sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

 
 
 PALAVRAS QUE BEIJAM
 
Não sou "expert" em poesia, nunca fui, não é o meu género literário preferido, embora goste muito de ler e seja sensível a alguns poemas que, ao longo do tempo, me foram marcando por um, ou outro, motivo. Recentemente, ouvi falar de um poema de Alexandre O'Neill, chamado "PALAVRAS QUE NOS BEIJAM" e achei o título muito sugestivo, porque tinha tido um dia "cinzento", navegando na ondulação de indelicadezas várias e de faltas de cortesia pessoal, profissional, institucional. Isto fez-me pensar naquilo que digo sempre:" a simpatia é a qualidade que mais admiro nas pessoas". Essa simpatia faz quase uma ligação direta com a cordialidade, com o sorriso, com a delicadeza no trato, que não têm nada a ver com falta de rigor, falta de brio, displicência... Isto também tem a ver com o papel que, acho, todos os profissionais de educação devem ter numa escola e quando digo "profissionais de educação", não me refiro só aos professores, mas a todos aqueles que, por inerência de funções, são agentes educativos, embora, com maioria de exigência, essa obrigação seja em primeiro lugar, dos professores.
Fico triste quando vou a reuniões de Pais onde se fala o mínimo e onde se tenta ao máximo que os Pais estejam o menor tempo possível, não se aproveitando essa pequena ocasião para partilhar, com segurança, informalidade e generosidade, tudo o que se faz na escola, com aqueles agentes educativos tão importantes, que são os Pais. Sei que há PAIS e PAIS e compreendo os colegas que, à custa de tanta falta de TUDO e também de reconhecimento pelo seu trabalho, se escusam a falar, a partilhar, resumindo-se ao essencial e àquilo que é mesmo (e só) obrigatório dizer; mas agora, neste pedacinho de linhas, apetece-me sentir só, o meu papel de mãe, interessada e respeitadora da escola, vigilante e preocupada, mas assumindo alguma descontração, que acho absolutamente essencial e pedagógica. Procuro ser cúmplice e par nesta tarefa de educar, em que o maior encargo é o meu, de mãe, mas tento perceber todas as dificuldades inerentes a um sistema que não é fácil e que está, aos bocadinhos, cada vez pior. Esta vontade que agora sinto de viver este papel de mãe, este "lado de cá", legitimará estas minhas palavras, creio...
Tento, com todas as forças, não ficar indiferente, amorfa e resistir, com imunidade reforçada, à indiferença, e ao comodismo, continuando a gostar daquilo que faço, gostando de O contar "lá para fora", gostando de partilhar boas práticas com colegas e Pais, gostando de articular com outros colegas, de outros ciclos, descobrindo-lhes riquezas e novidades que eu também lhes conto do meu... Esta opção é muito difícil, sobretudo quando tudo joga contra nós: os colegas, as mega-estruturas escolares (que descaracterizam...), as faltas de alento, as desmotivações, as insensibilidades e desconhecimentos de cada um, as opções também contrárias (e legítimas) dos outros...
Mas depois, sem esperar, na "tal" ondulação de indiferença, vai-se a uma outra reunião de Pais, de um outro filho, e ouve-se falar em poesia, ouve-se contar que se leu poesia com os meninos e que se falou sobre umas certas "palavras que nos beijam", ao mesmo tempo que se seguiu e bem, o curso normal da rotina, gerindo aprendizagens, conflitos, metas e currículos e de repente, apercebemo-nos que não estamos sozinhos, que não somos "exemplares únicos" e o coração fica um bocadinho mais cheio outra vez, de esperança e de... "palavras que se recusam ao muros do meu desgosto..."




"Há palavras que nos beijam
como se tivessem boca
palavras de amor, de esperança,
de imenso amor, de esperança louca

Palavras nuas que beijas
quando a noite perde o rosto
palavras que se recusam
aos muros do teu desgosto

De repente coloridas
entre palavras sem cor
esperadas, inesperadas
como a poesia ou o amor

Palavras que nos transportam
aonde a noite é mais forte
ao silêncio dos amantes
abraçados contra a morte...

Alexandre O'Neill in, "No Reino da Dinamarca"

2 comentários:

  1. Sabes que sempre fui a favor de trazer os pais à escola e de os envolver em todo o processo de ensino-aprendizagem. Também fico triste quando há pais que nem querem saber mas também quando a instituição (professores ou funcionários) os tratam com desdém e nem os querem envolver. Há de tudo, infelizmente. Agora, como mãe, sinto-me MESMO ofendida e irritada se me tentam excluir da escola (como já tive, infelizmente, a experiência) porque queria mesmo participar e saber para me envolver e me olhavam com maus olhos. Será pedir muito querer saber do que se passa com os nossos filhos? Sempre adorei levar coisas dele para casa para fazer. Hoje, levo pouco ou nada (e tenho pena) mas por outro lado, há todo um feed-bak diário, uma empatia e uma simpatia que preenche esse vazio.
    beijinhos

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  2. Paulita,
    um grande beijo para ti!
    Obrigada pelas tuas palavras.

    Acho que , como escreves, és uma verdadeira poetisa.
    MECBJ

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