PARA TI, PAULINHA...
Ia escrever no blogue, como sempre faço quando estou de alma cheia. Ia dizer como foram maravilhosos estes dias festivos, esta fuga à rotina entre família e amigos do peito, fora de horários e trabalho, despertos para outras coisas e outros cheiros e pessoas e sítios e conversas e modos de estar. Ia selecionar fotografias e tentar escolher aquela que melhor encaixasse naquilo que tento expressar, ia recordar momentos e consolidar a certeza de que os tempos somos nós que os fazemos e os paraísos na terra somos nós que definimos, assim como se tivéssemos a possibilidade de estar na Brândoa e imaginar Nova Iorque, como já disse aqui, inspirada por aqui.
Pois é, poderia dizer isso tudo, mas o meu pensamento vai para ela, de quem gosto tanto e para o tamanho da dor que deve estar a viver e aí recuo neste meu desfiar de egoísta felicidade e presto homenagem sincera à dor que sei que sente.
Gostava de lhe dizer tantas coisas agora e não importava que fosse por aqui. Gostava de lhe dizer que sei que essa ferida que a vida lhe abriu não vai fechar nunca completamente e que, em momentos marcantes, vai sempre escancarar-se sobranceira e imperiosa. Gostava de lhe dizer que sei que o irreversível da perda, da falta e da ausência, fere como uma faca afiada que nos corta a pele e nos deixa sem ar e sem escapatória possível. Gostava de lhe pegar na mão e dizer que as lágrimas não secam, nem lavam o tamanho da dor, mas que chorar faz bem, faz o luto fazer-se e espraiar-se na vida de todos os dias, fá-lo ficar mais suave a cada dia que passa, fá-lo deixar-nos falar de quem partiu, recordando e lembrando e doendo e contando o tanto de bom que se teve e que se partilhou. Gostava de lhe dizer que depois, devagarinho, esse luto vai tomando forma e torneando, embalado pelo tempo, de uma crosta suave, a tal tamanha ferida, deixando-nos já sorrir quando lembramos e enternecer quando falamos. Gostava de dizer a esta minha amiga que a morte não nos levará nunca aquilo que de melhor vivemos com quem partiu, porque isso é nosso e só nosso e vive no reduto mais sagrado de cada um, tomando forma de lembrança e de herança a cada dia que passa e revestindo-se do melhor que somos e partilhámos. Gostava de lhe explicar que estas palavras parecerão ôcas perto da grandeza do que sente, mas que se calhar é por falarmos delas que voltamos a ser normais perante a vida. Gostava de lhe afirmar que sim, ficamos às vezes atordoados com o injusto e inevitável que essa vida também tem, tornando-nos peões impotentes de um xadrez que não é nosso, mas que sei que depois, a seguir, a toda a hora, ela nos dá tanto de belo e de lindo que ficamos atordoados outra vez...
Gostava de tanto te dizer, Paulinha, mesmo correndo o risco de nada te fazer sentido agora.
Não consigo imaginar o tamanho da dor que agora sentes, mas consigo imaginar a perda, o irreversível, o vazio e sei, que a melhor lembrança que guardares do Zezé, será aquela que melhor honrará a sua memória, será aquela que o trará, todos os dias, um bocadinho, de volta para ti.
Tenho a certeza, que ele iria gostar disso.
Um grande beijinho, só...
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