quarta-feira, 29 de janeiro de 2014




 A PROPÓSITO DE UM BATÔN...


Não sei se um simples batôn confere alguma pontinha de dignidade a alguém, mas sei que às vezes, basta muito pouco para nos sentirmos vivos e esse "pouco" pode ter tantas formas...

Um dos blogs que sigo fazia referência a um livro, que não conheço (DEUS E SEXO, de Rob Bell, Editora Vida), que relata a experiência de alguém, sobrevivente a Auschwitz. (http://www.osexoeaidade.com/2014/01/27-de-janeiro-de-1945.html#comment-form).
Com a chegada da Cruz Vermelha Britânica, para além de muitas outras coisas, chegou ao campo, um carregamento de batôn. Isto "prendeu-me" ao texto... Um carregamento de batôn, que procurava restituir àqueles farrapos humanos, algum pingo de humanidade. Como é que um acessório tão básico, simples e corriqueiro pode devolver alguma pontinha de humanidade àquelas mulheres, sombras ténues de si próprias?

(Deixo aqui a dica, para quem quiser "espreitar"...http://www.osexoeaidade.com/ )

Estive em Auschwitz há muitos anos e foi dos sítios que mais me impressionou até hoje. Lembro-me com particular nitidez das montras/vitrinas com os objetos pessoais das pessoas, das mechas de cabelo guardadas com precisão, dos sapatos e vestuário deixados para que se veja o despojamento que lhes era exigido. Lembro-me de ter sentido o "peso" da história a cair em cima de mim e de ter achado o sítio sombrio e com ar lúgubre. Lembro-me de me sentir num filme daqueles antigos, que vemos na televisão. Lembro-me de me ter sentido agoniada e de haver lá uma parte, subterrânea à qual já não consegui chegar, tal era a angústia que respirei, sim, porque a angústia, naquele sítio, respira-se até hoje. Lembro-me de estar um dia de sol bonito e de ter tirado uma fotografia à porta, à frente do portão com aquela frase célebre: "ARBEIT MACHT FREI" e de ter pensado na diferença entre mim e todos aqueles e aquelas que por lá passaram. Lembro-me de ser novinha e de não ter ainda a dimensão de vida que tenho hoje, com filhos, com raízes, com uma carga afetiva que me faz olhar para este tema com uns olhos diferentes, ou pelo menos, mais maduros. E Auschwitz foi ficando em mim assim, como uma memória pesada, que persigo nos filmes e séries de televisão. Apaixonam-me as histórias desse tempo, com essa carga e os exemplos de coragem, arrebatamento, heroicidade que a história nos dá e nos traz. São tantas as que conheço... bastam simples pesquisas na Net para nos depararmos de frente com uma e outra e  para compararmos os nossos exemplos diários de coragem, com aqueles exemplos tão soberbamente maiores que os nossos! E seremos sempre pequeninos ao pé disto, sem dúvida, mas sei lá, talvez possamos crescer um bocadinho de cada vez que lhes prestamos tributo, mesmo que seja assim, a propósito de um batôn...


Polónia, 1990




sexta-feira, 24 de janeiro de 2014











GAIOLAS DOURADAS E OUTRAS COISAS
( a sério que este post não tem nada a ver com o filme...)


Arrastada pelo trânsito do final da tarde, falava-lhes enfaticamente, com gestos expressivos, voz afetada e tudo a que tenho direito, desta angústia e impotência que senti (e sinto) quando vi o corte que me fizeram no vencimento, que injustiça, que sensação de parcialidade, que desafio conseguir ir equilibrando estas sensações com as outras, a da necessidade imperiosa de continuar a ter esperança, essa palavra que não pode ser vã, que não pode acabar em nós e nos outros depois de nós e da urgência de continuar a tornar nobre o que fazemos, nem que seja só para nós, para nos sentirmos vivos e dignos!
Como nos acontece quando ouvimos alguém que fala de dentro e que enche o espaço todo, ouviam-me muito calados e senti que tinha, nesse momento, uma oportunidade de ouro de lhes falar da esperança, sei lá, com um desejo ínfimo de que lhes pudesse tocar um bocadinho, mesmo que não fosse lá no fundo, mesmo que fosse só ao de leve... podia ser que esta palavra, e outras que tais, lhes fossem ficando a pairar por ali e um dia se tornassem inteiras, como uma coisa só...
À noite, o mais novo (e por isso talvez ainda, o mais suscetível...) refere-me o caso de uns e de outros que conhece tão bem e que não têm crise, não passam por isto, têm uma vida tão fácil, mãe! Meu amor pequenino!! Senti nesse momento a exigência de lhe desmascarar algumas verdades, na proporção dos seus 10 anos...  - Sabes, filho, nem tudo o que parece, é, há situações que são gaiolas douradas, mas que brilham só para fora, porque se vive de aparências, de realidades que são virtuais e muito mascaradas e tu, que estás a crescer, deves ir alimentando um espírito crítico perante isso e tudo o resto que te rodeia... deves interrogar-te sempre, questionar, pôr em causa, fazeres o teu juízo de valor e com o tempo e a maturidade, verás se esses brilhos dourados são mesmo verdadeiros, ou não... Com isto, também lhe quis dizer que deve pensar sempre pela sua própria cabeça e não alinhar em "carneiradas", que é uma coisa que, para além de se escrever com uma palavra feia, tem uma imagem altamente pejorativa, a meu ver...

Acho que percebeu a mensagem... 
E de tudo isto me lembrei hoje a propósito da tragédia ainda do Meco, de que já falei aqui... ( http://agridoceedoce.blogspot.pt/2014/01/as-vezes-somos-pequeninos.html ) Será que aqueles jovens, a ser verdade que cumpriam um qualquer ritual de praxe, não se questionaram, não puseram em causa, não pensaram sequer em recusar qualquer coisa que pusesse em causa a sua integridade física?
Custa-me falar de uma coisa que ainda não se sabe o que é, ou o que foi, continuo a centrar-me no sofrimento dos Pais e famílias, no buraco negro, como lhe chamei, na dor, na saudade e na incógnita de não se saber o que aconteceu, mas entre ontem e hoje, da crise, viajei para aqui, para esta questão dos grupos, das opções, das tomadas de posição!
Deus queira que estas mensagens vão passando, mesmo que ao de leve e que depois, empurradas pela maturidade e vida real, se tornem numa coisa só, daquelas bem inteiras, que pegamos ao colo de uma só vez!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014



FARNICOQUES

(... ou fernicoques, já nem sei!!)


Sim, já tenho 41 anos, a caminho dos 42, como é possível (?) e, de facto, uma das coisas que sinto agora, cada vez com maior frequência é a falta de paciência para certas coisas, não para episódios como os de ontem, com a velhinha do supermercado (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2014/01/e-facil.html) , mas sim para conversas pouco eloquentes, sem conteúdo, cheias de observações parvas e, sobretudo, cheias de ar, balofo, ôco, um ar cheio daquilo que não se sabe, mas que se acha que se sabe... Para essas pessoas que enchem o peito de ar quando falam, observo, à distância, em perspetiva, mas com uma grande dose de impaciência, como se o meu tempo fosse muito precioso e não o quisesse desperdiçar assim... Gestão das prioridades, diria...

Estou submersa no ensino, eu sei, mergulhada mesmo, de uma forma que, admito, me fará ver as coisas de outra maneira, com outra perspetiva. Talvez por isso conheça melhor os colegas de outros ciclos, ou então os problemas com que se debatem diariamente, as dificuldades que inundam as escolas, as contrariedades que nos são impostas, as fragilidades das estruturas familiares dos nossos miúdos e não estou a falar só da questão económica, mas da questão do desalento, da falta de horizontes, do limiar da perda de uma esperança, que será sempre a única e última mola propulsora de otimismo... Talvez por isso conheça melhor o sistema, dizia eu... Também lido com crianças e jovens fora do contexto escolar, devido a uma série de atividades que tenho, que me fazem lidar com eles, suas famílias, suas maneiras de estar e de pensar... Talvez isto também me dê outra lente, outro foco, mas pronto, é mais forte do que eu e não posso evitar sentir uns farnicoques teimosos por todo o lado, quando estou em reuniões de Pais na qualidade de mãe e oiço tanto disparate, tanta super proteção, tanto o meu filho é o melhor do mundo e o mundo é que gira contra ele, coitado (!), tanta falta de autonomia, tanta desresponsabilização de meninos e meninas que já são homens e mulheres, tanto apontar de culpas a uma escola que só é verdadeira se tiver como parceiros os Pais, tanto medo de traumatizar meninos e meninas que são egoístas, mimados e infantis, tanto pavor de os chamar à razão, responsabilizar, penalizar, se for caso disso...
Não sou uma mãe perfeita e os meus filhos não são perfeitos também, não há professores, ou escolas perfeitas, não há sistemas de ensino imbatíveis, não há estruturas de conjuntura envolvente infalíveis, não há todas as facilidades que gostaríamos à nossa volta, mas há sempre a opção de procurar em nós, em cada um, a solução para muitos problemas, a adaptação a muitas realidades, a motivação para o sucesso, a ambição pela conquista daquilo que queremos, o confronto direto com os nosso erros... Mesmo que depois disto, tudo pareça ainda cinzento, quase negro, ao menos, estaremos vivos!!



terça-feira, 21 de janeiro de 2014




É FÁCIL...


Eu e filha do meio para programa de supermercado ao meio da tarde. Compras de circunstância, que esta casa de gente tem sempre falta de coisas, cafezito pelo meio, conversa diária informal a fluir. Tempo, antes de ir buscar os outros dois e de iniciar a outra parte do dia. Como tenho sempre azar nas caixas do supermercado, hoje não foi exeção, claro. Aquela caixa não tinha ninguém, para além de um casal simpático de meia idade. Muito serenos, muito cúmplices e lá fiquei eu, animada, que desta vez é que seria, um pagamento ligeiro, sem azares e demoras! Eis quando a senhora se lembra de uma e de outra e de outra coisa que, afinal, precisava! E sai da caixa uma e outra e outra vez, desculpando-se enquanto me pede licença para passar. Ele, paciente, ficava à espera que ela voltasse. Eu desviava-me para lhe dar espaço, a ela e lá sorria, condescendente... afinal, até nem estava com pressa. De esguelha, via a impaciência da minha do meio e o olhar meio atrapalhado da funcionária e lá sorria eu outra vez, também condescendente... nem sempre tenho esta calma, hoje seria de aproveitar. Por fim, a minha senhora da frente lá passa uma última vez e diz-me qualquer coisa que me soou a desculpas, pelo que percebi pela expressão da voz e gesto... Sorri outra vez e anuí, correspondendo afirmativamente àquilo que julgava ter-me sido dito. A minha perspicaz descendente, não perdoou... -oh mãe, percebeste alguma coisa do que a senhora disse? - murmurou-me. -Não querida, nada de nada, mas sorri, deixa, e isso bastou-lhe... 
De facto, tenho um sorriso fácil, é uma coisa que me sai naturalmente e quase sempre (quase, que também não tenho sangue de barata....) é sincero e vem-me de dentro. Acho mesmo que é uma arma poderosa que tem poderes que vão para além de quem o emite, entram na esfera de quem o recebe e produz efeitos que ultrapassam ambos, assim como se atuasse a longo prazo, como uma profilaxia terapêutica que fica nas entranhas, sem sabermos.

Eu não deveria ter mais de sete, ou oito anos e lembro-me de um jantar na casa de uns amigos dos meus Pais, coisa que era comum entre os casais amigos, com filhos da nossa idade. Eram sempre animados e informais e nesse dia, já não sei porquê, as meninas viram-se todas a participar num desfile de moda. Lembro-me que fiquei muito contrariada com o vestido que me deram, era horroroso, azul e amarelo e contribuiu para agravar mais ainda a minha grandessíssima aversão a vestidos! Ainda hoje, de cada vez que me lembro do vestido!!! Nossa Senhora!!!! O meu prémio foi o do sorriso mais bonito e fiquei tristíssima! Queria ter ganho o melhor vestido, o mais vistoso, o mais original... o melhor sorriso!! Senti-me infelicíssima....
Às vezes lembro-me deste episódio e hoje, particularmente, a minha memória viajou estes anos todos para trás! Não sei se a velhinha do supermercado achou o meu sorriso bonito, mas fiquei contente com o efeito que ele teve nela... Afinal, é mesmo fácil!!!


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014



HÁ IMPULSOS ASSIM...








Prometi interiormente que nunca iria falar dele aqui, porque faz parte daquele reduto de mim que é mais íntimo e sagrado, mas pronto, às vezes, sente-se um impulso forte de transgredir as regras, sobretudo quando se é emotivo, mais do que racional. Às vezes, as regras não podem ultrapassar-nos, nós é que devemos ultrapassá-las, para encontrar equilíbrio e harmonia e poder voltar, outra vez, à regra, à norma, à ordem.... Por isso, o post de hoje será pequenino e por isso guardarei também sempre para mim tudo o que possa dizer mais sobre este reduto sagrado que é o meu amor por este homem, mas hoje apetece-me só dizer, sem grandes justificações e de uma forma bonita, porque simples, que me sinto muito bem por tê-lo comigo todos os dias a desenhar uma história que é a NOSSA e que me sinto muito feliz e protegida e mimada quando, num dia cheio de nuvens como o de hoje, me mostra um bocadinho o sol... não sei, mas acho que isto será amor...

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014




ÀS VEZES SOMOS PEQUENINOS...

Assim como as ondas do mar são guiadas pelo vento, seja guiado por Deus. Não há caminho melhor.


Imaginá-los serem levados assim, por uma onda, de forma repentina, assustadora, irreversível, imaginá-los todos pouco mais velhos que a minha filha mais velha, jovens, saudáveis, cheios de vida, com um futuro pela frente, imaginar um mar assim, impiedoso, cruel, revoltado... foi uma notícia que se agigantou dentro de mim e me incomodou muito, durante algum tempo. Aqueles 7 jovens da praia do Meco "andaram" no meu pensamento e atrás deles, andaram também seus Pais e famílias

Passámos a passagem de ano numa ilha, como falei aqui (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2014/01/ilha-do-farol-existe-desde-1851-e.html) e aquela notícia gigante ainda ecoava cá dentro, mesmo como a voz de um gigante mau de uma história infantil. Falei-lhes no respeito pelo mar, nos humores da Natureza que não controlamos, mesmo quando pensamos que sim, porque somos auto-confiantes e muito seguros de nós, falei-lhes no eco que essa notícia ainda tinha em mim por dias e dias desde que se ouviu, falei-lhes no respeito que têm que ter pelos meus receios, clamores e angústias, mesmo que lhes pareçam patetas e fora de contexto, porque as mães são assim, feitas de metades que não só só razão e por isso, têm que me OBEDECER, sempre, nestas pequenas coisas chamadas regras e indicações e os ecos da notícia foram serenando e ficando mais longe, mais longe, mais longe, embalados pelo tempo que passa e faz as feridas ficarem (quase) curadas.
Hoje, ao ver um post do jornal PÚBLICO (http://www.publico.pt/n1619665) acerca desta notícia, em que se relatava a dor de um casal, Pais de uma das jovens, a ferida reabriu-se de novo e fiquei soterrada com o tamanho desta dor tão grande! l
Não há nada que sinta que  possa dizer acerca disto, porque não há nada que se possa dizer que seja do tamanho desta dor. Também sou mãe e os meus exercícios de abstração não chegam a um grau destes, que me levem imaginar um cenário negro assim. Gostei de senti-los (o pai e a mãe) juntos, imaginar que isso pode, milimetricamente, atenuar o sofrimento, gostei do relato que fazem das pessoas anónimas que lhes valeram e que depois também lhes velaram a dor, gostei da sensação de solidariedade para os OUTROS ANÓNIMOS que se consegue quando se vê a cor do medo e do desespero nos olhos e na expressão, gostei que o jornal PÚBLICO torne público este relato assim, do que vem depois e do tributo/testemunho que se quer dar das respostas, das perguntas e das perguntas que não têm resposta, gostei do interpelo que isso pode causar e gostei de pensar que o que sinto é um bocadinho parecido ao que outros sentem e partilham (como aqui www.socorro sou mãe@blogspot.pt ).
Se este meu doce e agridoce conseguir ir um bocadinho pela blogosfera afora e servir de homenagem, peço-lhe que desta vez seja gigante, como aqueles das histórias infantis, que têm uma voz grave, grossa e de trovão e que sirva um bocadinho de tributo a estes joverns e a estes pais e estas mães! É que eu, cá por mim, perto disto, ainda estou pequenina como um baguinho de milho...

sábado, 11 de janeiro de 2014

 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, PRECISA-SE...


"É uma turma muito competitiva, estão sempre a comparar-se entre si, preocupam-se em demasia com as avaliações dos outros, às vezes até mais do que consigo próprios, têm níveis de execução das coisas muito bons e apurados, são exemplares quando têm que fazer, na hora, mas às vezes, as competências relacionais deixam muito a desejar, não sabem estar, não apuram a sensibilidade, não imaginam o que é ser assertivo, são indiferentes ao sentir, ao estar dos outros, não sabem gerir as frustrações, ficam à toa..."
Pois é!! Estas reuniões com colegas, de outros ciclos, têm em mim um efeito reflexivo e, tendo três filhos, revejo-me tanto, tanto nestas frases!
Esta ideia, transmitida por uma professora acerca de uma turma é dos problemas mais frequentes com que nos deparamos hoje em dia nas escolas e, se nos descuidamos, nas nossas casas também. Os miúdos são cada vez mais estimulados, têm acesso a quase todos os tipos de informação, na hora, à distância de um simples click, a maioria tem experiências de vida muito variadas, que lhes dão, de bandeja, formas novas e arrojadas de processarem a informação, vivem rodeados de tudo o que lhes ofusca os sentidos, anestesiando-os e não lhes dando tempo para sentirem ou não sentirem, a falta de nada e assim vão crescendo, muitas vezes sozinhos emocionalmente e transformam-se em adultos academicamente suprassumos, mas emocionalmente, quase analfabetos! Julgo não exagerar quando digo que TODOS conhecemos alguém e alguém e mais alguém assim!

Não serei uma mãe perfeita... aliás, no outro dia li algures uma frase de alguém que já não sei dizer quem, que dizia que as mães são todas imperfeitas e ainda bem e identifiquei-me muito. É que a imperfeição pode ter a grandessíssima vantagem de nos fazer querer ser melhor, avançar, seguir em frente, rever, analisar, ver em perspetiva
De facto, não serei uma mãe perfeita, não farei parte de um casal perfeito, nem sei se os há, não serei membro de uma família nuclear perfeita. E atrevo-me a dizer, ainda bem... assim, talvez continue a ter sempre, uma grande margem de progressão e talvez continue gostar de viver com as nossas "perfeitas imperfeições", como diz o John Legend na canção; mas, de forma perfeita ou imperfeita, assumo que para mim, se tivesse que escolher, seria sempre mais importante esta inteligência emocional, que não se vê, nem aparece nas pautas, que prepara e fortalece para a vida, de forma discreta e silenciosa, do que a outra, académica, curricular, que aparece, mas que, coitada, sózinha nunca valerá de muito!


terça-feira, 7 de janeiro de 2014


TIA BABADA


Há coisas que são clássicos e, como tal, têm uma beleza que nos leva a fazê-las, vê-las, repeti-las vezes sem conta, sempre como se fosse a primeira vez, não nos cansando, porque têm sempre uma magia diferente, uma aplicação e resultados diferentes, uma inovação que as faz parecer novas e exuberantes, sempre! É um pouco como aqueles filmes muito antigos, valiosos e encantadores de tardes de domingo e serões sem fim...

No meu trabalho também é assim: há imensos temas que se repetem infinitamente, mas dos quais nunca nos fartamos, porque temos sempre palcos e cenários e atores e atrizes e figurantes e adereços e tempos e espaços, diferentes de cada vez. Para além disso, quando se lida com meninos e meninas pequenos, tem-se a grandessíssima sorte de se poder inovar com muito pouco, tornando novas e muito novas, coisas que poderiam ser velhas e muito velhas. Por isso, essas coisas clássicas e corriqueiras, terão sempre um sabor novo e resultados inesperados e isto é mesmo verdade!

É assim com esta atividade que inventei um dia e que resulta do dia de reis. E se fossemos um Rei? O que faríamos?
Apelo à criatividade, à imaginação, à saída da nossa zona real, à viagem para outros mundos, outras zonas que são do faz-de-conta e de mais ninguém, mas que nos fazem sorrir, até brincar de tão imaginárias que são... tudo isso poderia ser realçado (como já fiz aqui http://agridoceedoce.blogspot.pt/2013/01/se-eu-fosse-um-rei-o-voltar-deliciosa.html#links...) aquando da alusão a esta atividade que é tão rica, mas não me vou repetir.

Hoje, só me apetece dizer que sim, que me sinto REI de vez em quando (mesmo quando não digo a ninguém e mesmo quando estou zangada) e que gosto, às vezes, de imaginar outros mundos, outros desejos, outras coisas e que me rio quando imagino isso e que gosto de dizer isto aos meus meninos e meninas e que gosto de propor isto aos pais e às mães dos meus meninos e meninas e que do pouco se pode fazer tanto e que podemos brincar com esse TANTO e que hoje o meu coração não cabe cá dentro do peito porque me nasceu outro sobrinho e que esse sim, é um REIZINHO verdadeiro, para os seus papás e para mim e isto, é o mais importante...
SE EU FOSSE UM REI, DECRETAVA-LHE TODAS AS FELICIDADES E BENÇÃOS DO MUNDO, COM UM AMOR DE TIA MUITO BABADA!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014


ILHA DO FAROL





Existe desde 1851, é antigo, portanto e povoou a minha infância, não só porque era presença imponente numa das minhas praias de eleição, como também porque estava sempre lá, assim, dessa forma indiscreta, em quase todos os ângulos de visão para onde olhássemos, nas terras costeiras onde vivíamos. Depois, a presença assídua, constante e natural, tornou-o quase banal, como banais já parecem ser aquelas coisas que vemos todos os dias e que já nos desabituámos de contemplar. Às vezes, quando penso nos faróis de forma humana que orientaram (e orientam) a minha vida, penso que são de facto assim, imponentes e sempre presentes de qualquer ângulo de visão, análise, sentimento. Parece que nunca deixamos de os ver e ainda bem, porque nos dão uma segurança estrondosa.

Continuou sempre a ser, ao longo da vida, a praia preferida, o areal preferido, o bar de praia de eleição... afortunadamente, temos a sorte de lá poder ir, por modo próprio, muitas vezes, o que reforça o gosto e o prazer que nos dá aquela praia... Afortunadamente também, é roteiro certo em passeios de inverno, o que reforça a sua beleza, o seu quê de não-sei-o-quê que o torna destino único, tão fácil, tão próximo, tão banal, tão bom...

Surgiu assim, do nada, a ideia de lá irmos passar a passagem de ano. Uma série de coincidências felizes, oportunidades que se conjugaram, gentes felizes que se juntaram, porque juntas são assim, muitas, ruidosas e amigas. E assim, num afortunado dia do princípio de janeiro, lá quis subir eu os duzentos e tal degraus, dos mais de 50 metros de altura deste conhecido farol. Nunca se tinha proporcionado e nesse dia aconteceu. Não fui sozinha. Acompanhou-me um pequeno séquito que não quis ficar atrás, mas consegui, no meio de todos eles, ficar um bocadinho presa a mim e às minhas coisas, como se esta mania que tenho de introspetivar (*) teimasse em se colar a mim, como se achasse sempre que a FELICIDADE talvez seja assim, feita destes pequenos nadas que só a nós nos dizem tanto. E lá em cima, foi comigo própria que falei... Num varadim pequenino, de forma circular, rodeada de uma paisagem magnífica, fiquei pequenina e silenciosa, apesar do frenesim de quem me acompanhava. Foram silêncios de segundos, imediatos e que calei só para mim. Foram silêncios que seguiram obedientemente o movimento de uma longa inspiração daquela maresia tão gelada e tão maravilhosa e, apesar de nunca ter tido muita paciência para balanços e elencagens exaustivas de propósitos a seguir, pois o  meu espírito prático dita outra pressa e outro sentir, acredito que todos os desejos para 2014 tenham ficado presos bem lá no fundo, com a força daquele inspirar.

(*) não sei se esta palavra existe, mas pronto, senti-a assim!