sexta-feira, 26 de abril de 2013

 
VOLTA DE CARROSSEL
 
 
Quando penso em 1974, imagino-os na casa dos vinte e muito poucos para ela e trinta acabados de fazer, para ele. Imagino-os quase em lua-de-mel, ainda, com pouco tempo de casados e já dois filhos, quase seguidos a "tiracolo". Uma vida a dois em início de construção, ele trabalhando já e construindo "a pulso" uma carreira profissional que lhe adveio depois só do mérito e ela, estudante universitária, iniciando um curso superior que correspondia à sua vocação mais autêntica, suportada no amor dele e na estrutura de lar que iam construindo. Imagino-os bonitos como sei que eram, animados, apaixonados, com a vida pela frente. Desta altura, sei de episódios, apontamentos de memória, histórias que se passaram e me foram contadas e intuo, com muita certeza, que havia felicidade no ar, daquelas que ficam impressas na primeira infância dos meninos e das meninas, como um carimbo vitalício, uma tatuagem que nem a laser sairá, muitos anos depois... 
Depois, logo a seguir, imagino a geração anterior a eles, também um homem e uma mulher que se conheceram num trópico distante das suas origens, vindos ambos de meios culturais muito diferentes, ele ávido de cultura e conhecimento, empreendedor, trabalhador e muito determinado; ela, bonita, doce e determinada, mas em modo mais suave, daqueles subtis, que, a meu ver, são mais vigorosos e vitoriosos no final. Os primeiros, receberam dos segundos os relatos e histórias de uma Pátria mãe distante que os primeiros não conheciam, de onde os segundos resolveram sair procurando uma vida melhor. Quando penso nisto, como sinto que a história se repete, como ciclos soluçantes, mesmo algumas gerações depois... Os primeiros deste post são os meus Pais e os segundos, os meus avós maternos!
E, assim sem saber explicar muito bem porquê, é de uns e de outros que me lembro quando se fala no 25 de Abril de 1974... imagino a volta de 360 graus que uns e outros deram às suas vidas e tento imaginar como reagiria eu, agora também com um projeto de vida, também com filhos a tiracolo, também com coisas a acabar de começar, também com casa, trabalho, raízes... como reagiria a uma volta de carrossel tão grande assim? Não sei... acho que só se sabe quando passamos nós pelas coisas, por muitas receitas, ou estratégias, ou táticas, ou planos que tenhamos... E assim, repito, sem saber muito bem porquê, é disto que me lembro quando se fala no 25 de abril: a capacidade que teríamos, ou não, de apanhar "ao colo", assim, uma mudança destas...continunado a viver, a sonhar, a construír...
Nunca sentirei com uma intensidade quase física (como aqueles e aquelas de gerações anteriores a mim) a revolução de abril, pela simples razão de que sempre cresci em liberdade, nunca tive outro modelo de comparação, "construí-me" como pessoa, já com este paradigma social. Porque leio, comparo, me questiono e conheço desta forma algumas realidades parecidas à que havia em Portugal antes de 74, porque me lembro e respeito muito o que os meus Pais e Avós contaram e contam, sinto esta data com respeito, consideração e algum deferimento; mas a "verdade verdadinha" é que é de uns e de outros que falo acima que me lembro sempre em primeiro lugar e gostava de lhes dizer que foram valentes, heróis, quase, por terem passado por isto com um saldo positivo de afeto, equilíbrio, coerência, clarividência e harmonia.
À liberdade que nos foi "oferecida", gostava de dizer que, maior que ela, será sempre a INTERIOR, do mais íntimo de cada um de nós, que nos liberta de prisões e grades invisíveis que nos podem impedir de sonhar... a cada dia!


quinta-feira, 25 de abril de 2013



FALO CHINÊS?


Perguntei-lhes, a propósito da visita de uma escritora ao espaço da nossa escola, se sabiam o que era uma escritora... o que fazia, qual era o seu trabalho... Daí até aos livros, às bibliotecas, à leitura e ao mundo que existe fora da escola e do circuito viciado que relatam: "ESCOLA/CARRO/CASA/CONTINENTE/CARRO/CASA/ESCOLA (outra vez...)/CARRO/CONTINENTE/CASA... (e por daí em diante em circuitos limitados e sempre iguais e passo a publicidade...), foi um passo e fiquei triste!!! Menos de 1/4 dos meninos e meninas da minha sala nunca tinham ido à Biblioteca Municipal da sua cidade, mesmo aquela sendo um espaço público, gratuito e com horários relativamente estendidos para as várias realidades laborais. Não conheciam o espaço, nunca lá tinham ido e então, ajudada pelos meninos e meninas que já o tinham feito, falei-lhes da biblioteca da sua cidade, do nome que tem (acharam graça à biblioteca ter o nome de uma pessoa, uma escritora com um nome bonito, ainda por cima!), dos espaços que a compõem lá dentro, das coisas que lá dentro se pode fazer... mostrei-lhes os meus cartões de utente das bibliotecas das várias cidades por onde tenho passado enquanto Educadora e penso que me acharam mesmo uma fã dos livros e afins, mas então, nós quando gostamos, falamos com os olhos e os braços e a cara e o corpo todo... Fizemos um "convite-a-convidar-os-pais-a-que-nos-levassem-à-biblioteca-da-nossa-cidade-porque-ouvimos-dizer-que-é-bonita"...
 Tudo isto me fez viajar para fora da escola e para dentro das "vidinhas" dos nossos meninos e meninas, muitos deles, pelo menos e não todos, felizmente... Não têm experiências de vida para além daqueles circuitos viciados, ou de outros parecidos àquele, não cultivam o gosto por conversar, porque também pouco conversam com eles, não expressam (ou expressam mal) uma opinião, porque também nunca são ouvidos (mesmo que a sua opinião não seja vinculativa, mesmo que seja só para ser ouvida, partilhada...), não param para ouvir o OUTRO, porque ninguém lhes diz nunca que o OUTRO pode ter alguma coisa de interessante para dizer...
Pois é!!! É assim que vamos estando e é isso que se reflete nos grupos e na capacidade de concentração/atenção/motivação... Hoje, uma amiga professora comentava também no seu blog que às vezes, sente um "fosso" entre aquilo que propõe que os alunos aprendam e aquilo que os motiva (era mais ou menos este o sentido...) e é verdade e eu sinto isso nos pequenitos, da pré. Comparativamente à altura em que comecei a trabalhar, há uma diferença gigantesca que nos obriga também a dar passos gigantescos e a fazer quase o "pino" para os motivar... ainda vamos tendo sorte, porque a idade deles, aliada à nossa capacidade e gosto pelo que fazemos, ainda vão fazendo milagres, daqueles mesmo verdadeiros!
Pois é, outra vez... Por isso é que me apeteceu gritar para dentro (ali tinha que ser para dentro!!!) quando uma mãe me disse que se tinha zangado veementemente com o filho porque não LHE ADMITIA (...cito...) "desenhos como aquele, muito riscados, feitos à pressa, sem gosto... ía para o primeiro ciclo e aquilo não podia ser, ía insistir muito com ele no Verão, tinha que o pôr a ter outro brio"... blá, blá, blá... Juro que encetei com ela uma conversa construtiva, enquadrei-lhe a pressa do filho (os outros estavam todos lá fora a brincar...), sensibilizei-a para as conquistas que ele tem feito, para os inúmeros conhecimentos que tem em muitas áreas, (o que o distingue, para melhor, em relação aos outros), para o tempo que às vezes leva o CRESCER e o ADEQUAR RITMOS, para o facto da expressão plástica não ser a área forte dele e daí o pouco brio, para o mundo de coisas que tem que conquistar antes da leitura e da escrita... Apelei para o q.b (ralhar sempre, mas quando e se...), para a importância das tais experiências de vida diversificadas que falo acima, para o facto de isso os completar tanto como pessoas pequeninas e de os ajudar a crescer, mas subitamente, (quase!) desisti e foi quando reforçou as lágrimas que o menino tinha deixado cair aquando da sua reprimenda:... "sentidas, professora, sentidas!"...
Aí, apeteceu-me perguntar-lhe:  - "eu falo chinês???" 

sexta-feira, 19 de abril de 2013


PIM PAM PUM


Nos "picos" de cansaço, parece que a minha veia de escrita fica assim, meio "entupida", obstruída com tantas e tantas coisas para fazer, em tantas frentes diferentes. Sinto, lá nas profundezas, um fluxo que corre, silencioso, já que há sempre assunto para escrever, o que não há é sempre, "assento" e disponibilidade interior... é com se a escrita fosse caprichosa e exigente e como se o fluxo fosse só uma moínha que está lá, um bocadinho adormecida e anestesiada, qual analgésico potente...
Se calhar, faço PIM PAM PUM aos assuntos e deixo fluir um bocadinho... costuma resultar!
E este PIM PAM PUM resultou na escolha de um assunto que já não é novo e que hoje, de novo, me chamou a atenção.
Ao sair do carro, de manhã, para me dirigir à escola, segui atrás de uma mãe que também ia levar o filho. A criança já não era pequenina, como aquelas que povoam a "minha" escola. Frequenta uma outra escola, perto da minha.
Num espaço de 20 segundos, aquela mãe, instintivamente, sem se aperceber e de "rajada", incapacitou o filho de fazer o que quer que fosse:..."- a mãe faz, espera, eu ponho, está ajeitado, vês?... a mãe segura, queres que eu vá lá dizer, pus-te aqui o lanche, é só abrires..."
Tenho a certeza que a senhora (que nunca lerá este blog, nem pôde imaginar  que eu a seguia, ouvindo) não fez por mal, foi instintivo. Eu própria, também muitas vezes, na pressa das manhãs, dou por mim a fazer/dizer isso, mas devemos de vez em quando (porque a vida não é uma estrada direitinha, nem nós conseguimos fazer tudo como vem nos livros...) atentar nisto, pois tenho a segurança que estes comportamentos muitas vezes repetidos e sistematizados, produzirão adolescentes, jovens e adultos inseguros, mais incapazes e às vezes com algumas doses de cobardia, escusando-se a enfrentar coisas que agora são "pequeninas", mas que depois, empurradas pela vida, ficarão "grandes"!
Lido com muitas crianças, adolescentes e jovens. Crianças, porque sou mãe e Educadora de Infância, adolescentes e jovens, porque sou mãe, outra vez... e outra vez e também porque tenho algumas atividades extra-profissionais que me colocam num "palco" privilegiado para assistir a tudo isto e é, de facto, gritante e alarmante, o que se vê por aí... Os miúdos (gosto de lhes chamar assim...) são confrontados pela vida com imensas coisas, desde uma gestão de conflitos que têm que fazer, até decisões que têm que tomar, passando por escolhas/opções/atitudes que têm que assumir para serem autênticos, verdadeiros e é assustador o protagonismo que os adultos assumem, numa tentativa desesperada, mas infeliz de os ajudar.
Para eles, os miúdos, é cómodo, é fácil e vai-se tornando habitual e para os Pais/Educadores é muitas vezes, instintivo e mais rápido do que a lucidez ditaria...
Seria bom que de vez em quando estes clicks fizessem "luzinhas" no nosso comportamento, fazendo-nos perceber que só se cresce quando somos nós (sempre na proporção da nossa idade) a gerir as nossas capacidades e atitudes, sentindo o pai/mãe/adulto cuidador, ali ao lado, na retaguarda e pronto para avançar, mas cauteloso para não se sobrepôr a nós.
É tentador decidir pelo filho (a), fazer mais rápido e primeiro, protegê-lo (a) dos perigos que espreitam por todo o lado, escolher por ele (a) e por nós e pelo que achamos melhor, mas é altamente verdadeiro que há coisas (mesmo que nos pareçam menores) que têm que ser eles (as) e só eles (as) a gerir/escolher/decidir... mesmo que estejamos lá ao fundo, sempre à espreita...

segunda-feira, 15 de abril de 2013

 
 
BEIJO DE AMOR
 
(que me perdoem os que não são românticos...)
 
 
Ela era uma prostituta, jovem e lindíssima, com algumas características de elevação que a afastavam do protótipo normal, de rua; e ele era um milionário meio perdido, com ânsias de um "mergulho" emocional num qualquer desconhecido e por isso, ou pelos acasos e voltas que a vida lhes foi dando, a encontrou... Um pouco por acaso, acabam por se ir envolvendo, no início suportados por questões formais, quase de "contrato", mas no fim, já entregues um ao outro, e vítimas de uma paixão que os arrebatou e o fez tirá-la de uma vida que todos víamos que ela não queria. O espetador do filme sente-se aliviado pelo final da trama e sai do cinema com aquela sensação agradável de leveza e sorriso nos lábios... Nem sempre estes filmes "colam", mas quando "colam", recordamo-los quase para sempre! (e é o caso, pelo menos para mim...)
 A ternura que se sente desde o início do filme pela personagem feminina e também um certo charme que ele, o protagonista masculino sabe "deitar" para  o espetador, fazem com que este filme, PRETTY WOMAM (filme de Garry Marshall, -1990- com Julia Roberts e Richard Gere), não sendo, eventualmente, uma obra prima do cinema, seja por quase todos nós recordado como uma doce lembrança vindo-nos vagamente à memória o que lá se retratava... Para além de tudo isto, recordo-me de algumas coisas, apontamentos de composição da personagem feminina, que me faziam "gostar dela" e achá-la diferente... uma dessas coisas era a exigência e os "protocolos" que ela tinha para com os beijos. Nunca beijava na boca, o beijo era um reduto completamente proibido, mais que as carícias e tudo o mais e o resto... alegava que só beijaria quando estivesse mesmo apaixonada e que esse gesto de beijar profunda e apaixonadamente selaria esse sentimento e não se poderia banalizar. Recordo este pormenor com alguma graça, visualizando, à distância, algumas cenas do filme...
Hoje, "passeando" superficialmente pelo mural do Facebook, vi que era, ou foi, por um destes dias, o DIA DO BEIJO (?!?!)... (é incrível o que se "aprende" no Facebook!) e lembrei-me de alguns célebres beijos do cinema, de algumas canções alusivas a isso, deste pormenor deste filme, das várias formas de beijo que podem haver e do que esse gesto pode, de facto, significar. Relativamente ao beijo de amor, acho mesmo que qualquer sabedoria popular, intuição, visionamento, fundamento, perspicácia, esperteza, ou afins, o argumentista/produtor terá tido ao incluir essa característica à personagem e atrevo-me a dizer que talvez tenha sido um profundo conhecimento (ou intuição) acerca da natureza feminina... Um beijo de amor será talvez das coisas mais bonitas e íntimas numa relação e durante um beijo de amor, tanto se pode falar, dizer, ouvir, sentir, escutar, dar e receber. Penso que o célebre "gene X" feminino, nos porá, a todas, dentro "deste saco", com um bocadinho deste sentir...
A qualquer um, ou uma, das nossas relações familiares, sociais e profissionais podemos dar um beijo familiar, social, ou profissional, incluindo-o a ele, o beijo, numa série de outras importantes convenções sociais, mas só àquele, ou àquela que escolhemos livremente e que distinguimos como único, ou única no meio de uma multidão imensa, só a esse, ou essa, nos podemos oferecer, quase sempre de olhos fechados, num profundo e longo beijo de amor... e é tão bom....!!!

 
 
 
 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

5 MINUTOS DE MAGIA

 - Olha, vê, é uma salamandra!!!!
                                                     D., 4 anos


Confesso que gosto muito mais deste "horário de Verão" do que do outro, em que às 5 e meia da tarde é de noite... mal os dias começam a acabar mais tarde, "cheira-me" logo a caracóis, as esplanadas chamam por mim, apetece-me passear mais, não vir logo para casa depois do trabalho, ir andar, ir ver gente, cheirar as ruas, as coisas, os sítios... parece que daí até ao Verão é um pulinho tão pequenino que nos dá uma sensação de pequena eternidade deliciosa, daquelas que só o Verão e o mar podem dar. Presumo que isto só se aplique a quem goste do Verão, que é o meu caso, mas pronto!... Aparte destas delícias inerentes a este fuso de hora, levo algum tempo a adaptar-me à mudança, em termos fisiológicos e é de facto impressionante como uma só hora pode ter tanta influência no meu bio ritmo !! .... Olho para o relógio e é meia noite, mas o corpo, teimosamente ainda está nas 23, janto às 21.30 a pensar, "-Meu Deus, que tarde..." - e depois recordo que o estômago e filho e filhas e "mais que tudo" e banho e loiças e jantares e pendentes e logísticas e afazeres (...ufa!!!) ainda estão todos nas 20 e qualquer coisa, o que me dá uma folga fisiológica de 60 enormes e imensos minutos e penso na imensidão de tempo que são 60 enormes e imensos minutos e então, vou levando quase duas semanas nisto, neste "jet lag" teimoso que me leva também a andar meia anestesiada, com sonos um pouco mal dormidos e uma certa impertinência que custa a passar... como uma horinha só faz tanto, já se vê!!!
Então é assim que me tenho sentido... e neste "rame-rame" diário, vou mergulhando nos meus meninos que me preenchem e me dão tanto que fazer!
Hoje, não me conseguia vir embora!!! Apareciam-me por todos os lados, aquelas coisinhas de ocasião, das quais não podemos fugir, porque são urgentes e necessárias e já mesmo, mesmo quando estava a sair (e hoje até tinha pressa porque tinha um compromisso importante depois do trabalho...), um menino delicioso que "tenho" na minha sala, puxou-me pela mão e insistiu MUITO, com determinação, que eu fosse ver uma SALAMANDRA que ele tinha visto lá fora. Anda muito interessado nos insetos inerentes à PRIMAVERA que temos andado a explorar, tentando eu, por todos os meios, colmatar algumas falhas técnicas e de material, que passam de imediato a secundárias perante o envolvimento que eles, os meninos, nos oferecem, como se fosse preciso tão pouco para os envolver, os motivar... Então, dizia eu, ele lá me levou lá fora, com um séquito de imediato atrás de nós e inclinou-me para baixo, para que espreitasse para uma poça que lá há tapada com uma grelha metálica, onde ele descobriu um "mundo de coisas" lá ao fundo, só com o olhar, porque não chega lá com a mãozinha... "- e vês, lá ao fundo? é uma salamandra sim, daqueles compridas, vês, eu não te disse?, não querias ver uma????"  Tive que sorrir... -"Meu amor pequenino" - pensei.... és tão maravilhoso! ... sabes? não me importo que essa tua salamandra seja na verdade um pauzinho que lá está caído... isso agora não interessa nada, mesmo nada... deste-me 5 minutos de magia e isso já valeu por hoje!

E pensando então nestas "salamandras" todas, lá me vim embora...

terça-feira, 9 de abril de 2013



SERÁ AINDA POSSÍVEL?


Tenho uma consciência política normal, acho eu, nem de mais, nem de menos.    Vivi sempre em cenários familiares de grande fervor opinativo, com consciências cívicas muito apuradas, o que fez criar em mim uma identidade de cidadania" bem oleada", acho eu... Os meus Pais fugiram de uma guerra e isso, por si só, será uma experiência dolorosa, mas rica, em termos humanos, familiares, culturais... 
Nunca vivi os fervores políticos com exagerada intensidade, mas também nunca fui indiferente. Sou sensível aos discursos (sobretudo quando "vêm de dentro", quando têm ALMA), às políticas, às posturas e lideranças genuínas e sempre exerci o meu direito de voto, orgulhosa de o poder fazer, filha de uma geração que herdou esse direito. O meu "certo romantismo", levava-me a honrar esse direito, pensando naqueles que me antecederam e não o podiam fazer, ou naqueles que conheço (da leitura, do conhecimento geral, da história...) e que sei que ainda não o podem, hoje, fazer. É como uma mola propulsora que me leva sempre a agir, orgulhosa...
 Sou de uma geração nascida quase "em cima" da revolução de abril, tendo crescido por isso, em liberdade, sem ditadura, sabendo da existência de vários partidos políticos que dividiam entre si o poder, tendo-me habituado a ver a sucessão de governos, equipas, etapas, fases; acompanhando os discursos políticos daqui e dali e formando uma consciência política com esses apontamentos todos que depois, comigo já mulher, se foi definindo, especificando... achava eu!!!
Hoje sinto-me desencantada... agarro-me, como uma náufraga  à urgência de não poder perder a esperança, sob pena de tudo estar perdido, mas sinto um desencanto tão grande quando olho à minha volta, que me apetece pedir que venha um "El-Rei das brumas do desconhecido" e que apareça de repente aqui e que nos consiga (me consiga, já que é de mim que se trata...) encantar de novo... Será ainda possível?
Quando penso no meu País, a sensação de náufraga quase desesperada vem de novo e desta vez tento agarrar-me às milhentas possibilidades de sucesso que este luso cantinho retangular tem, com clima, tradição, cultura, história, geografia favorável, gente capacitada, e espírito de aventura e coragem e penso... o que falta? É irritante ver inoperância, lentidão, dependência de outros, discursos balofos, ôcos, cheios só de ar, sem brilho, sem perspetiva, sem esperança, sem futuro... e sobretudo é muito mais irritante ver a mentira a rondar, sorrateira, assumindo ares de verdadeira, tão bem falante e astuta, que quase parece verdadeira, mesmo!!! E aqui, entramos quase todos em psicose coletiva, sendo tentados a acreditar em mentiras que, de tão bem ditas, parecem verdades e sendo quase forçados a esquecer verdades que, de tão duras e violentas, quase ficam esquecidas, já que o melhor é anestesiar o povo, para que não sinta...!!!
Ver alguns homens e mulheres da ribalta a enredar discursos por todas essas teias de mentiras e meias verdades, é entediante e desencanta-nos muito, é um facto, mas guardo em mim uma réstia de esperança (escondida lá nas profundezas e que me recuso a perder), um fôlego desesperado, um imperativo quase moral de não desesperar, tentando acreditar que os meus filhos, poderão vir a viver num País melhor, se o paradigma mudar, se a vontade continuar e, sobretudo, se a esperança não morrer. Sim, de facto, prefiro rir baixinho, ir mantendo a minha sanidade mental intacta, o meu discernimento e capacidade de juízo relativamente sãos e um pouco alheados desse universo político (pelo menos com o distanciamento q.b) e ir repetindo como os THE AVALANCHES, sempre que vejo alguém entediante e MENTIROSO a falar na televisão: "That boy needs therapy, that boy needs theraphy..."
Boa dica, David!!

quinta-feira, 4 de abril de 2013




AMÊNDOAS DE AÇÚCAR?





Hoje, uma amiga minha, a Ana, tinha este post no Facebook sobre a "Para que serve uma relação ?"
De imediato, me lembrei "deles"... não sei porquê que foi "deles" que me lembrei... a sua relação não era "a ideal", mas marcou-me na infância e talvez por isso, a analogia, ironicamente, tenha sido esta. Vá-se lá perceber...
Eu era miúda e não processava a informação que "me entrava pelos sentidos", da forma que processo hoje, CLARO, NÃO PODERIA. Acho que a processava como uma miúda normal, endiabrada, vivaça, despreocupada e amada por uma família sólida, que a preenchia... Hoje, olho para trás para esse "retalho" de pensamento, lembro-me "deles" e já processo o seu assunto da forma que a minha visão de mulher me permite, de mulher, e de mãe, e de cidadã... Comparo a lembrança que retenho deles e a explicação que hoje dou a essa lembrança e acho engraçado como todas as explicações sempre lá estiveram  mesmo que eu não as visse, porque tinha olhos de criança que só vêm o que a doçura e ingenuidade podem ver. É como quando comem uma amêndoa de açúcar... encantam-se no doce e quando este acaba, jogam-na fora, não chegando à amêndoa verdadeira!
 Via-os como um casal amigo de meus Pais, presença muito amiúde lá em casa, programas comuns e filhos de idades próximas. Eram muito carinhosos em público, um carinho que saltava à vista, e ao qual eu, miúda, não era insensível.  Achava engraçado aquilo... Hoje adulta, acho que em segredo e se calhar inconscientemente, os comparava aos meus Pais que não andavam na rua de mão dada como eles, não se beijavam a toda a hora como eles, não se tratavam por "amor" e outros epítetos verbais ternurentos como eles... não me lembro de isto, na altura, miúda pequena, ter constituído para mim algum problema, ou de me ter detido a pensar nisto, ou de me ter feito perder o sono e nem sei porquê, repito, que hoje me lembrei deles... É assim, outra "pedrinha" da memória que saltou, agora, para o meio do caminho!
Foi por causa de toda essa (aparente) aura de ternura os envolver tanto, que foi para mim um choque, quando adolescente, ser confrontada com a realidade do seu divórcio! Um divórcio doloroso e litigioso! Aí já me lembro, (era mais velhinha) que fiquei muito espantada, como era possível, logo eles que me pareciam tão especiais... Hoje, sei que, de facto, eles não tinham o essencial: aquela manifestação exterior de ternura não estava mesclada do mais importante: cumplicidade... nos projetos, nas opções, nas decisões! Hoje, adulta, sei que a solidez que os meus Pais tinham, não se via de repente, sobretudo para os olhos de uma criança, talvez eu antes a absorvesse no ar que respirava, sem me aperceber, como o oxigénio que inspiramos a toda a hora, automaticamente ... era uma solidez de essência, de diálogo, de confiança, de maturidade, de respeito e, sobretudo, de projeto comum, tendo por isso, aquela beleza profunda que só os olhos esclarecidos vêm... como uma obra de arte de um pintor famoso...
Há relações de todas as cores, formas, tipos e feitios... há relações mais longas, menos longas, mais remotas, mais recentes; há relações que começam sem nunca ter acabado e há relações que acabam porque nunca começaram de verdade, estiveram só a fingir que eram uma relação... há relações que preenchem completamente, há outras que só preenchem o bocadinho que nós deixamos; há relações que resultam de uma entrega total, há outras que são negociadas com "fantasmas" novos ou antigos que nos assombram e quase fazem desistir; há relações que são para a vida, "porque sim", há outras que são descartáveis, porque só vão preenchendo pequenos "balões de oxigénio" que, um dia, chegam ao fim... enfim...
Não sei se a minha relação é a ideal... acho que todos achamos a nossa relação "A IDEAL", ou todos ansiemos por isso!... É talvez por isso que as assumimos e que as adaptamos às nossas vidas... O que sei é que depois do açúcar, ainda sinto que vou conseguindo chegar à amêndoa verdadeira e sabem?... esta, também é doce!!!


terça-feira, 2 de abril de 2013



ARMA PODEROSA



(AVISO: Devem ler-se estas frases quase em surdina)

"- O que é cativar?... o que é cativar?" - perguntava o Principezinho
" - É uma coisa de que toda a gente se esqueceu... significa criar laços" - respondeu-lhe a Raposa.
Antoine de Saint Exupery
in, O PRINCIPEZINHO


Vou ter com ele algumas vezes, não tantas como gostaria, mas aquelas possíveis, "filhas" da disponibilidade das vidas agitadas que ambos temos. De todas as vezes que nos encontramos, tenho uma sensação de "bálsamo", de um conforto fresquinho, parecido com aqueles cremes maravilhosos que se põem na pele depois do sol. Estas conversas com amigos assim (confessores, amigos do peito, colegas especiais, maridos, mulheres, namorados, ou ...) devem ter esse efeito, presumo, em todos nós. Certa vez, numa conversa que tivemos e enquanto me ouvia dizer-lhe que lhe reconhecia algum ascendente sobre mim, "dando-lhe" o direito de me dizer tudo o que achasse, com sinceridade, ia-me respondendo com sorrisos e "processava" (penso!), tudo o que eu falava... respondia-me de quando em vez, enquadrava as suas opiniões e afirmou, que só tinha essa "autoridade" sobre mim, porque eu própria lhe reconhecia isso.
 Essa pessoa faz parte da minha vida pessoal, é alguém muito querido para mim e para o meu núcleo familiar, conhece-nos há muitos anos, acompanhou o meu/nosso crescimento pessoal e emocional e sempre o vi como um amigo mais velho, mais lúcido, mais esclarecido, a quem recorria (recorríamos) sempre que precisava (e sempre que preciso, na urgência de um presente do indicativo). A inteligência profunda que tem, o conhecimento altamente esclarecido sobre imensas coisas, uma vertente espiritual maravilhosa e única, uma clarividência e espírito práticos sobre inúmeros assuntos (o que me encanta!!!), a facilidade com que reporta toda esta "teoria" para a prática do dia-a-dia, sempre me fascinou de uma forma que me fez desde cedo considerá-lo único e (quase) insubstituível!
No entanto, aquilo que me disse sobre o ascendente, parou-me no cérebro e vai pairando por lá, fazendo-me perceber que todas essas qualidades que tem, só as noto, só as vejo e identifico tão bem, porque ele me cativou, porque me fez especial, porque se deteve comigo por uns pedacinhos, porque "perdeu tempo", porque me fez sentir importante! Nada lhe seria reconhecido (de forma tão veemente) por mim se não me tivesse cativado!
Esta pessoa querida para mim e para os meus tem o poder da relação! Considero este poder de relação uma arma poderosa nas relações inter-pessoais e considero-o mesmo, uma porta de entrada para descobertas (quase tão científicas como a da penicilina, esse antibiótico, a seu tempo tão inovador e único!)) sobre a inteligência, o caráter, a personalidade.
Esta pessoa (como tantas outras parecidas com ela que existem nas vidas de cada um), faz contraponto com outras, opostas, diferentes (e também aqui me lembro de uma em particular!), que possuem uma inteligência mordaz e bem oleada, conhecimentos quase infinitos sobre as coisas, capacidade de expressá-los muito bem, espíritos organizadores eficazes, mas que não se conseguem relacionar, fugindo do "olho no olho", da "mão na mão", assumindo posturas carregadas de estilo, pompa e alguma circunstância, mas que no fim... o que fica? Parece que as palavras não entram, não colam, que falta qualquer coisa! Faz lembrar o caso daqueles médicos, altas sumidades e professores de cátedra, mas que não olham para o doente, institucionalizam-no e só, desvirtuando aquele que devia ser o principal e primeiro requisito da sua profissão: a relação como OUTRO.
Sei que algumas destas últimas pessoas (e se calhar esta de que me lembro com este post em particular...) tiveram, ou têm, algumas fragilidades emocionais que não ultrapassaram, ou que, nalgum momento, marcaram negativamente as suas personalidades e formas de estar, mas mesmo assim apetece-me dizer-lhes que TUDO o que lhes falta é exatamente isso, o deixarem o OUTRO sentir-se cativado, para que depois, com naturalidade, sem pressas, formalismos, ou prazos, o bonito que têm para dizer caia cá dentro e talvez muito fundo! E aí, quando cair e se cair, ficará para sempre como um laço apertado!

segunda-feira, 1 de abril de 2013




OVOS DE COELHO





Hoje tive a casa cheia de gente, muito barulho, muita confusão e muitas daquelas coisas agitadas, mas maravilhosas, próprias das famílias grandes, enormes e barulhentas! Apesar disso e apesar de continuar, ainda, mergulhada naquele torpor profundo de leitura (que me atinge de vez em quando...), surgiu-me, num cantinho do cérebro, uma lembrança do que uma menina da minha sala me disse acerca da Páscoa e acerca dos seus símbolos: "- Porquê que o coelhinho é o coelhinho da Páscoa, porquê que lhe chamamos assim, porquê que nos lembramos dele nesta altura e porquê que ele está em todo o lado?"- perguntava-lhes eu, informalmente, numa conversa de "tapete", todos juntos... 
-"Porque ele põe os ovos da Páscoa" - respondeu-me prontamente uma menina. 
-"Então ele põe os ovos? Mas os coelhos põem ovos????? 
Um SIIIIIM sonoro, embora já não unânime, ecoou pela sala...

Penso que a vida que levamos, recheadinha de pressas, correrias, timmings e logísticas para cumprir, dar-nos-á, mesmo sem querer, alguma anestesia para questionar, pensar sobre as coisas, fundamentá-las, pô-las em causa, justificá-las ao ponto de percebermos porquê que as sentimos de certa forma, enfim, pensá-las... Eu, pelo menos, sinto isso algumas vezes, como se uma preguiça mental muito grande fosse às vezes, tomando conta de mim, me entorpecesse os membros e o sentir e me deixasse seguir, nesta maré gigantesca de gente que pensa assim, sem saber explicar porquê e sem querer perder tempo a pensar nisso sequer... A vida vai correndo, sem grandes ondas e parece tão cómodo assim... Sinto isto muitas vezes, pessoal e profissionalmente falando e senti isto nesta quadra festiva da Páscoa, em que se planifica, se elencam estratégias, procedimentos, atividades, mas muita da essência ficará por dizer, por explicar. Legitimo-me e liberto-me de algum (pouco) peso de consciência, pensando que é difícil para crianças pequeninas do Pré-escolar, a explicação da Páscoa, a justificação da quadra. Deambulo entre uma certa origem histórica e ligação ao início da Primavera e uma mensagem de vida, de família, de perdão, de recomeço... Acaba por ter também esse fundamento e acaba tudo isto por poder ser vivenciado ludicamente por histórias, canções e pelas tais atividades que se planificam e então, tudo acaba bem... Pois é! Profissionalmente falando, não se poderá fazer mais, já que há coisas, verdades, sentires e valores que passam única e exclusivamente pela família e não quero sentir nunca a pretensão de me querer substituir a ela, não o poderia, neste âmbito profissional!
Mas, pessoalmente falando, tenho obrigações que me impelem a fugir da tal anestesia entorpecedora... sinto que tenho obrigação de transmitir aos meus, o verdadeiro sentido das coisas e, neste caso, da Páscoa, do Natal, das outras festas religiosas, ou não, das tradições, dos costumes e das coisas que nos rodeiam e que nos caracterizam como família, desenhando os nossos gestos e hábitos. Isso, contribuirá para a elaboração de uma história pessoal de cada um deles, da qual eu só serei depois co-autora, já que terá outros protagonistas e muito mais importantes.
Assim, os símbolos inerentes às quadras e às festas, as datas, os acontecimentos, farão sentido e terão uma explicação à qual aderimos com maior ou menor entusiasmo, mas na maior liberdade de cada um, de cada núcleo familiar ou pessoal. De qualquer forma, será importante, penso eu, que essa liberdade maravilhosa e gratuita de cada um, caracterize a forma como vive e sente as coisas, mas também inclua um conhecimento sobre elas para que a adesão seja maior e mais verdadeira (ou não...). Ninguém gostará do que não conhece, ou que conhece mal, atrevo-me a acrescentar, se calhar, sem fugir à verdade...
Então, tal como eu vivo a Páscoa como uma festa de libertação e de vida, que cada um a viva como quiser, no exercício consciente e pleno da sua liberdade, mas que ninguém fique sem saber explicar porquê que o ovo, ou o coelho são tidos como uns dos seus símbolos. Penso que isso seria redutor, mesmo para quem tem opiniões e crenças diferentes...
E, como as grandes coisas são todos os dias e não têm (ou não deveriam ter...) atrasos horários e de calendário... BOA PÁSCOA para todos!!!