A PROPÓSITO DE UM BATÔN...
Não sei se um simples batôn confere alguma pontinha de dignidade a alguém, mas sei que às vezes, basta muito pouco para nos sentirmos vivos e esse "pouco" pode ter tantas formas...
Um dos blogs que sigo fazia referência a um livro, que não conheço (DEUS E SEXO, de Rob Bell, Editora Vida), que relata a experiência de alguém, sobrevivente a Auschwitz. (http://www.osexoeaidade.com/2014/01/27-de-janeiro-de-1945.html#comment-form).
Com a chegada da Cruz Vermelha Britânica, para além de muitas outras coisas, chegou ao campo, um carregamento de batôn. Isto "prendeu-me" ao texto... Um carregamento de batôn, que procurava restituir àqueles farrapos humanos, algum pingo de humanidade. Como é que um acessório tão básico, simples e corriqueiro pode devolver alguma pontinha de humanidade àquelas mulheres, sombras ténues de si próprias?
(Deixo aqui a dica, para quem quiser "espreitar"...http://www.osexoeaidade.com/ )
Com a chegada da Cruz Vermelha Britânica, para além de muitas outras coisas, chegou ao campo, um carregamento de batôn. Isto "prendeu-me" ao texto... Um carregamento de batôn, que procurava restituir àqueles farrapos humanos, algum pingo de humanidade. Como é que um acessório tão básico, simples e corriqueiro pode devolver alguma pontinha de humanidade àquelas mulheres, sombras ténues de si próprias?
(Deixo aqui a dica, para quem quiser "espreitar"...http://www.osexoeaidade.com/ )
Estive em Auschwitz há muitos anos e foi dos sítios que mais me impressionou até hoje. Lembro-me com particular nitidez das montras/vitrinas com os objetos pessoais das pessoas, das mechas de cabelo guardadas com precisão, dos sapatos e vestuário deixados para que se veja o despojamento que lhes era exigido. Lembro-me de ter sentido o "peso" da história a cair em cima de mim e de ter achado o sítio sombrio e com ar lúgubre. Lembro-me de me sentir num filme daqueles antigos, que vemos na televisão. Lembro-me de me ter sentido agoniada e de haver lá uma parte, subterrânea à qual já não consegui chegar, tal era a angústia que respirei, sim, porque a angústia, naquele sítio, respira-se até hoje. Lembro-me de estar um dia de sol bonito e de ter tirado uma fotografia à porta, à frente do portão com aquela frase célebre: "ARBEIT MACHT FREI" e de ter pensado na diferença entre mim e todos aqueles e aquelas que por lá passaram. Lembro-me de ser novinha e de não ter ainda a dimensão de vida que tenho hoje, com filhos, com raízes, com uma carga afetiva que me faz olhar para este tema com uns olhos diferentes, ou pelo menos, mais maduros. E Auschwitz foi ficando em mim assim, como uma memória pesada, que persigo nos filmes e séries de televisão. Apaixonam-me as histórias desse tempo, com essa carga e os exemplos de coragem, arrebatamento, heroicidade que a história nos dá e nos traz. São tantas as que conheço... bastam simples pesquisas na Net para nos depararmos de frente com uma e outra e para compararmos os nossos exemplos diários de coragem, com aqueles exemplos tão soberbamente maiores que os nossos! E seremos sempre pequeninos ao pé disto, sem dúvida, mas sei lá, talvez possamos crescer um bocadinho de cada vez que lhes prestamos tributo, mesmo que seja assim, a propósito de um batôn...
Polónia, 1990 |