CADÊNCIA MORNA
E hoje gostava mesmo era que me embalassem com aquela cadência morna e arrastada, quase pastosa, que o canto alentejano tem. Imagino-me nesse ritmo ondulante e pachorrento e, a sério, era só o que me apetecia. Mais nada. Deixava arrastar o tempo ali ao meu lado, ficava-lhe imune, indiferente, NÃO QUERIA MESMO SABER DELE, saboreava só aquele lento torpor e pronto, podia até fechar os olhos e isto duraria assim, alguns longos minutos. Uhum!!! Maravilha....
Depois, sim, pois teria que abrir os olhos e voltar à vida frenética e louca que tenho, assim, sem grandes contemplações.
Não gostava de canto alentejano. Acho que sempre fui uma miúda normal, pouco preocupada com paragens mornas, arrastadas e pachorrentas que a vida, às vezes tem que ter e que, nesta idade, JÁ nos sabem tão bem!
Não sei se agora sou uma mulher normal, às vezes acho que a normalidade que se diz vigente está tão distante de mim que já nem sei, mas pronto, já aprecio estas coisas com outra lente, talvez e sim, aquela pastelice na voz e na cadência dos corpos, pode ser terapêutica sim senhora, anestesiante, analgésica...
De entre outras (muitas) coisas, acho que foi isto que os senhores lá da UNESCO viram e perceberam... Já passaram todos dos 40, aposto e ainda bem, afinal, a lente vai-se apurando!
Parabéns, Alentejo, por nos aqueceres a todos a alma assim...