domingo, 26 de outubro de 2014




MEA CULPA


Às vezes sinto que sou insuportável, grito, barafusto, implico... pois! Há contrariedades que vão aparecendo assim, comezinhas e menores perante grandes coisas, eu sei, mas que me fazem passar da rosca muitas vezes. Disparo depois em todas as direções e provoco outras tantas vezes, alguns danos colaterais, também sei... Mas acredito que o amor de se viver junto todos os dias, de se conhecer o outro e de se resistir ao que é menos bom, nos vai valendo, equilibrando este saldo para outros dias em que esta história se repete do outro lado que não o nosso. 
Cá por mim, sei que faço lembrar, às vezes e de certeza, aquelas velhas panelas de pressão (tinha uma assim...) que apitavam, apitavam, prestes a largarem o ar, que saía depois, a eito, num longo e prolongado apito que espirrava tudo à volta. Era chatinha de usar, a dita panela, mas cozia tudo lindamente e de forma ultra rápida!  O que vai valendo é que ISTO me passa também logo a seguir, com um efeito tipo borracha que não deixa marcas e esvazio toda a pressão em minutos rápidos. A malta cá de casa já sabe como sou e eu, secretamente, alivio-me um bocadinho com essa certeza!
Pois!! Há dias assim, mas depois caem-nos no colo exemplos destes e vemos, de imediato, que temos tanto a aprender!!
Eu, por mim falo, mas ainda repito a mea culpa que vou sentindo, depois de ler hoje, esta história de vida... 
Repito: tanto ainda a aprender...




terça-feira, 21 de outubro de 2014





ALMAS E SORRISOS...


Estive lá hoje para uma consulta. Tenho uma coisa mal resolvida com hospitais e toda eu me altero quando lá tenho que ir. É irracional, mas pronto, entrei, subi, segui as placas e lá fui gerindo o que tinha que fazer e onde tinha que esperar. Sentei-me e lamentei logo não ter levado o meu livro para gerir a espera. Cheguei mesmo a ficar irritada, mas de facto, ele é tão grosso que teria sido uma peso exagerado no saco. - Bom, espero ao menos não ter que esperar muito tempo e ainda por cima com tanto calor! Tirei o leque da mala. Sim, eu ando com um leque, céus, mas ainda bem, porque já me tinha esquecido que ali é sempre um calor grande... Olhava à volta. Muita gente, mas o meu olhar parou em alguns velhinhos, com ar mais desprotegido, sem instrução, frágeis e vulneráveis à (pouca) simpatia de algumas funcionárias. Há gente muito pouco simpática, de facto, impaciente, azeda, sisuda... Temos um país de velhos, mesmo! Encostei-me para trás e fechei os olhos. Demoraria muito para que me chamassem? Ela estava ao meu lado, era velhinha, magrinha e baixinha. Deve ter simpatizado comigo porque acedeu logo ao meu sorriso e começou a falar, o que me fez abrir os olhos. - Sabe, menina, o meu filho não mora aqui... Lá na terra dele, há um hospital lindo, muito bem equipado, as meninas estão todas fardadas, vêm logo ter connosco... mas sabe, do que mais gosto é das paredes coloridas. Cada sala é de uma cor e as cadeiras são da cor das paredes. Acredita que é disso que me lembro quando de lá saio? Não é como este corredor... A menina é tão bonita e tão nova, o que faz aqui?  Disse isto num fôlego e eu lá lhe ia respondendo como podia e entretanto chamaram por mim. Agarrei-lhe as mãos nas minhas, para que parasse de falar, já que não se apercebera que me chamaram e continuava sem fim... - Tenho que ir, já chamaram por mim... um beijinho, corra tudo bem... e fiz-lhe ainda uma festinha na cara antes de entrar.
Fui muito bem atendida lá dentro, acho que o serviço funciona muito bem, está muito bem equipado, a tecnologia é de ponta, o pessoal é profissional, simpático e acolhedor. Senti as minhas dúvidas acolhidas e percebi tudo o que tinha que fazer a seguir, onde tinha de ir, o que tinha de perguntar. Saí de lá contente, comigo e com quem me atendeu. Temos serviços públicos muito bons sim senhora, às vezes, temos é a mania de desdenhar, sem conhecer!
Claro que a velhinha da conversa já lá não estava quando eu saí. Fiquei a pensar nela e na possibilidade de se colorirem aquelas paredes, corredor a corredor. Ao menos ficaria mais alegre, não há dúvida e a alegria podia entrar em quem espera, por uns segundos, colorindo-lhes a alma antes das consultas. Se calhar, quem pensou nos hospitais, tinha mais em que pensar e esqueceu-se que as almas se podem colorir, nem que seja por uns segundos... a minha, hoje, ficou às cores quando ela, a sorrir, me chamou menina...


quinta-feira, 16 de outubro de 2014






NOVA IORQUE É MESMO ALI...


Não há hipótese! Serei sempre uma romântica incorrigível, daquelas que precisam de muito pouco para se derreterem como um caramelo, perto de uma fonte de calor! Assumo isto... PRONTO!!!
Adorei hoje este post que me chegou por mail e enquanto o lia, lá se me ia derretendo o coração. Transpus para a minha vidinha... Às vezes, precisamos mesmo de momentos assim, a dois, sozinhos, um com o outro...

Já estive no Estados Unidos, mas não fui, na altura a Nova Iorque, por contingências várias. Não me importei. Absorvi na mesma essa viagem em família, com a força daquelas experiências que ficam para a vida toda. Secretamente, prometi a mim mesma que iria lá um dia, antes de morrer. É certamente uma cidade maravilhosa e para quem é urbana da silva, como eu, deve ser outra experiência única que vou querer partilhar, claro!
Mas isso agora não importa. O que importa é que percebi, com este post de João Miguel Tavares que partilharam comigo, que sim, que às vezes precisamos de ir ali ao lado, a dois, sem pressas, sem burburinhos, sem stress a cirandar, para (re)descobrir cheiros, olhares, sorrisos, expressões. Para estar, ouvir, tocar, cheirar, namorar sem fim, com olhos mágicos, que tornam as pessoas únicas no mundo em momentos assim. Às vezes é preciso ver com os dois olhos que as "lavas petrificaram" e que o rio que corre lá em baixo é mesmo de amor.


Bolas, ainda bem que às vezes há "Nova Iorques" assim e estas, estão ao virar da esquina!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014




UPLOAD DE MEMÓRIAS...


Fui ao velório acompanhada por uma amiga. Estava pouca gente àquela hora e sentámo-nos as duas perto de alguém que também conhecíamos e que era também comum ao falecido. Recordámos as três as histórias que nos contava, as graças que nos dizia e também a afeição que, sabíamos, nos tinha. Recordámos tantos e tantos episódios acerca dele e rimos com ternura, reinou ali entre nós, por momentos, um clima respeitoso, mas leve e prazenteiro, diferente de alguns semblantes que nos rodeavam. Não me apressei a analisar o que me rodeava, saí de lá a correr, como a correr ando sempre àquela hora do dia, com logísticas para resolver e filhos para apanhar aqui e ali e fui pensando nele e na vida cheia que sei que teve. A pressa foi-me levando para o presente e para tudo o que me rodeava no HOJE e acho que acabei o meu pensamento acerca dele com um sorriso, lembrando-me do que me dizia sempre acerca da minha alegria de viver.
Sigo um blog muito giro, de uma Sofia que me parece simpática e hoje, nesse blog, vi um post interessante sobre a dor da perda de alguém...

Não há receitas para essa dor. Não há uma prescrição médica, de algum analgésico poderoso, psicotrópico, ou estupefaciente que no-la tire, que a faça desaparecer e que nos devolva essa pessoa. Todos esses químicos serão, quando muito, de duração momentânea e não vitalícia. Essa dor ficará incrustada em nós como uma tatuagem e, mesmo quando suavizar, deixar de arder, ou de picar com o sol, estará sempre lá, dentro das profundezas de nós, acompanhando-nos e moldando-se à nossa vida de todos os dias, porque essa dor, será para sempre, crónica como uma doença. 
O que sei é que para este falecido, ou para quaisquer outros, qualquer que seja a ligação que lhes temos, ajudará sempre a lembrança das alegrias, dos risos, das graças e daquilo que tinha de bom. É isso que fará o upload da memória que dele (a) guardamos.
E assim, de upload de memórias feito, podemos sorrir nos velórios e acho que esse será sempre o melhor dos tributos a quem morreu. E esse tributo, eu já lhe fiz.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014





AQUELE SÍTIO...


Ela é uma dessas pessoas.
Conheci-a há muitos anos, porque fui Educadora da filha mais nova. Simpatizei sempre com ela, mas o nosso contacto desvaneceu-se com o tempo, levado pela vida de uma e de outra, embora as memórias desse tempo fossem ternurentas, como a filha dela, então pequenina. Víamo-nos de vez em quando, mas não tínhamos um contacto regular e um dia, há poucos anos atrás, acedeu simpaticamente a um convite meu para que falasse a um grupo de Pais sobre um tema relacionado com o seu trabalho. Lembro-me que foi um sucesso, porque falou com emoção, com experiência, com ênfase e lembro-me que poderia (poderíamos) ter ficado horas a ouvi-la. Depois disto, a vida profissional tem feito com que nos vejamos ocasionalmente e sempre que estou com ela, tenho esta sensação... a de poder ficar horas a ouvi-la...
Hoje, encontrámo-nos mais uma vez. Em poucos minutos falámos de muitas coisas e a sintonia que sinto é sempre imediata. Dizia, entre outras coisas que a família sempre foi o seu porto seguro, o seu chão, aquele palco onde todas as vertentes do seu ser se assumem e transformam ao sabor dos dias e da vida. Como concordei com ela!
Lembrei-me logo das várias opções profissionais que fui tomando, em favor da família, do estarmos juntos, do vermo-nos todos os dias, verdade intransponível para mim, quase oxigénio, ou vitamina diária, se quiserem... Lembrei-me das opções pessoais que fui tomando ao longo do tempo, moldadas a esse projeto de vida que assumi com o mais-que-tudo e de como isso me afastou de algumas etapas profissionais, que poderiam ter sido conquistadas mais cedo. Lembrei-me de como ganhei tantas outras coisas pessoais, trazidas por essa menor sorte profissional. Lembrei-me da necessidade que tenho do toque de todos, da voz de todos, do caos que às vezes impera cá em casa, da pressa, da agitação, mas também dos afetos divididos, dos segredos partilhados, dos projetos sonhados e das memórias guardadas e construídas. Lembrei-me que sim, que também tenho este chão chamado família e este chão, será sempre seguro e valioso para mim, será sempre AQUELE sítio, o TAL para onde vou querer sempre fugir depois de tudo.
Obrigada minha querida por me teres feito sentir tudo isto hoje, enquanto te ouvia falar...




quinta-feira, 9 de outubro de 2014



POTE DE OURO




A deusa Íris tinha a função de arauto divino e, como mensageira, deixava um rasto colorido no céu, de cada vez que passava. (Isto, na mitologia grega, onde se dava aos deuses e deusas, tão facilmente, coisas e tarefas dos homens e das mulheres verdadeiros.)
Esta deusa devia ser gira e divertida como as cores que carregava e que ia espalhando por aí... talvez até fosse cheirosa, porque estas cores parece que têm um cheiro doce e bom como uma guloseima de que gostamos. Afinal, são cores giras que ficam bem juntas, agarradinhas num arco grande, quase todo enrolado à volta do céu. Esta deusa devia rir enquanto fizesse tudo isso, talvez travessa e malandra por clarear e alegrar um céu triste e cinzento de chuva. Sim, essa Íris devia ser estouvada, engraçada e teimosa. De repente e depressa, desapareceria do olhar, e consigo, levaria outra vez as sete cores que pintara no céu. Talvez as levasse para outro céu, outros olhos, de outros meninos e outras meninas que a quisessem ver, a si e às suas 7 felizes cores agarradinhas. E seria sempre assim, todos ficariam felizes sempre que a vissem... 

Hoje, ao final da tarde, depois de um dia cheio e cansativo, com tanta coisa menos feliz que vi e que apalpei de perto, tive este deslumbre de visão, numa esplanada da minha cidade. Sorri também por momentos para aquele arco no céu, fotografei-o e lembrei-me que esta história que inventei em cima, agora assim de repente, poderia ser aquela que contaria a meninos pequenos sobre o arco-íris... Ficam sempre tão contentes quando o vêm!
Sim, acho que lhes contaria uma história assim... não lhes falaria no tal pote de ouro, escondido numa das pontas do arco. Isso, são outros quinhentos e esse pote, acredito que está em cada um de nós... enquanto não o descobrimos, podemos sorrir só com esta Íris!!

terça-feira, 7 de outubro de 2014




 MÃE CATAVENTO



E não parei um segundo ontem. Senti-me um catavento, daqueles de ferro, que não vergam, mas que rodam, rodam sem parar, em dias de muito vento, em cima dos telhados empinados. Vi-te feliz, mas sempre apressado, tais foram os tantos afazeres que encheram o dia. Vi-me no meio de todos eles, a geri-los, a assegurar-lhes uma retaguarda sempre necessária. E o dia passou, alegre, cheio, cheio, cheio e tão rápido que quase não tive tempo de parar e de o saborear. É verdade... 
E hoje parei e recordei o dia de ontem e lembrei o teu riso, a tua expressão, a tua alegria, a tua pressa. E hoje lembrei a mãe catavento no telhado empinado e ri, não dela, que lhe tenho muito respeitinho, mas da alegria de te ter comigo, lindo, saudável e já mais crescido um pedacinho.


E isto bastou-me para o dia de hoje... ficou CHEIO, sabes?

quarta-feira, 1 de outubro de 2014




DE PEITO ABERTO



-Vais ver que não terás dificuldade nenhuma- disse-me uma amiga querida, um dia, neste verão. -Afinal, és afetuosa e é só nisso que tens que te centrar, o resto virá por acréscimo e depois, só depois!
Tenho pensado nisso todos os dias, nestas frases ditas por uma amiga querida e colega mais experiente. E sim, não me tem custado, este fluir. Afinal, os meninos são iguais em todas as constelações e os afetos pegam-se pelo ar, eu sei, sentem-se, respiram-se, apalpam-se, são espontâneos, quando sinceros e saem assim, sem querer, tornando-se tão naturais como a frase da minha amiga mais velha. O resto, virá sempre depois da conquista e completará o quadro desta nova fase. 
E é assim, de peito aberto como na foto, que tento abraçar esta esta minha nova aventura profissional, ainda meio assustadiça, sim, mas sorridente e confiante, como neste dia, nesta maravilhosa praia que descobri este verão.
As pedrinhas estão lá, por todo o lado, a toda a volta, mas quem sabe poderão servir para desenhar corações? Há amores que nascem assim...!