quinta-feira, 21 de novembro de 2013





Circo


"És afetivamente densa e, por isso, deves, às vezes, apostar mais no racional, equilibrá-lo em relação aos afetos, não deixares que haja espaço para desiquilíbrios que acontecem quando se prioriza sempre um lado, em detrimento do outro... deves estar atenta a isso"...

As primeiras palavras desta frase andaram a ecoar cá dentro, o resto do dia, como a ressonância teimosa de um sino de igreja, daqueles à antiga, grandes e lustrosos, que têm um tom que entra pelo tímpano fora e vai até lá ao fundo e não daqueles sons gravados e programados pelo relógio.  O amigo que mas disse tem um ascendente grande sobre mim e tem o poder de me apaziguar e serenar.
Talvez por ser tão afetivamente densa, sofra mais, não sei, fique a pensar mais nas coisas, lhes dê maior importância, as queira viver em plenitude. Se calhar, tenho mesmo que relativizar mais e ver em perspetiva, de outra forma, com outra lente, outro foco. Mas não há racional possível que me ajude a encaixar esta prova de acesso à carreira que se propõe (impõe) agora aos professores contratados. A sério, acho mesmo que estamos a viver uma fase de circo, de experiências circenses de ilusionismo, faz-de-conta, diversão, só que esta é perversa e tem a desvantagem de mexer diretamente na vida das pessoas!
Não me apetece falar aqui dos tantos anos que tenho de "bom e efetivo serviço", reconhecido e validado pelo mesmo Ministério que agora me quer pôr à prova, sem clarificar como, com que meios, de que forma. Não me apetece dizer o que acho desta prova e da falsa questão que é a de se confundir isto com o "não querer ser avaliado, ou posto em causa". Não vou falar acerca da dimensão de injustiça que é a de se querer questionar uma capacidade profissional assim, desta forma. É desgastante para mim fazê-lo e nem me apetece "sujar" este meu delicioso espaço com estas questões tão incongruentes, incoerentes, injustas e desfazadas da realidade que se vive nas escolas, onde, numa grande maioria das vezes, são os professores contratados que asseguram muita coisa, em tantas situações, embora nada lhes possa ser reconhecido, como se estivéssemos todos num jogo viciado de regras ôcas e ultrapassadas.
 Esta "suja questão" também não me tem tirado o sono, embora me tenha vindo a desestabilizar um pouco, fazendo uns fernicoques de cada vez que me lembro dela. Tenho uma vida pessoal preenchidíssima, com afetos fortes e autênticos, com tanto para fazer e cuidar e tenho a sorte de, mesmo assim, gostar muito do que faço e conseguir, com o olhar das crianças, abstrair-me destas questões e centrar-me neles que tanta coisa me (nos) dão! Também aqui vou tentar racionalizar, perspetivar de outra forma e, não podendo transformar isto, tentar enquadrá-lo da melhor forma possível.
Se continuarei a transmitir aos meus filhos que o importante é fazermos aquilo de que gostamos, para nos sentirmos bem e termos meio caminho andado para que o resto também se componha? Sim, de certeza... 
Se lhes transmitirei que devemos lutar contra as injustiças e que, mesmo perante aquelas que nos transcendem, devemos ter sempre formas de luta e de expressão que não nos anulem, mesmo que só sirvam para que marquemos uma posição e nos sintemos bem connosco próprios? Definitivamente!! (e este meu post, agora, assim, ao ser "mandado" para a blofosfera, terá esse propósito). 
Se lhes direi que este País, ultimamente, está transformado num circo e que me tenho sentido, como tantos outros, um palhaço e que às vezes me apetece desistir de acreditar, optimizar, esperançar? Sim, também, claro!!!!... mas vou tentar, sinceramente, que seja só a parte do circo...

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