MAMÃ, ADORMECES-ME?
Lembro-me que gostava que ela me adormecesse, nem sempre, confesso, mas recordo com particular pormenor as crises da adolescência (fui muito piegas!!!), em que a lágrima fácil caía muitas vezes sem pedir e em que eu, a seguir, lhe pedia que se viesse deitar comigo... às vezes, sentia-a-apressada, mas em momento algum se recusou. Deitava-se a meu lado e eu, agarrava-a com muita força, quase não a deixando mexer-se. Ela afrouxava o aperto, com suavidade e continuava ali e eu sentia-lhe a respiração ao lado da minha e o compasso do peito que acalmava. Não me lembro se líamos, se conversávamos, se este momento se estendia muito no tempo... o que recordo com uma nitidez translúcida é que vinha, vinha sempre! Às vezes, tentava sair, uns pedacinhos depois, mas eu, ainda sem dormir, apertava-a de novo, segurando-a ali, naquele pedacinho de céu que era só das duas! Quando eu adormecia, calculo que finalmente saisse e fosse continuar a infinidade de coisas que todas as mães têm para fazer.
Tenho esta recordação, um pouco perdida na idade, não sei precisar quantos anos teria, mas em muitos momentos foi assim e então, este lembrar fidelíssimo destas suaves vigílias, cresceu comigo e hoje, mulher feita e mãe de três filhos, estou eu no "lado de cá", a ser mãe, trabalhadora, mulher/esposa, a ter uma infinidade de coisas para fazer em casa e também para fora de casa, a querer ter tempo só para mim, nem que seja para estar anestesiada a fazer "nadinha" e a achar, logo a seguir, que isso é uma utopia e a achar também que o dia devia ter um bocadinho mais de horas, daquelas que dessem para "esticar" um pouco mais, só um pouco, até conseguirmos fazer tudo o que precisamos. Agora estou eu do "lado de cá", a ouvir, o pedido: "mamã, adormeces-me?" e a ficar, às vezes, um bocadinho contrariada porque o peso da logística é muito grande e o que há para fazer é tanto e tanto.... mas cedo, algumas vezes... bem, quase sempre! Confesso que partilho muitas vezes esse pedacinho de "coisa boa" com o pai, mas fico sempre "culpada"... e às vezes, a minha suave recordação soa mais alto e impele-me a ir eu, sempre eu, outra vez eu...
Tenho esta recordação, um pouco perdida na idade, não sei precisar quantos anos teria, mas em muitos momentos foi assim e então, este lembrar fidelíssimo destas suaves vigílias, cresceu comigo e hoje, mulher feita e mãe de três filhos, estou eu no "lado de cá", a ser mãe, trabalhadora, mulher/esposa, a ter uma infinidade de coisas para fazer em casa e também para fora de casa, a querer ter tempo só para mim, nem que seja para estar anestesiada a fazer "nadinha" e a achar, logo a seguir, que isso é uma utopia e a achar também que o dia devia ter um bocadinho mais de horas, daquelas que dessem para "esticar" um pouco mais, só um pouco, até conseguirmos fazer tudo o que precisamos. Agora estou eu do "lado de cá", a ouvir, o pedido: "mamã, adormeces-me?" e a ficar, às vezes, um bocadinho contrariada porque o peso da logística é muito grande e o que há para fazer é tanto e tanto.... mas cedo, algumas vezes... bem, quase sempre! Confesso que partilho muitas vezes esse pedacinho de "coisa boa" com o pai, mas fico sempre "culpada"... e às vezes, a minha suave recordação soa mais alto e impele-me a ir eu, sempre eu, outra vez eu...
Ontem, a minha rosinha mais bonita (nome que chamei ao Pedro num post antigo... - não me dispus ainda a ver como se fazem aquelas hiperligações que remetem alguma expressão, ou frase, para outro post mais antigo...), veio ter comigo e pediu: "mamã, adormeces-me?"... quis ler, quis falar do seu dia, quis contar uma série de coisas e quando o sono o venceu, virou-se para o lado, aconchegou o edredon e agarrou a minha mão e braço com força... eu, suavemente afrouxei-o e procurei uma posição que me permitisse não adormecer por completo, (o que é uma tarefa hercúlea!) e fiquei, enlevada, sentindo-lhe agora eu a respiração e fazendo o meu pensamento viajar para longe, fazendo com este pensar, pictogramas coloridos de coisas, de lembranças, de pensamentos, de nada... tentei sair daí a pouco e ele resistiu e então, uma recordação nítida como a água de um rio nativo me assaltou e me fez pensar que há coisas que não se explicam, que se repetem na história, que são intemporais, que saltam gerações e classes e géneros e sítios e espaços e momentos e famílias, há coisas que são assim e pronto e que mesmo quando cedo um pouquinho resmungona, logo, logo a seguir, agradeço com muita força por aquele pedido: "mamã, adormeces-me?"
Pois eu não me lembro de a minha mãe me adormecer. Aliás, penso que não me adormecia (em França," não se habitua mal os filhos"). Mas lembro-me de outras coisas doces que são como o adormecer com a mão de uma mãe. Apesar de não ter sido adormecida, adormeço o meu filho TODOS OS DIAS (sim, habituo mal) e fico lá a dormir, também. E é tão bom! Apesar de já ter lido que filhos que dormem com os pais ou adormecem com eles serem mais inseguros, não penso que assim seja, pois tal como escreveste, apesar de atarefada, a tua mãe ia sempre e tu sabias isso. E essa certeza foi a segurança que é tão importante na educação: o saber que se está ali.
ResponderEliminarbeijinhos