segunda-feira, 31 de dezembro de 2018





SAÚDE E PAZ






Não consigo deixar de sentir uma nostalgia fininha, por estes dias festivos, uma nostalgia que vem ao de cima quando páro um bocadinho e oiço uma música bonita como esta que está a dar agora no rádio. Não sinto a nostalgia como tristeza; nostalgia não é tristeza. É nostalgia. Uma lagriminha que quer vir de repente, uma lembrança presente e forte de cada um daqueles que já não estão comigo, um friozinho na barriga por um ciclo que começa e que, apesar de ser imposto por um calendário, formatou-se em nós assim, como ciclo que acaba hoje e começa de novo amanhã. E as coisas que se formatam em nós têm peso, pois têm... 
Não sou de fazer projetos, listas de coisas a fazer, metas a atingir. Acho que sou mais, miúda do dia-a-dia e reconhecedora da força que esses dias “de todos os dias” têm. Uma força virgem, que nasce com cada um deles e que nos dá a oportunidade de agarrar tudo o que quisermos nessas 24 horas gratuitas que o dia tem. Então, vou ficar-me pelo dia e pela hora. Por um que acaba e por outro que começa, com a força regeneradora que os caracteriza e desejar ao compasso da hora que passa para a frente, tudo de bom para os meus, aqueles dos meus círculos mais restritos e aqueles também, dos mais alargados, de afetos. E num suspiro sentido, nostálgico mas feliz, colar em mim, embalada pelo momento, sempre e para sempre, a lembrança dos meus que já foram, que me fazem uma falta enorme, mas que vivem em mim pela lembrança e pela memória que se impregna depois na vida. 

E que venha 2019!

P.s- “Saúde e paz, que são duas coisas boas...”- ouvi agora alguém velhinho a desejar a outro alguém também velhinho, que estava na esplanada.

É certo, é muito certo, apeteceu-me dizer-lhe. Não disse, claro, mas sorri-lhe e acho que ela, velhinha, percebeu.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018






FORMIGUINHA




Ficava-me só por esta foto e pelo teu sorriso. Era suficiente.
Estou tão cansada hoje, que nem consigo quase pensar, sinto-me meia anestesiada, mas os meus neuro transmissores passam-me em revista as últimas horas antes de nasceres, no Hospital Distrital de Faro, como se dizia na altura. Há 21 anos
Lembro-me de ti, pequenina e careca, muito careca, com uma cara pequenina, que parecia um botão de rosa, uma boca vermelha e um corpinho franzino. Uma formiguinha. A minha formiguinha. Tão linda, tão pequenina, tão frágil. E pronto, de repente a minha, a nossa vida mudou, para nunca mais ser a mesma. Tu preencheste-a toda, todinha. E continuas a preencher, de alegria e coisas boas. E a encher-me de orgulho de ser tua mãe. Um orgulho tão grande, que quase rebento, como um balão insuflado no ar. 
E hoje, formiguinha, o que te desejo é que tenhas um dia luminoso, dentro da normalidade da vida real que todos os dias da nossa vida têm. Uma normalidade que nos devolve os deveres e as tarefas, as rotinas e as obrigações, mas que tem também o poder de nos fazer descer à terra e dar-nos, na terra e de pé no chão, a imensa graça de vivermos mais um dia de aniversário, com tudo de luminoso que a vida tem... sempre tem, querida. Basta  (querer) ver.

LUV U SO MUCH.

terça-feira, 13 de novembro de 2018




Fogo!!!

(Afetiva e efetivamente... )






Não encontrei aqui, em 5 minutos e em 6 anos de blog, o post, ou os posts onde já escrevi coisas parecidas com isto que vou agora escrever aqui, mas esta sensação que me assalta às vezes, assim de ser uma extra-terrestre-completamente-desfasada-daquilo-que-oiço-à-minha-volta, continua a assaltar-me algumas vezes e por isso, repito o que já disse: Devo mesmo ter um problema, dou por mim a pensar... só pode ser... as pessoas falam com uma propriedade das coisas, com uma naturalidade e com um ar tão convicto e verdadeiro que o desfasamento só pode ser meu. E então desabafo com aqueles que me estão mais próximos, até numa tentativa de partilhar a incredulidade, ou mesmo só para desabafar e pronto, lá fico um bocadinho mais descansada, UFA! afinal, há quem pense como eu e isto lá me sossega, pelo menos até à próxima ocasião de espanto de e o quê? será possível?

E isto passa-se, por vezes, em contextos em que estou mais direta ou indiretamente envolvida e em que oiço alguns Pais a falar dos seus filhos. Fico louca com algumas coisa que oiço e vejo e percebo! 
Não sou, nem nunca serei melhor mãe que ninguém. Não sou, nem nunca serei melhor pessoa que ninguém. Sou uma mãe normalíssima e uma pessoa do mais normal que há. Educo os meus filhos segundo os padrões em que eu e o pai acreditamos e relaciono-me com eles, devolvendo-lhes a responsabilidade de, às suas medidas, serem também responsáveis, íntegros e educados. Como se isto de educar fosse um processo de vinculação afetiva e efetiva que nos torna todos elementos que interagem entre si. 
Não tenho receitas, nem sei se vou ter sempre bons resultados. A vida terá sempre um quê de insondável e de incógnita que não podemos controlar e/ou adivinhar, isso é certo, mas por favor aqueles que me estão próximos estão autorizadíssimos a chamar-me a atenção, agora no presente, se algum dia eu perder a lucidez e assumir um discurso que infantilize, desresponsabilize, desculpabilize em excesso os meus filhos, um discurso que os faça ter o mundo a girar em seu redor, como se fossem o centro do universo, ignorando tudo o mais e o resto e centrando a lente neles e só neles. Como se não houvesse mais nada. 
Fogo! É que não vá o diabo tecê-las e dar-me a travadinha... 'Jasus!!!  

sexta-feira, 9 de novembro de 2018




NUNO




Ontem fez 21 anos que nos deixaste. 21 anos, dei por mim a pensar... como é possível isto? Eu estava grávida da Beatriz, nas últimas semanas e este acontecimento da tua partida assaltou-nos como um terror noturno que nos transforma a vida e a vira do avesso. Lembro-me com memória nítida de todos os pormenores daquele fatídico final de tarde, da cara do papá, da mamã, da angústia, da perda, sobretudo da terrível e irreversível perda que ficou, que nos rodeou, assaltou e envolveu, como uma névoa pegajosa que não sai da pele. Lembro-me de, a chorar, pensar naquela filha que aí vinha daí a dias e não te ía conhecer, a ti que gostavas tanto de miúdos e ías, de certeza, ser um super tio. Lembro-me do Carlos, sempre comigo e do conforto doce e sereno que isso me deu. Não sei porque pus aqui esta foto. Tenho outras, várias, muitas de ti jovem, de ti adulto. Gosto desta. Gosto desta cara de menino bonito e doce que tu eras e foste. Gosto de te ver fardado de Lobito. Gosto das memórias da infância, daquela em que éramos mesmo pequenos, antes do João nas nossas vidas, para repartirmos o amor de irmãos. Gosto da infância que tive contigo, das tantas histórias que temos, das quais me lembro com ternura. Sei do laço forte que tinha contigo e que durou até sempre e para sempre. Sei que ontem, pensei de forma especial em ti e pedi a Deus que te abraçasse no Seu amor. Peço sempre. Vou pedir sempre. Acho que o amor de irmãos é isto, esta coisa visceral, mais forte que nós e, afinal, tu estás sempre comigo, fazes parte de mim, da minha vida, da minha história e do meu amor. 
E sabes, Nuno, vives assim... nestas memórias e nestes corações. Com todos nós. Muito...
LUV U!

segunda-feira, 22 de outubro de 2018






RAIO DE SOL






És o filho mais parecido comigo, dizem. Tens a minha cara redonda e o nariz pequeno e (menos) arrebitado como o meu. Recebeste os genes loiros do teu avô materno, a sua constituição física e, dizem também, o seu feitio. Era um homem lindo, o teu avô. 
Também és genuíno e generoso como ele era. Tens uma capacidade de liderança natural e és extrovertido, simpático e sorridente. Costumo até dizer-te/dizer-vos que estas qualidades vos aproximarão sempre das pessoas e isso é ótimo.
És apressado e temperamental e a genética também explicará este fenómeno de semelhança com uma-pessoa-que-eu-cá-sei. Sei disto tudo e tudo guardo no meu coração elástico de mãe ao ver-te, todos os dias, crescer, crescer sem fim e tornares-te já o mais alto cá de casa. Também conheço os teus defeitos, um a um. Exaspero com eles e fico com os cabelos em pé quando eles te escondem atrás de si, sobranceiros e eu, tenho que os afastar para te ver. 

Sabes, Pedro... defeitos todos temos. Não poderia ser de outra maneira. Eles, os defeitos, trazem ao de cima o pior que somos e o pior que temos e às vezes, com o cansaço, a pressa, ou a preguiça de pensar sobre as coisas, deixamos que os defeitos nos tapem, já nem percebendo que atrás deles estamos nós, como o que de melhor somos e com o que de melhor temos. Deves sempre pensar sobre isto. Aliás, deves sempre pensar sobre tudo. O pensar sobre as coisas, devolve-nos intencionalidade e torna essas coisas, próximas, ou distantes. 
Hoje, a propósito de uma conversa que tivemos ontem cá em casa, apeteceu-me dizer-te isto. É que sabes? Apesar de seres já o mais alto cá de casa, ainda estás a crescer, a receber o mundo que te chega, lá de fora, em bruto, imediato, de rompante, cheio de ruído e de coisas que não interessam e cheio também de outras tantas, tão boas. 
E apeteceu-me também dizer-te que é importante que continues a ser sempre um raio de sol, esse raio de sol para a tua vida e para a dos outros que te rodeiam. Esse será o teu maior tesouro e eu, como tua mãe, TEREI O MAIOR DOS ORGULHOS.

LUV U!!

terça-feira, 2 de outubro de 2018






A MAIS RICA

É aqui que volto quando estou perdida, cansada, confusa, um bocadinho mais triste. É aqui que volto quando estou apressada e com ela, a pressa, não cuido, não mimo, não vejo, anestesio e parece que fico indiferente. É aqui que volto quando tenho que centrar a lente que desfoca o essencial, aquilo que vale mesmo a pena. É aqui que volto quando tenho que falar de mim, das minhas coisas, daquilo em que acredito, na cor e no tom que quero pôr no que me rodeia. É aqui que volto quando preciso que me oiçam, que as coisas que digo façam sentido. É aqui que volto quando preciso de ganhar significado.

E aí vejo-vos, vejo-nos e ganho o passado que já vivemos, o presente que temos e o futuro que imaginamos. E tudo ganha sentido, como se, no final, ficasse sempre a ganhar porque tenho a sorte e a graça imensa de vos ter na minha vida, aos 4 e a cada um, como tesouros preciosos, que me tornam imensamente rica, a mais rica.  
O cansaço não passa como num milagre, a pressa continua, ali ao lado, chata e egoísta, contrariando os contos de fadas, onde tudo é cor-de-rosa, a lente das coisas continua, de vez em quando a desfocar, como se a vida fosse este vai-e-vem de avanços e recuos, é verdade, mas que os 4, os 5, funcionam (funcionamos) assim como um unguento cheiroso, um bálsamo de coisas boas que deixa um cheiro bom às coisas, é mesmo verdade!
E, no meio de tudo, só isto importa! 
Ou não é?








sexta-feira, 24 de agosto de 2018





MARESIA



Alguém hoje tirou esta foto, aqui do sítio onde vou estando por estes dias. Confesso que também tive vontade de a tirar, só não o fiz porque a câmara do meu telemóvel está semi danificada e não podia, no momento, recorrer a nenhum outro. E depois o momento passou, esperando eu que se repita mais uma vez e outra e outra...
Fiquei pois contente quando a vi, tirada por alguém, com uma legenda que traduzia exatamente o que me ia também na alma... Qualquer coisa que descrevia um paraíso completamente grátis, todos os dias, à porta de casa, sem esforço, sem deslocação excessiva, sem canseira. E eu também não me canso de o ver, sentir e, sobretudo, desfrutar.
Terapia diária grátis esta, composta por cheiro a maresia a entrar nos códigos nasais, ronronar do mar, enrolando a onda como barulho de fundo, brisa a vir devagarinho sem incomodar e, sobretudo, gestão de vontade em modo free, levando-me a fazer aquilo que uma vizinha de praia me dizia no outro dia, cúmplice também desta doce e retemperadora anestesia: “nas férias é mesmo assim... fazer o que apetece, às horas que apetece”.
Ah, pois é... é mesmo isto, sem tirar nem pôr! 
Já disse isto aqui, de certeza, em vezes anteriores, eu sei, soa a repetitivo, mas esta grandiosidade diária tão repetida e tão bonita sempre aqui à minha frente, a impôr-se, a mostrar-se, a dar-me a mim, uma lição de pequenez, é também um pedacinho REPETIÇÃO e perante esta, a minha é bem insignificante. 

P.s- E na foto, o solitário que se vê no meio da imensidão,  é o Pedro e por isso, mais o meu ❤️
vibrou...

sábado, 21 de julho de 2018





PERFEITA IMPERFEIÇÃO


Hoje falava com um grupo restrito de amigos, sobre o ser-se dengoso demais, o ter-se um certo estilo de dengosice (atenção que não sei se a palavra existe!) risonha que é apanágio de muita gente, sobretudo de alguns homens. Não o farão por mal, nem o farão por bem. É uma questão de estilo e dos estilos, ou se gosta ou não se gosta. Ponto.
Eu não gosto. Sobretudo quando isso vem acompanhado daqueles risinhos parvos, meio trocistas, meio sem jeito de quem quer dizer uma gracinha que não tem graça nenhuma.
Gosto de um homem educado e cortês, que saiba falar de qualquer assunto de forma natural, sem sabichonices armadas em intelectuais, de forma clara e espontânea. Gosto de um homem inteligente que saiba rir de si próprio e que veja no sentido de humor, uma forma natural de seduzir. Gosto de um homem com ideias claras e definidas, que conduza a vida pelo rigor e seja verdadeiro consigo e com os outros. Gosto de um homem que me trate bem, sem ser aparvalhado, ou deslumbrado com realidades virtuais que só existem fora de nós. Gosto de um homem que não concorde sempre comigo, mas que respeite e priorize o meu pensar, porque é meu e vem de mim. Gosto de um homem que se valha por projetos e que goste de os partilhar. Gosto de um homem que veja a vida como uma dádiva e que a goste de viver. 
Não tem que ser perfeito, este homem. Tem que ser, ao invés, perfeitamente imperfeito e, por isso, muito real, palpável e concreto. Tem de ter um rosto, um cheiro, um toque e uma voz. Tem de ter vida e não ser virtual. E na vida de todos os dias, tem de encaixar, completar, estar e fazer... PAR.

E porque hoje dizia também que só aguento porque desligo ao fim do dia e recarrego baterias em redutos que me centram no essencial, tive mesmo que pensar concretamente em ti, na tua vida, na minha vida e na tua e minha vidas em nós. Confuso? Não... CERTO, CERTÍSSIMO!!

LUV U.




P.S. Fiquei indecisa na foto para pôr aqui... Minha? Tua? Nossa?
Resolvi-me por esta... Afinal, a tua vida na minha, a minha vida na tua e a nossa vida em nós... 
Achei que esta ficava bem. Uma perfeita imperfeição. 

quinta-feira, 14 de junho de 2018






FRAQUEZA OU FORÇA?




Às vezes tenho consciência que ser-se portador de alguma (tentativa de) assertividade, ternura e doçura no trato, pode ser confundido com fraqueza, ou dar a ideia de que sou vulnerável, ou pouco segura. Sim, às vezes, tenho consciência de que isso contraria a maré vigente e a propaganda de que para se ser respeitado, competente e seguro tem de ser ser duro, nu e cru, implacável. Tem de ser ter a  tal resposta sempre pronta. Aquela que tem que estar na ponta da língua, à espreita e não só depois de se processar a informação. Tem que se saber tudo, a toda a hora, num conhecimento enciclopédico que se debita a 100 à hora. Tem que se ter horizontes delineados milimetricamente, em todas as áreas, pois o serem só horizontes bem definidos e estruturados que nos alicerçam e dão segurança não chega. Sei disto e sinto isto, muitas vezes.

Pois é... Acontece que eu, sinto exatamente o contrário e sou exatamente o contrário e, o mais grave, é que estou convicta de que isto pode ser (aliás, é...) uma grandessíssima força. 
Ser-se terno, assertivo e doce, não tem nada a ver com fraquezas, quaisquer que elas sejam. Tem a ver, isso sim, com uma maneira de estar e de ser que me tem trazido mais-valias várias e grandessíssimas graças. E não é, seguramente, sinal de fraqueza ou lamechiche. Mesmo que assim pensem. Erradamente, porque me conheçam mal, ou têm um preconceito acerca do que é isto de se ser assim. 
E embora, às vezes, possamos ser maus juízes em causas próprias, hoje mesmo foi isto que me apeteceu dizer.
E é o que sinto.





segunda-feira, 4 de junho de 2018





INSUFLADOS DE AMOR


Acordámos cedo nesse domingo de sol e fomos com a tua irmã, pequena, de colo, para a praia. Já não tomei banho no mar, pois estava com sinais de sangue, que sabia serem de parto próximo. Tinha 40 semanas certas, uma gravidez já de termo, pois então. Fiz um castelo na areia com a Bea e apanhei sol. Bebi um café e comi um gelado. 
Fomos almoçar à casa dos avós, como fazíamos (e fazemos) sempre aos domingos. A tua avó zangou-se comigo por estar com sinais de parto e estar ali, tão fresca, nada apressada. Mas os sinais de parto não incluíam dores, nada de nada. Só sinais de sangue. E poucos.
Por descarga de consciência lá acedi passar pelo Hospital depois do almoço. Sabia que a minha médica estaria de banco nesse dia. Ela tinha-me dito isso. Deixámos a mana com os avós e fomos para casa para apanhar o saco. Esquecemo-nos do telemóvel na casa dos avós e o papá ainda voltou para trás. Eu estendi uma máquina de roupa enquanto esperei por ele. Sei que cheguei ao Hospital perto das quatro e meia da tarde. A minha médica recebeu-me. Tranquilizei logo ao vê-la, ela tinha (e tem ainda) esse efeito em mim. O papá esteve sempre comigo. Sugeriram-lhe que fosse beber um café, isto se calhar ainda demora, mas ele não foi. Ainda bem. Intuíamos que seria rápido e mesmo que não fosse, ele pertencia ali àquela hora, a mais lado nenhum. 
Nasceste, apressada, às oito da noite, depois de um parto rápido. Havia greve de enfermeiros nessa noite. Tu gritavas, na sala de recobro, como se o céu viesse abaixo. Eu, aflita, mãe só de segunda viagem ainda, tentava dar-te de mamar, mas não era fácil. Nunca foi nos primeiros dias, só pegavam depois de insistir. 'Tadinha, tem fome, dizia eu. Qual fome? É génio isso sim. Grita porque está irritada, olhe que o meu ouvido não engana, há muitos anos que aqui estou, essa tem pêlo na venta, oh se tem
E tinha razão, a dita senhora. Conto este episódio em jeito de risada cá em casa, mas certeiras foram aqueles palavras.
A nossa Sofia chegou, impetuosa e linda, decidida e turbulenta, destemida e aventureira, curiosa e inteligente, generosa e despachada. 
E o nosso coração esticou mais um bocadinho, como esticam os elásticos bons que não partem de tanto esticar. E ficámos insuflados de amor por ti. Um amor tão grande que não tem fim e que nos ajuda a cada dia, junto de ti e dos manos, a sermos melhores Pais, mesmo quando não sabemos sempre como é que isso se faz.
E continua a ser assim, insuflados de amor por ti e muito gratos que chegamos ao dia em que fazes 18 anos. 
Que venham muitos mais, meu amor, que continues assim, impetuosa e linda, decidida e turbulenta, destemida e aventureira, curiosa e inteligente, generosa e despachada. 
Nós, se Deus quiser, aqui estaremos sempre para ti. Juntos, sem irmos a mais lado nenhum.
LUV U...



Foi mesmo estas foto que pensei em pôr aqui... És tu a levares o mundo ao colo, nessa expressividade que é tão tua!
Ah, e prometo que só publico isto à meia-noite.
Outro beijo...

segunda-feira, 14 de maio de 2018







A ARTE EM NÓS?



O último álbum da Carolina Deslandes é assim uma coisa linda de morrer. Chama-se CASA e realmente, parece que estamos dentro da casa dela. É intimista, calminho, melódico até mais não, com verdadeiros poemas cantados, com aquelas letras dos poemas que nos trazem a todos, tantos pontos comuns, como se estivéssemos lá descritos um pedacinho em cada linha. Aliás, as letras dela são todas giras e a voz e o tom e as melodias. 
Adoro as 15 canções, mas a BENJAMIM, NUVEM e MARIA DO VENTO, são as minhas preferidas.
O melhor é mesmo ouvir-se. E fazerem com eu fiz hoje. Pu-la a correr no Spotify, enquanto lá adiantei algumas coisas das pendentes chatas que tenho sempre para fazer no computador. Ou teria servido também enquanto me estendesse no sofá, por minutos, a anestesiar-me do dia. Suaviza. A sério. Ao som da voz dela, que é assim, um pingo de mel. 
Fica a dica...



P.s E sim, a arte em nós pode ter um efeito tão bom!

sábado, 5 de maio de 2018







BOLHA DE FUMO

Sentei-me à sombra para beber um café. Passava os olhos pelo jornal e vi-os: um grupo grande, uma família com pai, mãe, avó e outros. Falavam alto, via-se que tinham chegado há pouco e percebi que iam almoçar ali perto. A jovem estava trajada com o traje académico da Universidade e levava no braço a pasta com as dezenas de fitas que balançavam ao vento enquanto andava. Era a mais alegre do grupo. Era gira, a miúda. Ah sim, hoje é a benção das pastas dos finalistas, já percebi o enquadramento da coisa, pensei. A família veio toda para o evento. À medida que se iam aproximando da mesa onde estava, percebi que tinham marcado almoço num restaurante ali perto. E o encantamento da miúda esfumou-se no ar, como uma bolha de fumo que, afinal, é tão ôca que faz puff. A avó, uma velhinha deliciosa, andava devagar e era trazida, de braço dado, por alguém, talvez filha, ou nora, ou outra neta, não sei... andava devagar e já dobrada. Olhava para a neta trajada e sorria, com aqueles sorrisos simples e cheios, com olhos e boca, orgulhosa do feito que adivinhava à menina. Pediram à neta que abrandasse o passo, a tua avó não consegue acompanhar-nos assim, tem lá calma, disseram-lhe... Ela que ande! Não trouxe sapatilhas? Só tem mais é que se apressar...
E o puff da bolha de fumo a desaparecer no ar soou-me cá dentro de forma ruidosa. Se calhar esta miúda, já mulher, nunca foi repreendida nas vezes em que, de certeza, já respondeu assim à avó. Se calhar até lhe achavam piada, ou um sinal de resposta pronta e espirito independente. Ou se calhar isto até foi só uma tirada infeliz que a mim desagradou. Não sei... mas de repente, miúda, ficaste sem piadinha nenhuma e esfumaste-te no ar como uma bolha de fumo.
E sabes? apeteceu-me dizer-te... nenhum curso te vai dar aquilo que já não tens!





P.S. E foi mesmo esta foto que me apeteceu pôr aqui...  da minha mais velha com a minha doce avó Luciana, tão velhinha já aqui, mas ainda com uma das bisnetas ao colo...

quinta-feira, 3 de maio de 2018






E DE REPENTE...


E de repente estamos em maio e vejo que há quase um mês não publico nenhum post aqui. Nunca me tinha acontecido e acho que é do turbilhão de assuntos diários que tenho que resolver, a um ritmo de vários por hora, o que me esmifra as energias. E quando paro, disperso-me pelos vários focos de descompressão que tenho e nem sempre tenho privilegiado este... 

E de repente, vejo que o ano letivo está a acabar numa velocidade de tempo alucinante que não me deixa respirar e às vezes, nem processar a informação. E de repente apercebo-me que o Pedro tem quase 1,80m está a acabar o terceiro ciclo e apercebo-me que já só vou ter um filho no secundário. E de repente a vida das duas filhas fora de casa vai-se tornando uma coisa que quase apalpo, de tão próxima que está. E de repente estarei naquela fase de tantas colegas com quem trabalhei, que tinham os filhos nas faculdades e outros já muito crescidos, enquanto eu andava ainda a comprar fraldas e a fazer cinesioterapias respiratórias, com três filhos bebés atrelados a mim. Pois! E como se deu este fenómeno da passagem do tempo, que não dei por ele?
E sim, sou descontraída com esta coisa, mas lá que fico um bocadinho atordoada, isso fico.
Fogo! Vou ali ver se encontro mais fotos antigas, para ver se não me sinto tão... velha?
Pois...







sexta-feira, 20 de abril de 2018




SÓ PORQUE SIM..





Não sei o que é. Não sei se haverá um nome para isto, ou se o nome poderá ser aquele que se quiser. Não consigo quantificar o tamanho e a intensidade com que o sinto, porque o tamanho e a intensidade com que o sinto afloram-me a pele de maneiras diferentes todos os dias. Mas afloram. E estão lá. Num tamanho e numa intensidade reais e palpáveis, quaisquer que sejam as circunstâncias. Porque tu és real na minha vida e porque eu gosto dessa realidade, como se fizesses parte de mim, mesmo sem me tirares uma unicidade que me distingue e me torna única perante todos os outros indivíduos. Uma unicidade de que gosto muito e não me afasta de ti, ao contrário, fortalece-me e aproxima-me. Porque me deste uma história que partilho contigo e gosto de partilhar. Porque me fazes partilhar sonhos e cuidados que deixam de ser só meus. Porque acarinhas os meus sonhos e os meus cuidados e eu os teus, só-porque-sim. Porque apesar dos filhos e da vida e do peso das coisas, continuo a ver-te só  a ti, como se os filhos, a vida e o peso das coisas não te conseguissem desfocar, mesmo que às vezes o risco seja esse e esteja mesmo ali, silencioso e implacável como um precipício que nos faz mergulhar. Porque se calhar isto que temos continua a ser único e sobrevivente.
Porque os porques não acabariam, ou só porque-sim. 
Acho que sim, o nome disto pode ser o que quisermos dar. E o meu, eu sei qual é.


terça-feira, 10 de abril de 2018






TÃO-CERTO-E-CERTEIRO

Mandou-me um link desta publicação que viu na Net. Entre o bombardeio de coisas que tenho para fazer e gerir mal ponho um pé na escola, consegui passar os olhos pelo escrito e perceber que me identifico com todas as frases e linhas e palavras e afirmações aqui descritas. E fiquei orgulhosa dele, por me ter mandado isto, pois sei que também é assim. A genética aproximou-nos nestas características e nestes "sentires".

Não é mensurável, a empatia. Não se quantifica, não se mede em taxas de sucesso que pode fazer alcançar. Não é expressa em grelhas de observação, ou em gráficos de folhas de cálculo. Penso também que não é uma coisa que se treine grandemente, ou pelo menos para sempre: ou se tem, ou não se tem. Ou se é (empático-a-), ou não se é. Será uma coisa mais ou menos genuína, inscrita no DNA com que nascemos. Será uma coisa que vem "à boleia" da inteligência emocional e esta também não é facilmente medível. Aparada,  burilada, aperfeiçoada, mais atenta, mais atuante, mas não medível, ou quantificada.

Pois, pois... é verdade, isto! E o problema é que cada vez me identifico mais com coisas assim que não se medem, não se apalpam, não se tocam, não são tangíveis, nem expressas em números. São da ordem do subtil, do intuitivo, do sensível, daquilo que não se vê, mas sente-se e é tão-certo-e-certeiro-como-estarmos-aqui. E agora?






P.S. Quanto a ti, maninho... sempre certeiro!!
LUV U!!



terça-feira, 27 de março de 2018






REVOLUÇÃO


A emoção será sempre uma característica minha. Sou emotiva e sensível à forma, ao ar, ao tom como se dizem as coisas. A intuição entra-me pelo corpo e faz de radar para descortinar sentires e saberes, posturas e formas de estar.
Verei sempre nas entrelinhas e terei sempre jeito para adivinhar o ar que se respira nos ambientes onde estou. Sinto-me uma pessoa assertiva e prática e, embora não se deva ser juiz em causa própria, isso tem-me valido em várias situações.
Mas às vezes dá trabalho. Às vezes gostava de ser implacável e fria, usando isso para resolver assuntos de forma rápida e não me melindrar e ferir com eles. Diria, faria e aconteceria e lá seguiria eu, pronta e fresca para o próximo problema. Mas não. Preciso de lamber feridas e de carpir um bocadinho. De medir desabafos, de procurar um ombro e de estar sozinha, fazendo as minhas profilaxias mentais que me dão conta do ponto de situação.
E de repente, como um mecanismo químico, orgânico, fisiológico, emocional e sei-lá-mais-o-quê surjo renovada, pronta e animada de novo.
É assim. Cada um com o seu estilo e forma. Cada um com o seu temperamento. E este meu diz-me também que a lagriminha-ao-canto-do-olho, esta certa forma de me emocionar facilmente, não é fraqueza não senhor. É talvez e sim, uma certa forma de ser... revolucionária?
Ufa! Espero que sim!!!




"Há que endurecer sem jamais perder a ternura..."
-Che Guevara-



quarta-feira, 21 de março de 2018






MEMÓRIAS






Por circunstâncias várias, dei comigo hoje a explorar gavetas da casa da minha mãe. Recordações soltas, imagens várias, fotografias de tantas partes da nossa vida.
Já não me lembrava desta. Sempre a adorei e tinha-lhe perdido o rasto, no meio das dezenas e dezenas e dezenas de fotografias que se vão tendo, ao longo da vida. Já não há álbuns, como havia, físicos, de papel, que se folheiam e levam debaixo do braço e, no meio da dispersão digital, mais ou menos organizada, esta perdeu-se. Hoje reencontrei-a sem querer. E  a memória fez o resto.
Lembro-me perfeitamente do dia feliz em que foi tirada. Estava um frio de morte, mas tu, foi na rua que quiseste brincar, como sempre.
E de repente, vi que se passaram mais de 10 anos desde este foto. E de repente achei que não dei por esse tempo a passar. E de repente lembrei-me que sim, já és o mais alto cá de casa e que a tua irmã mais velha já faz 21 anos e a outra, 18. E de repente dei por mim a pensar que não sei como isso aconteceu...

Eh pá!!! Vou ali respirar fundo e já venho!!!!


sexta-feira, 16 de março de 2018




CAMINHO DOURADO

É engraçado como vamos sentindo, por estes dias, a vida a correr e a desenrolar-se em fases que achávamos sempre que estavam tão longe e que agora, de repente, estão mesmo aqui. E assim, damos por nós no meio de situações que estão a acontecer aqui e agora, com uma inevitabilidade que nos torna impotentes para as rebater. E é assim mesmo, a vida. 
Agarro-me ao sentido prático que me caracteriza um pedacinho e ponho-o a mexer, a mexer fortemente, para me ir amparando o caminho e tornando-o tão inevitável, como normal.
E assim, mesmo que ao mesmo tempo a vida siga, teimosa, com todos os seus outros assuntos e coisas que não param de acontecer, acho que o nosso cérebro se vai habituando às novidades dessa vida e nos vai dando defesas, formas e posturas de adaptação. E então seremos capazes sim, com normalidade e leveza de as levar.
Que assim continue e que assim continues a estar sempre comigo, a dourar o meu caminho e a prepará-lo para estes três.


segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018






RELÓGIO SUÍÇO


E no meio da loucura de vida que se tem, parece que, às vezes deixamos de nos ver, contrariando a ideia de que o dia-a-dia e a coabitação nos tornam sempre presença vibrante. Não, às vezes não. Podem mesmo tornar-nos invisíveis, apesar de estarmos ali. Estamos e não vemos, falamos e não olhamos, sentimos e não pensamos, como se vivêssemos numa centrifugado que nos tira a energia. Pode ser uma coisa normal nas relações longas, acho eu, sejam elas de que cariz for. 
Mas depois também há um mecanismo de relógio suíço, vindo não-sei-de-onde que não falha e que nos dá a vontade de estar e de falar, de olhar e de tocar, de sussurrar e de ouvir. E este mecanismo de relógio suíço que (acho) não avaria, dá-nos vontade de namorar, de fazer pedidos parvos que fazem parte de nós: de ir ao cinema, de comer pipocas, de ver filmes tontos e repetidos as tardes inteiras na televisão, de falar sobre nada e sobre tudo, de estar só, contigo e comigo porque és tu e sou eu e porque fazemos parte um do outro, mesmo que sejamos, por vezes, insuportáveis. Aí a prioridade passamos a ser nós e a descoberta é sempre maravilhosa: A de TI E DE MIM, com todo o capital de vida, esperança e projeto que trouxemos para esta vida em comum.
E é sempre tão bom!
LUV U.



P.S. Há quem diga que os relógios suíços são os melhores...




quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018




OLHO-NO-OLHO


Passou-me pelos olhos o post que falava acerca da dependência dos adolescentes pela Internet, do recurso excessivo que fazem dos ecrãs, da importância das redes sociais nas suas vidas, da interrogação acerca da dose exagerada de gadgets e afins que utilizam e isso transportou-me logo, de seguida, para o grandessíssimo risco de termos uma geração que se habituará a descurar a relação interpessoal, que se desabituará de olhar olho-no-olho, de tocar pele-na-pele, que não achará importante descobrir o tom dos olhos, a cor do sorriso, os cheiros, que não dará importância ao face-to-face, que se transformará, aos bocadinhos, se não tivermos cuidado, numa espécie de executores de um certo automatismo eficaz, mas despido de tanta coisa importante.
Não acho que esteja a exagerar.
Trabalho com crianças e adolescentes e tenho três filhos. Os gadgets e as redes sociais fazem parte das suas vidas e da minha também. Reconheço os riscos, mas também as inúmeras vantagens e mais-valias e sei que neste equilíbrio é que estará o ganho, encarando isto como uma coisa que veio para ficar, mas que deve ser gerida por nós, não nos substituindo, nem nos retirando a primazia.
Gostaria que os meus filhos, mesmo sendo miúdos dos dias de hoje, não descurassem tudo o que refiro acima. Gostaria que as tecnologias lhes dessem inúmeras vantagens e reforços, mas que NUNCA os substituíssem como sujeitos principais e como protagonistas das relações que estabelecem. Gostaria que  continuassem a escrever cartas e mensagens, mesmo que sejam de amor e mesmo que seja num teclado, gostaria que preferissem sempre explicar ao vivo os argumentos que sustentam as suas opiniões (quaisquer que elas sejam), que gostassem do toque e do olhar, que privilegiassem o sorriso, que não se escudassem atrás de um ecrã, por muito tentador que isso lhes pareça. Gostaria que aprendessem a gerir olhares e impressões, reconhecendo para si próprios um poder avaliativo e emocional que nenhum ecrã substitui e gostaria que integrassem tudo isto, de forma equilibrada e harmoniosa no feitio, ritmo de vida e personalidade de cada um. Esse é o segredo e o mais importante. E é um caminho que cada um deve MESMO fazer.
Pedir muito? Acho que não, até porque, haverá lá coisa melhor que um olho-no-olho?
Pois...



P.S- Há coisas para as quais não se precisa de gadget nenhum...
  

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018





DE OUTRO MUNDO

Às vezes sinto que podia fazer muito mais e diferente. Encher o dia de coisas originais e dinâmicas, que marcassem pela diferença e (alguma) excentricidade. Enumero mentalmente tudo o que poderia fazer aqui, ali e acoli e não faço. Revejo-me em situações imaginárias em que poderia estar envolvida. Mas depois deparo-me com alguma inércia que os dias carregam, com o peso das logisticas de sistemas que são pesados e obsoletos, com cansaços meus e com coisas que não são como deveriam ser. E assim, às vezes neste misto de sensações vou passando os dias. 
Um dia um colega disse-me que iam haver muitos dias em que acharia que nada fizera, numa sensação de impotência, quase frustração. As aprendizagens formais, com estes alunos, são reduzidas, quase nulas e não me poderia centrar aí. 
E depois há aqueles dias em que achamos que fazemos tudo igual, mas nos agradecem, penhoradamente, como se o que dizemos ou fazemos fosse do outro mundo. Há aqueles dias em que correm para nós e nos dizem "gosto de ti, professora". E aí estes tais dias de uma certa impotência que se sente deixam de pesar, pois percebemos que se calhar o importante é a genuidade que pomos quando lhes falamos, ou a sinceridade do sorriso que lhes damos. E isso, mesmo correndo ao lado do peso dos sistemas, da falência de paradigmas, da rigidez de regras e normas que não conseguimos suplantar, faz a diferença e devolve significado ao nosso trabalho de todos os dias. 
Cá por mim, o "gosto de ti, professora", vai bastar por hoje. E encher-me o ❤️ Por mais uns dias. 



terça-feira, 30 de janeiro de 2018





FASQUIAS


Estar sentada num café, cravejado de miudagem do liceu, enquanto faço tempo, revela-se sempre como uma experiência digna de registo. Enquanto bebi o café, limitei-me a observar e a ouvir. Um fenómeno... Aqueles miúdos vestem-se todos da mesma maneira, usam os mesmos acessórios, têm os mesmos penteados e, sobretudo, falam horrivelmente mal. Todos, sem exeção, daqueles que ali estavam, rapazes e raparigas. Um fenómeno (quase) aterrador. 
Eu, que não me considero puritana, que acho que tenho capacidade de encaixe, que tenho um estilo relativamente informal, que acho que o viverem todos em carneirada é próprio da idade, que tenho filhos dessas idades, que estou habituadíssima a esta malta, não pude deixar de sentir um desconforto acentuado, mesmo assim. Não há frase sem palavrão, não há palavrão repetido duas e três vezes no mesmo diálogo, não há um certo estilo menos bonito (quanto a mim) que não impere. Não, não estou a exagerar. É a mais pura das verdades e isto nem me devia surpreender, já que nos corredores das escolas, é igual.

Pois cá para mim surpreende-me sempre e continuo a achar que não há nada de mais encantador que um estilo rebelde SIM, mas com-um-quê-de-diferente. Um quê que não se sabe explicar, mas que se percebe logo no princípio. Pode ser no estilo, na linguagem, nas opiniões, no saber-estar, no sorriso, na eloquência, na sensibilidade, inteligência, rebeldia saudável, pode ser naquilo que se queira. Pode ser em qualquer coisa que só nós é que vemos, mas que vemos porque é real de verdade. E tem que existir. E esse filtro tem que ser nosso e exigente e ativo e presente e real. Esse filtro vai ajudar-nos a escolher e a ser seletivos de uma forma saudável e que faça com que a nossa escolha seja única e tão importante. Tão especial.

Foi isso que lhes disse assim que cheguei a casa. 
-Hum mãe, e estás a lembrar-te de alguém assim?
- Ai essa agora... claro que sim. É o que vale, é que há imensa gente assim. Basta olhar com atenção e saber escolher...
E pronto, ficou o recado!


P.S. E não se esqueçam: elevar a fasquia e marcar também pela diferença... SEMPRE! É que o filtro é só vosso...


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018







MOMENTOS DE CADA TEMPO



O passar do tempo, tão rápido, diz-me, de repente, que o janeiro já lá vai. Sei também que o fevereiro passará rápido, a uma velocidade imperiosa que pouco poderei controlar. E sem dar por isso, estarei na Primavera, assim num ai repentino.
Esta marcha célere do tempo traz-me à lembrança uma série de assuntos pendentes que se desenrolarão por estes dias e meses. Nunca fui muito de pensar nas coisas com grande antecipação. Acho que o meu espírito prático faz-me encarar os futuros próximos da vida sempre com algum pragmatismo, do tem-que-ser-e-agora? E isso facilita-me a vida. Faz-me (um pouquinho mais) descontraída.
Mas confesso que às vezes, o que me apetecia mesmo era congelar-me nalguns momentos, dias e situações que vivi e onde estive despreocupada, liberta, solta destes assuntos que, à data, ainda estavam longe e muito distantes. O gelo conservá-los-ia sempre numa aura de leveza e descontração e eu voltaria  eles sempre que me apetecesse, entrando no bloco hermético de gelo que os rodeia e vivendo-os outra vez. Despreocupada, solta e liberta.

Mas não se vivem as mesmas coisas duas vezes e acho que o segredo será o deixar esses momentos, transformados em memórias, sossegadinhos onde estão. A apetrechar a lembrança com retalhos maravilhosos que compõem a vida de cada um. A dar-nos história e recordações.
E depois viver a vida, com os momentos de cada tempo a falarem por si. E se os momentos de agora têm preocupações mais-ou-menos pendentes, pois que seja. Cá estaremos para elas.
Afinal, a vida é composta disto, acho eu. 



segunda-feira, 22 de janeiro de 2018






SOPHIE EYES





São o espelho da alma, é que se diz. Conseguem passar mensagens que ficam silenciadas pela voz e então, às vezes, os olhos, tornam-se o canal preferido para transportar vozes, explicar emoções, dar recados, viver sentimentos, sensações e fazer ouvir dizeres. Bastará às vezes prestar atenção à figura toda do OUTRO e em especial, à forma que os olhos ganham e ao peso que transportam, daquilo que nos querem, TEIMOSOS, dizer. E todos os olhos são bonitos, porque todos os olhos nos podem trazer uma verdade do OUTRO. Para mim, que sou tua mãe, os teus são lindos, claro...

E sabes querida, quando uns olhos bonitos se aliam a outros encantos de coração e de espírito, que podes (e deves) valorizar, tornas-te, sem querer e se calhar, irresistível. 
A sério...




segunda-feira, 15 de janeiro de 2018




INVÓLUCROS


Tento ter sempre algum pudor e reserva em criticar, por criticar. Nunca se sabe o contexto todo e gosto de ver sempre (tento, pelo menos...) as duas partes, ou melhor, tento imaginar qual terá sido a intenção que esteve na génese de qualquer coisa e que depois, no caminho, se perdeu.
Por isso, o que vou dizer sobre o programa de ontem na SIC, Super Nanny, é quase instintivo e representa só a minha opinião que, como todas as opiniões, vale o que vale. Vejo pouquíssima televisão, no que aos quatro canais nacionais se refere, mas confesso, tinha alguma curiosidade, sobretudo porque o ar da senhora Psicóloga, mostrado no genérico, não me atraiu. Como ao mesmo tempo, não me queria centrar no ar, pensei... "deixa lá ver o que sai daqui"...
Até reconheço como certas algumas sugestões que a Sra Psicóloga deu, embora não tenha gostado nada do ar, da forma, do contexto, mas isso, enfim, sou eu... A necessidade das regras, a firmeza, a importância da expressão facial e vocal que emitem uma mensagem e a ligação que isso tem que ter com o que dizemos e fazemos, a necessidade da sustentação da autoridade da mãe, a (des)sintonia entre os dois adultos referência (mãe e avó) e os consequentes prejuízos para a miúda, a importância do persistir no que se determina etc, etc, etc; mas pareceu-me tudo por decreto, forçado, sem a envolvência do afeto regulador, sem a cola que o dia-a-dia traz e que pode ser equilibradora, sem a espontaneidade (da mãe) aplicando uma coisa que aprendeu e que agora  faz, porque é aquilo em que acredita, sem, sem, sem, 1000 vezes sem... 
Claro, somos todos adultos e sabemos todos qual é o invólucro que a televisão dá às coisas e foi esse invólucro colorido que nos apresentaram: duas ou três coisas que se aprendem por decreto e que têm que se experimentar, sendo sempre consequentes, boas e super pedagógicas alterações comportamentais. A miúda passa agora a portar-se bem e pronto. Aquela mãe aprendeu tudo, tudinho e está pronta para a aventura que é e será sempre a de educar a sua filha.
Claro que se reconhecem ali muitas fragilidades na miúda e muitas consequências de uma negação das regras e fragilidade emocional, mas sinceramente a sensação com que fiquei no fim do programa foi a de uma grandessíssima pena da mãe, não só porque se predispôs a expôr-se assim a si própria e à filha (já nem vou por aí...), como também e sobretudo porque tem altos défices de um bom exercício de parentalidade. Ninguém nos ensina a sermos pais e mães e avós e avôs, poderá dizer-se ... e é verdade. É a vida, a intuição, a educação, a sorte, a herança emocional/educacional/cultural que se traz, é tudo isso que nos capacita. Mas também,  aprender assim, com milhões de pessoas a olharem para nós, nús na nossa fragilidade, expostos, frágeis e voláteis, vou ali e já venho. 
E isto, esta adesão cega a este ecrã macroscópico que nos expõe, naquilo que temos de mais íntimo, valioso e regulador como é a nossa relação com os nossos filhos, isto é que tem de ser questionado. Ou não será?



P.S. E que nunca se perca a capacidade de pensar e de ter opinião, qualquer que ela seja...