Lembro-me de imensas coisas que ele nos dizia e é agora com esta idade adulta e com filhos da idade que eu teria nessa altura, que me lembro mais. Não entendo estes fenómenos da memória. Talvez estejam ligados a alguma maturidade, dizem, e eu acredito, ou talvez o processamento que é feito das coisas da vida, seja um bocadinho parecido ao processamento dos alimentos, nutrientes e vitaminas, não sei... lentamente, depois da degustação, muitas horas depois, a absorção é feita, vitalizando, nutrindo, fortalecendo com o que é importante... as minhas amigas cósmicas dir-me-iam agora que sim, tudo é esta energia que pulsa na mesma direção e com a mesma intensidade... é engraçada esta ideia que não aprofundo! E sim, uma das coisas que o meu pai nos dizia era que quando acabávamos de ler um livro, devíamos saboreá-lo, apreendê-lo, processar a sua informação para ver que eco tinha em nós e isto, era imperioso fazer-se antes de começar a ler outro. A minha adição aos livros nem sempre me permite fazer isto, mas sinto esta recomendação como sábia e estou exatamente agora neste processo de absorção de informação e processamento, depois de ler DENTRO DO SEGREDO de José Luís Peixoto, Quetzal Editora. É um exemplar de literatura de viagens e é interessante o contraponto que o autor faz entre uma realidade forjada que lhe é apresentada a todo o instante e a sua própria realidade. Logo aí se percebe a sua opção: a escolha entre interpretar a realidade por um lado, ou por outro, (...) a escolha entre um olhar crédulo, ou desconfiado, benevolente ou maldoso... (p.p 146)
Os segredos...
Às vezes sinto um peso grande, como se os meus ombros quase tombassem perante a força do que se quer dividir comigo quando me contam um segredo importante, especial, único, doloroso, sofrido, ou feliz. Aceito-o, ao segredo, como uma pecinha a mais dessa pessoa, que colo juntinho às outras que dela tenho. Normalmente, essa pessoa é especial e então, o segredo fica especial também. Outras vezes não sinto nada de especial quando me contam UM SEGREDO porque intuo rapidamente que o suposto segredo que me contam não é assim tão importante e, tal como me foi contado, também o terá sido a duzentas outras pessoas, embora de maneira diferente que o faz parecer único e então, esse segredo, transforma-se assim em qualquer coisa sem sabor, sem a magia das coisas e das pessoas importantes; ou acontece também o segredo ser falso, não ser autêntico, ser montado, forjado para parecer verdadeiro, porque é aquela imagem/realidade que se quer transmitir. Graças a Deus nesta última opção não me revejo muitas vezes. Acho que sou afortunada por fazer parte da vida de muitos segredos que acho verdadeiros, importantes, especiais, únicos, dolorosos, sofridos, ou felizes, como aqueles próprios dos grandes amigos e/ou cúmplices, como são os amigos e amigas verdadeiros, os companheiros, companheiras, namorados, namoradas, maridos, mulheres, irmãos, irmãs, mães, pais, ou todos os outros e outras que a nossa forma de vida quiser fazer encaixar na força das coisas!
Acredito que a nossa sensibilidade nos fará sempre saber filtrar o segredo que nos contam e dar-lhe a importância que ele tem, guardando-o como a um tesouro, ou mandando-o para cantinhos menos importantes da nossa memória e maneira de estar.
Acredito mesmo que, tal como o autor deste último livro que li relata, os segredos, quando fazem eco em nós, ajudam a que o nosso mundo faça mais sentido.
Acredito que a nossa sensibilidade nos fará sempre saber filtrar o segredo que nos contam e dar-lhe a importância que ele tem, guardando-o como a um tesouro, ou mandando-o para cantinhos menos importantes da nossa memória e maneira de estar.
Acredito mesmo que, tal como o autor deste último livro que li relata, os segredos, quando fazem eco em nós, ajudam a que o nosso mundo faça mais sentido.
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