sábado, 16 de agosto de 2014




D. FORMIGUINHA


No Verão tenho sempre este tormento lá em casa. É começar a ver as Sras donas Formigas por todo o lado, sorrateiras, a aparecer de frestinhas que nem sabemos que existiam e depois a seguirem, em carreirinho organizado por aí fora e a entrarem outra vez nos buraquinhos, num circuito teimoso, teimosinho de verdade! Parece que há umas mais mexidas, pequeninas e parece que são essas que vêm espreitar e, se a área está livre, lá vão chamar as outras, numa organização de se lhe tirar o chapéu. E lá ando eu  ver se as mato, a encher de água e também produto próprio os seus buraquinhos, mas no outro dia lá estão outra vez e voltam e voltam e voltam ao mesmo sítio, numa teimosia quase exasperante!
E hoje, enquanto varria a cozinha, olhei para duas que vinham e deslocavam, em conjunto, uma migalha de bolo. A distância para o seu buraquinho de eleição ainda era longa e não fui capaz de as matar, perceba-se agora este fenómeno. Enterneceu-me aquilo, o que querem? As duas, a par, a conjugar a marcha, o esforço, ou só o instinto, para cumprirem um objetivo! -Depois de entrarem na frestinha, já lhe ponho água à volta para impedir que voltem tão cedo, mas estas, vou deixá-las entrar! Organizadas, cooperantes, trabalhadoras, poupadas... sim, porque amealham para o Inverno! Tão simples esta lição para nós, o dito suprassumo da criação! -Somos mesmo parvos- pensei- parvos, parvos, parvos, do mais parvo que há!! E achei mesmo que aquelas duas insignificâncias me estavam a dar uma lição e que seria um exercício de humildade eu reconhecer-lhes isso. E lá me redimi com a Criação por causa disto...
E ao fim da tarde, não tive hipótese de não me redimir com esta Criação maravilhosa outra vez, perante o cenário que me era oferecido e que constitui o meu refúgio das férias... não há hipótese de estar aqui e não encher os pulmões de ar e de não pensar na sorte que se tem, assim, só, sem mais nada...
Afinal, à parte do amealhar para os invernos, que não consigo (e isso são outros quinhentos que não interessam nada para aqui...), talvez eu não seja assim tão diferente da dona formiguinha, já que, teimosamente, vou voltando sempre ao mesmo lugar, no mesmo circuito teimoso... 
Isto não há coisas??? 
 
 


 

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