sexta-feira, 29 de dezembro de 2017






TORNEIRA INESGOTÁVEL?

(ou só muito bem gerida?)

Pode uma história de vida, com muitos anos juntos legitimar uma relação, dando-lhe material de feitos e de anos que fazem suportar tudo? Pode o capital emocional que se gera quando se vive tantos anos com alguém, não se esgotar? Pode o amor que se sente viver-se sempre da mesma maneira? Pode o sentimento que cola aquelas duas pessoas uma à outra, ser legitimado e justificado SÓ pelos filhos? Pelo que já se viveu? Pelo que se construiu? Pelo que se conquistou? Pode aquele amor ser inabalável e forte e coeso e seguro e intenso para todo-o-sempre?
Não, mil vezes não! 
Será sempre uma questão de opção, acho eu. Sim, porque aquele amor nunca é só cor-de-rosa. Nunca tem só história e feitos passados. Regateia constantemente o presente, o dia-a-dia, o aqui e agora, com uma exigência que não se compadece e que nos obriga a artes de reinvenção e criatividade sentidas. Quer que o olhemos de frente e que o façamos prioritário, se não soubermos como, teremos que descobrir. Não tem uma torneira inesgotável de boas práticas e conselhos bons de aplicar. Não se sente sempre da mesma maneira. Às vezes está zangado e mal-disposto, outras vezes melhor e inesgotável. Não tem nos filhos uma justificação eterna para tudo, porque não foi com os filhos que se casou. Não é intenso para todo-o-sempre. Tem muitas cores e cheiros e formas. Tem disposições e humores. Tem birras e azedumes. É um amor real, de vida real, com tudo o que a vida real tem e traz. E é, sem dúvida, um grandessíssimo desafio para quem ousa vivê-lo. E por isso tem também um palco eterno e ilimitado (que não acaba) para entrar em cena: a vida de cada um, no espaço e no tempo de cada um. NÃO É DE REVISTA, LIVRO, OU CATÁLOGO, porque esses não são reais.
E sei de tantos casais amigos e conhecidos para quem esse amor real acabou. Por dezenas de razões, todas legítimas e sentidas, todas pessoais e fortes, todas verdadeiras, no mais profundo da intimidade de cada um. Não ouso pronunciar-me sobre nenhuma delas, nem acho que deva. E quando o faço, não é nunca por aqui.
Mas também sei de casos felizes, talvez como o nosso, creio eu, casos que têm essas luzes e sombras todas, porque são normais, mas que continuam a bater a parada, continuando a apostar num amor que sobrevive na vida real de todos os dias, com os problemas da pressa, do dinheiro, dos filhos, do trabalho, da pressão, do stress, das perdas, das doenças, das sombras que não são sempre luz.
Pois é! E hoje a conversa com uma grande, grande amiga, daquelas do coração, num bocadinho de tempo que roubámos aos filhos que estão todos em casa, de férias e que, tenham a idade que tiverem, mantêm o estribilho da MÃEEEEEEEE, na boca, disto tudo me fez lembrar.
Uma questão de estrutura sólida, dizia-me, daquelas que abanam mas não caem. Porque a prioridade continua a ser essa e porque com isso se continua feliz.
Uma questão de opção-feliz-abençoada-consciente-sortuda-agraciada-dialogante-assertiva-e-mais-qualquer-coisa-que-não-sei-explicar-e-acho-que-pode-ter-muitos-outros-nomes-mas-que-justificará-algum-sucesso, acrescentaria agora eu.
Sim, hoje ela foi o meu click inspirador, mas foi em nós que pensei.



P.S - Fogo, o post foi longuinho, mas foi pelos dias de ausência daqui. 



quinta-feira, 7 de dezembro de 2017




ALIEN


Às vezes sinto-me tão alien, tão alien que até me pergunto se o mal não estará mesmo em mim: afinal, há tanta aceitação e vivência com coisas que para mim são tão estupidificantes, que quase caio na tentação de achar que afinal, quem está mal sou eu.
É que depois, esta dessintonia que sinto com tanta (aparente) normalidade, dá-me um altíssimo grau de impaciência que também devo saber (e conseguir) gerir e transformar em PACIÊNCIA: paciência para aceitar que os ritmos não são iguais, paciência para perceber que o capital humano que nos prepara para as coisas não é igual, paciência para perceber que nesta diferença de ritmos e de pessoas é que está a beleza.
E sobretudo e MAIS IMPORTANTE, devo ver isto, acho eu, também como uma oportunidade para educar a minha humildade: afinal, ela dar-me-á uma capacidade de tolerância maior, quero crer!
Mas fogo! Às vezes não há mesmo pachorra e que é esta a cara que faço muitas vezes, lá isso é!