terça-feira, 27 de outubro de 2015





A MELHOR PARTE


Atirei em todas as direções como faço sempre que estou muito cansada. Levei tudo a eito e pobre de quem está por perto perto. Tu estás (quase) sempre por perto e, por isso, apanhas por tabela. Mas depois isto passa, como um vento que quase sempre muda com a maré. Já sabes como é. Já aprendeste a lidar com isso. Horas mais tarde já se fala de outra forma, já se consegue rir do assunto e de tudo o que nos irritou, já se sente o exagero posto nas mãos e braços e voz e até se percebe que não era para tanto, mas pronto, o ser-se assim torna-nos um bocadinho genuínos, quero crer. Aí puxas-me para ti e recebes-me neste amor que me tens. Esta é sempre a melhor parte e aquela que gosto de tornar eterna. Por isso (te) escrevo disto, por isso recordo, por isso falo...
Agradeço-te por essa melhor parte. Por já saberes sempre o que tens que fazer. Tão simples, tão certo, tão bom...

P.S. Obrigada...

quarta-feira, 21 de outubro de 2015




MÃE PORREIRA

Há coisas que é NÃO e é mesmo NÃO sem grandes justificações. Nem sempre me apetece justificar e nem sempre acho que o tenha que fazer. Sei que por norma o faço, mas também sei que nem para tudo precisaria. E é assim: quando há razões de fundo, de princípio, essenciais que me fazem dizer que não, não há grande volta a dar: é não mesmo! Se desistisse disso, desistiria daquilo que é absolutamente essencial, a sinceridade e a essência do meu papel de mãe. E é também por isto que sou tua mãe e não uma amiga porreira, da tua idade. E mesmo que não percebas bem, também sei que te centras na firmeza, na veemência esclarecida e na segurança e, no fundo de mim, também sei que sou sim, uma mãe porreira e que estas e outras coisas te dão (vos dão) segurança. 
Afinal, quem disse que a regra não presta?


sexta-feira, 16 de outubro de 2015



VÉNIAS... muitas!



Enquanto te ouvia pensava que tenho, de facto, muita sorte. A eloquência com que me contavas, retratava bem a força com que acreditas no que dizias. Senti-me tão orgulhosa naquele pedaço de tempo, com um orgulho dado pelos anos e por provas dadas da tua integridade e caráter.  Continuas um homem giro e isso, sabe-me sempre bem constatar. A paixão é isto também, não será? Esta misturas de coisas boas, com força física e deliciosa. Esta história de ter filhos saudáveis um homem maravilhoso com quem partilho risos e lágrimas, um trabalho que me preenche, redes de afetos e de amigos que me sustentam e equilibram, saúde, saúde, saúde, minha e dos meus, é a maior riqueza e tesouro que se pode ter. Perante estas coisas, é fazer vénias, gratas à vida, tantas, tantas vénias que não me deixem quase desfazer o sentido de gratidão e humildade que devo ter perante dádivas assim. E tudo isto aumentou exponencialmente enquanto me lembrava dela. Um ror de coisas de seguida que me comtou... Desemprego, doença, violência doméstica, mais desemprego, mais divórcio, mais lágrimas e desespero. O meu cérebro ouvia-a, mas agitava-se tambem depois numa rede de sinapses que me mostravam, noutro écran neuronal, a minha vida, as minhas coisas, tão diferentes, tão felizes...

Pois é... o respeito que sinto pelo que ouvia dela tem que ser proporcional à gratidão, a tal que me devolve a humildade e me tira culpas que não tenho. E é essa gratidão, sentida sempre e por tudo que me restitui a cada dia o equilíbrio.
Acho que é isto...








segunda-feira, 12 de outubro de 2015




Como numa teia...

Vou fazê-lo sempre! Dar-te a minha opinião acerca das coisas será sempre uma característica que quero manter, porque sou tua mãe porque tenho opinião sobre as coisas, porque tenho mais 25 anos que tu, porque já tive a tua idade e já passei por tudo isso. Vejo agora as coisas com outra lente e isso, dar-me-á sempre legitimidade, quase como uma autoridade que é natural e existe, sem se impor.
As opiniões, querida, valem o que valem e são tão pessoais como a roupa que se usa, mas são (devem ser) verdadeiras, sinceras e cheias de uma coisa que faz sustentar as diferenças: respeito. Pensarás sempre pela tua cabeça, como mulher que já és e ainda bem. Não te quero submissa e pouco pensante, mas deverás encarar diferenças de opinião como uma mais-valia para o entendimento possível que este, ou aquele assunto tem.
Um dia, quem sabe, darás tu a tua veemente opinião a alguém, a um filho, ou a quem queiras bem e aí, vai saber-te maravilhosamente a sensação de dever cumprido, mesmo que, na teia de afetos que te ligue, nem sempre se pense da mesma maneira.
No fim de tudo é maravilhoso sentir que as diferenças de pensar não questionam o amor... Sabes? Acho que até o fortificam, tornando-nos ligadas numa teia forte de coisas boas.
Um beijo, princesa!




terça-feira, 6 de outubro de 2015




Palco vivo, grande e grátis

Ontem, no dia dos anos do Pedro, o assunto veio à baila outra vez. Porque sim, porque não precisará nunca de grandes justificações para vir à baila, basta que haja irmãs e irmãos, para que falemos disso, da forma como nos relacionamos uns com os outros, da naturalidade, mas também do cuidado que uma relação entre irmãos pressupõe.
Lembrei-me hoje, durante o dia de um post velhinho, de 2012, onde falava da relação entre irmãos. Lembrei-me de um outro também, em que isto das relações, dos irmãos e das irmãs, vos era dito, com veemência e determinação, com aqueles tons e ares que se põem quando se fala de coisas tão sérias que vêm lá do fundo, lembrei-me que tudo continua atual e tudo, sei, continuará atual, desde que hajam irmãos e irmãs e pais e mães conscientes do que querem dizer aos filhos.
Terem-se uns aos outros será sempre e sim a vossa maior riqueza, maior que qualquer outra que possam vir a ter, experimentar, usar, ou querer. Terem-se uns aos outros dar-vos-á sempre um palco vivo, grande e grátis de práticas de afetos, zangas, mimos e reconciliações, onde tudo o que dizem os manuais de Psicologia se experimenta e põe em prática. Terem-se uns aos outros dar-vos-á sempre a oportunidade de experimentarem um amor gratuito, imediato, próximo e vitalício.
E isso é maravilhoso. 
Eu, como mãe, tenho que vos dizer isto sempre, quando me apetece e também quando intuo que quase se esquecem, porque acredito nisto, porque acho importante, porque me anularia se não o dissesse, porque há verdades que quase se esquecem se ninguém nos lembrar, indo atrás da pressa, dos dias e das coisas. E como esta verdade é tão grande e tão imensa, ainda bem que não a digo sozinha. Ganha outro peso, acho eu e Deus queira que vos fique aí dentro, pairando-vos no coração e tornando-se valiosa para vocês também.


P.S. A foto é velhinha, eu sei, mas será sempre uma das minhas preferidas.

domingo, 4 de outubro de 2015





SEGREDO

(e se não existir segredo nenhum?)

Às vezes dizem-me que tenho a relação ideal, o casamento ideal, uma junção de sorte e de sei lá mais o quê que faz com que as coisas resultem, um acaso feliz que me aconteceu quando encontrei em alguém esta sintonia e isto que me dizem faz-me sentir, às vezes, um pedacinho alienada, sou sincera. 
Não tenho nada disso, mesmo! Sou normalíssima, do mais normal que há e igual a tanta e tanta gente que conheço que tem relações assim como a minha. Estou a lembrar-me destes e destes e destes e daqueles e mais aqueles e mais aqueles... Pois sim, o (algum) sucesso não é exclusivo nosso e a partilha desta sensação com tantos outros que conheço dá-me uma ideia de cumplicidade que é maravilhosa e que a mim, particularmente, me faz sentir bem, identificada... Devolve-me alguma normalidade que me acho devida...
Não sei o que levará os outros a pensarem como descrevo nas primeiras frases. Não sei que antídoto acham que temos que não lhes cabe, que magias sobrenaturais acham que faremos para que a nossa relação dure assim. Não sei mesmo...
Talvez o importante seja saber-se bem o que se quer e depois ir fazendo a vida girar e contornar-se à volta disso. Não sei se será o suficiente, mas que é um princípio basilar, isso é de certeza. 
E depois... bem, depois algum romantismo, alguma lamechice saudável em doses proporcionais a cada relação, à medida de cada gosto, vontade e enquadramento, saudades, vontade de estar com, querer estar com, segredar, contar, partilhar, zangar (também), discutir, abdicar do que não é essencial, fazer valer o essencial em doses saudáveis para os dois, sonhar, projetar, conversar e chorar quando o que se sonha e projeta não acontece, rir, ouvir, falar e calar em doses iguais, acreditar, sobretudo acreditar e imaginar um futuro partilhado e isto pode ser muito bom.

Se quero chegar a velhinha com o meu mais-que-tudo? Gostava, a sério... (embora diga sempre que não vou chegar lá...) Se a ideia de ter um parceiro e um projeto de vida para a vida, me atrai? Sim, atrai-me muito... Se o meu equilíbrio passa pela vida que tenho com ele e que se estende depois aos miúdos? Passa, sim senhora... Se isso complementa o resto? Complementa sim senhora... Se a minha vida com ele me preenche, mas não  me tira espaço para mim e para as minhas coisas? Não tira não senhora... Se em mim cabe tudo, tudinho, como o eu, o nós e o eu e o nós outra vez? Cabe sim senhora... Se para tudo isto é preciso uma pitada de sorte? Pois, talvez... 
Então e se afinal o segredo for um bocadinho disto tudo, assim, sem mais nada de especial? Pois então... afinal, é simples e não tem mesmo segredo nenhum!




P.s. E depois, às vezes, mesmo após dias cinzentos, mesmo com muitos anos já que nos fazem já não ser MENINOS e MENINAS pequenos, há assim mensagens destas que nos enchem um pedacinho a alma...
Se são lamechas? Se calhar... mas assumo o risco... Sem dramas!