um dado adquirido, um direito inegável e que às vezes, não deve ser visto assim... estes direitos devem ser ganhos, conquistados e isso era-nos ensinado! Os meus Pais eram a referência absoluta, exercendo para connosco, uma autoridade dinâmica, consertada, discutida, mas efetiva, não se demitindo daquilo em que acreditavam e do que determinavam... era quase como que se fosse uma "democracia q.b"; o limite estava sempre muito bem definido e isso, à posteriori, considero que foi essencial para o meu/nosso equilíbrio. Os limites bem estabelecidos dão segurança e isso vê-se logo desde pequeninos!
De tudo isto me lembrei hoje, ao ouvir, casualmente, num transporte público, a conversa entre três adolescentes, provavelmente da idade das minhas filhas mais velhas: uma relatava a discussão que tinha tido com a mãe, referindo-se a esta com termos que até me custa reproduzir aqui, relatando que se zangara e ameaçara que saíria de casa se a mãe não a autorizasse a isto, ou àquilo, seguindo com o relato das respostas desesperadas da mãe, medrosa perante as reações da filha, com medo do que pudesse fazer. Os amigos que a acompanhavam riam e valorizavam, com valentia "balofa", a atitude da primeira, que sim, os Pais são uns "cotas", dando a esta palavra um sentido altamente prejurativo (e não aquele até ternurento que se usa às vezes), pelo que me fui apercebendo da conversa; continuavam incentivando-a a sair de casa, que sim, os "Pais tinham que aprender, o que é que pensam, não nos podemos rebaixar". A linguagem utilizada por todos era bastante vernácula, até, como se isso fosse sinal de "estatuto".
Ainda bem que as minhas filhas se "zangam" connosco, às vezes, ainda bem que têm amuos e rebeldias que considero salutares e que às vezes, confesso, até me fazem rever-me nelas quando tinha a sua idade, ainda bem que não concordam com tudo, será sinal que contestam, que argumentam, que equacionam, ainda bem que não nos contam tudo, já que nesta idade, a "mãe e o pai nunca serão os melhores amigos"; mas ainda bem também, penso, que não me demiti nunca do meu papel e responsabilidade e que, sobretudo, não prescindo daquilo que será sempre o mais importante nas relações inter-pessoais (também nas de Pais e filhos...): o respeito. Esse, no final de tudo, deverá imperar sempre. E no futuro, acredito que serei aquela mãe das primeiras linhas deste texto.

2 comentários:

  1. Infelizmente, haverá sempre aquelas vozinhas "do mal" a alimentar atitudes menos positivas. E aquela adolescente de que falas faz isso para afirmar-se como se para ser "adulta" precisasse de ter comportamentos desses.
    Eu também tive uma relação de proximidade mas de respeito para com os meus pais. O respeito começa em casa. Se não o têm com os pais, como o poderão ter com os de fora? E é essa a sociedade, infelizmente.
    beijinhos

    ResponderEliminar
  2. Texto interessante que faz pensar, de facto nunca nenhum educador se deve demitir de agir de acordo com a sua convição mais profunda pois essa é a que "provoca" respeito...! é que só há três maneiras de educar: 1rª - o exemplo; 2ª - o exemplo; 3ªo exemplo!
    Parabéns filhota.
    Beijinhos

    ResponderEliminar