PINO MIRABÓLICO
Diziam-me que - agora, ser bissexual está na moda, é o que está a dar Paula, a sério... Risos, gracejos...
- O quê? A sério? Porquê que dizem isso? - perguntei, enquanto me lembrava de relatos esporádicos que as minhas filhas fazem relativamente a este assunto e àquilo que vêm na escola... - sim mãe, aquela (ou aquele), estava com uma, ou com um, a sério!!
- O quê? A sério? Porquê que dizem isso? - perguntei, enquanto me lembrava de relatos esporádicos que as minhas filhas fazem relativamente a este assunto e àquilo que vêm na escola... - sim mãe, aquela (ou aquele), estava com uma, ou com um, a sério!!
- Ok, pronto, então 'bora lá falar sobre isso, digam-me o que acham, o que pensam, não será difícil ter um posicionamento crítico, não acham?
São muitos, ruidosos e distraídos. Têm todos entre os 14 e os 16 anos e estão comigo uma vez por semana, num contexto extra-escola. Conheço-os a muitos, desde miúdos pequenos e muitos são colegas de escola das minhas filhas mais velhas e têm, por isso, hábitos parecidos, maneiras de falar, expressar-se, vestir, parecidas...(estão naquela fase desenxabida em que se vestem todos de igual...); conheço-lhes a alguns, os pais e as mães e os contextos em que vivem e se movem e isso dá-me, naturalmente, algum ascendente para conduzir uma conversa agitada e com tudo para correr mal, porque gracejam muito, dizem disparates, perturbam, não estão com atenção, bichanam constantemente segredinhos ao ouvido de quem está ao lado, abraçam-se muito, sentem as coisas assim elevadas ao expoente máximo, enfim; reconheço que às vezes me sinto no meio de uma maratona, ou a fazer um pino mirabólico para que me oiçam, ou para que digam qualquer coisa de produtivo e não se destrua a intenção da COISA, mas consegui!
A conversa foi fluindo, com algumas dinâmicas a ajudar e foram falando disto tudo, do que vêm na escola, do que acham disto, da opinião dos Pais, das suas próprias opiniões e fomos girando num círculo apertado (eu ainda, num esforço hercúleo, de cabeça para baixo e pernas para o ar...) e chegámos aos afetos... - é porque está tudo trocado, confunde-se tudo facilmente - disse ela. - Há uma amiga mais especial, uma cumplicidade mais marcada e pronto, acha-se logo que é amor, desse amor, daquele assim entre um casal...
- E tu, o que achas disso?
- Não sei Paula, mas é o que é, digo-te eu...
Tem 14 anos e sintetizou quase tudo! Também acho que tem razão, independentemente da minha posição mais adulta, com mais lentes de análise e mais variações de perspetiva. Isso ali não interessava nada, naquele momento. De tudo o resto que se falou ali e se disse, do que se discutiu, partilhou e concluiu, retenho o ar conformado e seguro que me fez quando disse aquilo, como se fosse tudo tão simples que justificasse os danos (quase) irreparáveis que a falta de afeto traz e a confusão de carrossel que essa falta também traz a alguns sentimentos, porque não se questiona, não se pensa, não se posiciona criticamente, engole-se, sorve-se de imediato, como se o mundo fosse acabar e nos levasse com ele...
Mesmo ainda a fazer o pino, a respirar de pernas para o ar e com mais quase três dezenas de anos que ela, achei que ela estava cheia de razão...
Mesmo ainda a fazer o pino, a respirar de pernas para o ar e com mais quase três dezenas de anos que ela, achei que ela estava cheia de razão...
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