terça-feira, 26 de abril de 2016




MODUS OPERANDI

"maneira de agir, operar ou executar uma atividade, seguindo sempre os mesmos procedimentos, como se fossem códigos"
-Wikipédia-





- 4ª-feira tratamos disso, ou - lembra-me isso daqui a uns dias, ou ainda, - eh pá, mas ainda falta tanto tempo para isso! Lembro-me destas respostas quando abordávamos o meu pai acerca de vários assuntos e lembro-me de como estas respostas me irritavam. Afinal, muitas vezes, eu queria uma decisão direta, rápida, imediata, que satisfizesse a minha ânsia de qualquer coisa que queria ver resolvida. Não havia cá a gestão da espera...
Hoje percebo que o cansaço do dia de trabalho o fazia responder assim, relegando para outras núpcias aqueles assunto que não era necessário responder na hora. Podia esperar e, à boleia da espera, arranjava-se espaço, tempo e disposição para a resposta acertada, completa e nunca esquecida. À boleia da espera, se mudava do registo do trabalho, para o da casa, dos miúdos, das coisas pessoais.
Às vezes, agora, as preocupações que tenho também são mais que muitas e os agendamentos de coisas para fazer, vão estando em listas de pendentes, estacionadas no cérebro, às quais vou dando palco, à vez. Tenho um modus operandi característico, que fui moldando à minha maneira de ser e às defesas que fui criando, para poder dar conta das várias frentes de ação que vou tendo por aqui e nas quais tenho diversas responsabilidades.
Já tenho dito que preciso de almofadas de tempo de descompressão, de profilaxia pessoal, para me manter à tona da água. Preciso da leitura, da corrida, da marcha, do filme e da série de eleição. Preciso do café com as amigas, ou sozinha, preciso da boa conversa, do filho e da filha e de mim sozinha, também. Preciso da escrita, deste blog e do mais que me faz sentir bem. Preciso do meu trabalho, bem feito, respondido e em ordem. Preciso que o cérebro se compartimente por setores, deixando-me gerir os timmings de ação de cada coisa.  
E por isso, também respondo muitas vezes aos meus:  - Só amanhã é que penso nisso. Fala-me depois, antes disso, nada feito."
E assim, à boleia da espera e dos timmings que sou eu que defino, me vou gerindo, não esquecendo, mas adiando para um tempo e hora propícios.
E acho que vou dando conta de tudo. Pelo menos, assim o espero. 
E afinal, sou mesmo parecida contigo pappy, mas isso, eu também já sabia.

quinta-feira, 21 de abril de 2016




MUNDO AO CONTRÁRIO


Esta rebate, rebate, rebate. Riposta, discute, argumenta. Com fervor e emoção. Como se tivesse todos os poros da pele direcionados para a explosão de fúria que tem que fazer sair e então, eles dilatam e ruborescem , a voz levanta-se, o gesto inflama. Pois... conheço bem este filme. 
E no meio do gesto inflamado, a lágrima, mais de teimosia contrariada, que de tristeza legítima. E depois, quando passa, vem a calma, o sossego, como a tal ventania de verão QUE FOGE DE NÓS, de que falo às vezes. E aí, pode entrar então, o meu papel de mãe que, mesmo não tendo sido protagonista do episódio que deu origem a este post, se sente sempre co-atuante no que se passa lá em casa. E agora com calma e com os poros, a pele, o gesto e a cor tudo de volta ao devido lugar. E por isso, a mensagem entra melhor, acho eu...

-É bom ser-se genuíno, disse-lhe, quando a apanhei. -É bom estarmos conscientes das nossas razões e afirmações e defendermo-las até ao fim, mas é importante também saber calar, aquietar a fúria, resguardarmo-nos do temporal dos sentidos, escolher o melhor momento, que será um pouquinho mais sábio e ponderado. Saber escolher o momento para afirmarmos a nossa razão. Ver-se-á muito aqui da nossa capacidade de inteligência emocional e esta, acredito cada vez, mais ser um dado essencial nos dias de hoje e um salvo-conduto para as relações que estabelecemos.
Sei que concordas e que guardas isto contigo. És uma miúda inteligente.
O que não te posso dizer (embora ache que tu também já sabes...) é que eu sou igualzinha a ti e que esta verdade que te transmito, norteia-me sempre, mas não impede que o génio expluda muitas vezes, sobrepondo-se à razão.
Pois... genes... Acho que eles explicarão isto. Que nos fique, no entanto, o ensinamento. Este, não tem prazo de validade, não achas?



segunda-feira, 18 de abril de 2016




EUREKA!






- Oh mãe, não contes nada a ninguém, ok?, ou - Oh mãe, sabes do papá? Estou farta de lhe ligar e nada... (Esclareça-se que o pai trabalha a 500 metros da escola de todos e eu, estou noutra cidade...) Ou ainda, - Oh mãe fala lá com o papá, a sério, faz lá uma forcinha...  - Meto-te uma cunha, é isso? Posso dar-lhe um toque, mas tu é que tens que falar com ele - respondo... E tantos, tantos outros exemplos.

Os meus filhos não podiam ter um pai mais amigo, mais presente e mais atuante nas suas vidas. Um pai mais imiscuído nos seus percursos, histórias e assuntos, um pai mais interessado por eles e respeitador dos seus ritmos e hábitos, mas pronto, um pai também que às vezes adquire, sem ele próprio saber como, este dom da invisibilidade, muitas vezes conveniente, calculo... Confesso também que às vezes o invejo, com aquelas invejas boas que mal não trazem nenhum. Naqueles dias mais cinzentos de cansaço, em que o olhar e os sentidos se nos toldam, em que só nos apetece fugir e viver anestesiados para o mundo, em que gostaríamos de ser estupidamente egoístas, amaciando um ego que é parvinho, parvinho, às vezes, mas que nos sabe bem, por pedaços...



Pois é, mas este MUM'S POWER torna-nos elásticas e depressa nos tira estes devaneios, ginasticando-nos para um filho e para outro e ainda para mais outro com as trinta mil solicitações que cada um tem e UFA, RESISTIMOS E CONSEGUIMOS E, EUREKA (!!) sem dramas e com a capacidade de relativizar exponenciada a mil.
E esta capacidade sei que é comum a (quase) todas as mães. E é por isso que ficamos menos invisíveis do que os pais, acho eu. Porque damos conta do recado ... E somos rápidas... 
E depois o bom, bom, bom é termos o pai ali, sempre ao lado, para, numa cumplicidade atuante e maravilhosa, agir connosco sempre em sintonia.
Sortes... Pois...


quarta-feira, 13 de abril de 2016




FAZER AMOR






E é verdade. Fiquei/estou ainda deslumbrada com a última publicação do Papa Francisco. É o livro "A alegria do amor" (Amoris Laetitia), a propósito da reflexão que fez sobre a família, após o sínodo sobre o mesmo tema. Não me vou deter aqui acerca do livro, das considerações que tece, das coisas que defende. Isso é sempre uma viagem pessoal e única de cada leitor, com cada livro que escolhe, numa liberdade absoluta que dá à leitura aquilo de maravilhoso que tem, como exercício livre que é.
Mas para mim, que maravilha! Todo o livro, página a página e, sobretudo, os capítulos IV e V, verdadeiros hinos ao amor humano.
E foi num desses capítulos que fez referência a um poeta uruguaio, de nome Mario Benedetti e especificamente ao poema "Te quiero". Fui logo à procura do dito e encontrei um série de outras frases, poemas e pensamentos do autor.
Encontrei esta frase que ponho na foto. E sim, identifiquei-me de imediato. Não se faz amor só de uma forma. Faz-se amor de tantas formas e tantas vezes e só com essas todas, se chega à plenitude de cada uma delas.
Achei que a combinação da foto com a frase poderia resultar assim. Uma praia de eleição, que é a nossa, um olhar fixado num horizonte e um pensamento, quem sabe para as coisas pequeninas da vida, que, todos os dias, se quisermos, nos podem deixar fazer amor um com o outro.

Não é lindo? Eu avisei...


segunda-feira, 11 de abril de 2016






SÍTIOS PRECIOSOS



Esta foto está na minha mesa-de-cabeceira, com mais duas, ou três, de outros e outras pessoas que formam bocados de mim. Está numa moldura de anjinho redondo, daquelas que têm uma pinça que sustenta as fotos quase no ar. Todos os dias a olho de frente e sorrio. Acho-a doce, como doces são as recordações de infância que tenho contigo: as brincadeiras de rua, tardes inteiras, no nosso bairro de infância, as torradas com marmelada e manteiga que a avó Lurdes nos fazia, a nossa (mais tua que minha) primeira bicicleta, onde eu queria, à força, pôr um cestinho à frente, as cadernetas de cromos de que eu depressa me fartava e que só tu querias continuar a fazer até ao fim, (pois sempre foste mais paciente que eu), os acampamentos na ilha da Fuzeta, cheios de primos e primas, os saltos das gigantescas dunas de areia das praias de Vale do Lobo, as maravilhosas férias de Verão no Minho, na aldeia do avô João, os banhos no rio Neiva, (que tinha até uma pequena cascata maravilhosa) as idas para o Porto no comboio com as carruagens-cama, os primeiros acampamentos e atividades dos Escutas e Guias, tanta e tanta e tanta coisa boa, nos meus primeiros anos de vida, tão felizes, contigo sempre ali ao meu lado. Foi contigo que fiz as primeiras travessuras. Sim, fi-las certamente mais do que tu, que eras bem mais ajuizado que eu, diz-se... De muitas, oiço com gosto os relatos da mamã, nos dias em que estamos juntos e quando vem a propósito. Foi contigo que aprendi a ser irmã, um bocadinho e foi contigo que recebi, aos 8 anos, outro irmão, que nos caiu no colo e que nos fez tão felizes. Lembro-me das listas de nomes que fazíamos para escolher o nome do bebé que aí vinha. Tinha que ter João, se fosse menino, de resto, podíamos escolher. E foi João, ganhámos os dois um João maravilhoso.
Tanta coisa Nuno, tanta maravilhosa coisa que vivi contigo e tantas, tantas saudades que tenho e que continuarei sempre a ter de ti. NÃO HÁ REMÉDIO PARA ISTO QUE SE SENTE. Havia tanta coisa que gostava de te contar, de partilhar contigo, de te dizer, de ouvir a tua opinião. Havia tanta coisa de irmã que sei que ias gostar de ouvir e de me dizer também.
Nunca, mas nunca por nunca poderia estar preparada para a tua partida. Tivesse eu a idade que tivesse quando isso aconteceu. E por isso quero manter-te sempre comigo, dentro do coração, no centro, naquele sítio secreto onde guardamos o que temos de mais precioso. Como tu... 
Hoje apeteceu-me dizer-te isto! 
Afinal, parece que é o dia dos irmãos...





sexta-feira, 8 de abril de 2016





DIAS E DIAS


Sim, há dias em que a sensação de não se saber o que andamos aqui a fazer impera; sim, há dias em que se acha vigorosamente que isto tudo tinha que levar uma grande volta; sim, há dias em que se faz o pino para menorizar dificuldades; sim, há dias em que se sente um certo desdém reinante e subtil por aquilo que fazemos; sim, há dias em que só a ladainha que se repete interiormente de que fazer o melhor que se pode, sempre com dedicação, será sempre o certo, só ela consola e redime; sim, há dias em que só a vida pessoal nos preenche e se dá graças a Deus por ela ser tão feliz e tão cheia e tão diversificada, como se pudéssemos assim dar palco variado a outros amores que temos e para os quais gostamos de fugir sempre; sim, há dias e dias, de facto. 
Mas depois há outros, como o de hoje, em que se faz um atendimento e se sente no olhar sofrido, na postura que pede ajuda e na escuta de quem nos ouve um agradecimento velado, um silêncio esclarecido, um olhar mais consolado. Se calhar porque ouvimos, esclarecemos, encaminhámos, apontámos caminhos, mesmo não escondendo que são duros, difíceis, às vezes impiedosos e esgotantes. Poderão não dar em nada, aqueles, a volta continuará a precisar de ser dada, o pino continuará a ter que ser feito, o desdém relativo e reinante continuará a subsistir, como se continuássemos a ser agentes de uma arte um pouco menor, mas qualquer coisa naquele momento nos disse, talvez um flash, um feeling, um sexto sentido, o que se quiser chamar, que não estamos assim tão errados e que a postura que assumimos, é sim senhora, certa e bem certa. E às vezes é só o que se pode fazer.
É que com as dificuldade dos outros que nos procuram, podemos sempre aprender a ser melhores e a escola também tem de ser esta lição para nós. Acho eu...


E lembrei-me deste post e deste, mas principalmente deste.
De facto, ainda bem que os ascendentes se conquistam...

quarta-feira, 6 de abril de 2016




GENÉTICA





Bolas, tenho três filhos, desejados, planeados e concebidos no maior dos amores. Das três vezes, não descansei enquanto não soube o sexo dos bebés que carregava, tinha nomes escolhidos, planos feitos, como qualquer mãe dedicada, acho eu, daquelas que recebe o mundo em branco com aquele bebé. Das três vezes fiquei ansiosa e expectante em cada ecografia, olhando mais para a cara da médica, do que para o ecrã. Das três vezes achei sempre que nela descortinaria alguma coisa menos bem, mais rapidamente do que esperando que ela mo dissesse. Das três vezes tive sempre a felicidade de estar sempre tudo bem. Das três vezes fui inundada pelo maior dos amores, como se me afundasse em águas leitosas, com cheiro a algodão doce, ou pastilha de menta, de tão maravilhosamente boas que eram. Das três vezes vivi gravidezes calmas, felizes e normais. Das três vezes, tive partos rápidos, fáceis e acompanhados da minha médica de sempre e do meu mais-que-tudo, ali ao lado a respirar comigo. Das três vezes experimentei a sensação de abraçar o mundo no corpinho daquele bebé que nos unia aos dois ainda mais. Das três vezes, mergulhei de cabeça nesta aventura da maternidade, com um filho, dois filhos e depois três. Das três vezes tive sempre a sensação de aventura, de risco, de entrega e de algum risco. E por isso hoje, este post, deste blog que sigo me interpelou.
E se pudesse ter escolhido? E se pudesse ter feito pim pam pum com a genética, afastando o que não se quer e selecionando só o bom? E se o risco que senti, aquele frio na barriga pelo desconhecido, aquele medo por alguma coisa menos bem pudesse ter sido eliminado, continuando em frente só com certezas e factos bons dados pela ciência?
E se? E se? E se?
Pois...
Fogo! Ainda bem que sou desta era e essas questões ainda não se põem desta forma. É que é tudo muito bonito, mas o avanço da ciência, tão potencialmente bom e importante, pode assumir também, contornos preversos, acho eu...


Mas este livrinho, vai já direitinho para a minha lista de espera...

segunda-feira, 4 de abril de 2016



FOCUS

(do inglês, focalizar, dar foco...)


Há aqueles e/ou aquelas de quem sou incondicionalmente fã e com quem, mesmo sem ler o que escrevem aqui, ou ali, sei que vou concordar, porque me identifico em estilo, forma, ou tom.
Dele, do Miguel Esteves Cardoso, tenho dias, como se costuma dizer. Nem sempre tenho paciência para o seu humor corrosivo e nem sempre o estilo marcadamente irónico me atrai, mas este artigo  que escreveu para o Público, está maravilhoso.
Identifico-me muito com muitas coisas que diz aqui, ou não falasse ele aqui, de amor e coisas que tais.
E hoje, que voltei ao trabalho, aos horários rijos e à impiedosa logística de três filhos, que se abate sobre mim, apetece-me também deleitar-me com aquelas bolhas de tempo que crio, às vezes pequeninas e rápidas, mas eficientes, que me ajudam a manter à tona, a centrar a lente e a mastigar estas coisas que vou lendo por aí. Afinal, será assim que vão fazendo eco, acho...

"O amor é o grande apagador de insignificâncias"...

E esta frase, desse artigo que indico acima, ficou a martelar-me cá dentro, baixinho, baixinho, mas forte, forte.
Valerá sempre a pena apagar insignificâncias... Afinal, elas não servem mesmo para nada, em nenhuma área da nossa vida. Mas isso, eu sei que tu também sabes, ou não estivesses comigo neste caminho.
LUV U!


P.S. Esta foto tem uns aninhos, mas ninguém diria, claro!!