RUGAS DE EXPRESSÃO
A pessoa mais nova da mesa, para além de mim, tinha 80 anos e estivemos animadíssimos toda a noite. Eu adoro velhinhos. Não sei se tenho uma vocação escondida para a geriatria, mas encanta-me tudo o que dizem, as recordações que têm, a sabedoria que mostram nas pequenas coisas, as comparações que vou fazendo enquanto os oiço das realidades que relatam dos seus passados distantes e da VIDA DE AGORA. Enquanto lá estive à conversa com todos eles, tive pena que o meu mais-que-tudo estivesse ocupado numa outra conversa, noutra mesa, ou que as minhas duas filhas adolescentes também não estivessem disponíveis ali na hora para ouvir aquelas realidades tão distantes, mas tão recordadas, com tanto pormenor, tanta realidade, tanta clareza, tanto sentido de humor, como se o PASSADO, contado no PRESENTE, desse mote para o FUTURO.
São todos meus tios e tias avós, irmãos e irmãs da minha avó materna, que era a mais velha e que foi a que morreu mais nova, primeiro que todos os outros. Só uma outra irmã também já faleceu, pois os outros, restam quase todos, do alto dos seus 80 e muitos e 90 e tantos anos, cheios de lucidez, boa conversa, sentido de humor! Faltava lá uma tia, a mais nova, que não esqueci naquele momento e que foge a esta regra de lucidez e boa saúde, mas os desígnios da vida são mesmo assim, alheios à nossa vontade e intenção, mas lembrei-me dela naquele bocadinho, com muita força!
Gostei tanto daquele pedaço de tempo em que ali estive com todos eles e, tal como acontece sempre que vamos enchendo a alma de momentos assim, quis que todos os meus mais queridos ali estivessem também, sentindo aquilo que eu estava a sentir, mesmo que de outra forma, menos intensa, talvez, que eu sou assim, dada às nostalgias piegas, mas pronto, sentiriam, ou partilhariam comigo aquele pedaço de vida cheia, disso não tenho dúvidas!
Gostei tanto daquele pedaço de tempo em que ali estive com todos eles e, tal como acontece sempre que vamos enchendo a alma de momentos assim, quis que todos os meus mais queridos ali estivessem também, sentindo aquilo que eu estava a sentir, mesmo que de outra forma, menos intensa, talvez, que eu sou assim, dada às nostalgias piegas, mas pronto, sentiriam, ou partilhariam comigo aquele pedaço de vida cheia, disso não tenho dúvidas!
Creio que é uma graça chegar a idades tão provectas assim, cheios de lucidez e inteligência, mesmo que as maleitas do corpo deformem tudo aquilo que nos reveste, que é físico e visível aos olhos dos outros. Então, ter um corpo velhinho que já precisa de bengalas ou outros acessórios de ajuda, ouvir mal, ver pior, ter muitas rugas de expressão que parecem tapetes de pregas caídos no rosto, mas manter a conversa, a eloquência, o sentido de humor, será um fortúnio que não é para todos e eu, pela parte que me toca, senti-me abençoada por estar ali, naquele bocadinho e poder ser uma testemunha viva disso mesmo e sentir que um bocadinho daquelas memórias todas, foi passando pela história, pondo uma perninha em cada uma das gerações que os seguiu, vindo direitinha até mim!! Como se cada uma das rugas de expressão me dissesse qualquer coisa ao ouvido. E então, sem forçar, acolho essas memórias com ternura, delicio-me a ouvi-las e respeito-as muito, já que, o futuro só começa amanhã....
Delicioso comentário e partilhado em todos os pormenores...
ResponderEliminarbeijinhos
Delicio-me com cada pormenor do que escreveste..
ResponderEliminarBeijinhos