sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

 
 
AMORES ASSIM
 
 
Num mundo que celebra e louva a desatenção, a corrida bárbara para lugar nenhum, eles souberam sempre cultivar essa atenção extrema - extremosa, extremista, radical, absoluta.
Porque tiveram a sorte de se encontrar cedo e de cedo compreender, para lá da química e da física (essencias, mas nunca suficientes), que pertenciam um ao outro - que podiam rever-se nos olhos um do outro como em espelhos límpidos.
Porque liam os mesmos livros e conversavam sobre eles, porque tinham os mesmos ideais e lutavam por eles, porque atravessaram tempestades e não se deixaram levar pela ventania, porque nunca amputaram os sonhos um do outro nem perderam de vista o sonho maior que queriam construir juntos, porque souberam ser a casa um do outro quando a vida os empurrou para longe da casa e do País que tinham...
 
UM AMOR ASSIM
(Jaime Nogueira Pinto, em homenagem à sua mulher, Maria José Nogueira Pinto, in, JORNAL SOL, 22/7/2011)
 
 
 
Não o conheço particularmente e penso que nem é uma figura muito regular da televisão, o que facilitaria o seu conhecimento, pelo menos visual. Sei que é uma figura conceituada das letras, já que é escritor, para além de professor universitário, investigador e empresário. Foi diretor do jornal O SÉCULO e está ligado à Fundação Luso-Africana para a cultura. Foi casado com Maria José Nogueira Pinto, essa figura sim, mais conhecida para mim, já que era uma figura de quem gostava, daqueles fenómenos empáticos que nem sempre sabemos explicar, gostava de a ouvir falar, admirava-lhe a determinação que aparentava ter, identificava-me com muitas das suas ideias quando as partilhava em programas de televisão, crónicas jornalísticas, ou artigos de opinião. Quanto a ele, quase tudo lhe desconhecia, para além de o ter ouvido na televisão uma, ou duas vezes. Eis senão quando, um dia, por acaso, ao ler o Jornal SOL e dias após a morte de Maria José Nogueira Pinto, leio um artigo de página inteira em que este homem, disserta sobre esta mulher e sobre o amor que sempre os uniu... Sabem aquela sensação de enamoramento imediato, de identificação, de cumplicidade, como se aquelas palavras traduzissem uma experiência não só já dele, mas nossa também? Foi o que senti ao ler o artigo! Gostei tanto, que recortei o pequenino excerto transcrito no início e guardo-o na minha agenda, com as devidas referências ao autor, claro, e guardo-o quase como se guardam aquelas relíquias em papel disto, ou daquilo, que todos temos, dobradinhas nas carteiras...
E então, uma figura mais ou menos pública, completamente desconhecida para mim, transformou-se em alguém que passei a admirar, especialmente nesta parte, relativa ao seu amor de todos os dias.... Nunca terei o arrojo de fazer uma declaração de amor tão pública, aqui, nas redes sociais, ou em qualquer outra via semi-partilhada por tanta gente. Sinto alguma timidez, que procuro preservar, quando se trata desta esfera da minha vida, como se fosse um reduto absolutamente sagrado e fechado "lá para fora", mas hoje, lembrei-me deste recortezinho de jornal que guardo com dedicação, quando um casal meu amigo, delicioso, um homem e uma mulher que conheço desde miúdos, que vi crescer, que acompanhei, ao longe, ao sabor da ternura (aquela que liga as pessoas), SE agradeceram mutuamente por existirem, utilizando uma rede social. Hoje, pelos vistos, é o dia do OBRIGADO e eu nem sabia... é engraçada a existência destes dias!!! Talvez tenham querido gritar ao mundo o seu amor, enfatizando aquilo que, de certeza, também dizem na intimidade... Eu agradeço-lhes por isso, por terem, hoje, servido de click "inspirador", por me rever nas suas palavras e tomá-las como espelho para mim, por me terem feito lembrar de um recortezinho de jornal que guardo comigo e que me faz também lembrar UM OUTRO AMOR ASSIM, aquele que guardo, como um tesouro!!! 


1 comentário:

  1. Um amor assim é imtemporal e apolítico, diria mesmo. Nele todos nos revemos.
    beijinhos

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