sábado, 28 de setembro de 2013




MENINO GORDO


Era um miúdo gordo, com a pele queimada pelo sol. Teria a minha idade, ou seria um pouco mais velho, embora não pudesse ser muito, pois éramos da mesma turma no primeiro ciclo. Lembro-me que tinha muitas lêndeas que pareciam pontinhos mais ou menos escuros na cabeça e as unhas sempre sujas. Chamava-se Carlos e vendia castanhas na cidade, com o pai, ou avô, já não me lembro. Na altura a sua sabedoria de vida não era reconhecida, ou sequer considerada importante e o Carlos tinha dificuldades escolares, tendo contribuído certamente para números a mais nas escalas de insucesso e/ou abandono escolar. O Carlos era apontado muitas vezes, pelas asneiras que fazia, pelas coisas erradas que dizia, ou pelas certas que não chegava a perceber. O nosso professor não tinha muita pedagogia, isso recordo com clareza e o Carlos era apontado, perante toda a turma, às vezes pelos exemplos menos abonatórios. Eu, tão diferente do Carlos em tanta coisa e por isso alvo de atenções tão distintas das que lhe cabiam a ele, recordo que me angustiava muito o tratamento que ele recebia! Lembro-me de vários episódios em que aquele menino tão gordo, mas tão fraco também, me provocou um sentimento de enorme ternura e solidariedade, mesmo que à data, tão pequenina que era, não soubesse ainda qualificar tais sentimentos, nem sequer percebê-los. Hoje sei que muito de tudo isso me ficou gravado na memória e talvez por isso me lembre tão bem da sua cara, parecendo-me que o reconheceria ainda hoje. Não sei se este Carlos serviu de mote para que fosse sempre condescendente e compreensiva com os mais fracos, ou mais limitados, ou mais tímidos, ou menos faladores, ou mais "encolhidos" (sou faladora, extrovertida, segura, determinada...), mas sei que me afligiu sempre muito, pela vida fora, o tratamento que às vezes lhes era dado, nomeadamente, em contextos escolares, pelos outros colegas, pelos pares!

Sei que foi por esta marca funda que tenho que fiquei tão zangada com ela quando me contou que, numa iniciativa coletiva da turma, informal e combinada fora da sala de aula, resolveram eleger para um cargo usual, uma colega com todas as características de elo mais fraco, expondo-a a uma situação desconfortável. Fiquei mais do que zangada, fiquei desapontada e hoje, muitos dias depois deste episódio, posso até perceber que o desapontamento tenha sido empolado pelo cansaço de final de dia, pelo trânsito, pela perspetiva de enfrentar um supermercado apinhado de gente, pelo muito que ainda teria que fazer até o meu dia finalmente acabar, e pelo cansaço que já sentia por tudo isso e o cansaço tolda-nos a visão, de facto, mas o desapontamento foi real e sentido e veementemente expressado por mim, com mãos e gesto e voz e olhar e tom de voz a subir, tal e qual uma força da Natureza que mais tarde, ou mais cedo acaba por acalmar, deixando-nos a nós, tal e qual outros seres vivos, petrificados! Ouvia-me no banco de trás do carro sem respirar, com cara de caso, muito comprometida e tudo o que lhe disse, foi sentido do mais fundo de mim: que vergonha, exporem uma colega ao ridículo; aproveitarem-se das suas fraquezas para a envergonharem; combinarem tudo cá fora, à socapa, eles todos que são mais extrovertidos, divertidos, desembaraçados; não terem sabido aproveitar bem esse direito de elegerem um PAR para representar a turma e terem, ao invés, transformado essa votação numa disparatada diversão; terem desvirtuado essa votação, terem tido essa desinteligência; não terem sido caridosos, sim que a caridade não tem só a ver com o dar esmolinhas aos pobrezinhos, mas sim com a sensibilidade e nobreza de caráter, com a humanidade para com os outros, com o respeito; que preferiria sempre que fosse uma BOA pessoa, caridosa e humanamente bem formada, que uma aluna eventualmente supra-sumo... E ela ouvia-me, apesar da teatralidade da cena e continuava sem respirar, petrificada! Tive a certeza que nunca teria esperado que eu tivesse esta reação, mas num flash de relance, feito daquelas visões periféricas que só as mães têm, tive a certeza que tudo lhe estava a tocar lá no fundo.
Sei que está em fase de adolescente/aborrescente e que a maturidade virá, o que a par com os imputs que lhe damos como Pais, farão dela o tal ser bem formado que sei que já é, embora ainda em fase de projeto, mas não posso abdicar de ser veemente e super expressiva quando as coisas me tocam cá no fundo e me despertam velhas marcas e aí sim, falo com o corpo todo e com a voz toda, sem contemplações, mesmo que a veja petrificada e sem respirar... pode ser que assim, sem esperarmos, todos os meninos gordos que a vida lhe trouxer para perto tenham o direito de receber a sua caridade! E eu sei que assim será...

sábado, 21 de setembro de 2013





PINGOS DE MEL




Quando me sinto agitada interiormente, transpiram-me as mãos, respiro com mais pressa, o meu olhar é mais rápido por aqui e por ali, a postura corporal irrequieta-se, os gestos parece que tomam o jeito repetitivo e maquinal dos tiques nervosos e tudo isto vai variando de intensidade, conforme o grau de maior, ou menor agitação. Repito para mim própria frases terapêuticas, faço exercícios de "entrega" a desígnios maiores que possa ainda não conhecer e enfim, socorro-me de algumas estratégias que invento, ou recrio, ou adapto de outras, para ir lidando com estas questões que me podem desassossegar mais... e assim chego ao fim deste pastelento e maravilhoso Verão! 
O Sr. Outono começa amanhã e eu nem me lembrei disso durante todo o dia. Tenho vivido o dia-a-dia desta última semana, suspensa numa corda bamba de decisões profissionais que me têm preenchido o sossego. Sim, é possível "preencher o sossego" e desassossegá-lo, desinquietá-lo, como se ele insuflasse, ou se encolhesse de forma irrequieta e barulhenta, ao sabor do que vamos vivendo. Eu cá preciso do meu sossego bem paradinho, para vir de dentro, me dar tranquilidade e me permitir viver esta vida desassossegada que tenho!
Enfim, certo como as certezas de uma tabuada, ele lá foi chegando, disfarçado de muitas formas: exercícios de serenidade e paciência, pessoas que estavam no meu caminho e que me iam tornando mais suave a indefinição (estou tão grata a tantas e tantas e tantas... vejo-as agora todinhas aqui...), momentos da vida preenchidos com os NADA e os TUDO dos meus, aos quais me agarro quase em modo náufraga, mas sobretudo (tenho que ser justa!!) pelos olhos dos meninos e das meninas que me povoaram a vida nestes dias! Estes olhares são uma coisa maravilhosa, são pingos de mel e fazem-me pensar, de forma nada imparcial, que tenho a melhor profissão do mundo. E quando esses olhares são acompanhados de frases tão genuínas, espontâneas e verdadeiras que tenho oportunidade de ouvir, ditas só para mim, então o sossego chega de facto e, mesmo que não seja para sempre, porque a vida o empurra para lá de nós, por outras coisas quaisquer, foi por bocadinhos maiores que nos devolveram a paz. Por pudor, não dei a este post, o título desta frase, deixo-a agora só aqui no fim, mais recatada e discreta, mas ela paira aqui dentro de mim, como se ainda ouvisse o seu dono, menino de uns olhos grandes e vai fazendo um eco teimoso do qual não me quero libertar, porque vi, pelos olhos de todos os outros, que talvez ele lhes lesse o pensamento... 
Paula, és linda e eu gosto de ti... vais ser minha professora, a sério?...
Por isto e só por isto, ainda vai valendo a pena...

sábado, 14 de setembro de 2013



PONTARIA


É muito raro levantar-me da cama, especialmente num fim-de-semana, antes do meu mais-que-tudo... aqueles minutos, às vezes logos, de ronha pura e simples  em que o sono profundo já foi para não mais voltar e só nos acompanha o toque suave do edredon e umas voltas para cá e para lá, preguiçosas e dormentes, são das coisas que mais gosto e às quais me rendo sem compaixão. Mas hoje foi diferente... Um barulho secosuave ritmado, fez-me acordar e levantar-me... Ao meu lado alguém dormia profundamente e ouvia-lhe a respiração ritmada, sinal de que o sono era profundo. O que eu ouvia era um ping-ping constante e brincalhão (como diz a canção), que batia insistentemente na clarabóia do teto e me fez levantar!! No dia 14 de setembro, eu acordava com o barulho da chuva!! Não podia acreditar! Levantei-me e, de facto, chovia persistentemente, aquela primeira chuva dos finais de verão que nos leva a não acreditar muito nela, até porque se faz acompanhar de uma temperatura tépida e agradável. Vi logo que hoje estava uma humidade teimosa e chata... resquícios de África no meu ADN? Talvez, mas fui impulsionada por uma mola de despertina e fui a correr ver, da janela que tenho e que dá para o jardim... Era giro o contraste da chuva miúda, grossa e persistente, com um bikini estendido lá fora e mais uma toalha de praia e mais uns chinelos e tudo o resto, evocativo de um verão ainda tão presente!!
Não pude evitar o cheiro da terra! Inspirei profundamente e apeteceu-me, de repente, fazer um café com leite, bem quente e pão com manteiga... só, assim, puro e simples!! Fui acordar o mais-que-tudo... que disparate estar a dormir com uma alvorada destas! Então madruga todos os dias e hoje está a dormir?? Qual quê!!! O convite para um pequeno-almoço a dois, tão simples e caseiro como o que eu lhe propus, acabou por ser mais tentador que a preguiça e lá nos sentámos os dois, na cozinha, de frente para o jardim, a cheirar a caneca tão quente e fumegante, o pão tão caseiro, com manteiga, só manteiga!! Este momento foi tão pequeno, mas tão grande... a casa dormia, os miúdos, claro, nem se ouviam, o dia que começava adivinhava-se entediante, por uma serie de coisas que teríamos que fazer, mas este bocadinho, breve, foi o suficiente para me abrir a alma, ajudada por este bocadinho de chuva e pelo que ela trazia atrás de si, como se as coisas tivessem uma paleta invisível de outras coisas que as compõem e que as fazem ser o que são, sem mais nada... Por frações de segundos pensei no ano letivo que se iniciava para todos, na semana que começaria 2ª-feira e no que teria que fazer, nas urgências do fim-de-semana que estava a começar assim, desta forma tão inesperada e na sorte que tinha de poder estar ali, acompanhada do homem que escolhi para mim, ainda feliz, ainda realizada e como isso vem assim, sem avisos, com apontamentos de coisas tão simples... para quê complicar?... faz parte!!!
A caneca de leite foi chegando ao fim, acompanhada de alguns silêncios que nos absorviam aos dois, como se estivéssemos envolvidos demais naquele NADA tão grande, mas no final, talvez estivéssemos mesmo a falar das mesmas coisas, quem sabe? 
De repente, um... MÃE?? Este chamado preguiçoso e ensonado dava conta de que aquele momento mágico acompanhado da chávena de café com leite (a magia é sempre feita por nós, onde nos apetecer...) chegava ao fim... Lá fui... já estás acordada? Sim, é estranho, não é? E que voz é essa, filho?? Dói-me a garganta, custa-me muito a engolir e dói-me a cabeça.... E pronto, QUE PONTARIA... ao mesmo tempo que lhe punha os lábios experientes na testa, vi o filme do resto do fim-de-semana e vi a urgência de assegurar uma semana de aulas que agora começa, teimosa e certeira, imune a contrariedades que surjam, como estas, das crianças. O meu cérebro, a mil, rapidamente delineou estratégias de solução que, rápida, transmiti ao pai... As coisas entediantes do fim-de-semana, em segundos se transformaram noutras e noutras e noutras coisas a fazer e sítios onde ir e com uma pontaria minha, também teimosa e certeira, tudo se transformou de repente! Para quê complicar? Também faz parte!!

terça-feira, 10 de setembro de 2013






BONECAS DE LOIÇA


Consegui desencantá-lo para uma manhã na Biblioteca... sim, vamos para lá e podes ficar lá num computador, ou a ver um livro... se quiseres, jogas à bola lá fora, bebemos um café, estamos ali um bocadinho, vais ver, é tão bom podermos falar baixinho... Olhou para mim meio desconfiado. Sei que gosta de lá ir, mas com uma bola pelo meio, isso tem que ser... acredito pois que a parte que fixou mais foi a do computador e da bola lá fora, mas não interessa, aceitou e lá fomos. Uma das filhas acabou por aceder a que, depois dos seus programas da manhã, que passam sempre por ir aqui e acoli e depois ainda ali... passava por lá; a outra deu-me um NÃO redundante e ainda acrescentou que oh mãe, são os últimos dias de férias, achas??? A veemência daquele ACHAS??? e também a do vale dos lençóis que a chamou para si, fez-me sorrir interiormente!! Tão parecida com alguém que conheço, sempre tão pronta a não resistir a uma boa manhã de ronha!!
Lá fomos... começámos por tomar o pequeno-almoço na pequena cafetaria e conversávamos os dois sobre trivialidades. Não é a primeira vez que o levava a este espaço. Está farto de o conhecer e de ali estar, mas parecia que tudo lhe era novo, talvez por sentir a mãe com tempo, descontraída, sem pressas, ou então, talvez porque estávamos sozinhos, ou porque lhe apetecia só conversar. Arruma-me bem na cabecinha, este filho e sabe, intuí, que este mundo dos livros e das bibliotecas é mais da mãe que gosta de se sentir nele como se sente a flutuar numa água de mar quentinha!
Enquanto lhe explicava o que íamos fazer a seguir e me dizia para onde queria ir, vi-as... Eram duas irmãs, de idades muito próximas e muito parecidas, embora não gémeas, acompanhadas pela mãe que bebeu um rápido café. Às meninas, deu um gelado a cada e sentou-se com elas numa das mesas, ao nosso lado. Assim que bebeu o café, disse-lhes que ia ler para a secção dos adultos e pediu-lhes que ficassem ali sentadas até que as chamasse. No meio da agitada e fluente conversa com o meu filho, ia olhando para elas: as miúdas sentaram-se muito direitas onde a mãe lhes pedira e começaram a comer os gelados, de uma forma muito direita também, tão direita que me fez impressão! NÃO SE MEXERAM DALI!!! Como era possível aquilo? Acompanhei-as por um pedaço, enquanto durou o meu pequeno-almoço e também um pouco depois, pois de onde estava podia vê-las! NÃO SE MEXERAM DALI... parece que nem uma comichão, uma vontade de ir à casa-de-banho, uma voz um pouco mais alta, uma curiosidade teimosa, um motivo qualquer infantil as fizeram levantar, ou quase pestanejar!! Isto há com cada coisa, pensei... realmente há crianças muito diferentes umas das outras... 
Fui à minha vida e já o meu filho tinha jogado à bola, passeado no parque envolvente, encontrado um amigo, comprado uma garrafa de água, escolhido um livro para requisitar.. já tinha vindo ao pé de mim, pelo menos duas vezes, entusiasmado, contando o que estava a fazer e perguntando também o que fazia eu... queria só certificar-se se eu ali continuava, ou se o meu mergulho neste meu mar de deleite era assim tão profundo a ponto de o deixar de ouvir!
Apeteceu-me dizer-lhe que nunca será assim... mesmo que mergulhe em águas de mel, os meus sentidos nunca bloquearão para nenhum deles, acho eu e apeteceu-me acrescentar-lhe, embora ele não fosse perceber nada, que, apesar de tudo, prefiro esta sua relativa agitação curiosa, este seu jeito irrequieto e ativo, este seu turbilhão, à quietude daquelas duas meninas que, durante alguns momentos, não me pareceram meninas de verdade, mas sim, bonecas de loiça... e eu sou sincera... mesmo na história do Pinóquio, gostava sempre mais da parte em que ele foi de carne e osso e se portou (um bocadinho) mal!!!

sábado, 7 de setembro de 2013




SWEET LORAINE


Durante os últimos 15 dias de férias, aqueles tais, repletos de poder quente e anestésico, (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2013/08/pos-operatorio-unica-vez-que-fui.html)  nem me lembrei da televisão. É certo que a Net me substituiu, em muitas frentes, a necessidade que sinto, como quase todos, de ver televisão, para estar informada, para me distrair, ou só porque tinha esse hábito, como se aquele aparelho fizesse parte da família. De há uns tempos para cá, fui-me desabituando cada vez mais de olhar para a caixinha, dita mágica... substituo-a pela Net, pela leitura, pela música, embora, confesse, não resista a um bom filme, ou a uma boa série de um dos canais por cabo. Sou super fã de algumas!!

Então, hoje, enquanto a rotina se ia (re)instalando devagarinho nos nossos dias, liguei a televisão, sim, enquanto fazia o jantar! Não suporto os anúncios logo a seguir ao genérico, imediatamente a seguir, que irritantes e também a meio... quase 20 minutos de anúncios no meio do noticiário, não há mesmo pachorra e nisto pensava, quase reativa, a querer desligar o aparelho, arrependida de ter tomado a iniciativa de querer ouvir aquela voz cansativa, aquelas notícias cansativas, aqueles anúncios cansativos, que não trazem nada de novo, que amarguram, que persistem em leites derramados da vida, quando, entre uma pitada de sal na comida e uma mesa que se punha quase ao mesmo tempo, olhei para ele... Era um velhinho perfeitamente desconhecido, mas tinha os olhos brilhantes e parecia que ouvia algo com atenção, emocionado. Fixei o olhar na peça que passava e captei a atenção, de colher de pau na mão, levantada... Percebi que esse velhinho, muito velhinho, de 96 anos, mandara para uma editora uma carta/poema/letra, falando da sua mulher, falecida no mês anterior e com quem estivera casado 75 anos (!!!). Ao que parece, tinha respondido a um anúncio qualquer, de uma editora, para compositores e músicos. Avisava, no envelope enviado, que não era compositor, ou músico, apenas queria escrever SOBRE a sua mulher. A editora, sensibilizada com as suas palavras, resolveu compor, para aquela letra, uma música, respeitando o título original... Sweet Loraine, era o nome da canção! A melodia que ia surgindo por trás do que diziam e das imagens que passavam era muito suave e harmoniosa e corri para apontar o nome dele (FRED STOBAUGH) e também o da canção. Depois, com calma, depois do jantar e loiças e afins, milhares deles, fui à Net descobri-lo... De facto, explicavam o que disseram na peça, mas aí, ouvi a música toda, com calma, sem a Bimby a apitar pelo meio... Não tem nada de profundo em termos de letra, é até repetitiva, mas doce, doce, como os olhos daquele velhinho e julgo ter sido essa doçura E A FORÇA DAQUELE AMOR que sensibilizaram o pessoal da editora, como me estavam a sensibilizar a mim, durante aquela notícia barulhenta...

Neste mês faço anos de casada. São já alguns aninhos de um percurso a dois que é meu/nosso, íntimo, pessoal, privado e do mais sagrado e verdadeiro que tenho na vida. Dele apenas direi que é estruturante para mim e contribui para o meu equilíbrio. 
Esta peça e esta melodia, fizeram-me imaginar como seria bom que eu, assim, velhinha como o Fred, pudesse ainda falar com esta ternura daquele que amo e que escolhi para pai dos meus filhos... Os meus olhos brilhariam assim, ou a minha voz ficaria entrecortada assim? Estaria lúcida, capaz, com entendimento ainda? Não chegaria àquela idade de certeza, nem por sombras, mas que é lindo é!! 
Não conheceremos nunca o futuro, afinal, ele só começa amanhã mesmo... apenas podemos dar-lhe no presente, formas e cores com que o imaginamos, da dimensão que quisermos, mas este amor do Fred e da Loraine, tão duradouro e bonito, passou para além dela, fez-se futuro e chegou a nós, desta forma tão simples. E são as coisas simples, sempre as mais bonitas, que ficam para sempre e eu espero que o meu amor também seja assim!!!

E a música não é bonita?



terça-feira, 3 de setembro de 2013


CONTRATO A TERMO CERTO


Mesmo que me imaginasse com o cabelo de outra cor, mais gorda, ou mais magra, vestida com outro estilo que não o meu, com mais, ou menos 5 centímetros de altura, de óculos, ou com lentes de contacto, daquelas horrorosas que põem os olhos de outra cor, enfim, com outra aparência que não a minha, talvez, acho eu, mantivesse a curva do sorriso, o brilho nos olhos quando falo de certas coisas, a necessidade que tenho de estar com os que amo, o gosto pelas coisas simples, a paixão por crianças pequenas, a falta de paciência para tantas coisas que acho que são parvoíces e que vemos todos os dias, enfim e esta certeza talvez seja por achar que é assim mesmo, há coisas que nos identificam, como se fossem uma matriz que fica gravada na nossa pele e nos faz ser assim, só isso, sem depender de nada que seja acessório e que só se cola a nós, um bocadinho!
Talvez este meu blog seja um bocadinho assim, como todos nós, se quiser agora imaginá-lo como uma pessoa com vida própria, talvez a sua essência nunca se transforme, mesmo apesar de todos os refreshs que leva, de vez em quando (http://agridoceedoce.blogspot.pt/2013/07/refresh-ultimamente-tenho-dados-umas.html) e isto justificará a sua maneira de existir, o tipo de assuntos de que se ocupa, o estilo que tem, o peso que dá a certas coisas...
E então, agora, vou dar-lhe vida outra vez, que é o que sinto que faço sempre que dou forma aos assuntos que me afloram o espírito...

Hoje teria sido um dia nostálgico... 
Sou Educadora de Infância há 20 anos e estou há 8 na rede pública do Ministério da Educação. Adoro aquilo que faço, aliás, desde que me conheço com entendimento capaz, que digo que quero ter esta profissão. Sempre fui boa aluna e lembro-me de alguns professores, no final do meu ensino secundário, menosprezarem esta minha opção, desvalorizando-a e achando que eu, com as notas que tinha, poderia optar por outra coisa. Mas era isto que eu queria. Os meus Pais, na sua sábia (sei-o agora) postura, não me tentaram demover. Fazendo equilibrar os vários pratos que as balanças da vida às vezes têm, acharam sempre que o saldo seria mesmo mais positivo se eu fizesse aquilo que gosto, já que os upgrades, complementos, pós isto e pós aquilo, viriam depois, se fosse caso disso. Segui em frente. Tive sempre a sorte (e talvez algum mérito, porque não?) de trabalhar em sítios bons, todos eles tendo, a seu tempo e ao seu jeito, contribuído positivamente para o meu crescimento como pessoa e também como profissional. Em todos eles sei que deixei uma marca, mesmo daquelas indeléveis que se traduzem pela saudade e pela ternura que lhes fica quando me recordam e eu, também, a todos eles. Isso é o melhor de tudo... Mas hoje teria sido, de facto, um dia nostálgico, pois estou envolvida numa engrenagem e num sistema de colocações completamente incongruente e de difícil compreensão que não permitiu que ficasse colocada em nenhuma escola no passado dia 30 de agosto. Já não me desgasto a explicar este esquema de colocações, como se a sua explicação exaustiva me fizesse aceitá-lo melhor. É injusto e incongruente e pronto. Faz parte daquele rol de coisas para as quais me vai faltando a paciência. Sei que a colocação sairá, pois o sistema precisa de mim e de mais alguns milhares que ficaram de fora e também já vou aprendendo a gerir esta espera, sem dramas, sem stress, pensando nos outros e outras (tantos!!) de outras profissões, de outras ocupações que estão como eu, ou pior! (tanta gente desempregada, licenciados, recém formados, indiferenciados, só pessoas, homens e mulheres como eu!). E então, após o final do meu contrato a termo certo, pensando em todos aqueles e aquelas que estão como eu, entrei no Centro de Emprego hoje de manhã. De repente, apercebi-me que levava a alma um bocadinho cheia, mesmo estando naquela situação e isso, afugentou alguma nostalgia. Como um clarão de luz, apareceu-me isto...


e isto...

e mais isto...


e ainda isto...

e com uma clarividência forte que só os grandes clarões de luz dão, apercebi-me que para tudo isto, não haverá nunca finais de contrato!

Por isso, o dia foi menos nostálgico e ainda bem!