PROFUNDEZAS DA ALMA
Quando li este post, deste blogue, lembrei-me do momento em que assisti, em direto, às cerimónias fúnebres de Mário Soares. Naquele momento davam em todas as televisões e era difícil não se assistir ao momento. Lembro-me de ter apreciado o peso do protocolo e de pensar o tão pouco que estamos habituados a vê-lo, ao protocolo, assim tão imiscuído em cerimónias a que assistimos. Lembro-me de ter apreciado genericamente os discursos que ouvi das figuras de Estado. Lembro-me de ter achado a intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tão bonita, tão evocativa da beleza da portugalidade, mas se calhar algo afastada, em termos de vocabulário empregue, do português médio. Lembro-me de ter gostado muito da intervenção dos filhos, que falaram ali de um pai rochedo-farol-pilar, como teria que ser e como isso me fez lembrar do meu pai-rochedo-farol-pilar. Lembro-me de me ter comovido com a voz que tremeu da filha e de ter pensado que o que nos está nas profundezas da alma nos fará sempre tremer a voz e lembro-me de ter ouvido este poema na voz de Maria Barroso, já falecida e de ter eu ficado comovida.
Achei o poema de Álvaro Feijó deslumbrantemente bonito e super bem entoado. Achei a declamação uma homenagem profunda a duas pessoas que se amam. Achei-o um legado de amor deixado por aquele que morre primeiro. Achei que a morte, ao invés de feia e triste, pode trazer assim, atrás de si, momentos profundos, verdadeiros e bonitos. Achei que não estamos habituados à morte e que fugimos do tema, da cor e da lembrança. Achei que vê-la, à morte, ser, assim, um mote para um momento bonito, pode ser interpelador.
E achei, com o post deste blog, que não sou (fui) a única a pensar assim.
P.S. Pois... e agora para o meu mais-que-tudo, é verdade, verdadinha que quando eu morrer, se for primeiro que tu, gostava mesmo que te lessem uma coisa assim... é que também acho que o amor (verdadeiro) não morre, apesar da morte.
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