terça-feira, 4 de dezembro de 2012

 
NINHO
 
Hoje tive um dia difícil, daqueles em que tudo o que fazemos parece despido de significado, quase ôco, submerso numa atmosfera e logística maiores que nós, o que nos faz sentirmo-nos espectadores à parte e, paradoxalmente, atores, ao mesmo tempo, como se vissemos em perspectiva, "ali ao lado", tudo o que está a acontecer no nosso dia. Racionalmente sabemos que o sol "está lá, por trás da nuvem", que é tudo passageiro, tal como este mal-estar será, mas, nestas ocasiões, o emocional impera mesmo e essa certeza de "sol" fica por isso  mesmo, distante como ele... 
Talvez a palavra "difícil" com que classifiquei o meu dia seja excessiva, comparando-o ao dia de milhares e milhares de pessoas à nossa volta, mesmo "aqui ao lado", à nossa porta, nas nossas escolas, nas nossas ruas, nos nossos bairros... Não é preciso ir para o "outro lado do mundo", pois  se assim fosse, então o meu  "dia difícil" seria reduzido à insignificância das coisas pequeninas perante o peso das brutalidades que conhecemos em tantos lugares! Este "exercício de humildade", suavizará o cinzentismo que imperou hoje e disciplinar-me-á o ego, fazendo-me ver que sou pequenina, muito pequenina, mas pronto, hoje estive grande parte do dia assim, cinzenta... Quando estou assim há um pensamento que me suaviza sempre: o de voltar a casa, o de chegar ao fim do dia e ter, gratuitamente, aquilo tudo para mim: o amor dos meus e o meu amor pelos meus, com todas as formas humanas, mundanas, espontâneas, informais, aguerridas, suaves, ou extemporâneas que esse amor usa para se mostrar! Sou do signo Caranguejo e, embora nunca tenha ligado muito ao Zodíaco, matéria perante a qual sou absolutamente leiga e pouquíssimo mais que curiosa, dizem os entendidos que esta priorização do lar, este espírito "caseiro" e maternal será próprios destes nativos... assim será, não sei, acho piada, só... Prefiro pensar que sou como a andorinha-fada, que tem, para toda a vida, o mesmo ninho.
Esta sensação de "NINHO" produz sempre em mim o efeito de um lento e suave unguento, é uma sensação tão forte, que quase a consigo materializar, porque lhe dou forma, cheiros, cores, rostos e nomes  e é uma sensação absolutamente vencedora, porque é minha, não tenho que a repartir com ninguém e reduz "a cinzas" qualquer contratempo... Sinto-a baixinho, repito-a inconscientemente, ao mesmo tempo que a nuvem negra passa no céu e esgrimo com ela, nuvem, argumentos invencíveis que lhe descobrem o sol lá por trás...! No fim, o meu NINHO vencerá sempre e o sol sairá sempre detrás da nuvem! Será uma graça, acredito, sentir isto... e esta sensação "cozy" (do inglês, confortável, aconchegante, acolhedor...), que é tão boa, sinto-a também perante alguns sítios onde já trabalhei! Sabe-se que algumas aves fazem os seus ninhos com pedaços de tudo o que encontram:pedacinhos de terra, pêlos de animais, pedrinhas, bocadinhos de lixo; fazem-nos também em sítios muito variados: buracos na terra, ramos de árvores, paredes de pedra, lagos, margens de rios... numa variedade orgânica e habitacional interessante e rica. Também eu me sinto em casa, com aquela sensação de "abraço" gigante, em alguns sítios por onde já passei. Graças a Deus tenho tido a sorte de ficar sempre com "um bocadinho" dos sítios por onde vou passando, levada pelo meu percurso profissional. Esses bocadinhos que trago têm a forma de pessoas, experiências, referências, lembranças que me vão preenchendo, aos pouquinhos... há bocadinhos mais significativos que outros, mas todos têm uma porção de espaço em mim. E hoje, no final deste dia cinzento, ao chegar a uma escola onde trabalhei e onde fui assistir a uma conferência, ao ver afixado numa parede de entrada uma frase que dizia qualquer coisa do género:" vale a pena trabalhar numa escola onde há gente que sabe sorrir", tive a certeza de ter chegado a casa e tive a certeza (racional e emocional) que o sol, afinal, esteve sempre lá, aquecendo o meu ninho!
'Bora sorrir?
 
 
 
 
 
 
 
 


1 comentário:

  1. É por isso que gosto de te ler. É por isso, pelos sorrisos que gostava de passar à tua janela, às 3ªs e 4ªs e tenho hoje pena de não ter parado lá mais vezes. É por isso que há pessoas com energias mais positivas (tal como te referias à Sofia), tão querida (que não foi colocada por acaso no teu caminho) e é pelo conforto do ninho que sabe tão bem chegar a casa.
    beijinhos

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