quinta-feira, 18 de julho de 2013




PINTAR A ALMA UM BOCADINHO...


Hoje tive uma daquelas tardes boas, belíssimas de conversa com uma amiga querida, (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2013/06/outra-irma-o-meu-irmao-mais-novo-quando.htm) daquelas conversas em que, como ela me dizia, "lavamos a alma" e entre as imensas coisas que partilhámos uma com a outra, falámos de tudo e mais alguma coisa: filhos, filhas, trabalhos, desabafos, intuições, família, girls nonsenses e escola! Sim, es-co-la!!! Somos as duas professoras, embora de ciclos diferentes e vivemos intensamente, porque estamos imiscuídas no seu epicentro, os contextos escolares atuais. O assunto foi acerca dos recentes exames nacionais e as respetivas notas que nos couberam em sorte cá em casa. Apesar do saldo doméstico não ter sido, no geral e no fim de tudo, negativo, a panorâmica nacional, nas várias disciplinas, foi muito negativa (em Português e Matemática, a nível nacional, a média geral esteve abaixo dos 50%!!!) e isso fez-nos comentar o estado geral dos alunos, adolescentes e jovens portugueses! Há questões paralelas à escola que devem ser tidas em conta e, se não são por si só causas de justificação desse insucesso generalizado, são pelo menos, consideráveis agravantes da questão: as experiências de vida, os estímulos variados, o entrosamento em vários contextos diferentes, o acesso ao conhecimento, à leitura, à cultura no geral. Viver-se num País onde a cultura é um luxo, como comentávamos, reduz substancialmente as hipóteses de sucesso e tornam-nas mais acessíveis e facilitadas a minorias cada vez mais restritas. Sei que há imensos agregados familiares (e sei-o porque lido com muita gente e oiço as conversas dos meus filhos e observo muitos contextos familiares também...) onde não se compram livros nem habitualmente, nem nunca; sei que há imensos agregados familiares onde não se vai ao cinema há anos, porque não há orçamento para o fazer com regularidade e então não se vai e até já nem se gosta muito, já nem é prazeroso fazê-lo; sei que há agregados familiares cujos filhos nunca saíram das suas zonas de residência, nem para perto, nem para longe, porque o orçamento não estica e sabe Deus, mas tem é que chegar para o essencial, ou seja, comer, vestir, calçar e pouco mais; sei que há meninos e meninas deste País que não conhecem a literatura, a música, a arte, nem que seja por uns pedacinhos pequeninos que lhes pintem a alma de tons coloridos; enfim... mas depois compram gadgets de topo, investem excessivamente na imagem, priorizam o acessório e não o essencial, não conversam, não lêem, não se habituam a olhar nos olhos, não viajam, não descobrem... até já nem priorizam e nem sentem falta daquilo que não têm, nem conhecem!!! Acabam por se habituar a uma cultura de mediania, de hábitos, de anestesia que lhes entra só pela televisão...
E acredito, mesmo, que isso se reflita depois em resultados nacionais de exames e outras coisas que espelham um pedacinho (ainda que pequenino) de todos eles!
Por isso, sempre que o meu filho disser: -Mamã, lês um bocadinho comigo??? - mesmo que esteja a dormir em pé (eu...) e mesmo que seja só um capítulo, ou dois por dia, mesmo que me apetecesse falar-lhe nessa hora de outras coisas e mesmo que não tenha, colada à leitura a caneca de chá que adoce os livros (como eu gosto de ter!), vou dizer-lhe um SIIIIIIMMMM veemente e entrar nessa viagem pequenina com ele, para que os dois, nesse pedaço de tempo roubado a uma logística doméstica impiedosa, possamos pintar a alma de um tom colorido... e isto, apesar de tudo e de todos e de todas as razões mais ou menos legítimas de cada um (e muitas são impiedosamente legítimas...), é sempre possível fazer-se... e é grátis... ainda!!!!

2 comentários:

  1. Gostei de te ler como sempre, e partilho das tuas ideias. Não se pode responsabilizar somente uma parte, normalmente a Escola, há taaantoss outros fatores...

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  2. Pois é, há tantos outros fatores... Mas, ainda se encontram famílias - é preciso procura-las - que investem, o pouco que têm na informação, no estudo dos filhos, ainda há famílias que passam aos filhos o valor de que saber não ocupa espaço e é sempre muito mais importante que uma roupa de marca, por exemplo...daí que quando uma família prioriza o que deve ser, isso, só por si, é um ato valorativo que como todos os valores têm custos, e têm riscos mas, destes, vale mesmo a pena correr...
    Beijos

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