quarta-feira, 25 de janeiro de 2017




MÃES DE TRÊS




Tenho várias amigas que também têm 3 filhos, como eu. Sentem, como eu, a elasticidade do coração, parecendo que estica, estica, estica como um balão e alcança todas as pontinhas afastadas, onde estão cada um dos seus filhos. Sentem que para cada um têm de ter um suporte de amor e ternura igual, mas uma forma, estratégia, alcance diferente, pois sabem que cada um é diferente do outro. Sentem, como eu, o esgotamento ao final do dia. Têm, como eu, o espírito prático que lhes devolve a rapidez de atuação e lhes dá uma descontração natural para coisas que poderiam parecer mais complicadas a outros olhos. Fazem, como eu, trinta coisas ao mesmo tempo, exercitando uma capacidade dada pelos anos e por três filhos seguidos e (muitos) anos de fraldas em casa. Desdobram-se, como eu, em atenções e prioridades, gerindo um equilíbrio nem sempre fácil entre logísticas, afazeres, prazeres, hobbies e calendários e filhos, mimo e atenção. Sentem, tal como eu, que mesmo que mais crescidos, os filhos, serão sempre mestres na absorvência que fazem da atenção da mãe. Exasperam, como eu, quando lhe sugam o tutano e reclamam para si próprias, mães normais, uma vida pessoal equilibrada e preenchida. (Esta, devolve-lhes também a paz de que precisam). Têm, tal como eu, companheiros de projeto de vida, com quem partilham, vivem, dividem, amam e sofrem. Sentem, como eu, o amor partilhado e o bem que isso faz à pele, ao corpo, à disposição, à alma.
Estas minha amigas são mestres na maternidade vivida e dividida por três, como se os seus corações fosses elásticos, como digo às vezes, nesta viagem vitalícia de ser mãe para sempre.
E depois tenho outras que só têm um filho, ou dois, ou nenhum. E são maravilhosas também, com sintonias comigo que as trazem para mim, gerando um cumplicidade boa de gente que se gosta.
Mas de facto, na correria de vida que temos, com trabalhos esgotantes e absorventes, com solicitações que nos agendam os dias, com preocupações pendentes e com logísticas para gerir, equilibrar os afetos dos (vários) filhos com qualidade, fazê-los crescer completos e verdadeiros, será certamente o maior desafio. Tenham eles a idade que tenham. Por isso, acho mesmo que a natureza é feminina, do mais feminina que há, ehehe...
E hoje, podendo este post ser sobre amigas do peito, quis torná-lo sobre mães. De três... 

PS. É avassalador o "baque" que me dá quando vejo fotos como esta. É que o tempo passa, de facto, sem contemplações e tão rápido que nos atordoa, às vezes...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017


LET'S GO MOVIES!


Os livros e os filmes serão sempre do agrado, ou desagrado mais íntimo de cada um. Quero com isto dizer que a mensagem desses livros, ou desses filmes, será lida individualmente por cada um, traduzindo-a segundo os códigos de análise próprios que temos, ou devemos ter e segundo os estilos de que cada um gosta. E acho mesmo que é um exercício de inteligência filtrar/processar o que lemos/vemos à luz dos nossos códigos de análise. 
E isto é absolutamente livre.

Foi isso que me aconteceu ontem quando vi o filme  SILÊNCIO, de Martin Scorsese, adaptado do romance homónimo do escritor japonês, católico, Shusaku Endo. 
É um thriller espiritual que relata um período da história do Japão, chamado período de Edo (de 1603 a 1868) onde, entre outras coisas, se baniu o Cristianismo do território, usando uma variedade enorme de mecanismos violentos de controle sobre a população.
Através da busca do Padre Cristovão Ferreira, acusado de ter apostatado, (renegado a sua fé) dois seus antigos alunos (Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe), seguem para o Japão, duvidando de tal ato e procuram-no, confrontando-se com uma realidade muito cruel para com as pequenas comunidades cristãs ainda existentes e também com a verdade de tal acusação. Um deles, acaba também por apostatar quando, mais tarde, perante um sofrimento atroz que poderia ser infligido a outras pessoas, opta por renegar as suas convicções mais profundas.

Gostei do relato dos episódios históricos, ou não gostasse eu de História. Gostei da interpretação de todos, mas especialmente de  Andrew Garfield, no papel do Padre Sebastião Rodrigues. Gostei da forma como se desenlaça o dilema fé/apostasia. Gostei do percurso interior e denso das personagens. Gostei da interpelação/busca das pretensas respostas de Deus que todos temos, tantas vezes. Onde Estás? Porque não Te manifestas? Gostei da constatação de que Deus está e fala tantas outras vezes no SILÊNCIO (e esta já é a minha interpetação). Gostei de ter concluído (outra interpretação) que houve uma vitória secreta e íntima da fé cristã. Gostei de ver que a fé não tem, muitas vezes, um caminho triunfante e épico, mas que cresce sim, em linhas curvas, nos pontos de rutura, onde nos restam poucas certezas (-José Maria Brito, in Jornal OBSERVADOR, crónica de 3/12/2016.) Gostei de entrar nas sombras mais profundas da fragilidade humana e recordar que a última palavra é de Deus. (-José Maria Brito, in Jornal OBSERVADOR, , crónica de 3/12/2016.).
Gostei enfim, do poder sublime do cinema que nos leva para fora de nós, às vezes.
Por isso, um livro, ou um filme, melhores, ou piores, serão sempre um bom exercício: livre e (quase) terapêutico. Experimentem!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017




O BLOGUE É MEU
(e agora?)


- Há amigas minhas, mãe, que estão sempre à espera de um post teu...
- A sério? Vê lá e tu às vezes nem os lês, já viste?
- Oh, leio alguns, aqueles que têm uns títulos mais apelativos...
- Ah, então é uma questão de título, é?
Sim, sei que há pessoas que me lêem assiduamente. Muitas me têm dito isso, o que não deixa de me causar surpresa, na minha humilde e relativamente recente descoberta da blogosfera, que é o mesmo que dizer, da partilha pública do que escrevo. 
Já o disse muitas vezes. Escrevo porque escrevo, escrevo porque sim. Sem pretensões. Só mudei agora o suporte, porque caderninhos pretos, sem linhas, sempre tive e desabafos de alma para o papel também.
E por isso escrevo sobre ti, muitas vezes, embora saiba que não gostas muito. Mas pronto, o blogue não deixa de ser meu e tenho eu também o último e decisivo feeling. Sei que não gostas, mas não te opões, o que legitima em absoluto que eu o faça. Respeitas, vá lá...
E é com todo o respeito que o faço, pois escrever sobre ti ou sobre os miúdos, é escrever sobre mim, as minhas coisas e o que sinto no mais fundo de mim.
E é por isso que o faço sem razão nenhuma especial para que aconteça. Só porque sim, porque me apetece e na maior parte das vezes à primeira, sem correções. Num impulso.
E hoje assim foi. Apetite, impulso, click.
E é assim, meu amor. Não gosto de dormir abraçadinha, em conchinha, como se vê nos filmes. Não acordo deslumbrante e dengosa, como nos filmes. Sou sempre mal disposta de manhã, preguiçosa e irascível. Muitas vezes não te digo palavras maravilhosas na altura certa. Grito, barafusto, fecho a cara em impulsos de génio que passam logo a seguir. Sou emotiva, temperamental e descontrolada, às vezes. Mas amo-te no mais profundo de mim e penso em ti muitas vezes durante o dia. Gosto da segurança que construí contigo e da sensação que me dá pensar em nós. Um nós seguro, calmo, equilibrado e completo. Um nós antigo e denso, com história e futuro. Um nós que persiste, à parte do que temos para lá de nós. Um nós que continua a atrair-me, apesar do peso dos dias e da vida que é real e não virtual e que, por isso, traz a reboque um pack de problemas triviais. Um nós que é como é, sem filtros cor-de-rosa, ou imagens de revista. Um nós que é nosso e pronto.
E é isto, sem mais nada de especial. 
E escrevo-o aqui, porque me apeteceu e agora?
Afinal, este blogue é meu, certo? 




P.S. E adoro esta foto...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017





PROFUNDEZAS DA ALMA


Quando li este post, deste blogue, lembrei-me do momento em que assisti, em direto, às cerimónias fúnebres de Mário Soares. Naquele momento davam em todas as televisões e era difícil não se assistir ao momento. Lembro-me de ter apreciado o peso do protocolo e de pensar o tão pouco que estamos habituados a vê-lo, ao protocolo, assim tão imiscuído em cerimónias a que assistimos. Lembro-me de ter apreciado genericamente os discursos que ouvi das figuras de Estado. Lembro-me de ter achado a intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tão bonita, tão evocativa da beleza da portugalidade, mas se calhar algo afastada, em termos de vocabulário empregue, do português médio. Lembro-me de ter gostado muito da intervenção dos filhos, que falaram ali de um pai rochedo-farol-pilar, como teria que ser e como isso me fez lembrar do meu pai-rochedo-farol-pilar. Lembro-me de me ter comovido com a voz que tremeu da filha e de ter pensado que o que nos está nas profundezas da alma nos fará sempre tremer a voz e lembro-me de ter ouvido este poema na voz de Maria Barroso, já falecida e de ter eu ficado comovida.
Achei o poema de Álvaro Feijó deslumbrantemente bonito e super bem entoado. Achei a declamação uma homenagem profunda a duas pessoas que se amam. Achei-o um legado de amor deixado por aquele que morre primeiro. Achei que a morte, ao invés de feia e triste, pode trazer assim, atrás de si, momentos profundos, verdadeiros e bonitos. Achei que não estamos habituados à morte e que fugimos do tema, da cor e da lembrança. Achei que vê-la, à morte, ser, assim, um mote para um momento bonito, pode ser interpelador.
E achei, com o post deste blog, que não sou (fui) a única a pensar assim.


 P.S. Pois... e agora para o meu mais-que-tudo, é verdade, verdadinha que quando eu morrer, se for primeiro que tu, gostava mesmo que te lessem uma coisa assim... é que também acho que o amor (verdadeiro) não morre, apesar da morte.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017





BIG BROTHER






O blog da Rita Ferro Alvim, SOCORRO SOU MÃE, falava nisto, neste post http://www.ritaferroalvim.com/2017/01/os-controlos-dos-tempos-modernos.html#.WG-Rf1OLTIU.


Isto fez-me pensar... pode ser tentador, mas acho que é altamente preverso. Ter um aplicação no Smarthphone para controlar os filhos a toda a hora? Minuto a minuto? Com quem estão? Onde estão? O que comem, o que bebem? Céus, para além de me parecer horrivelmente chato, acho que é de uma falta de... (até me falta a palavra certa aqui)  concessão de espaço? Privacidade? Ética?
Resolve um problema aos Pais? Não me parece... se calhar arranjam mil outros problemas a seguir. Como farão depois a gestão da ansiedade?
Enfim, a mim parece-me que se deve responsabilizar os filhos sim, por dizer, relatar, dar contas do que fazem (é aliás, a sua obrigação), mas autonomamente, sendo sempre os primeiros agentes daquilo em que se envolvem, sentindo que os Pais supervisionam, cuidam, zelam por..., mas não os substituem, não controlam retirando o ar que se respira, ou o espaço que se pisa. Se assim não for, como se tornarão autónomos? Como crescerão devidamente, ao lado de tudo aquilo que os rodeia e que nem TUDO É BOM?
Pois... Como manterão a capacidade crítica e de filtro? Como equilibrarão responsabilidades e ações?
Pois é, pois é... haja filtro então, e muito! É que senão, perdemos mesmo o norte...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017






BABOSO CORAÇÃO DE MÃE


São diferentes como a água do vinho. De uma, lembro o parto provocado, porque não se decidia a nascer. Da outra, o dia certo previsto e a pressa já desde aí. De uma, lembro a calmaria que era e o tempo que ficava sentada a brincar numa manta de chão com tampas de tupperwares, tampas de panelas e molas da roupa. De outra, lembro o vendaval que provocava e a fila de coisas que ia deitando propositadamente ao chão, à medida que ia passando e do dia em que (quase) se enfiou na máquina da roupa. De uma lembro que tinha que acordar para mamar. De outra, lembro-me os choros cheios de génio irado quando se atrasava para comer. De uma lembro o cedo que começou a falar e o bem que se expressava. De outra, lembro o super cedo que começou a andar e o super cedo que começou a trepar por tudo também. De uma lembro a simpatia imediata que provocava e que recebia. Da outra, lembro o olhar mais fechado, medindo o que a rodeava, auscultando primeiro, para dignar-se a um sorriso depois. De uma lembro o gosto pelo estudo, o método e a organização. Da outra, lembro a rapidez de aquisição, a facilidade, mas o não tão rigoroso primor. De uma lembro a capacidade de análise e ponderação. De outra, lembro as escolhas rápidas, decididas e às vezes impacientes para o que não (lhe) interessa.
Sim, são diferentes como a água do vinho, a doce e a agridoce, disse-me uma vez alguém. Sim, daí o nome deste blogue, como já dizia aqui.
E sem razão nenhuma de especial, apeteceu-me hoje escrever isto, só de olhar para estas fotos...





É que às vezes, os clicks surgem assim, do nada.
Que a maravilhosa diferença que vos distingue nunca vos separe. E à vossa maravilhosa diferença e ao meu baboso coração de mãe, posso juntar mais o vosso irmão. A pitada de canela que me faltava, como esse alguém me disse também. 
Mas para esse, só para esse, valerá outro post... Inteirinho!