terça-feira, 29 de janeiro de 2013

 
 
 
EMPATIA
 
«Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos...»

Antoine de Saint-Exupery, in O PRINCIPEZINHO
 
Tenho andado enredada com coisas para fazer e com as milhentas solicitações dos meus filhos, que me absorvem e que me obrigam a ser muito disciplinada, tentando arranjar um equilíbrio (mesmo que ténue...) entre a prioridade absoluta que são na minha vida e a necessidade que também tenho de ter tempo para mim, para as minhas coisas, interesses, "nonsenses" e afins. Às vezes duvido desta nossa capacidade feminina de gestão interna e externa, profissional e pessoal, conjugal e individual, mas logo a seguir presto-lhe homenagens eternas e convenço-me que a NATUREZA será mesmo feminina, tal foi o dote de múltipla gestão e capacidade que todas, de uma forma ou de outra, vamos tendo...
Às vezes, tudo isso que é meu, em primeiro plano, fica para trás, confesso, mas outras vezes, soa um "alarme" interno muito sonoro que me faz priorizar-me com avidez! O espaço de tempo entre estes meus textos reflete um pouquinho essa gestão interna, feita à minha medida. Neste processo mais ou menos introspectivo, vão pairando no meu pensamento ideias, apontamentos de opinião, acontecimentos, que depois vou processando (às vezes ao ritmo dos afazeres, das pausas, das rotinas e das vontades) e processando, até que "explodem", tendo que os passar para o "papel"...
Foi assim com ela. Há dias, quando a revi, ocasionalmente, a minha "compulsãozinha" de escrita, deu sinal e fez-me reflectir sobre alguns fenómenos que acontecem nas relações inter-pessoais e que não têm explicação, pelo menos não têm daquelas explicações lineares, que vêm nos livros e que servem para todas as respostas...
Há determinadas coisas na vida que acho que não se explicam e a empatia entre as pessoas será uma delas.... sempre a achei agradável, descontraída, havia qualquer coisa nela que me despertava simpatia, proximidade. Nunca saberei explicar o quê, até porque não tivemos nunca uma relação próxima: nunca fomos amigas, nunca andámos na escola juntas, não sei muito sobre a sua vida, apenas alguns pormenores contados socialmente em encontros partilhados com tantas outras pessoas, mas sempre me agradou falar com ela e sempre houve alguns pontos de identificação sentidos nessas ocasionais e esporádicas conversas. Gostava de conversar com ela e havia qualquer coisa, dentro do social, que a fazia parecer, para mim, diferente. Fui acompanhando a sua segunda gravidez, de longe, ao sabor deste ritmo social de convívio esporádico, muito provocado por uma atividade desportiva em comum, de um dos meus filhos e apercebi-me que era uma gravidez muito desejada, vivida, pareceu-me sempre, dentro de uma relação de casal feliz, equilibrada... um pouco como uma outra, secreta, que me parece assim... De repente, por amigos em comum, soube que perdera o bebé, a pouquíssimas semanas de nascer! Lembro-me que me senti angustiada pela dor que adivinhei que estivesse a sentir e também por ser inimaginável para mim a reação que se tem a uma dor dessas, tão grande... é perder um filho, só com a diferença de que ainda não nasceu, mas já é nosso, já está ali, tão vivido e sentido e amado e querido, que é real, palpável e verdadeiro, um filho que falta tão pouco, tão pouquinho para nascer... só não lhe podemos ainda pegar, um filho que é fonte de projetos, esperanças, expectativas, sonhos...!
Não acompanhei de perto... pedi a uma amiga comum que lhe enviasse um beijinho especial, fui sabendo por amigos como ia reagindo... fui pedindo, em segredo, por ela e por ele também, fui-lhe admirando o sorriso que continuava a ter quando nos víamos, fui-lhe agradecendo a aparente naturalidade com que ia falando do assunto, desarmando o meu constrangimento e fazendo-me perceber que, às vezes, falar sobre as coisas, "espanta os fantasmas" e ajuda a desabafar, mesmo que não apague uma dor que será eterna, fui-lhe admirando a fé que sei que tem, fui concluindo que não sabemos nada, mesmo quando achamos que já sabemos tudo, fui-lhe dizendo, em pensamento, que essa dor suavizará, ajudada pelo tempo que servirá de unguento e também por um amor que a suporta e ampara e hoje, quero-lhe dizer que lhe agradeço por, sem disso fazer ideia, ser tão inspiradora para mim!
Hoje, o meu beijinho vai para ela, com o tamanho da blogosfera para onde vou mandar este post, com pintinhas de muita, muita força e com um OBRIGADO gigante à "tal" empatia que nos aproxima, sem sabermos explicar porquê, de gente tão boa e tão grande!


2 comentários:

  1. Paulita,
    outro texto absolutamente fantástico!
    Obrigada!
    E também , quando o JP tinha 2 anos, perdi um bebé.
    Bjsss
    MECBJ

    ResponderEliminar
  2. Já tentei comentar e não deu (por causa da verificação de palavras- tira isso, Paulinha).
    Relativamente ao post, também me senti angustiada ao lê-lo. Perder um filho, mesmo sem que tenha nascido e que já é tão nosso e já faz parte de uma vida, deve ser uma dor enorme. Nem sequer quero imaginar.
    Um beijinho solidário para esses pais, que infelizmente devem estar a passar horrores. Por muito que o tempo se encarregue de passar o dito bálsamo, a cicatriz fica lá.
    E é como dizes: a empatia não se explica. É outra forma de química.
    beijinhos grandes

    ResponderEliminar